sexta-feira, 22 de abril de 2016

PRINCE AINDA NÃO MORREU



Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Miguel Cadete – Expresso

Prince ainda não morreu

Li no twitter que não nos cabe lamentar as estrelas que se apagam e morrem pois não as conhecemos pessoalmente. É certo. Li também que só as choramos porque nos ajudaram a tomar um conhecimento de nós próprios que seria improvável sem a sua existência. Tudo isto é subjetivo. Mas tudo isto é verdade com Prince Rogers Nelson (1958-2016). É provável que todos guardemos uma sua canção que marcou a nossa vida num momento ou outro. É só isso que se exige a uma estrela pop. É tudo isso que se exige. E Prince não deixou nada por cumprir.

Do princípio ao fim, foi uma força da natureza, no sentido de ter sido ele quem escolheu quase todos os caminhos que trilhou. O tamanho importa: 1,58 metros de gente impôs-se como bem entendeu, enquanto sex-symbol, autor, como músico ou pessoa com direito a todos os direitos que são dados às pessoas, deixando uma história que nem todos poderemos compreender.

Morreu ontem, nos seus estúdios de Paisley Park, aos 57 anos, depois de a polícia e os serviços médicos terem sido chamados a uma ocorrência, eram 9h43 em Mineápolis (menos seis horas do que em Lisboa).

Viveu toda a vida nessa cidade, estado do Minnesota, apesar da notória diferença de fuso horário.

Ontem, foi encontrado num elevador, inanimado, e declarado morto, depois de uma tentativa de reanimação, vinte minutos depois.“Às vezes cai neve em abril”, repetem as primeiras páginas dos jornais de hoje, recordando uma das suas baladas mais reincidentes. “Às vezes sinto-me mesmo mal”.

A notícia foi distribuída ao mundo pelo site TMZ, o mesmo que anunciou em primeira mão a morte de Michael Jackson, o mesmo site que tem a melhor rede de informadores infiltrada nos meios que rodeiam as celebridades. Para o bem e para o mal. Os órgãos de comunicação social que se dizem sérios confirmaram, depois, a informação. Prince morreu. Viva Prince.

Na rádio e na TV, comentadores, jornalistas, músicos, pessoas do meio, eu incluído, apressaram-se a balbuciar uma explicação, uma homenagem, um aforisma que resumisse a vida e, já agora, a morte de Prince. As redes sociais foram inundadas. Até que chegou o relatório da polícia local, um par de horas depois: Prince foi encontrado, por uma última vez, sem sentidos, num elevador de Paisley Park, no lugar onde morava e mantinha os estúdios que o tornaram mundialmente conhecido.

A história era e continua a ser, muito claramente, confusa. Vamos aos factos: atuou, por uma última vez, em Atlanta, há uma semana atrás. Um dia depois desse concerto, a 14 de abril, o seu jato privado aterrou de emergência em Moline, no estado de Illinois. Os seus representantes declararam que se tratava de uma gripe. Era sexta-feira e a viagem de avião até ao lar de Paisley Park não demoraria mais do que 48 minutos.

O mesmo site que anunciou a morte de Prince, noticiou, durante esta madrugada, que o autor de “Sign o’ the Times” foi, nessa ocasião, recuperado de uma sobredose. Terá recusado as recomendações dos médicos e três horas após ter chegado ao hospital, saiu.

Outras notícias contam que um dia depois surgiu a andar de bicicleta e que durante uma festa terá pedido aos presentes para “guardarem as suas orações” para mais tarde.

Ontem, encerrou uma história muito maior do que a dos seus últimos dias, sem que nos fosse permitido conhecê-la. Prince era assim mesmo, cioso de si e de todas as suas coisas. Não nos cabe saber muito mais. E, na verdade, não é preciso. Tal como Jonathan Swift, autor das “Viagens de Gulliver”, mais prontas a agredir do que a entreter, ele podia escrever no seu epitáfio com toda a propriedade e mais alguma: “Vai viajante, e, se puderes, imita alguém como este que se consumiu até ao fim pela causa da liberdade”.

OUTRAS NOTÍCIAS

Conselho de Finanças Públicas desacredita Mário Centeno. O órgão vigilante presidido por Teodora Cardoso considera excessivas as previsões de crescimento avançadas pelo Governo para 2016. A subida de 1,8% do PIB é dada como irrealista e enviesa todas as previsões até 2020. Outras instituições preveem um crescimento que varia entre 1,4% e 1,7%. O CFP aponta o dedo a uma exagerada subida do consumo e do investimento nas previsões do executivo, recomendando moderação num cenário em que não foram tomadas em conta as alterações apresentadas no último Orçamento do Estado. Este parecer acompanha o Programa de Estabilidade que o Governo de Portugal vai apresentar em Bruxelas.

Património imobiliário vai pagar mais impostos. O Programa de Estabilidade tornado público ontem à noite prevê que a taxação do “património imobiliário global detido” deverá ser especialmente agravada a quem não arrende as casas ou deixe as propriedades por utilizar, de modo a melhorar a eficiência na utilização dos recursos. “Até 2020, o Governo promete um quadro de estabilidade dos principais impostos, usando a política fiscal para a promoção do crescimento e do emprego e para aumentar a eficiência através do apoio a objetivos setoriais”. Leia aqui, na íntegra, o Programa de Estabilidade e o Programa Nacional de Reformas.

Draghi bate forte contra a pressão alemã. É a manchete do “El País” de hoje. O presidente do Banco Central Europeu respondeu com dureza às críticas do Governo alemão, isto é, Wolfgang Schäuble, quanto à sua política monetária. Depois de mais uma reunião de governadores, Draghi deixou claro que não admite interferências na sua política monetária e que estas críticas só conduzem à tomada de mais medidas restritivas. Os alemães queixam-se da penalização que os seus reformados sentem, chegando a falar em “expropriação” devido às baixas taxas de juros que remuneram os seus reformados.

6ª temporada da Guerra dos Tronos estreia segunda-feira. E Rui Cardoso conta-lhe todos os segredos de série da HBO sabendo que entre bons e maus quase ninguém escapa. Sabia o caro leitor que Yara, irmã de Teron Greyjoy, regressa? E que não é flor que se cheire?. Está tudo aqui.

Francesco Totti muda tudo. Aos 86 minutos de jogo ele entrou em campo. Aos 39 anos de idade ele marcou dois golos capazes de virar o resultado e levar a Roma à vitória sobre o Torino. O primeiro aconteceu 22 segundos depois de pisar a relva. Dois minutos e meio depois marcou outro. Spaletti, o treinador, até o queria encostar. Mas assim não dá diz Pedro Candeias.

Terrorista de Bruxelas trabalhou no Parlamento Europeu e no aeroporto. Najim Laachraoui trabalhou no aeroporto de Zaventem até 2012, com contratos temporários, numa empresa que aí opera. A nova informação vem adicionar mais detalhes à notícia recente que identifica o terrorista como tendo sido funcionário das limpezas também no Parlamento Europeu.

BCP abre porta a novo investidor. Lê-se na primeira página do “Jornal de Negócios”. O banco só vai fazer a fusão de 75 ações e não de 193, como havia sido proposto pela administração. Ter condições para “aproveitar” disponibilidade de investimento pode fazer a diferença” acrescenta Nuno Amado no “Diário de Notícias”, depois de os acionistas abdicarem do direito de preferência sobre um aumento de capital.

FRASES

“Dá-me pena que Pinto da Costa queira desviar atenções”. Julen Lopetegui, ex-treinador do FC Porto, ao “Record”

“O político que mais admiro é Fernando Medina. Um portuense que comanda Lisboa”. Manuel Serrão ao “i”

“Obedecemos à lei, não aos políticos”. Mario Draghi

“João Sousa tem valor para subir ainda mais no ranking”. Jim Courier, ex-tenista, no “Diário de Notícias”

O QUE ANDO A LER E A VER

Na semana passada, o escultor português Rui Chafes recebeu oPrémio Pessoa, uma distinção oferecida desde 1987 pelo Expresso e pela Caixa Geral de Depósitos a quem “se tenha distinguido como protagonista na vida científica, artística ou literária”.

Quatro anos antes, em 2012, Rui Chafes publicou, com a chancela Assírio & Alvim, um pequeno texto intitulado “Entre o Céu e a Terra” que conta a sua saga pessoal enquanto escultor, pertencente a uma vasta legião de outros escultores que desde o século XIII o trouxeram até aqui num caminho épico que o conduziu “à esperança de conseguir fazer alguma coisa minha”.

A propósito de uma escultura que se encontra no Palácio Borghesi, em Roma, a impressionante “Apolo e Dafne” de Gian Lorenzo Bernini, Chafes escreveu “esta sucessão de emoção, deslumbramento e impotência repete-se, infinitamente, de cada vez que os olhos silenciosos de alguém pousam nesta pela branca, sensual, prestes a explodir, prestes a desaparecer. Como é possível representar assim os músculos e as veias a latejar que se escondem por baixo dessa suave seda branca? Como é possível aprisionar assim a vida, para sempre, num silencioso manto imaculado? É uma imagem muito difícil de aguentar, é uma emoção demasiado grande; chama-se Paixão”.

Hoje, agora, é fácil encontrar nas canções de Prince esse sopro da morte que Rui Chafes percorre ao longo da história da escultura. E do seu pequeno mas tão vibrante texto seria possível roubar muitas outras citações provavelmente mais adequadas ao acontecimento.

Mas é só naquele momento em que Dafne se transforma em loureiro que tudo volta a fazer sentido. Com o arrepio, mesmo na música popular, que são duas ou três notas que não valem nada e que nos comovem.

“It's silly, no?
When a rocket ship explodes and everybody still wants to fly
But some say a man ain't happy unless a man truly dies
Oh why?”

Por hoje é tudo. Logo mais chega o Expresso Diário. O site do Expresso será, até lá, às 18 horas, atualizado em permanência. Amanhã é dia de semanário.

Tenha um bom fim de semana.

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