sábado, 9 de janeiro de 2016

A HEGEMONIA UNIPOLAR ESTIMULA A INTERNACIONAL NEOFASCISTA



Martinho Júnior, Luanda 

1 – Os múltiplos aspectos da crise global duma forma ou de outra estão interligados, correspondendo a um processo dialéctico onde domina, mas se vai esvaindo, o império da hegemonia unipolar, arrastando consigo o espectro do capitalismo neoliberal.

A aristocracia financeira mundial, por tabela suas “correias de transmissão” (suas oligarquias e elites agenciadas) chegaram aos limites do caos, desde as políticas de austeridade que foram impostos às “periferias” da União Europeia, à disseminação do terrorismo sobretudo no Médio Oriente e em África, quase sempre a coberto e a pretexto de tão obscuros quão feudais pressupostos religiosos ou (ultra) nacionalistas, ou pressupostos neo coloniais.

A hegemonia unipolar no seu estertor tem recorrido a tudo, procurando mascarar a perversa opção de domínio de 1% sobre a restante humanidade, ao ponto de impulsionar uma verdadeira internacional neofascista, que se distende a partir do seu “cérebro-miolo”, que artificiosamente mina a democracia representativa, como lança o jihadismo onde se ancora o caos, como estende as linhas duma NATO ela própria instrumentalizada e tacitamente implícita nessa disseminação, como recupera o processo colonial!

O colapso artificioso do valor do barril do petróleo inscreve-se também nos expedientes em curso, num momento em que as energias renováveis ganham terreno e as multinacionais energéticas de alinhamento anglo-saxónico transferem suas opções: é sobretudo a Arábia Saudita que pressiona no sentido da baixa de preços, aproveitando o peso dos consumidores e com isso confere espaço a emanações suas e de seus aliados, como a Al Qaeda, ou o Estado Islâmico, o AQMI, o Boko Haram…

2 – A internacional neo fascista mina os Estados Unidos, a União Europeia, Israel, a NATO, assim como os “tentáculos do polvo” que de forma mais velada ou aberta correspondem aos estímulos da hegemonia unipolar implantados durante a “era Bush” e fielmente seguidos pela administração democrata de Barack Hussein Obama.

A internacional neofascista trouxe consigo a reabertura da Guerra Fria agora procurando isolar a Rússia e a China, a fim de inviabilizar as emergências multipolares e continuar a impor tudo o que estiver coberto pelo foro unipolar, recorrendo desde à manobra económica e financeira, até ao uso da força militar e da penetração inteligente, manipuladora e alienadora em todos os recantos da Terra.

É a sua dialéctica de domínio que se expressa na hegemonia unipolar!

Esse campo de manobra tornou-se mais visível nas tensões que cercam a Rússia com maiores evidências agora na Ucrânia e na Turquia (Médio Oriente), assim como na tentativa obcecada da NATO em penetrar na Ásia e em África, tirando partido das alianças com os Comandos do Pentágono dirigido por “falcões” que se identificam com doutrinas e ideologias de “extrema direita”e quase sempre sob cobertura republicana.

Na América Latina, o esforço em prol da projecção das oligarquias agenciadas recupera também terreno, conforme às alterações sócio-políticas em curso na Argentina, na Venezuela e no Brasil, recorrendo desde a sabotagem à chantagem e passando pelo “impeachment”…

3 – Um dos seus “produtos” na região super-sensitiva da Europa Oriental /Médio Oriente, é de facto a Turquia sob mando de Recep Tayyip Erdogan, uma Turquia sintomaticamente refém daqueles que se propõem refundar o espaço otomano não num sentido de inclusão, mas de exclusão de muitas de suas próprias comunidades (como as minorias curdas), no sentido feudal que caracteriza as políticas e orientações neofascistas onde quer que elas se manifestem.

A Turquia tem-se aproximado da Ucrânia e das monarquias arábicas ultra reaccionária nas suas opções correntes e tem sido responsável pela alimentação do terrorismo no Iraque e na Síria, comercializando o petróleo roubado naqueles países pelo Estado Islâmico e pelas emanações da Al Qaeda, de tal modo que isso “adequa” a ênfase militar da coligação liderada pelos próprios Estados Unidos.

O “combate ao terrorismo” levado a cabo pelos Estados Unidos e os seus aliados, tem sido“formatado” levando em estrita conta esse comércio terrorista: se por um lado lançam operações militares ineficazes (chegam até a ser proibidos os bombardeamentos e destruição dos comboios de camiões-cisternas), por outro mantêm o monstro vivo, com a contrapartida do pressuposto da Turquia levar a cabo a guerra contra os curdos.

É ainda sintomática a aproximação da Turquia e das monarquias arábicas aos falcões de Israel, contribuindo para que a causa palestina seja letra-morta e Israel vá aumentando o seu “espaço vital” à sombra das contradições estimuladas nas susizinhanças físico-geográficas.

Os falcões de Israel assistem aos “filmes” sentados nos seus balcões, vendo crescer a contradições entre a Arábia Saudita e o Irão, não queimando cartuxos!

Os passos de Erdogan estão a seguir sem sombra de qualquer dúvida, num sentido contrário aos de Mustafa Kemal Ataturk!... e vão integrando o pelotão do internacionalismo neofascista!

4 – A Rússia ao decisivamente se preparar nos últimos vinte anos para este embate sob direcção do tandém Putin-Medvedev-Lavrov, estimulou a “inteligencia” cultivada nas suas notáveis Academias fundadas pelos Soviéticos, passando a assumir um papel preponderante no suporte à condução da resistência das emergências face à internacional neo fascista que a procura cercar!

É evidente que Putin se socorre duma dialéctica de outro tipo, com outra consistência antropológica e histórica (e por isso com outra consistência doutrinária e ideológica).

O esforço militar da Rússia tem sido apenas um dos instrumentos dessa resistência motivadora, tornando-se cada vez mais evidente a integração dos aspectos económicos, financeiros e político-diplomáticos na articulação das capacidades internas e externas do extensivo pacote de respostas que caracterizam o cômputo da abordagem dialéctica do tandém Putin-Medvedev-Lavrov).

Face à avassalada coligação neofascista que se estende entre a Ucrânia, a Turquia, a Arábia Saudita e o Qatar, a Rússia está a aplicar medidas que correspondem a uma geo estratégia que desgasta a NATO e o “ocidente”, semeando no complexo seio das “democracias representativas dominantes” uma alargada panóplia de contradições e isso a pesar das sanções que contra si foram decididas (que momentaneamente fragilizam, mas não têm possibilidades geo estratégicas de se impor).

Recai agora sobre a NATO e o “ocidente” a responsabilidade dos “fardos” ucraniano e turco, como autênticos abcessos que não podem dar lucro e com repercussões incalculáveis no sistema financeiro atlântico (envolvendo o dólar, a libra e o euro).

A Rússia viu-se em grande parte livre desses “fardos” e “entregou a peste” ao campo ocidental!

Se a Ucrânia está falida, sem soluções estratégicas fora do âmbito da internacional neofascista e correndo o risco de se fragmentar, a Turquia para lá começa a caminhar, enquanto na Arábia Saudita e no Qatar (os mentores do jihadismo caótico) nada poderá ser como antes a partir do momento que o Iémen se está a tornar no seu próprio Vietname, mesmo colado ao seu flanco sul, enquanto o Barhein, a norte, vai também esperando a sua oportunidade.

A inovação da radicalização da contradição da Arábia Saudita para com o Irão, nada poderá conseguir de ganho, se o Irão tiver aprendido com a lição da Rússia em relação aos abcessos da Ucrânia e da Turquia e tratar a Arábia Saudita como um “fardo” mais a ter de ser diluído na densidade das saturadas contradições da hegemonia unipolar!

A coligação ocidental e suas aliadas monarquias arábicas, os tentáculos mais evidentes da internacional neofascista, já não podem recorrer tanto ao petróleo como eixo de sua geoestratégia, pelo que o Pentágono, por via do sistema de vassalagem que propicia a NATO, sabota as iniciativas russas no gás a ocidente, sem possibilidades de o fazer a oriente e a sul.

Os Estados Unidos conseguiram fazer suspender os projectos do South Stream e do Turquish Stream, mas mesmo assim não conseguiram o mesmo êxito com o segundo North Stream que pelo Báltico (tal como o primeiro), aumentará o fornecimento de gás russo directamente à Alemanha, algo que contribuirá para aumentar a malha das contradições no seio da União Europeia e da NATO.

A hegemonia unipolar procura assim, com a absorção de cada vez mais contradições e contrariedades, ganhar espaço para implantar seus próprios projectos relativamente ao gás, o que não deixa de ser um evidente sinal de radicalização e,ao mesmo tempo, de debilitamento.

A internacional neofascista já não pode assumir maior protagonismo em relação a outros recursos mineiros no que à Rússia diz respeito e com isso, nada poderá impedir em relação à emergência russa e chinesa, o que influi também na Índia, o outro componente dos BRICS na Ásia.

Se associarmos a actual situação de fermentação da internacional neo fascista, ao caos que caracteriza a IIIª Guerra Mundial em curso e às disputas dialécticas que rodam à volta do poder energético, então podemos perceber quanto ela reflecte o facto de o petróleo, ao invés de ser alguma vez uma alavanca para o desenvolvimento, se ter tornado efectivamente num autêntico“excremento do diabo”.

Apesar de tudo, nem no tempo da Guerra Fria o império (agora motivado pela globalização unipolar que reforça as premissas do capitalismo neo liberal chegando ao caos provocado pela doutrina de choque) esteve tão debilitado como hoje e isso é um alerta evidente: ele pode ser tremendamente perigoso (para a humanidade e para a Mãe Terra) no seu longo (de várias décadas) estertor! 

Fotos:
- Os “parceiros” Barack Hussein Obama e Recep Tayyip Erdogan;
John McCain, o falcão ultra conservador que domina o Pentágono e terroristas “amigos”;
- O “batalhão Azov”, instrumento “radical” do neo fascismo ucraniano.

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