Adérito
Caldeira - @Verdade
O
pão que nos roubam no peso ficou 30% mais caro, a água que não é potável para a
maioria do povo subiu mais de 15%, a electricidade de má qualidade aumentou
15%, o preço da comida agravou-se em mais de 20% porém o nosso empregado
decidiu que o salário do seu patrão só vai crescer entre 4% e 12,5%.
Os
trabalhadores moçambicanos, já habituados ao discurso do ano atípico (seja pela
seca, devido às cheias, pela guerra ou por culpa da “mão externa”) não tinham
grandes expectativas sobre os aumentos salariais anunciados nesta
terça-feira(26) pelo Governo de Filipe Nyusi, ainda por cima com as dívidas
secretas ilegalmente avalizadas pelo Estado e cujo valor ainda é desconhecido.
“Como
tenho ouvido falar das dívidas (da EMATUM e da Proindicus) que o nosso país tem
não espero que o salário aumente quase nada”, resignou-se Esmeralda.
Esta
professora primária, numa escola pública nos arredores da cidade de Nampula, e
que verá o seu salário aumentar menos de 500 meticais não tem ilusões, “nos
anos anteriores aumentaram 6% a 7%, é este ano que devo esperar um aumento
significativo com todos os problemas que ouço falar? Penso que não. Pelo
contrário este suposto aumento ainda vai agravar mais os preços dos produtos.
Se dependesse de mim era preciso aumentar no mínimo 20%, tendo em conta o custo
de vida”.
O
custo de vida que a professora Esmeralda refere-se aumentou, oficialmente, só
no primeiro trimestre do ano 6,34% com o maior aumento na “divisão de
alimentação e bebidas não alcoólicas”, de acordo com o Instituto Nacional de
Estatísticas (INE).
“Relativamente
a igual período de 2015, o País registou um aumento de preços na ordem de
13,61%. A divisão de alimentação e bebidas não alcoólicas destacou-se com um
aumento de 22,14%” refere o INE que baseia o seu índice em preços praticados
nos estabelecimentos formais.
Outro
funcionário da Educação, esse sector prioritário para o “Desenvolvimento do
Capital Humano”, afecto no distrito de Rapale e que terá com este aumento
anunciado verá o seu salário aumentar menos de 1000 meticais afirma que “estes
aumentos têm sido de tal sorte que agravam o custo de vida. Eu penso se
aumentassem, pelo menos 1300 meticais seria normal”, lamentou o professor
Alexandre.
Agricultura
que emprega a maioria dos moçambicanos volta a ter o menor aumento
A
maioria dos moçambicanos, cerca de 68%, continuam trabalhar no sector que
sempre foi considerado o mais importante nos discursos dos sucessivos Chefes de
Estado, o ramo de agricultura, silvicultura e pesca. Porém estes trabalhadores,
que do seu suor virá supostamente a segurança alimentar e a redução das
importações, continuam a ser os que auferem os piores vencimentos no nosso país
e, de forma recorrente, recebem os menores aumentos, no ano passado tiveram um
aumento de 5,74% e este ano só terão 3,61% de melhoria salarial.
Eis
os salários mínimos aprovados pelo Governo de Nyusi, e que estão em vigor desde
o passado dia 1 de Abril:
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Função
Pública terá aumentos entre 4% e 7%
“O
nosso Governo não nos paga bem, disso ninguém tem dúvidas pelo menos nós do
Ministério da Saúde. Este 2016 prefiro esperar a percentagem que eles quiserem
aumentar”, desabafaou Felisberto, entrevistado pelo @Verdade na semana passada
quando foi tornado público o acordo na Comissão Consultiva do Trabalho, que
está preocupado com a possibilidade, bem real diga-se, que com este anúncio do
Executivo os preços voltem novamente a agravar-se. “O que me preocupa é que o
salário sobe uma vez por ano, mas os preços dos produtos, no mercado, são
agravados quase todos os dias”, acrescentou o nosso entrevistado.
Este
profissional de saúde, num dos distritos da província de Nampula, “gostaria que
acrescentassem pelo menos 1500 meticais” ao seu vencimento actual, mas em
função do aumento de 7% anunciado por Carmelita Namashulua, a ministra ministra
da Administração Estatal e Função Pública, deverá ver o seu salário crescer
menos de 1000 meticais.
Para
a Função Pública o Governo de Nyusi determinou que o aumento para será de 7%,
para quem ganha menos (professores primários, enfermeiros, auxiliares técnicos
de saúde, assistentes técnicos de saúde, médicos, guardas policiais, serviço
cívico e forças de defesa e segurança), e de 4% para os melhor remunerados.
O
que a partida parece ser uma decisão positiva em termos reais quer dizer que os
altos funcionários do Executivo, que ganham cerca de 100 mil meticais, terão um
aumento igual ao que ganha actualmente um polícia ou enfermeiro, estes por sua
vez verão o seu vencimento aumentar menos de 1000 meticais.
Como
é o caso de Cristina, enfermeira na cidade de Nampula, que declarou ao @Verdade
que o aumento deveria atingir, pelo menos, 25% para suprir as necessidades
básicas. “Eu acho que o salário tinha que aumentar um pouco mais para cobrir as
nossas despesas. Só para fazer compras de alimentação precisamos de mais de
cinco mil. É complicado para alguém que recebem, por exemplo, nove mil”,
desabafou a profissional de saúde.
Não
recordando que na sua tomada de posse o Presidente Filipe Nyusi prometeu que a
“alimentação condigna não deve constituir um privilégio. Ela é um direito
humano básico que assiste a todos os moçambicanos” Júlio, um outro profissional
da Educação e Desevolvimento Humano residente no município da Maxixe, disse ao
@Verdade que “a luta é para garantir as refeições básicas: água, açúcar, folha
de chá, pão ou mandioca cozida, arroz e carapau importado porque o peixe fresco
sai mais caro. O coco que na altura comprávamos a 5 meticais agora custa 12 a
20 dependendo do tamanho”.
Os
agentes da Polícia da República de Moçambique, que já prometeram reprimir
qualquer manifestação popular mesmo que seja pacífica, verão o seu salário
crescer somente 7%, o que representa um aumento de menos de 500 meticais para a
maioria dos membros da corporação cujo salário ronda os 5 mil meticais.
Pelo
menos trabalho não lhes faltará pois certamente o crime será uma alternativa
para os milhares de desempregados, e até mesmo alguns trabalhadores, incapazes
de ganharem honestamente o seu pão de cada dia em Moçambique.
*Adérito Caldeira/ Leonardo Gasolina
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