sábado, 16 de abril de 2016

PR Nyusi debate crise política e económica em Moçambique com instituições europeias



O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, inicia na quinta-feira uma visita de dois dias a Bruxelas, tendo previstas conversas com os titulares das principais instituições europeias sobre a crise política e económica que o seu país atravessa

"É uma oportunidade para se encontrar um espaço de diálogo ao mais alto nível com a União Europeia [UE], com incidência na crise económica, que se junta à crise política", disse à Lusa o representante do bloco europeu em Maputo.

Segundo Sven von Burgsdorff, a deslocação de Nyusi, a primeira que realiza a Bruxelas, surge no seguimento das visitas a outros importantes parceiros europeus de Moçambique, Portugal e França, em julho do ano passado.

A deslocação ficou confirmada em fevereiro, durante a visita da alta representante da UE para Assuntos Externos e Política de Segurança, Federica Mogherini, a Maputo, quando alertou que a instabilidade política em Moçambique ameaça os sucessos alcançados nas últimas décadas.

A nova crise política e militar em Moçambique, associada às dificuldades da sua economia, representa "um desafio maior para autoridades e povo moçambicanos", observou o chefe da delegação da UE em Maputo, e a presença de Nyusi em Bruxelas é também "uma oportunidade para falar com toda a franqueza sobre esses desafios e procurar a melhor forma de os resolver".

Na agenda do chefe de Estado, estão previstos encontros com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e Federica Mogherini, com o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, e ainda com presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.

Moçambique vive uma crise política e militar caracterizada por confrontos entre as forças de defesa e segurança e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), no centro do país, e por ataques a veículos militar e civis em troços das principais estradas da região, atribuídos ao principal partido de oposição.

Na origem desta crise, está a recusa da Renamo em reconhecer os resultados das eleições gerais de 2014 e sua exigência de governar nas seis províncias onde reivindica vitória nas urnas, condicionando a retoma de negociações à mediação da África do Sul, União Europeia e Igreja Católica.

Sublinhando que a UE não recebeu nenhum pedido formal de mediação do Governo e da Renamo, Sven von Burgsdorff comentou que o bloco europeu "está disponível a 100% para apoiar o país" no processo de paz.

"Se as partes envolvidas insistirem na nossa presença, não nos vamos opor", declarou o representante europeu, lembrando que a UE tem uma relação de 32 anos com Moçambique.

Por outro lado, a economia moçambicana tem sido atingida por uma queda vertiginosa do metical face ao dólar, descida das exportações e subida de inflação, por efeito de causas externas, como a baixa cotação de matérias-primas, e também de uma persistente seca que atinge centenas de milhares de pessoas.

Outra ameaça prende-se ainda com o risco de agravamento da dívida pública, num momento em que Moçambique conseguiu restruturar o empréstimo de 850 milhões de dólares, contraído para a empresa estatal de atum, mas em que surgem notícias dando conta da existência de um segundo encargo até agora desconhecido, no âmbito do mesmo dossiê.

Sobre este segundo empréstimo, o representante da UE disse não ter ainda "nenhuma informação oficial do Governo nem das instituições [Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial]" e aguarda mais dados.

Na sexta-feira, o FMI cancelou uma missão prevista para a próxima semana a Moçambique devido às revelações de um empréstimo que desconhecia no âmbito do caso dos "títulos do atum".

"O empréstimo em causa ascende a mais de mil milhões de dólares (884 milhões de euros) e altera consideravelmente a nossa avaliação das perspetivas económicas de Moçambique", disse a diretora do Departamento Africano, Antoinette Sayeh.

A UE é um dos principais parceiros de Moçambique e o próximo programa de apoio prevê um financiamento de 734 milhões de euros até 2020, com foco no fortalecimento do Estado de direito e rigor das finanças públicas.

HB // PJA – Lusa

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