Martinho Júnior, Luanda
1
– Os múltiplos aspectos da crise global duma forma ou de outra estão
interligados, correspondendo a um processo dialéctico onde domina, mas se vai
esvaindo, o império da hegemonia unipolar, arrastando consigo o espectro do
capitalismo neoliberal.
A
aristocracia financeira mundial, por tabela suas “correias de transmissão” (suas
oligarquias e elites agenciadas) chegaram aos limites do caos, desde as
políticas de austeridade que foram impostos às “periferias” da União
Europeia, à disseminação do terrorismo sobretudo no Médio Oriente e em África,
quase sempre a coberto e a pretexto de tão obscuros quão feudais pressupostos
religiosos ou (ultra) nacionalistas, ou pressupostos neo coloniais.
A
hegemonia unipolar no seu estertor tem recorrido a tudo, procurando mascarar a
perversa opção de domínio de 1% sobre a restante humanidade, ao ponto de
impulsionar uma verdadeira internacional neofascista, que se distende a partir
do seu “cérebro-miolo”, que artificiosamente mina a democracia
representativa, como lança o jihadismo onde se ancora o caos, como estende as
linhas duma NATO ela própria instrumentalizada e tacitamente implícita nessa
disseminação, como recupera o processo colonial!
O
colapso artificioso do valor do barril do petróleo inscreve-se também nos expedientes
em curso, num momento em que as energias renováveis ganham terreno e as
multinacionais energéticas de alinhamento anglo-saxónico transferem suas
opções: é sobretudo a Arábia Saudita que pressiona no sentido da baixa de
preços, aproveitando o peso dos consumidores e com isso confere espaço a
emanações suas e de seus aliados, como a Al Qaeda, ou o Estado Islâmico, o
AQMI, o Boko Haram…
2
– A internacional neo fascista mina os Estados Unidos, a União Europeia,
Israel, a NATO, assim como os “tentáculos do polvo” que de forma mais
velada ou aberta correspondem aos estímulos da hegemonia unipolar implantados
durante a “era Bush” e fielmente seguidos pela administração
democrata de Barack Hussein Obama.
A
internacional neofascista trouxe consigo a reabertura da Guerra Fria agora
procurando isolar a Rússia e a China, a fim de inviabilizar as emergências
multipolares e continuar a impor tudo o que estiver coberto pelo foro unipolar,
recorrendo desde à manobra económica e financeira, até ao uso da força militar
e da penetração inteligente, manipuladora e alienadora em todos os recantos da
Terra.
É
a sua dialéctica de domínio que se expressa na hegemonia unipolar!
Esse
campo de manobra tornou-se mais visível nas tensões que cercam a Rússia com
maiores evidências agora na Ucrânia e na Turquia (Médio Oriente), assim como na
tentativa obcecada da NATO em penetrar na Ásia e em África, tirando partido das
alianças com os Comandos do Pentágono dirigido por “falcões” que se
identificam com doutrinas e ideologias de “extrema direita”e quase sempre
sob cobertura republicana.
Na
América Latina, o esforço em prol da projecção das oligarquias agenciadas
recupera também terreno, conforme às alterações sócio-políticas em curso na
Argentina, na Venezuela e no Brasil, recorrendo desde a sabotagem à chantagem e
passando pelo “impeachment”…
3
– Um dos seus “produtos” na região super-sensitiva da Europa Oriental
/Médio Oriente, é de facto a Turquia sob mando de Recep Tayyip Erdogan,
uma Turquia sintomaticamente refém daqueles que se propõem refundar o espaço
otomano não num sentido de inclusão, mas de exclusão de muitas de suas próprias
comunidades (como as minorias curdas), no sentido feudal que caracteriza as
políticas e orientações neofascistas onde quer que elas se manifestem.
A
Turquia tem-se aproximado da Ucrânia e das monarquias arábicas ultra
reaccionária nas suas opções correntes e tem sido responsável pela alimentação
do terrorismo no Iraque e na Síria, comercializando o petróleo roubado naqueles
países pelo Estado Islâmico e pelas emanações da Al Qaeda, de tal modo que isso “adequa” a
ênfase militar da coligação liderada pelos próprios Estados Unidos.
O “combate
ao terrorismo” levado a cabo pelos Estados Unidos e os seus aliados, tem
sido“formatado” levando em estrita conta esse comércio terrorista: se por
um lado lançam operações militares ineficazes (chegam até a ser proibidos os
bombardeamentos e destruição dos comboios de camiões-cisternas), por outro
mantêm o monstro vivo, com a contrapartida do pressuposto da Turquia levar a
cabo a guerra contra os curdos.
É
ainda sintomática a aproximação da Turquia e das monarquias arábicas aos
falcões de Israel, contribuindo para que a causa palestina seja letra-morta e
Israel vá aumentando o seu “espaço vital” à sombra das contradições
estimuladas nas susizinhanças físico-geográficas.
Os
falcões de Israel assistem aos “filmes” sentados nos seus balcões,
vendo crescer a contradições entre a Arábia Saudita e o Irão, não queimando
cartuxos!
Os
passos de Erdogan estão a seguir sem sombra de qualquer dúvida, num sentido
contrário aos de Mustafa Kemal Ataturk!... e vão integrando o pelotão do
internacionalismo neofascista!
4
– A Rússia ao decisivamente se preparar nos últimos vinte anos para este embate
sob direcção do tandém Putin-Medvedev-Lavrov, estimulou a “inteligencia” cultivada
nas suas notáveis Academias fundadas pelos Soviéticos, passando a assumir um
papel preponderante no suporte à condução da resistência das emergências face à
internacional neo fascista que a procura cercar!
É
evidente que Putin se socorre duma dialéctica de outro tipo, com outra consistência antropológica e histórica (e por isso com outra consistência
doutrinária e ideológica).
O
esforço militar da Rússia tem sido apenas um dos instrumentos dessa resistência
motivadora, tornando-se cada vez mais evidente a integração dos aspectos
económicos, financeiros e político-diplomáticos na articulação das capacidades
internas e externas do extensivo pacote de respostas que caracterizam o cômputo
da abordagem dialéctica do tandém Putin-Medvedev-Lavrov).
Face
à avassalada coligação neofascista que se estende entre a Ucrânia, a Turquia,
a Arábia Saudita e o Qatar, a Rússia está a aplicar medidas que correspondem a
uma geo estratégia que desgasta a NATO e o “ocidente”, semeando no
complexo seio das “democracias representativas dominantes” uma
alargada panóplia de contradições e isso a pesar das sanções que contra si
foram decididas (que momentaneamente fragilizam, mas não têm possibilidades geo
estratégicas de se impor).
Recai
agora sobre a NATO e o “ocidente” a responsabilidade dos “fardos” ucraniano
e turco, como autênticos abcessos que não podem dar lucro e com repercussões
incalculáveis no sistema financeiro atlântico (envolvendo o dólar, a libra e o
euro).
A
Rússia viu-se em grande parte livre desses “fardos” e “entregou
a peste” ao campo ocidental!
Se
a Ucrânia está falida, sem soluções estratégicas fora do âmbito da
internacional neofascista e correndo o risco de se fragmentar, a Turquia para
lá começa a caminhar, enquanto na Arábia Saudita e no Qatar (os mentores do
jihadismo caótico) nada poderá ser como antes a partir do momento que o Iémen
se está a tornar no seu próprio Vietname, mesmo colado ao seu flanco sul,
enquanto o Barhein, a norte, vai também esperando a sua oportunidade.
A
inovação da radicalização da contradição da Arábia Saudita para com o Irão,
nada poderá conseguir de ganho, se o Irão tiver aprendido com a lição da Rússia
em relação aos abcessos da Ucrânia e da Turquia e tratar a Arábia Saudita como
um “fardo” mais a ter de ser diluído na densidade das saturadas
contradições da hegemonia unipolar!
A
coligação ocidental e suas aliadas monarquias arábicas, os tentáculos mais
evidentes da internacional neofascista, já não podem recorrer tanto ao
petróleo como eixo de sua geoestratégia, pelo que o Pentágono, por via do
sistema de vassalagem que propicia a NATO, sabota as iniciativas russas no gás
a ocidente, sem possibilidades de o fazer a oriente e a sul.
Os
Estados Unidos conseguiram fazer suspender os projectos do South Stream e do
Turquish Stream, mas mesmo assim não conseguiram o mesmo êxito com o segundo
North Stream que pelo Báltico (tal como o primeiro), aumentará o fornecimento
de gás russo directamente à Alemanha, algo que contribuirá para aumentar a
malha das contradições no seio da União Europeia e da NATO.
A
hegemonia unipolar procura assim, com a absorção de cada vez mais contradições
e contrariedades, ganhar espaço para implantar seus próprios projectos
relativamente ao gás, o que não deixa de ser um evidente sinal de radicalização
e,ao mesmo tempo, de debilitamento.
A
internacional neofascista já não pode assumir maior protagonismo em relação a
outros recursos mineiros no que à Rússia diz respeito e com isso, nada poderá
impedir em relação à emergência russa e chinesa, o que influi também na Índia,
o outro componente dos BRICS na Ásia.
Se
associarmos a actual situação de fermentação da internacional neo fascista, ao
caos que caracteriza a IIIª Guerra Mundial em curso e às disputas dialécticas
que rodam à volta do poder energético, então podemos perceber quanto ela
reflecte o facto de o petróleo, ao invés de ser alguma vez uma alavanca para o
desenvolvimento, se ter tornado efectivamente num autêntico“excremento do
diabo”.
Apesar
de tudo, nem no tempo da Guerra Fria o império (agora motivado pela
globalização unipolar que reforça as premissas do capitalismo neo liberal
chegando ao caos provocado pela doutrina de choque) esteve tão debilitado como
hoje e isso é um alerta evidente: ele pode ser tremendamente perigoso (para a
humanidade e para a Mãe Terra) no seu longo (de várias décadas) estertor!
Fotos:
-
Os “parceiros” Barack Hussein Obama e Recep Tayyip Erdogan;
John
McCain, o falcão ultra conservador que domina o Pentágono e terroristas “amigos”;
-
O “batalhão Azov”, instrumento “radical” do neo fascismo
ucraniano.
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