Reginaldo
Silva – Rede Angola, opinião
O
novo governador de Luanda é conhecido em certos círculos que lhe são mais ou
menos próximos por “peito alto”, o que parece ser uma referência à sua
capacidade de enfrentar os problemas com a necessária frontalidade.
Esta
sua alcunha espalhou-se depois para a opinião pública e hoje pensamos que ela
já é bastante conhecida na hora de se fazer a identificação do cognome com a
pessoa.
Esta
conotação física do General Higino Carneiro é interpretada como estando também
relacionada com a forma mais ou menos ríspida como ele ataca ou resolve os
problemas que lhe vão surgindo pelo caminho, sempre que é chamado a desempenhar
alguma missão.
Aqui
o seu “peito alto” pode querer significar mais força do que jeito, mais
arrogância do que diplomacia.
No
que toca a esta sugestiva expressão, o que todos conhecemos é que ela é a
designação dada àquela parte rija mas saborosa da carne de vaca com ossos,
destinada especialmente a fazer o prato nacional mais famoso da gastronomia
angolana.
Estamos
a falar, obviamente, do “funje de peito alto”, que é efectivamente uma das
iguarias mais apreciadas pelos angolanos.
Se
desse para misturar todos os significados e conotações da expressão “peito
alto” numa só pessoa e numa perspectiva funcional, talvez ela fosse a chave do
segredo para resolvermos todos os problemas que nos afligem enquanto país e
sociedade ainda a braços com a resolução de problemas básicos que afligem a
maior parte da sua população.
Conhecido
ou não por “peito alto”, o que é facto é que Luanda tem um novo Governador e é
com ele que vamos iniciar mais uma campanha, na sequência de tantas outras que
já vimos passar por esta “cidade-estado” com as habituais promessas dos seus
titulares que foram ficando pelo caminho.
Quantos
governadores e quantos projectos de mudar Luanda para melhor ou de a
transformar na nossa casa comum já passaram por nós, é, certamente, uma
resposta vasta que só mesmo um livro seria capaz de dar, a reflectir uma
pesquisa que não nos parece que seja muito difícil de levar a cabo.
Temos
a certeza de que nenhum deles ficaria para a posteridade com outras letras que
não significassem fracassos mais ou menos estrondosos, seguidos de exonerações
e de novas nomeações, num desfile mais ou menos fúnebre que levou um destes
titulares que já passou à história a considerar Luanda como sendo um “cemitério
de quadros”.
O
interessante desta premonitória avaliação, recorde-se, teve a ver com o facto
dela ter sido feita antes mesmo do referido titular ter sido nomeado para o
cargo de Governador, numa altura em que ele, na sequência de mais uma intriga
palaciana, quase que jurava a pés juntos que jamais aceitaria ser o “number
one” da província mais problemática do país.
No
meio de uma crise financeira sem precedentes, tendo em conta a actual
conjuntura sócio-económica, com o lixo a marcar desta vez o pesado compasso da
incapacidade das autoridades locais em dar solução aos problemas básicos da
capital e arredores, Higino Carneiro vai segurar no leme de uma governação que
não garante nada a ninguém para além do desafio em si que será como sempre
gigantesco, como se estivesse tudo a começar de novo.
Ao
que consta, Higino Carneiro foi especialmente escolhido para arrancar com a
implementação da primeira fase do Plano Director Geral Metropolitano de Luanda.
A
confirmar-se que foi esta a principal motivação do regresso do General à
capital, onde já esteve alguns meses a gerir Luanda no âmbito de uma efémera
comissão administrativa, fica um pouco difícil tentar adivinhar quais serão as
suas prioridades diante da urgência dos problemas imediatos que há para atacar,
sendo sem dúvidas o lixo o maior deles nesta altura.
Pelos
vistos este ambicioso mas nada consensual plano, para passar do papel, onde já
custou milhões, para o terreno de uma Luanda futurista, vai precisar de algo
mais do que um simples Governador.
Era
o caso do anterior e que estava claramente a interinar, situação que, ao que
julgamos saber, Graciano Domingos vive pela segunda vez na sua trajectória
pelos corredores do GPL.
Com
ele temos apenas o mais recente caso de um Governador que vai ficar na história
de Luanda como tendo sido mais um que por aqui passou e nada deixou para que
nos recordemos dele com um mínimo de saudade.
O
ex-governador corre, entretanto, o sério risco de ficar para a história como
sendo aquele que mais suja deixou a nossa metrópole.
E
aqui a terminar, voltamos novamente à história da alcunha dada ao General
Higino Carneiro, para dizer que o plano em causa, pelos vistos, vai mesmo
precisar de dirigentes com muito “peito” para ser executado dentro dos prazos
previstos.
Em
Angola, quando no discurso oficial se fala de homens com “peito”, está a
falar-se de uma necessidade muito específica para se lidar, nomeadamente, com
as populações mais pobres na hora de se tomarem as decisões mais sensíveis e
que mexem com direitos fundamentais.
Desta
vez não parece que venhamos a ter o general no seu labirinto, mas vamos ter de
aguardar mais um bocado para saber exactamente o que o traz Higino Carneiro de
volta a Luanda, quando no KK ele estava a fazer uma obra de relançamento
regional que nos chegava pela TPA com as melhores e mais luminosas referências.
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