Em
Portugal, ex-presidente moçambicano, Joaquim Chissano, defendeu a
desmilitarização das forças da RENAMO, principal força da oposição. Para ele,
"nada de outro mundo".
É
urgente o fim do conflito político-militar. Moçambique precisa restabelecer o
clima de confiança para atrair investidores e fortalecer a economia em queda.
É
à luz deste apelo lançado por empresários em Lisboa que o ex-Presidente
moçambicano, Joaquim Chissano, defende a desmilitarização das forças da RENAMO,
principal força da oposição. Na opinião dele, uma das condições para o regresso
da paz e estabilidade neste país africano lusófono do Índico.
Luísa
Digo, ex-primeira-ministra moçambicana, tem fé no diálogo e acredita em
cedências nas negociações, ainda sem data marcada, entre o atual Presidente
moçambicano Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama, líder da RENAMO.
Chissano
e Luísa Diogo, entre outras figuras da elite dirigente, participaram esta
terça-feira (28.06.2016), em Cascais (distrito de Lisboa), Portugal, na conferência
“Moçambique-Portugal – Pontes para o desenvolvimento económico.”
Nada
de outro mundo
O
que a FRELIMO e a RENAMO deveriam fazer para preservar a paz em Moçambique?
A
DW África esteve com Joaquim Chissano que diz ter a receita para o regresso da
estabilidade e segurança no país: “Não é nada de outro mundo. Aqui o ponto
principal é desarmar a RENAMO e desmilitarizar o partido RENAMO, depois segue o
resto que é toda essa filosofia de reconciliação que falamos desde há muito tempo.
Portanto, o que devem fazer é criar as bases para uma verdadeira reconciliação
de todos os moçambicanos”.
Para
o antigo Presidente moçambicano, é a RENAMO que deve dar essa garantia: “Porque
quem voltou às armas não foi o Governo, mas a RENAMO. Portanto, que garantias a
RENAMO vai dar?”
Chissano
participou de uma conferência visando consolidar as pontes para o
desenvolvimento económico e fomento das relações entre Moçambique e Portugal.
Armas
devem ficar de lado
A
antiga primeira-ministra moçambicana, Luísa Diogo, que também participou no
evento, sublinha a importância do diálogo entre as partes: “Sem diálogo e pela
força das armas não encontraremos a solução. Moçambique tem experiência e pela
história de libertação do próprio país, sabemos que não se pode apostar somente
nas armas, porque não é com as armas que se resolve um conflito”.
A
propósito de diálogo, o ex-chefe de Estado, que esta semana recebe o Prémio
Norte-Sul 2015 do Conselho da Europa, acredita que será possível uma
aproximação de posições entre o Governo e a RENAMO: “Evidentemente, não há
outra maneira. Eu penso que nem é do interesse da RENAMO continuar nas matas e
a ser visto como um partido não credível por manter armas de um lado e [ter]
membros no Parlamento ao mesmo tempo e ser acusado dos massacres, porque está
muitas vezes conotada com o terrorismo, etc. Eu creio que a RENAMO não está
interessada nisso. E o Governo, do seu lado, não está interessado em continuar
com um país cuja economia vai-se tornando de novo uma economia de guerra, o que
não pode ser”.
Urgência
O
maior partido da oposição em Moçambique é apontado como responsável pelos
ataques a civis nas estradas e empresas, como a brasileira VALE.
Por
outro lado, face às exigências da RENAMO, o Governo moçambicano tem recusado
entregar o poder nas províncias a governadores nomeados pelo partido dirigido
por Afonso Dhalakama.
Fala-se
também de alegadas execuções extra-judiciais e de ataques contra representantes
da RENAMO por parte de desconhecidos, mas até hoje sem que tenha havido
condenações.
Perante
tudo isso, o cessar-fogo é imperativo e urgente, sublinha Luísa Diogo: “O
Governo colocou a questão do cessar-fogo como a primeira condição e é
normalmente assim. Até citaria o ex-Presidente Chissano quando diz que é
difícil conversar quando as armas estão a troar. Enquanto isso não acontece, é
preciso continuar a persistir para que isso possa acontecer”.
Ruim
para os negócios
E
com urgência, destaca a ex-primeira-ministra, afinal a cada dia se perdem vidas
e empresas, a possibilidade de terem sucesso. “E cada dia há investimentos que
vão sendo adiados. É necessário que cada dia seja valorizado do ponto de vista
das consequências que esses dias têm, a começar nas vidas humanas”, explica
ela.
Segundo
Luísa Diogo, terá de haver cedências para aproximar as partes. Por exemplo, no
que toca à partilha do poder, desde que isso “não ponha em causa a existência
de Moçambique como Nação”.
“Ninguém
melhor que o Presidente da República, que é o símbolo da unidade do país, para
avaliar, com os seus conselheiros, esta questão. Ele estabeleceu [criou] uma
equipa que vai cuidar de preparar as bases para que este diálogo frutuoso entre
o Presidente da República e o líder da RENAMO”.
Uma
vez que os empresários precisam de um clima de confiança e de estabilidade para
investir, o entendimento é crucial, adverte Salimo Abdula, presidente da
Confederação Empresarial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
“É
preciso que os políticos não percam o foco. Vinte anos depois [dos Acordos de
Paz, assinados em Roma], não faz sentido nós estarmos a ver o cenário triste
que estamos a encontrar agora. É desta forma que pedimos o empenho [da
comunidade] internacional, que não jogue como o pau de dois bicos, mas sim no
sentido coerente e preciso para que, em primeiro lugar, ajude a cessar o
conflito político-militar”, acredita Abdula.
João
Carlos, de Cascais – Deutsche Welle
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