A
crise diplomática entre a Arábia Saudita e o Irão estende os seus tentáculos ao
continente africano – sobretudo por razões económicas.
A
crise começou depois de o clérigo chiita Nimr al-Nimr ter sido executado, a 2
de janeiro, na Arábia Saudita. Horas depois da execução, manifestantes no
Iraque, de maioria chiita, atacaram e destruíram parcialmente a embaixada
saudita em Teerão. Em consequência, o reino saudita, onde a maioria da
população segue o ramo sunita do islão, cortou relações diplomáticas com
Teerão.
Alguns
países africanos com ligações próximas à Arábia Saudita anunciaram de imediato
o seu apoio ao reino, governado desde janeiro de 2015 pelo rei Salman bin
Abdulaziz Al Saud. O primeiro a reagir foi o Sudão, onde 97% da população é
sunita. O Governo de Cartum deu ordem aos diplomatas iranianos para deixarem o
país no prazo de duas semanas.
A
Somália e o Djibuti foram igualmente rápidos em expressar solidariedade com a
Arábia Saudita. E, na quinta-feira (07.01), a Somália foi mais longe e cortou
também relações diplomáticas com o Irão. Mogadíscio ordenou o regresso do seu
embaixador em Teerão e deu 72 horas aos diplomatas iranianos para deixarem a
Somália.
Países
africanos têm muito a perder
Na
opinião de Ahmed Soliman, investigador associado da Chatam House, instituição
de investigação com sede em Londres, a solidariedade dos países africanos com a
Arábia Saudita prende-se, sobretudo, com razões económicas: “No ano passado,
foram concluídos acordos nos setores de agricultura e barragens entre os
Governos saudita e sudanês. A Arábia Saudita financia também projetos de
infraestruturas em países como a Somália que tentam recuperar de duras guerras
civis”. Portanto, conclui o especialista, “essas questões foram mais
importantes no momento de dar apoio
a uma das partes do que aspetos religiosos e sectários.”
O
Sudão e a Arábia Saudita assinaram em novembro último, um acordo para a
construção de três barragens, avaliado em 1.15 mil milhões de euros. E Riade
comprometeu-se a pagar mais 500 milhões de euros em projetos de água e
eletricidade.
Proteger
a diáspora
Por
outro lado, o Sudão envolveu-se também no conflito do Iémen: cerca de 6 mil
soldados sudaneses combatem ao lado das forças governamentais, apoiadas pela
Arábia Saudita, contra os rebeldes houthi, que têm o apoio do Irão.
Um
outro aspeto ajuda ainda a explicar o apoio de países africanos a Riade, sublinha
o investigador Ahmed Soliman. “Há uma grande diáspora da Somália, Sudão,
Etiópia e de outros países da região que vivem e trabalham na Arábia Saudita. E
qualquer ação que possa pôr em perigo essas pessoas é algo que os Governos têm
de ter em consideração quando decidem qual das partes apoiam.”
Perigo
de alastramento da crise
O
politólogo nigeriano Kamilu Sani Fage, da Universidade de Kano, alerta para o
agravamento de tensões em países africanos com muçulmanos chiita e sunitas: “Em
países africanos, como a Nigéria, em que a comunidade chiita é grande, eu penso
que esta situação poderá agravar as relações religiosas entre grupos sunitas e
chiita.
Se
este impasse não for resolvido corretamente, poderá degenerar em violência
sectária.”
Quando
começaram os problemas entre o exército nigeriano e os muçulmanos chiitas, há
cerca de duas semanas, o Irão foi rápido em condenar a morte de centenas de
chiitas. O exército nigeriano disse que as tropas avançaram na região de Zaria,
norte da Nigéria, depois de centenas de chiitas terem atacado a caravana de um
chefe militar. O líder chiita Ibraheem Zakzaky foi alvejado e detido. O Irão
exige a sua libertação.
Privilege
Musvanhiri/Glória Sousa – Deutsche Welle
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