Miguel
Guedes – Jornal de Notícias, opinião
É
como ler um livro começando pelo fim. Se o ar fosse alvo-puro e se os pés
ficassem em terra, o Estado talvez não comprasse uma solução voadora e mitigada
para a TAP que se vai pagar bem caro daqui a uns anos. Talvez assumisse o
interesse nacional. Quem tiver esperança de que a solução da TAP passe pela
reconfiguração de 50% da participação social do Estado na companhia pode
começar a dizer adeus como se se despedisse, desde já, de um ente querido antes
do check-in. Até porque é realmente difícil dizer adeus aos negócios de Passos
e Portas mesmo após o check-out.
O
controlo estratégico da companhia nacional é impraticável com este acordo
assinado pelo actual Governo, como se constata pela pouca-vergonha e meia de
letra com que a TAP tem tratado a questão da cidade do Porto e do Aeroporto Sá
Carneiro. Mesmo que António Costa se esforce por dizer coisas diferentes do seu
ministro do Planeamento e Infraestruturas, a posição do Governo português está
de mãos atadas ao vazio de interesse estratégico nacional que Humberto Pedrosa,
presidente do Conselho de Administração da TAP, terá manifestado no recente
encontro com Rui Moreira. Não há muito a fazer quando o desdém da TAP pelo
aeroporto da cidade é só mais um joguete para centralizar, construir uma
terceira travessia sobre o Tejo e viabilizar um novo aeroporto no Montijo até
ao final da legislatura. É assim que o cimento central constrói pontes aéreas
para a negociata da TAP.
É
escandaloso que, daqui a uns anos, estejamos a olhar para a falência da TAP
como mais um BPN. O Estado, avalista de empréstimos de milhões, será chamado a
assumir e seremos todos nós a pagar mais um voo nocturno. O brasileiro David
Neeleman pretende rentabilizar os aviões a jacto da sua companhia brasileira
Azul, colocando os seus aviões e pilotos no Porto, arrasando instrumentalmente
com a TAP pela mão do omnipresente especialista em arrasos, Fernando Pinto. Os
negócios com a White, o desmantelamento da Portugália, o comportamento da ANA e
dos franceses da Vinci merecem investigação num pais normal. No entretanto, o
acordo de Rui Moreira com a Ryanair e o reforço de rotas no aeroporto da cidade
por todas as companhias aéreas estrangeiras neste ano permitem clarificar o
superior interesse económico e estratégico do aeroporto do Porto (que só não é
claro para... a TAP e SATA que, ao contrário de todos, suprimem rotas ou diminuem
tráfego).
A
voar baixinho e raso ou a propósito da TAP ser a primeira companhia a fazer
voos internacionais no aeroporto de Vigo. O brasileiro Paulo Henrique Salles é
o responsável pela TAP em Espanha, tendo declarado ao "Faro de Vigo",
há cerca de três semanas, que a companhia tencionava premiar os passageiros que
viajem directamente para Lisboa (por cerca de 90 euros) com estadia e
pequeno-almoço grátis na capital. Gestão danosa ou simples aperitivo? A voar,
até falir.
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