Em
Angola, a escassez de medicamentos e de recursos humanos, bem como a falta de
material logístico nos hospitais públicos, continuam a provocar a morte de
várias centenas de doentes, sobretudo crianças.
Nelson
Sul D’Angola/DW – Folha 8
Mais
de uma centena de mortes são registadas todos os dias nas unidades hospitalares
públicas na província de Benguela, segundo dados avançados pelas unidades
hospitalares.
Numa
ronda efectuada pela DW África por várias unidades hospitalares, incluindo o
Hospital Geral de Benguela, foi possível constatar uma interminável fila de
pacientes nos corredores. Além da escassez de medicamentos e da incapacidade de
recursos humanos, também há falta de material logístico para atender a procura.
Amélia
Chivela, 49 anos, conta-nos que em menos de 24 horas perdeu dois familiares que
se encontravam internados no Hospital Municipal de Benguela.
“Cheguei
aqui ao hospital municipal na segunda-feira com a minha sobrinha, vindas do
Hospital da Graça e a criança acabou por morrer. Além disso, tenho mais outro
sobrinho que morreu agora”, conta Amélia.
“Se
não tiveres dinheiro, não tocam no teu corpo”
Entretanto,
no Hospital Geral de Benguela, entre os doentes que aguardavam pela sua vez
para serem atendidos estava José Manuel que afirma que no hospital central da
província, se os familiares dos doentes não tiverem dinheiro, os médicos e
enfermeiros recusam-se a atender o paciente.
“A
única coisa que existe aqui no hospital são receitas e a mão-de-obra dos
médicos e enfermeiros, não tem mesmo mais nada. Aqui se não tiveres dinheiro no
bolso, eles não tocam no teu corpo, porque mandam comprar tudo, até seringas. É
lamentável. Até a sala de recepção do hospital transformou-se em sala de
pacientes porque já não há espaço. Em cada cama, colocam três pacientes”,
descreve.
A
imagem de uma Angola em crescimento enquanto a população vive na miséria também
é alvo de duras críticas por parte de José Manuel. Para este cidadão, o quadro
actual do sistema de saúde angolano só poderá alterar-se quando os governantes
e os seus familiares directos começarem a ser assistidos nos hospitais
públicos.
José
Manuel garante que “crescimento é só nos bolsos deles. Os medicamentos,
praticamente, só se encontram nas farmácias e nas clínicas e nós que somos
pobres não temos dinheiro para sermos assistidos nessas clínicas. Se for feita
uma pesquisa, não se vai encontrar nos hospitais públicos os filhos e
familiares desses que têm dinheiro, os tais magnatas”.
O
director provincial da Saúde em Benguela, Bernabé Lemos, recusou-se a comentar
o assunto, alegando “razões de agenda”.
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