David
Pontes* – Jornal de Notícias, opinião
"Não
tenho de me reinventar", disse há dias o antigo primeiro-ministro hoje
recandidato a líder do PSD. O homem que venceu José Sócrates, prometendo que
não ia cortar onde o socialista tinha cortado, e que acabou a ceifar onde o
socialista só ousava aparar, perdeu o poder e vê hoje outros a somar onde ele
tinha subtraído.
Regressar
à pele de primeiro-ministro sem se reinventar significará ficar imóvel à espera
que a oportunidade venha ter com ele. Ora isso só acontecerá, pelo menos a
médio prazo, se as coisas correrem muito mal para os socialistas e,
consequentemente, para o país. Este cenário de crise é para já a melhor
hipótese de Passos Coelho, pois não são poucas as dificuldades que terá para se
afirmar como alternativa nos próximos tempos.
A
personalidade austera de estadista, que Passos, de "pin" na lapela,
tem dificuldade em abandonar, até lavra bem fundo nos portugueses (basta
lembrar Cavaco Silva primeiro-ministro), mas funciona bem enquanto se está no
poder. Na Oposição e quando quem ocupa o Governo vai mostrando alternativas,
mesmo que de alcance limitado, onde antes se jurou que não as havia, a pose de
pai inflexível fica curta para despertar interesse numa mudança. Passos
necessita de explicar o futuro e, para já, ainda parece demasiado agarrado ao
passado. Para quem teve duas recentes vitórias eleitorais, mesmo que amargas, é
difícil atribuir-lhe a imagem de vencedor.
Não
faltará a Passos Coelho a paciência para esperar pela possibilidade de o tempo
lhe dar razão, até porque, para já, tem consigo um partido onde não há
alternativa e nem parece haver alguma vontade de que haja. Mas se o caminho não
é fácil na luta com os seus adversários naturais, também não estará facilitado
com aqueles que deveriam ser os seus aliados.
O
seu parceiro de coligação, o CDS-PP, fez uma leitura diferente da realidade
política e prepara-se para eleger um novo líder, que poderá querer disputar um
centro que a necessidade de enunciar a "social-democracia, sempre!"
só revela como ficou abandonado pelo PSD. E o novo presidente eleito, mesmo se
apoiado pelo partido de Passos Coelho, terá num primeiro mandato a vontade de
alargar o seu espaço político e, como tal, pouca inclinação para se tornar um
problema para o Governo socialista.
O
recandidato a líder do PSD poderá não querer reinventar-se, mas o cenário
adverso exige um novo Passos Coelho.
*Subdiretor
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