Isabel
Moreira – Jornal de Notícias, opinião
Mais
uma vez, o PSD mostrou que não sobra nada do que dá nome ao partido – social
democracia.
Vem
sendo evidente para todas e para todos que o PSD não tem discurso. Podia ter,
mas não tem. Escolheu a trincheira de uma nova direita, desconhecida da nossa
memória democrática, uma direita que apelida de “bolchevistas” ou produtos “das
esquerdas radicais” medidas consensuais à social democracia mediana, como
manuais escolares gratuitos para alunos do 1º ciclo básico.
Desta
vez, o PSD foi mais longe no suicídio, na destruição do legado de um partido
que fez parte da construção da democracia portuguesa.
No
debate de quinta-feira, marcado pelo PSD, sobre as consequências das cativações
orçamentais nos serviços públicos, a deputada oradora foi Maria Luís
Albuquerque. Não vou perder tempo sobre o rosto do governo que cortou, demitiu,
degradou, desmotivou e desorganizou em matérias de serviços públicos (tendo
mesmo um plano para cortar mais, caso tivesse continuado a governar) teve o
desplante de dizer acerca deste orçamento de estado. Foi tudo obsceno. Foi
particularmente obsceno por ter sido dito pela deputada com o CV conhecido.
Desplante
é uma coisa, destruir o legado de um partido político é outra. Ora, Maria Luís
Albuquerque, na sua intervenção, disparou sobre os sindicatos, descobriu que
representam interesses obscuros, talvez lóbis, assim, de repente, todo um
discurso em nome do PSD que trata o sindicalismo como um obstáculo maldoso,
quem sabe endinheirado.
Imagino
que na Arrow Global Maria Luís Albuquerque não tenha de perder muito tempo a
pensar em direitos dos trabalhadores. Mas no Parlamento fala em nome do PSD e
arrasa uma das bases da social-democracia: a defesa do sindicalismo.
O
PSD, assim, atira para um lixo cósmico o legado ao qual pertencia, à Europa
social que retirou consequências de um conflito histórico entre capital e
trabalho. As lutas sociais não foram ignoradas pelos democratas e a necessidade
de regular os conflitos foi o berço do triunfo do movimento operário e
sindical. Sem este movimento, como o PSD usava saber, pura e simplesmente não
haveria Estado social.
A
longa história da violação grosseira da dignidade das trabalhadoras e dos
trabalhadores na era do capitalismo selvagem, quebrada com o sindicalismo, com
a representação dos direitos dos trabalhadores, foi, para os defensores das
correntes socialistas e sociais-democratas, uma vitória dos trabalhadores e da
sociedade. Não há social-democrata que se preze que admita que uma sociedade é
decente se a parte mais fraca da relação laboral – o trabalhador – não tem
direito a estar sindicalizado ou que a sociedade é decente se as leis laborais
são impostas sem concertação social.
Estamos
a viver, ainda, momentos de enormes dificuldades no mundo do trabalho e,
concretamente, nos serviços públicos. Há quem, precisamente nesses momentos,
recorde a história, e se recuse rasgar o papel dos sindicatos, o mesmo é dizer
o contrato social, a certeza de que a precarização laboral e a exploração, para
além de indignas, não têm nenhuma relação positiva com o crescimento económico.
É o que faz o PS.
Já
o PSD, logo pela voz de Maria Luís Albuquerque, aproveita o momento para
reduzir o sindicalismo a grupos de interesses, pondo a nu esta nova direita, a
que vimos governar durante quatro anos e que assim continuaria se pudesse,
avessa a compromisso coletivos alargados, uma direita antissindical, o mesmo é
dizer uma direita que matou a social democracia, a que diria necessariamente
isto: não há estado social sem sindicalismo; o desemprego e a precariedade
reclamam o reforço do movimento sindical.
É
este o suicídio do PSD.
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