Um
ano depois de ser empossado como Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi ficou
aquém das expetativas, dizem alguns analistas. Também porque estes foram 12
meses de muitos desafios.
As
expetativas em relação ao novo ciclo de governação, com a eleição de Filipe
Nyusi para a Presidência moçambicana, eram elevadas. No discurso de tomada de
posse, a 15 de janeiro de 2015, Nyusi preconizava mais participação, mais
inclusão e mais democracia.
Um
ano depois, o analista Fernando Lima afirma que muito pouco tem sido feito
neste domínio, apesar de reconhecer pontos positivos no balanço da governação.
"Sobre
a inclusão, apareceu um novo conceito - de que não era apenas dentro da própria
FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique, no poder]", diz Lima.
"Em relação a pacificar o país, continuamos com uma ameaça de retorno à
guerra. Nyusi começou muito bem, mas houve um grande recuo, aparentemente, não
por vontade própria mas por outras vontades, [de pessoas] que não estavam
preparadas para esta abertura. Ainda neste capítulo, acabámos o ano com duas
tentativas de assassinato do presidente da RENAMO", Afonso Dhlakama.
Nyusi
tomou posse em plena crise pós-eleitoral, após a recusa do maior partido da
oposição, a Resistência Nacional Moçambicana, em aceitar os resultados das
eleições de outubro de 2014.
"Acho
que [Nyusi] fez o máximo que podia" para pacificar o país, comenta o
analista Gustavo Mavie. "Logo nos primeiros dias do seu mandato, reuniu-se
duas vezes com o líder da RENAMO, na tentativa de chegar a um acordo com ele.
E, como ele próprio tem dito, isso podia ter sido continuado, mas Dhlakama não
está a mostrar predisposição para isso. Tem estado a 'fugir ao diálogo', como
ele próprio diz. Dhlakama alega que quem não quer dialogar é o Governo."
Estilo
próprio
Durante
o primeiro ano de governação, Filipe Nyusi adotou um estilo muito próprio,
segundo Fernando Lima. "É muito terra a terra, muito humilde",
afirma.
Gustavo
Mavie também acha que Nyusi adotou um estilo próprio, embora, seja uma
"mudança na continuidade, como diz a própria FRELIMO".
Filipe
Nyusi é o primeiro Presidente de Moçambique que não fez parte da geração que
lutou de armas na mão pela independência do território. Por este motivo, antes
do início do seu mandato, alguns observadores esperavam que ele viesse a ser o
que designavam por "marionete" de algumas figuras influentes da
FRELIMO.
O
analista Fernando Lima não acha que isso esteja a acontecer: "Nyusi
mostrou que tem ideias, que quer fazer coisas decorrentes das suas próprias
convicções. Parte do insucesso deste primeiro ano deve-se às barreiras e aos
obstáculos que ele tem encontrado na sua própria governação, nomeadamente do
ponto de vista do partido FRELIMO, que é o partido que tem a maioria no
Parlamento", sublinha.
O
primeiro ano de governação de Filipe Nyusi coincidiu com um período de
calamidades naturais e com a aprovação tardia do Orçamento Geral do Estado,
baixa generalizada dos preços das principais exportações, agravamento dos
custos das importações, retirada da ajuda ao Orçamento por parte de cinco dos
19 parceiros internacionais, além de uma forte depreciação da moeda nacional em
relação ao dólar.
Segundo
o analista Mavie, muitos destes desafios arrastam-se para o segundo ano de
governação: "Infelizmente, este ano começa muito mal. Começa com uma
depreciação do metical, uma seca devastadora aqui no sul e cheias terríveis no
norte e centro de Moçambique."
Além
disso, segundo Fernando Lima, continua a ser preciso resolver a tensão
político-militar no país: É preciso uma "convivência política pacífica, em
paz, com todos os partidos."
Leonel
Matias (Maputo) – Dewtsche Welle
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