Mariana
Mortágua* - Jornal de Notícias, opinião
O
episódio, bem ao jeito arrogante e despótico do ministro alemão, já se repetiu:
quando confrontado com os problemas do seu sistema bancário, o governante
dispara publicamente contra Portugal. Em fevereiro assegurava que o país não
tinha resiliência financeira e, seis meses depois, criava propositadamente um
incidente em torno de um falso segundo resgate a Portugal.
A
estratégia de Schäuble é descarada, mas não é nova. Desde a crise que a elite
burocrática europeia se aliou ao poder financeiro e aos grupos políticos de
Direita para garantir o business as usual. Os eurocratas conservariam o seu
poder sem que ninguém questionasse a falência das instituições europeias. Os
gigantes da finança continuariam o seu negócio. E a Direita, com a ajuda dos
eurocratas, e sem nunca questionar a finança, garantiria o apoio para governar
sem sobressaltos e o respaldo para impor o plano ideológico que sempre
desejaram.
A
constante criação de bodes expiatórios foi crucial para a estratégia de
conservação do poder desta tríade. Afinal, a culpa era da dívida pública e não
do sistema financeiro. Afinal, o problema estava nos governos preguiçosos e
gastadores, e não no péssimo desenho das instituições europeias, e por aí
adiante.
Depois
de uma década de austeridade os problemas mantêm-se e, porque nada foi feito,
vivemos na iminência de uma nova crise financeira. À cabeça está o Deutsche
Bank, o maior banco alemão, o tal que provoca em Schäuble uma irresistível
vontade de atiçar os mercados contra Portugal.
Depois
de se ter descoberto que escondeu 9000 milhões de euros de perdas e de ter sido
condenado por manipulação de taxas de juro, o banco apresentou prejuízos
recorde. A sua filial nos EUA chumbou nos testes de stress e o FMI considera-o
um perigo sistémico. A cereja no topo do bolo foi o resultado dos testes
europeus, que colocam o Deutsche Bank como o 10.º pior em resiliência de
capital. Curiosamente, o pior de todos, o italiano Monte Paschi, tinha também
andado a esconder prejuízos com a ajuda de um esquema montado com o próprio
Deutsche Bank.
Não
nos deixemos enganar. O bode expiatório de Schäuble somos nós, mas o problema
está, desde o início, na banca. É difícil saber ao certo o que vai acontecer,
mas uma coisa é garantida: para salvar o seu banco a Alemanha há de contornar as
regras europeias que entender.
*
Deputada do BE
Sem comentários:
Enviar um comentário