Rafael
Barbosa – Jornal de Notícias, opinião
São
17 e foram apanhados numa conspiração para derrubar o regime angolano. É certo
que não tinham, no momento da detenção, nenhuma Kalashnikov. Mas esse é um
argumento falacioso. Enquanto não se entendiam quanto ao modelo e ao vendedor
das armas automáticas, manipulavam outro tipo de armas de destruição massiva.
Um dos modelos designa-se "Da ditadura à democracia" e foi
desenvolvido por um tal Gene Sharp. Pior, um dos elementos subversivos
produzira a sua própria arma artesanal: "Ferramentas para destruir o
ditador e evitar nova ditadura. Filosofia política da libertação para
Angola". Só um lunático disposto a tudo dá um nome destes a uma arma. Não
serve de atenuante o facto de não ser possível medir o calibre.
Dados
estes factos, não surpreende que, numa democracia como a de Angola, em que há
uma clara separação entre os poderes executivo, legislativo, judicial, militar
e petrolífero (eu sei que a literatura costuma referir apenas os primeiros
três, mas estamos a falar de uma democracia avançada), estes subversivos, que
incluem um rapper, tenham sido condenados a pesadas penas de prisão.
Argumentam
os ingénuos que preparar uma rebelião não é a mesma coisa que executar uma
rebelião. Que entre falar sobre uma arma e empunhar uma arma vai pelo menos a
distância de uma ida prévia à carreira de tiro. Ou ainda, e lembrando o tal
rapper, que quando se diz que a "cantiga é uma arma", se está apenas
a reproduzir uma metáfora. Acontece que a justiça, felizmente, é cega. Não tem
de se preocupar com metáforas. Uma arma é uma arma, independentemente de usar
caneta e papel, ou metal e pólvora.
Causou
igualmente algum impacto em mentes suscetíveis que os 17 subversivos tenham sido
acusados de associação de malfeitores. Gente como a que faz parte da Amnistia
Internacional lembra que este crime não fazia parte do rol inicial e que só
apareceu nas alegações finais do Ministério Público, metida a martelo, para
garantir que não poderia haver suspensão das penas. Como se isso fosse uma
arbitrariedade, em vez de uma demonstração de eficácia. Não estamos fartos de
ver, na Comunicação Social, casos de ladrões, pedófilos e criminosos afins que,
apesar de condenados, beneficiam da suspensão das penas? Não vos dá a volta ao
estômago? Pois ao presidente de Angola também.
Li
por estes dias que um grande escritor angolano avisou que nunca se deve
subestimar a estupidez do regime. Na verdade, o que não deve é dar-se demasiado
crédito a escritores. Se é escritor, publica livros. Livros são armas. Armas
servem para derrubar regimes. A lógica é imbatível e é parecida com a que
atirou os 17 subversivos para a cadeia. No fundo, José Eduardo Agualusa (é
desse escritor que falo) não fez mais do que, estupidamente, confessar a sua
culpa. Cadeia com ele.
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