O
Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, inicia na quinta-feira uma visita de dois
dias a Bruxelas, tendo previstas conversas com os titulares das principais
instituições europeias sobre a crise política e económica que o seu país
atravessa
"É
uma oportunidade para se encontrar um espaço de diálogo ao mais alto nível com
a União Europeia [UE], com incidência na crise económica, que se junta à crise
política", disse à Lusa o representante do bloco europeu em Maputo.
Segundo
Sven von Burgsdorff, a deslocação de Nyusi, a primeira que realiza a Bruxelas,
surge no seguimento das visitas a outros importantes parceiros europeus de
Moçambique, Portugal e França, em julho do ano passado.
A
deslocação ficou confirmada em fevereiro, durante a visita da alta
representante da UE para Assuntos Externos e Política de Segurança, Federica
Mogherini, a Maputo, quando alertou que a instabilidade política em Moçambique
ameaça os sucessos alcançados nas últimas décadas.
A
nova crise política e militar em Moçambique, associada às dificuldades da sua
economia, representa "um desafio maior para autoridades e povo
moçambicanos", observou o chefe da delegação da UE em Maputo, e a presença
de Nyusi em Bruxelas é também "uma oportunidade para falar com toda a
franqueza sobre esses desafios e procurar a melhor forma de os resolver".
Na
agenda do chefe de Estado, estão previstos encontros com o presidente da
Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e Federica Mogherini, com o presidente
do Parlamento Europeu, Martin Schulz, e ainda com presidente do Conselho
Europeu, Donald Tusk.
Moçambique
vive uma crise política e militar caracterizada por confrontos entre as forças
de defesa e segurança e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana
(Renamo), no centro do país, e por ataques a veículos militar e civis em troços
das principais estradas da região, atribuídos ao principal partido de oposição.
Na
origem desta crise, está a recusa da Renamo em reconhecer os resultados das
eleições gerais de 2014 e sua exigência de governar nas seis províncias onde
reivindica vitória nas urnas, condicionando a retoma de negociações à mediação
da África do Sul, União Europeia e Igreja Católica.
Sublinhando
que a UE não recebeu nenhum pedido formal de mediação do Governo e da Renamo,
Sven von Burgsdorff comentou que o bloco europeu "está disponível a 100%
para apoiar o país" no processo de paz.
"Se
as partes envolvidas insistirem na nossa presença, não nos vamos opor",
declarou o representante europeu, lembrando que a UE tem uma relação de 32 anos
com Moçambique.
Por
outro lado, a economia moçambicana tem sido atingida por uma queda vertiginosa
do metical face ao dólar, descida das exportações e subida de inflação, por
efeito de causas externas, como a baixa cotação de matérias-primas, e também de
uma persistente seca que atinge centenas de milhares de pessoas.
Outra
ameaça prende-se ainda com o risco de agravamento da dívida pública, num
momento em que Moçambique conseguiu restruturar o empréstimo de 850 milhões de
dólares, contraído para a empresa estatal de atum, mas em que surgem notícias
dando conta da existência de um segundo encargo até agora desconhecido, no
âmbito do mesmo dossiê.
Sobre
este segundo empréstimo, o representante da UE disse não ter ainda
"nenhuma informação oficial do Governo nem das instituições [Fundo
Monetário Internacional e Banco Mundial]" e aguarda mais dados.
Na
sexta-feira, o FMI cancelou uma missão prevista para a próxima semana a
Moçambique devido às revelações de um empréstimo que desconhecia no âmbito do
caso dos "títulos do atum".
"O
empréstimo em causa ascende a mais de mil milhões de dólares (884 milhões de
euros) e altera consideravelmente a nossa avaliação das perspetivas económicas
de Moçambique", disse a diretora do Departamento Africano, Antoinette
Sayeh.
A
UE é um dos principais parceiros de Moçambique e o próximo programa de apoio
prevê um financiamento de 734 milhões de euros até 2020, com foco no
fortalecimento do Estado de direito e rigor das finanças públicas.
HB
// PJA – Lusa
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