sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

RENAMO DENUNCIA RAPTO DE DIRIGENTE NO CENTRO DE MOÇAMBIQUE



A Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), maior partido da oposição em Moçambique, denunciou hoje o rapto do seu delegado distrital de Gondola, Manica, centro do país, por um grupo armado à civil.

Em declarações à Lusa, Sofrimento Matequenha, delegado político provincial da Renamo em Manica, contou que um grupo de homens introduziu-se na noite de quarta-feira na casa do delegado distrital de Gondola e raptou-o, mantendo-se desaparecido.

"Os homens entraram na sala e encontraram-no a assistir televisão às 21:00 de quarta-feira, raptando-o. Mas o delegado resistiu e foi imobilizado com um tiro no pé. Quando o filho tentou acudi-lo, também foi atingido no braço", explicou Sofrimento Matequenha, acrescentando que a situação provocou o pânico entre os vizinhos.

Denunciado o caso à polícia, segundo Sofrimento Matequenha, esta só viria a estar presente no local na manhã de hoje para trabalhos de perícia.

A porta-voz do comando provincial da polícia de Manica, Elcídia Filipe, disse à Lusa que a polícia esta a trabalhar para apurar as circunstâncias e esclarecer o rapto.

Este é o segundo caso de rapto de membros da Renamo em Gondola em menos de duas semanas, tendo o primeiro ocorrido no cruzamento de Inchope, quando um jovem foi levado e mais tarde devolvido com sinais de tortura.

No entanto, também a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) tem denunciado casos de raptos dos seus membros e outros incidentes, imputando-os ao maior partido de oposição.

Na quarta-feira, a Rádio Moçambique avançou que supostos homens armados da Renamo atacaram membros da Frelimo no distrito de Maringué, província de Sofala, onde o partido da oposição mantém uma base militar, e um deles ficou em estado grave.

"Homens armados da Renamo em Maringué queimaram as casas de cidadãos que são membros da Frelimo, balearam pessoas inocentes", disse o primeiro secretário da Frelimo na província de Sofala, centro do país.

Contactado hoje pela Lusa, o porta-voz da Renamo, António Muchanga afirmou que houve apenas uma casa queimada em Maringué e afastou responsabilidades do seu partido.

Segundo Muchanga, tratava-se de um homem que alegadamente recrutava jovens para se apresentarem como desertores da Renamo e que não terá dividido o dinheiro com as respetivas famílias.

Foram as famílias desses jovens, acusou, que queimaram a casa, em retaliação.

Na sexta-feira, a Polícia da República de Moçambique (PRM) acusou a Renamo de ter atacado o povoado de Saute, na província de Gaza, sul do país, tendo matado um motorista de trator.

A polícia moçambicana afirmou também estar em posse de provas implicando a Renamo em alegados recentes ataques a posições das forças de defesa e segurança, apesar de não ter realizado nenhuma detenção e de o partido de oposição negar o seu envolvimento.

As denúncias de incidentes dos dois lados da crise política em Moçambique têm vindo a aumentar nas últimas semanas, com o agravamento da instabilidade no país.

Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.

No dia 20 de janeiro, o secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, foi baleado por desconhecidos no bairro da Ponta Gea, centro da Beira, província de Sofala, centro de Moçambique e o seu guarda-costas morreu no local, num caso que continua por esclarecer.

A Renamo pediu recentemente a mediação do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da Igreja Católica para o diálogo com o Governo e que se encontra bloqueado há vários meses.

O Presidente moçambicano tem reiterado a sua disponibilidade para se avistar com o líder da Renamo, mas Afonso Dhlakama considera que não há mais nada a conversar depois de a Frelimo ter chumbado a revisão pontual da Constituição para acomodar as novas regiões administrativas reivindicadas pela oposição e que só negociará depois de tomar o poder no centro e norte do país.

AYAC/HB (EYAC) // EL - Lusa

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