Concessões
foram acordadas pelo anterior governo
Os
contratos de concessão para prospecção, pesquisa, desenvolvimento e produção de
petróleo e gás natural estão sob escrutínio na Assembleia da República. Apesar
das vozes que lembram que o País tem direito a conhecer os seus recursos
geológicos, há críticas à ausência de avaliação de impacte ambiental
e às contrapartidas assumidas pelos concessionários, consideradas
insuficientes. O tema vai esta tarde a debate no plenário da Assembleia da
República.
Desde
1939 foram feitas em Portugal 175 operações de pesquisa de petróleo e gás
natural em terra e no mar. O País importa a totalidade das suas necessidades de
hidrocarbonetos, os produtos com maior peso no défice energético
português.
Apesar
da aposta nas energias renováveis, os dados de 2014, os últimos disponíves,
revelam que as importações de petróleo se mantêm ao nível de
1990. Já as importações de gás estabilizaram desde 2005 à volta dos quatro
milhões de toneladas equivalentes de petróleo. Apesar da recessão económica, os
últimos dados disponíveis indicam que a economia portuguesa gasta mais de 7 mil
milhões de euros em petróleo bruto e gás natural.
Lagosta e Lagostim:
dois casos de submissão aos interesses das petrolíferas
Em
Outubro de 2011 o governo do PSD e do CDS-PP assinou com um consórcio liderado
pela espanhola Repsol dois contratos de concessão para prospecção e
eventual produção de petróleo na costa algarvia. Os contratos eram idênticos e
as concessões foram baptizadas por Lagosta (entre Quarteira e a
Fuseta) e Lagostim (entre a Fuseta e Vila Real de Santo
António).
Existem
mais de uma dezena de concessões em terra e no mar
Distribuição
das concessões de prospecção e exploração de petróleo e gás natural
Apesar
de a lei não obrigar à avaliação de impacte ambiental, o actual regime
jurídico permite que esta seja realizada em função da localização,
dimensão ou natureza do projecto, critério em que a prospecção de petróleo ou
gás natural se pode enquadrar. O governo, enquanto se declarava atento às
questões ambientais em resposta a perguntas de deputados, recusou fazer essa
avaliação.
Os
contratos de concessão para prospecção foram assinados por oito anos
e para exploração por 30 anos. O consórcio que a Repsol partilha hoje com
a Partex, da Fundação Calouste Gulbenkian, assumiu uma renda de 15 euros por
quilómetro quadrado nos primeiros três anos, subindo para o dobro nos
restantes. Se chegar à fase de exploração, o valor passa para 240 euros por
ano. Pelos 3200 quilómetros quadrados das duas concessões, a Repsol e a Partex
vão pagar ao Estado perto de 770 mil euros por ano.
Contrapartidas
asseguradas pela Repsol/Partex depois de atingir resultados líquidos positivo
Os
contratos iniciais previam como contrapartidas o pagamento à Direcção
Geral de Energia e Geologia de 10 cêntimos por barril na concessão Lagostim e
de 15 cêntimos na concessão Lagosta, depois de atingir resultados líquidos
positivos. A Repsol e a Partex só começam a pagar as contrapartidas ao Estado a
partir do momento em que fiquem cobertos os investimentos, ou seja, com lucro
garantido. Numa adenda, foi adicionado o pagamento, nas mesmas condições, de
uma percentagem sobre o valor dos barris.
O
perigo para o turismo e a experiência espanhola
Muito
perto da Lagosta e Lagostim, desde a costa da Andaluzia até
Tarragona, o governo espanhol atribuiu concessões idênticas à Repsol. No país
vizinho, ao contrário da postura do governo do PSD e do CDS-PP, o
executivo obrigou a avaliação de impacte ambiental.
Um
dos argumentos esgrimidos por alguns partidos tem sido os efeitos das
operações na costa algarvia para o turismo na região. Ao largo de Tarragona,
junto das Ilhas Baleares, as operações já estão mais avançadas que em Portugal.
De
acordo com o Instituto de Estatística das Ilhas Baleares, o número de turistas
na região aumentou em cerca de um milhão de pessoas por ano entre 2009 e 2015,
ultrapassando os 12 milhões. Já em Salou, cidade balnear junto a Tarragona,
foram quase 7 milhões de turistas que pernoitaram na cidade em 2015.
AbrilAbril,
em 15 de Junho de 2016 – republicado hoje
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