segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Portugal. DUAS ESPERTEZAS SALOIAS



Francisco Louçã - Público, opinião

O governo Costa fez um acordo com a dupla Neeleman-Barbosa na TAP, ficando a deter metade da companhia, e isso foi festejado pelo PS como uma vitória. Sabe-se agora que uma cláusula importante desse acordo não foi referida quando ele foi tornado público: uma empresa chinesa, a Hainan Airlines, foi autorizada a comprar 23,7% do consórcio privado, e ficará assim com 10% a 13% da TAP. Este esquecimento de comunicação à opinião pública foi uma esperteza saloia.

Mas é interessante que esta revelação desencadeasse outra esperteza saloia, esta muito ressabiada. Passos Coelho, na senda da sua renascida SDS, social-democracia sempre, veio logo considerar a operação “a todos os títulos reprovável”. O homem dar-se-á conta de que esta trapalhada sublinha como a TAP foi vendida a quem não tinha dinheiro para a comprar? E que o seu governo, que fez na TAP um dos mais reptilíneos negócios dos últimos dias de mandato, é o primeiro atingido por esta notícia?

Passos Coelho foi o primeiro-ministro que mais propriedade estratégica vendeu a empresas chinesas. Poderá considerar-se aliás que foi o político português que estabeleceu as relações mais rentáveis que o Partido Comunista Chinês jamais teve com o nosso país, mordomia estendida a algumas empresas privadas chinesas. Não é portanto difícil de adivinhar que, se fosse a HNA e não Neeleman a propor a um testa-de-ferro português a operação da compra da TAP, Passos e Portas teriam festejado com champanhe.
Se o PSD e o CDS agora protestam, além de evidenciarem a venda a gato como se fosse a lebre, é simplesmente por dever de ofício. Eles acham que é “reprovável” e a “todos os títulos”, simplesmente porque não foram eles quem assinou a marosca.
Mas que é uma marosca, isso não parece suscitar dúvida.

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