Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
Verão
de 2007. Portugal estava a banhos e descansava sobre um crescimento económico
de quase 2,5%, a que se juntava o défice abaixo das exigências de Bruxelas e
uma dívida de 68% do PIB.
Do
lado de lá do mar, o sentimento era outro. O Lehman Brothers mostrava os
primeiros sinais de instabilidade. Ainda assim, ninguém fez grande caso, até o
banco apresentar perdas de 3900 milhões, deixando os mercados em estado de
sítio. O resto da história já sabemos. O fim da bolha do imobiliário
norte-americana deixou o sistema europeu em apuros, secou o financiamento à
atividade económica e obrigou a gigantescos resgates com dinheiro dos
contribuintes. As economias periféricas, mais frágeis, foram as primeiras a
cair, assim que a loucura dos especuladores chegou às dívidas públicas. Sob a
pressão das agências de rating, o financiamento dos estados ficou
insuportavelmente caro, precisamente no momento em que era mais necessário. E,
tudo isto, sob o olhar parado e indiferente do todo-poderoso BCE.
Passaram
oito anos. Com desemprego, pobreza e recessão, os países periféricos pagaram o
facto de serem a economia errada, no momento errado, no sítio errado. Promessas
foram feitas: os mercados seriam controlados. Mas, desde então, o BCE injetou
milhões de milhões de euros num sistema financeiro que continua demasiado
endividado, forrado de ativos tóxicos ou desvalorizados pela crise prolongada
na Europa. Crise europeia que, diga-se, o desempenho das economias emergentes
já não consegue mascarar.
Eis
agora que o maior banco alemão, o Deutsche Bank, aparece a anunciar perdas de
6000 milhões de euros, sabendo-se que detém derivados no valor de 65 triliões,
umas vinte vezes o PIB alemão. E que foi condenado a pesadas multas por
manipulação de mercado.
Perante
isto, tudo isto e mais a crise dos refugiados, o perigo da extrema-direita e a
eventual saída do Reino Unido da União Europeia, o ministro das finanças
Alemão, Wolfgang Schäuble, não encontrou melhor explicação para o
"nervosismo" dos mercados do que o Orçamento do Estado português, o
tal que se atreveu a fazer valer, ainda que timidamente, um pouco de
autodeterminação.
Isto
já só não espanta quem tiver deixado de ver para além da pequena gaiola onde
nos enfiaram com a história do "portem-se bem, a culpa é toda vossa,
viveram acima das vossas possibilidades". Uma Europa lamentável e, acima
de tudo, muito triste.
2 comentários:
E a menina só ouviu isso. É verdade mas deve também ver a conjuntura global. Sem precedentes
E a menina só ouviu isso. É verdade mas deve também ver a conjuntura global. Sem precedentes
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