sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

ALGO DE NOVO ESTÁ A ACONTECER



Baptista-Bastos – Jornal de Negócios, opinião

A luta de classes parece entusiasmar uma nova geração que tem pegado na flâmula de seus pais e continuado uma batalha sem fim.

O Reino Unido permanece, até ver, na União Europeia, com um "estatuto especial". Não se sabe muito bem em que consiste esse "estatuto especial", mas entende-se que o Reino Unido levou a melhor aos "donos" da Europa, após demoradas, delicadas e complexas negociações. Cameron disse que "defendera os interesses dos ingleses" e que pátria é pátria. Impôs-se o poder e um pouco de chantagem política de um grande país, ao contrário do que aconteceu com a Grécia e o Syriza, esmagados pelo espírito de vingança da Alemanha e pela subserviência besunta do que resta do orgulho europeu.

A União Europeia é uma falácia que se desmorona com celeridade porque as bases em que assenta nada têm que ver com a generosa e solidária ideia com que foi sonhada. A Alemanha e a alta finança tomaram conta do assunto quando verificaram no grande negócio que representava um mercado de 600 milhões. Seguiu-se a servidão de uma França que se julgava detentora de alguma coisa, quando nada tinha para oferecer, e a sofreguidão de um capitalismo sem freio e arfante de gula.

Nenhum dos outros países é mais feliz com esta "União" rebocada. Os partidos habituais no mando surgem como serventuários do império, e os seus dirigentes aparentam lacaios de uma imperatriz testuda e dominadora. Recordo, há anos, Merkel quando visitou um dos seus estimados, Pedro Passos Coelho. Tomou uma bica com ele, não chegou a estar duas horas em Lisboa e regressou a Berlim. Parecia uma mandante, em visita ao recanto do império, e Passos, um sicário sem grandeza nem personalidade.

Os partidos tradicionais, em estado de servidão, não contestam, nem recalcitram este poder discricionário. Ainda agora se viu, aqui ao lado, o PSOE mancomunar-se com o Ciudadanos, organização emanada do Partido Popular, para dar continuidade ao estado das coisas que estão. O Podemos, como o Syriza, tentam fender a muralha de interesses e de hegemonias registadas logo após a queda do Muro. O que seria um sinal de liberdade e de democracia transformou-se numa mascarada com as repercussões avassaladoras.

Começar de novo é empolgante, mas tudo se torna fatigante e moroso. Em Portugal, as coisas complicam-se. Porém, a luta de classes parece entusiasmar uma nova geração que tem pegado na flâmula de seus pais e continuado uma batalha sem fim. Há dias, um pobre homem, que trepou a deputado europeu pelo PSD, bolçou umas injúrias contra o Governo português. O tal é produto típico de uma amorfia que encontrou encosto nesta política de facilitismo e subserviência, sem a qual seria difícil aos sicários singrar na vida.


A verdade é que movimentos de intransigência moral e de combate político estão a surgir pela Europa e até nos Estados Unidos. Não se trata de epifenómenos, mas de organizações fundadas num grande entusiasmo e numa percepção nova da ideologia. A comunicação social portuguesa raramente noticia e poucas vezes analisa a natureza profunda destas inquietações. No entanto, algo de novo está a acontecer. 

Portugal. Congresso da CGTP chumba reforço das tendências minoritárias



Tendências do PS e do Bloco de Esquerda pediam mais meios e mais representatividade nos órgãos, mas as propostas foram chumbadas por larga maioria.

As propostas apresentadas no congresso da CGTP para garantir mais meios e mais representatividade às correntes minoritárias  de socialistas e de bloquistas no orgãos executivos foram chumbadas esta sexta-feira pela esmagadora maioria dos delegados. A discussão sobre estas propostas marcou o primeiro debate do XIII Congresso, que decorre esta sexta-feira e este sábado em Almada.

Uma proposta subscrita por seis sindicatos, que na semana passada tinha sido defendida ao Negócios pela corrente sindical socialista, previa que as correntes de opinião fossem "dotadas dos meios necessários para o cumprimento das suas funções", sendo "facilitado o acesso aos meios de comunicação e publicações confederais, bem como o uso de instalações". Houve três abstenções e 24 votos a favor, num congresso com 740 delegados.

As propostas também contemplavam o reforço da participação nos órgãos do partido, nomeadamente através da redução do número e da representatividade dos sindicatos que podem apresentar listas para o Conselho Nacional. Esta proposta recolheu 44 votos a favor e quatro abstenções.

Uma terceira proposta de alteração aos estatutos apresentada pelo Sindicato Livre dos Pescadores, e que tinha sido defendida ao Negócios por sindicalistas do Bloco de Esquerda, previa que a comissão executiva, um órgão composto por 29 pessoas, espelhasse "a representação de todas as correntes de opinião político-ideológicas que se expressam na CGTP". Teve 44 votos a favor e quatro abstenções.

Tendências marcam primeiro debate do Congresso

O direito de tendência está previsto nos estatutos da CGTP, que no entanto apenas admitem a organização das tendências fora da organização.

A questão marcou o primeiro debate aceso do congresso, com os defensores da proposta a pedirem a "democratização" da organização e os opositores à proposta a defenderem que não se deve "parlamentarizar" a CGTP.

"Só a nossa corrente não está representada [na Comissão Executiva], é um atentado à democracia", referiu Joaquim Piló, dirigente do Sindicato dos Pescadores, próximo do Bloco de Esquerda.

"Os trabalhadores têm interesses comuns independentemente das suas opções ideológicas e das suas opções partidárias", afirmou Joaquim Dionísio, o responsável pelo gabinete jurídico que está de saída, rejeitando "uma certa parlamentarização" da CGTP.

A maioria dos membros que no Conselho Nacional já tinha chumbado estas propostas argumenta que as confederações patronais também não têm um direito de tendência regulamentado.

"Estava eu há tempos atrás num debate com representantes dos patrões e a questão do direito de tendência veio para cima da mesa", referiu Joaquim Dionísio. "Perguntei: mas porque é que vocês não têm direito de tendência? A resposta foi simples: porque nós somos organizações patronais. Pois é. E nós somos organizações sindicais" e "também não precisamos do direito de tendência", disse.

Catarina Almeida Pereira – Jornal de Negócios – Foto: Miguel Baltazar/Negócios

ALGUNS QUÊS E PORQUÊS DA CRISE POLÍTICA QUE CRESCE EM TIMOR-LESTE




Em Timor-Leste há uma crise política declarada e a subir de decibéis. Uma guerra de palavras e opções de índole política entre o Presidente da República e os líderes dos dois principais partidos (CNRT, de Xanana e Fretilin, de Alkatiri). Partidos políticos que há cerca de um ano se aliaram e formaram um governo conjunto a que o PR deu posse sem que realizasse eleições antecipadas, como devia.

O PR, Taur Matan Ruak, está abalançado na formação de um partido inspirado por si. Prepara-se para governar o país depois de terminar este mandato na presidência. Esse já é um problema. Nem Fretilin, nem CNRT, vêem com bons olhos a formação desse novo partido liderado por Taur. Fácil será perceber que o mais certo é ele vencer as eleições e vir a ser primeiro-ministro. Taur é muito bem quisto por grande parte dos timorenses, principalmente os do interior e mais carenciados. Ora, esses, são a maioria dos timorenses.

O pano de fundo é exatamente esse. O desagrado do CNRT e da Fretilin acerca dessa manobra política do atual PR. A crise por alguma circunstância tinha de acontecer. Foi agora. O pretexto serviu-se da exoneração do Chefe de Estado Maior das Forças de Defesa timorenses. O brigadeiro-general Lere Anan. Lere Anan atingiu os 60 anos de idade e parte para a reforma. É assim que mandam os regulamentos. O substituto, nomeado pelo PR foi o major general Filomeno Paixão. Só que o PR não cumpriu os trâmites necessários e obrigatórios na nomeação do novo CEMG. Constitucionalmente deve propor o nome do indigitado ao governo, que aceitará ou não. Ficando obrigados a encontrarem um consenso sobre quem ocupará o cargo.

Constata-se que as formalidades constitucionais não foram cumpridas por parte do PR Taur. Na verdade houve uma falha grave no seu procedimento. Essa foi a gota de água para o despoletar da crise. Foi o pretexto. A Fretilin e o CNRT viram aqui a grande oportunidade de desgastarem Taur Matan Ruak e combaterem o mentor do novo partido que temem, o de Taur. Desgastando politicamente Taur as consequências para o seu partido em formação podem vir a ser significativas ou até devastadoras. O que asseguraria à Fretilin e ao CNRT, aliados, a continuidade da detenção do poder governativo e outros. Para além de essa continuidade poder assegurar a manutenção da opacidade sobre “negócios” de Xanana Gusmão e CNRT, assim como também da grande família que é a Fretilin. 

É voz corrente em Timor-Leste que predomina a opacidade acerca de vantagens proporcionadas à Fretilin e à família Alkatiri, assim como que é igualmente comentado sobre Xanana ter "metido no bolso a Fretilin" ao partilhar algumas vantagens. Esses são rumores em Timor-Leste. O que pode não corresponder à verdade. E isso é mau. Os rumores sempre foram uma das vertentes prejudiciais em TL. Não raras vezes se concluiu que não passavam de férteis imaginações a divagarem e a sujarem os nomes de gente honesta. Importa recolher provas e isso ainda está por fazer. A presunção de inocência é pomo de extrema importância em democracia.

Os receios sobre o alastrar da crise política que se desenha relembram 2006 e toda a espécie de crimes horrendos que Xanana provocou para se apoderar do poder governativo. Essa crise arrastou-se por cerca de dois anos. Muita destruição, muitas mortes, muitos feridos. Com o elevar de tom nesta chamada guerra entre Taur, Xanana e Alkatiri (entre PR e Governo) há quem tema uma nova cruzada de violência como em 2006. Isso mesmo pode constatar no título da peça escrita por António Veríssimo: LUTA DE GALOS. QUEM QUER O QUÊ DOS PODERES EM TIMOR-LESTE?

São receios legítimos de quem vive em Timor-Leste ou vive e ama Timor-Leste, como esse meu bom irmão e colega nestas lides de blogues e da vida, o AV. Mas, sobre esses receios, caiu hoje uma certeza, uma garantia expressa por Xanana Gusmão, que diz que os “timorenses não permitirão repetição de crise de 2006”. Até onde podemos acreditar em Xanana? Haja bom senso.

O melhor é dizer à portuguesa o tradicional “ficamos à espera que assim seja, logo veremos”.

Da atualidade de hoje, sobre o assunto, colamos a esta peça dois artigos com origem na Agência Lusa.

Tomo a liberdade de convidar os interessados sobre Timor-Leste a visitar o Timor Agora – com o qual o Página Global tem uma parceria – e inteirar-se sobre a atualidade timorense, daquela região do sudeste asiático, oceânia e CPLP. Que pode ler em português ou em tétum.

Para isso adianto aqui e faço constar alguns links:


Ao estilo de condensado informativo:

Xanana Gusmão garante que timorenses não permitirão repetição de crise de 2006

Díli, 26 fev (Lusa) - O ex-primeiro-ministro de Timor-Leste Xanana Gusmão disse hoje que apesar da atual tensão política, os timorenses não permitirão que volte a repetir-se a crise de 2006 e que o país volte a ser descrito como "falhado".

"Timor-Leste foi chamado um país falhado, em 2006, há 10 anos. Acredito que os senhores não estão alheios ao desenvolvimento atual de política interna do país", disse o atual ministro do Planeamento e Investimento Estratégico timorense.

"Quero garantir que não será a segunda vez que a comunidade internacional nos chamará de Estado falhado ou da possibilidade de Estado falhado", disse, na abertura de uma conferência inserida no 1.º Fórum Económico Global da Comunidade de Países de Língua Portuguesa.

Xanana Gusmão referia-se ao conflito que se viveu em Timor-Leste em 2006 - quando o país esteve à beira de uma guerra civil - e ao discurso que o Presidente da República, Taur Matan Ruak, proferiu na quinta-feira no Parlamento Nacional.

O chefe de Estado comparou os benefícios que dirigentes do país como Xanana Gusmão e o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, têm dado a "familiares e amigos" com práticas do ex-ditador indonésio Suharto.

"Desde 2013, Xanana Gusmão, Mari Alkatiri, Lu-olo [Francisco Guterres, presidente da Fretilin] usam a unanimidade para quê? Não usam a unanimidade e o entendimento para resolver todos os assuntos que há por resolver. Usam-na para poder e privilégio", disse ainda o chefe de Estado.

No seu primeiro comentário público sobre as declarações, Xanana Gusmão deixou uma mensagem de tranquilidade aos empresários presentes em Díli, ironizando com as declarações do Presidente da República.

"A minha única experiência em economia é dar contratos aos meus familiares. Uma profissão que está em voga agora", disse.

Ao mesmo tempo, falou em "'nuances' de fragilidade" dos próprios líderes e das instituições do Estado, que estão ainda "na fase de consolidação".

A intervenção de Xanana Gusmão foi feita no arranque de vários debates temáticos que pretendem analisar os laços comerciais, económicos e de investimento entre a CPLP e a Ásia e Pacífico, capitalizando nas oportunidades da localização geográfica de Timor-Leste.

Delegados de 25 países, entre os quais a Indonésia, hoje representada pelo ministro do Comércio, Thomas Lembong, participam naquele que é o maior encontro empresarial de sempre em Timor-Leste.

"Estamos ainda na fase de consolidação das instituições do Estado. Um processo novo que é de construção da nação", disse, referindo que desde 2002 os empresários timorenses são cada vez mais parte desse processo.

ASP // MP

Xanana Gusmão devolveu medalha que recebeu do PR timorense em 2015

Díli, 26 fev (Lusa) -- O ex-primeiro-ministro timorense Xanana Gusmão devolveu hoje a condecoração com que foi agraciado a 20 de maio do ano passado pelo chefe de Estado, descontente com os comentários que este proferiu na quinta-feira no Parlamento.

"A condecoração foi entregue nos serviços de correspondência do Palácio da Presidência da República às 14:30 de hoje", confirmou à Lusa fonte do gabinete de Xanana Gusmão, atual ministro do Planeamento e Investimento Estratégico.

A mesma fonte confirmou que a condecoração foi acompanhada de uma carta em que Xanana Gusmão explica o motivo da devolução, que ocorre 24 horas depois de uma polémica intervenção do chefe de Estado timorense, Taur Matan Ruak, no parlamento.

O Presidente comparou os benefícios que dirigentes do país como Xanana Gusmão e o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, têm dado a "familiares e amigos" com práticas do ex-ditador indonésio Suharto.

"Desde 2013, Xanana Gusmão, Mari Alkatiri, Lu-olo [Francisco Guterres, presidente da Fretilin] usam a unanimidade para quê? Não usam a unanimidade e o entendimento para resolver todos os assuntos que há por resolver. Usam-na para poder e privilégio", disse ainda o chefe de Estado.

Na carta endereçada ao chefe da Casa Civil, e a que a Lusa teve acesso, Xanana Gusmão explicou que devolve a medalha por considerar que não a merece, pedindo que seja entregue a outros que a mereçam mais.

"Eu Xanana Gusmão quero informar sua excelência chefe da Casa Civil que eu não sou veterano. Porque não fiz o procedimento da Lei dos Combatentes da Libertação Nacional. Só podem ser considerados veteranos as pessoas que se registaram e assim obtêm os benefícios previstos na lei", disse.

"Até à data eu ainda não sinto que mereço e como tal não posso ser considerado veterano", disse Xanana Gusmão, afirmando ter ficado um pouco nervoso pela decisão de a medalha lhe ser conferida.

O ministro timorense disse que foi "obrigado" por muitos a ir receber a condecoração mas que se sentiu "constrangido" por a receber.

"Assim gostaria de informar sua excelência que, eu humildemente peço para aceitar o devolver desta medalha, para a poder entregar a outras pessoas que a merecem mais", explicou.

"Despeço-me e peço desculpa por interferir com o seu trabalho", concluiu o ex-primeiro-ministro.

Xanana Gusmão já hoje, numa intervenção no 1.º Fórum Económico Global da CPLP, em Díli, fez referência a esse discurso, sem o mencionar diretamente.

"Timor-Leste foi chamado um país falhado, em 2006, há 10 anos. Acredito que os senhores não estão alheios ao desenvolvimento atual de política interna do país", disse o atual ministro do Planeamento e Investimento Estratégico timorense.

"Quero garantir que não será a segunda vez que a comunidade internacional nos chamará de Estado falhado ou da possibilidade de Estado falhado", acrescentou.

No seu primeiro comentário público sobre as declarações, Xanana Gusmão falou aos empresários presentes em Díli, ironizando com as declarações do Presidente da República.

"A minha única experiência em economia é dar contratos aos meus familiares. Uma profissão que está em voga agora", disse.

Xanana Gusmão foi condecorado por Taur Matan Ruak a 20 de agosto do ano passado "pela sua inexcedível liderança na luta da libertação nacional", num momento que assinalou os 40 anos da criação das Falintil, o braço armado da resistência timorense.

"Pelo seu exemplo, em momentos-chave da nossa história, e pela capacidade de liderança, Xanana Gusmão foi verdadeiramente um pai fundador de Timor-Leste", disse na altura Taur Matan Ruak.

"A sua visão - antes e depois da Independência - está na base da política de reconciliação, paz e estabilidade que o nosso país e o nosso povo adotaram e implementaram com grande determinação e de coração aberto", afirmou.

ASP // VM

LUTA DE GALOS. QUEM QUER O QUÊ DOS PODERES EM TIMOR-LESTE?




Para quem está fora de Timor-Leste e assiste aos confrontos políticos entre os dois principais partidos e o presidente da Republica fica receoso da subida de tom das palavras com ataques mútuos que proferem e um temor nos invade com uma frase batida que em português tem enorme significado: “quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão.” O mesmo será dizer que “os cães grandes zangam-se e o povo trama-se”.

Invadem-nos a memória cenas dos anos de 2005/2006. Primeiro o desassossego, as palavras pesadas e acusatórias de uns e outros nos poderes – Xanana PR e Fretilin governo – para depois tudo descambar em violência, num golpe de Estado… e muito mais violência. Ao que parece os eleitos pelos timorenses, incluindo deputados, governo e presidente da República, já se esqueceram disso e das vítimas mortais ou com mais ou menos gravidade que aquela “guerra” causou. Tudo pela posse do poder e o que lhe é afim. Parece que agora, dez anos volvidos, se esqueceram do mal que causaram aos timorenses. Parece que agora, que agora, ressuscitou uma nova “febre” pelo poder. Uma “febre” que pode descambar em violência para que uma vez mais quem se lixe sejam os timorenses, o povo timorense.

A falta de formação democrática dos lideres em “guerra” em Timor-Leste ressalta até aos olhos de um cego com audição naturalmente mais desenvolvida. O timbre, a vozearia, as acusações espúrias e nefastas que o PR troca com os líderes da Fretilin e do CNRT, e vice-versa, estão a atingir o tom errado e as notas que podem descambar em desgraça para os timorenses na generalidade. Um e outros acabam por constituir-se numa orquestra tétrica que não se pode só medir com uma fita métrica como acabará por requisitar a presença da força, da violência, das armas, dos incêndios, das vítimas conseguidas em corpos e mentes dos inocentes e saturados timorenses com as “guerras”, com os assassinatos, com as agressões por nada, com os descarados roubos e destruições que se têm vindo a somar ao longo de décadas.

Tenham juízo. Vocês não foram eleitos para isto, para dividir, para abandalhar ou roubar a soberania de Timor-Leste que pertence ao povo timorense e a mais ninguém. Cumpram as funções para que vos deram os votos que vos elegeram. Cumpram as promessas, cumpram a Constituição da República de Timor-Leste, preservem a paz, a justiça e o bem-estar dos timorenses como devem. Basta de erros em que são sempre só os timorenses a arcar com os prejuízos.

Nenhum dos intervenientes nesta luta de galos carecas, envelhecidos e tresloucados é pai da Nação Timorense. Quem o é é o povo timorense, mais ninguém.

Atentem e envergonhem-se da vossa “guerra”, dos vossos desentendimentos exacerbados, das vossas ganâncias e soberanias bacocas. Presidam e governem com dignidade a República de Timor-Leste. É para isso, só para isso, que os timorenses vos mandataram através do voto. É só esse o vosso poder legítimo até ao fim dos mandatos.

Que os vossos deuses vos dêem um bafejo de paz, de sabedoria, de honestidade, de humildade, de ponderação, e vos sente à roda de uma mesa para dialogarem sem sofismas. Os timorenses agradecem. É o que querem para terem paz, liberdade, justiça, progresso e democracia, sempre.

AMNISTIA INTERNACIONAL ACUSA ÁFRICA DO SUL DE XENOFOBIA



A África do Sul foi alvo duma série de críticas da Amnistia Internacional, depois da onda de violência xe­nófoba que abalou algumas re­giões do país no ano passado.

Além disso, Pretória foi criti­cada pela sua gestão da recente visita ao país do Presidente suda­nês e fugitivo do Tribunal Penal Internacional (TPI), Omar El Béchir.

«A violência visada aos refugia­dos e requerentes de asilo provo­cou morte, deslocação e destrui­ção de bens », notou o relatório da Amnistia para 2015-2016.

A amplidão da violência, em particular na região de Durban, parece ter sido desencadeada por uma declaração do chefe tradicional Goodwill Zwelithini, segundo a qual o governo deve velar porque todos os estran­geiros deixem a África do Sul, indicou. A conclusão preliminar do inquérito efectuada pela Co­missão Sul-Africana dos Direitos Humanos sobre as declarações do líder tradicional notou o ca­rácter nocivo das suas declara­ções, mas o absolveu de incitação à violência.

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“Homens da Renamo” protagonizaram 19 ataques em duas semanas na província de Sofala



Tensão política em Moçambique

Dados divulgados pela Polícia da República de Moçambique, na manhã de ontem, em Sofala, indi­cam que, desde o passado dia 11 deste mês até à manhã de ontem, foram protagonizados, ao longo da Estrada Nacional número 1, entre os rios Save e Zambeze, 19 ataques contra alvos civis e milita­res, que resultaram em duas víti­mas mortais, três feridos graves, cinco ligeiros, três danos mate­riais avultados e 15 ligeiros.

De acordo com a Polícia, todos os ataques foram levados a cabo por homens armados da Renamo e foram registados ao longo da Estrada Nacional número Um, particularmente entre Muzún­guè-Save e Nhamapaza(distrito de Marínguè)- Caia. Os primei­ros 10 ataques foram protagoni­zados em apenas três dias, facto que levou as Forcas de Defesa e Segurança a reintroduzirem co­lunas e escoltas obrigatórias en­tre Muxúnguè e Save, no passado dia 17 deste mês.

Já no troço entre Nhamapaza e Caia, onde num único dia (17 de Fevereiro) foram registados três ataques, com registo de uma víti­ma mortal, nas proximidades do rio Fudza, um automobilista que seguia o trajecto Marínguè-Caia, rumo à cidade da Nampula. A via­tura foi depois incendiada pelos atacantes.

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Guiné-Bissau. PR CONTINUA A CHAFURDAR NO CHIQUEIRO QUE CRIOU



José Mário Vaz, presidente da Guiné-Bissau, tem feito o mal e a caramunha no país. Demitiu um governo eleito absolutamente legítimo por alegadas incompatibilidades com Domingos Simões Pereira, então primeiro-ministro, semeou a divisão no país, arma-se em grande vítima do que ocorre ainda hoje. José Mário Vaz (JOMAV), pelo demonstrado, aposta no jogo sujo e instabiliza o país com se de cousa sua se trate. Desta vez, admiravelmente, os militares mantêm-se nos quartéis e não têm interferido. Sorte a dos guineenses nesse aspeto. 

Enquanto tudo essa amalgama de acontecimentos se vão sucedendo por via do PR a comunidade internacional usa e abusa da tolerância que considera conveniente para não agitar as "águas". E tem sido essa tolerância que levou e leva o PR a esticar a corda e procurar gerar mais e mais questiúnculas, mais e mais jogos políticos de um chiqueiro que lhe deve ser familiar e agradável de chafurdar, visto que dele não parece sinceramente querer sair.

Principalmente do jornal O Democrata e do Ditadura do Consenso temos publicado aqui no PG matéria que permita algum entendimento daquilo que está a acontecer naquele país. Ultimamente são bastantes as vozes a favor da rezignação ou destituição do PR José Mário Vaz. Decerto que por isso o ginasta da política guineense entrou num aparatoso golpe de rins e dá a entender que pretende apaziguar a cena política de golpes e contra-golpes de sua própria autoria. Disso e muito que acontece naquele país lusófono convidamos os que nos lêem a acompanhar nas ligações que a seguir aqui indicamos.

Em O Democrata

Em Ditadura do Consenso

Boa leitura.

Redação PG

Direitos Humanos: Silêncio sobre situação nas cadeias em Moçambique e Guiné-Bissau



Amnistia Internacional critica a demora na investigação do assassinato do moçambicano Gilles Cistac e maus tratos nas cadeias guineenses.

Amâncio Miguel – Voz da América

Em quase um ano, não há indicações oficiais sobre a investigação do assassinato do professor universitário Gilles Cistac, que afirmou que a governação autónoma das províncias não violava a Constituição.

Na Guiné-Bissau, há melhorias na área de direitos humanos, mas foram reportados casos de mau tratamento de prisioneiros e mortes, e as autoridades nada fizeram para inverter a precariedade.

As críticas constam do relatório sobre a situação global dos direitos humanos em  2015, lançado hoje  da Amnistia Internacional (AI).

Cistac, moçambicano de origem francesa foi assassinado, em Maputo, a 3 de Março, alguns meses após afirmado que a Renamo, maior partido da oposição em Moçambique, tinha cobertura constitucional para gerir de forma autónoma as províncias de províncias de Sofala, Manica, Tete, Nampula, Zambézia e Niassa, onde teve  a maioria de votos nas  eleições gerais de 2014.

Professor catedrático de Direito Constitucional e membro da direcção da Universidade Eduardo Mondlane, Cistac foi alvo de críticas da Frelimo, partido no poder.

Mariana Abreu , especialista da AI, recorda que “o governo disse que iria fazer uma investigação independente e rápida, mas até o momento não temos informação, e sabemos que as pessoas (assassinos) não foram identificadas”.

Capitine ainda sem resposta

O AI volta a condenar o silêncio em torno do caso do vendedor de artesanato José Capitine Cossa, que passou anos na cadeia de máxima segurança, até a libertação em 2012, sem nunca ter sido condenado.

 “Em três anos, ninguém foi responsabilizado pela detenção arbitrária de José Capitine Cossa,” lê-se no documento.

O relatório condena o processo movido pela Procuradoria da República contra o professor universitário Carlos Nuno Castel-Branco e o jornalista Fernando Mbanze, por terem publicado um artigo criticando o legado do Presidente Armando Guebuza.

No dia 16 de Setembro, o Juiz do Tribunal Judicial do Distrito Municipal Kampfumo absolveu os dois, tendo de seguida a Procuradoria metido recurso, que aguarda resposta.

Abreu elogia a decisão do tribunal dizendo que “sendo acusações politicamente motivadas, havia o receio de o judiciário ser politizado e usado para reprimir e perseguir pessoas, como tem acontecido em Angola.

Para ela, “a sentença dada em Maputo foi um ponto positivo para mostrar a independência do judiciário.”

Quanto à avanços, a AI nota que Moçambique aprovou a Lei que regula o acesso à informação; entrou em vigor um novo Código Penal, que descriminaliza o aborto, prevê penas alternativas à prisão e criminaliza acções contra o meio ambiente.

Tortura policial na Guiné Bissau

Apesar de no geral a AI notar que a situação dos direitos humanos melhorou, aponta criticas à tortura e maus tratos perpetrados pela polícia, na cidade nortenha de Bissorã.

Naquela cidade, a 3 de Julho, foi detido Tchutcho Mendonça, após ter discutido com o seu pai. Mendonça viria a morrer dois dias depois, num posto policial local.

No relatório lê-se que “os que viram o seu corpo notaram sinais que indicavam tortura”.

Dez polícias foram detidos, mas até o final de 2015 não haviam sido julgados.

Outro caso é o de Mamadú Djaló, que foi agredido pela polícia numa rua da mesma cidade, e não houve nenhuma investigação.

As condições nas cadeias são preocupantes. Em Junho, a Liga dos Direitos Humanos pediu o encerramento de algumas por serem desumanas.Há detidos que dormem nas casas de banho.

Foram reportados como casos graves as celas da Polícia de Investigação Criminal e da 2ª Esquadra da Polícia, ambas na capital Bissau.

Além de superlotadas, as cadeias não têm boas condições de higiene e ventilação.

Até o final de 2015, as autoridades nada fizeram para mudar a situação.

“ANGOLA ESTÁ VESTIDA DE MEDO” - Makuta Nkondo



O comentarista e antigo deputado da Unita Makuta Nkondo exortou a oposição angolana a unir-se para tornar possível a alternância do poder no país.

Voz da América, em Angola Fala Só

“Vamos lavar a roupa suja em família,” exortou Nkondo defendendo que que é preciso que as forças da oposição e as organizações da sociedade civil “deixem as querelas”.

Falando no programa “Angola Fala Só”, Nkondo disse contudo não acreditar nas eleições previstas para 2017, porque “a fraude já começou”.

As únicas eleições angolanas que tiveram uma “certa transparência” foram as de 1992, disse Nkondo. Desde então o que houve “são encenações e não eleições”.

“O MPLA tem a faca e o queijo na mão”, disse, fazendo referência ao controlo que este partido exerce sobre a Comissão Nacional Eleitoral e Tribunal Constitucional, que tem o poder de julgar as disputas eleitorais.

Nkondo disse que uma das razões por que em África, em geral, e em Angola, os líderes se recusam a abandonar o poder  é o medo da vingança.

“Muitos desses líderes são como Pol Pot”, disse em referência ao dirigente genocida do Camboja.

No que diz respeito a Angola “o revanchismo é inevitável”.

“Houve muito sangue”, recordou, e recomendou a criação de uma comissão da verdade “para se apurar os crimes” cometidos por todos os partidos.

Nkondo recordou ainda que famílias inteiras foram dizimadas em lutas internas dos três partidos.“Não é só o MPLA, pois na UNITA na FNLA também houve sangue”.

Nessa comissão da verdade ou “numa missa” de todas as religiões “os três partidos devem confessar tudo,” sugeriu.

O comentarista angolano disse que uma das razões de Angola não ter mais manifestações é o medo da repreensão, pois os “os angolanos estão vestidos de medo”.

Nkondo manifestou cepticismo quanto a medidas do governo para lidar com a crise financeira, como a promessa de controlar os preços de produtos básicos.

“Estas medidas não têm pernas para andar," disse. Ele deu o exemplo de o pequeno comércio estar a fechar as portas e  empresas que controlam supermercados ameaçam o mesmo.

Nkondo tem dúvidas sobre a crise financeira, e para ele a razão crise é simples: “Dos Santos e a sua família delapidaram o dinheiro do povo (...) a família é uma das mais ricas do mundo (...) a filha que nunca trabalhou é a mais rica de África”.

O analista foi interrogado por um ouvinte sobre a recente eleição de Raul Danda para vice-presidente da UNITA.

Nkondo disse ter “dúvidas” sobre o apoio de Danda dentro da UNITA, particularmente sobre a sua possibilidade de ser o próximo líder da UNITA, como interrogou o ouvinte.

“Tenho dúvidas, porque mesmo como vice-presidente não tem consenso,” mesmo ao mais alto nível da liderança do partido.

“Esse é um problema de Isaías Samakuva,” afirmou depois de fazer notar que na UNITA há o principio de que “o líder tem que ser do sul”.

Nkondo disse estar “entre a espada e a parede” quando à possibilidade de ser convocado para testemunhar no julgamento dos activistas acusados de rebelião pelo facto do seu nome ter surgido numa lista de um suposto governo de salvação nacional.

Nkondo reafirmou que não reconhece a legitimidade do tribunal e que o julgamento é “uma palhaçada" e o tribunal "um comité de especialidade de bárbaros".

A lista desse governo de salvação foi criada  "para incriminar os jovens" activistas, disse.

Contudo, Nkondo reconheceu que a sua ausência, se for chamado, pode ser usada para prolongar o julgamento e manter os acusados presos.

Por isso, disse, “estou entre a espada e a parede”.


PORTUGAL TENTA ACALMAR O REINO



O novo embaixador de Portugal em Angola, João Caetano da Silva, afirmou hoje, questionado pelos jornalistas, que a operação em Lisboa que já levou à indiciação do vice-Presidente de Angola, Manuel Vicente, por corrupção activa não afectará as relações bilaterais.

Odiplomata falava no Palácio Presidencial, em Luanda, depois de apresentar as cartas credenciais ao Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, assumindo desta forma, oficialmente, as suas funções em Angola.

Embora sublinhando que a investigação em Portugal diz respeito a “questões do foro judicial”, João Caetano da Silva manifestou, segundo relata a Lusa, confiança em que o processo não afecte as relações entre os dois países.

“De modo nenhum [afectar as relações]. E a minha intenção é de fortalecer cada vez mais as relações entre os dois países”, assumiu o novo embaixador, que aguardava por acreditação em Angola desde o início de Dezembro.

“Não deixaremos em nenhum momento” que eventuais dificuldades “interfiram” na ” determinação de promover as relações bilaterais”, um “objectivo dos dois governos”, disse.

“A minha linha de actuação é no domínio institucional, eu represento o Presidente e o Governo português e, por isso, aquilo que eu vou promover são as relações institucionais entre os dois países, que estão acima de circunstâncias conjunturais e que continuarão a ser relações muito próximas e de grande amizade”, acrescentou o diplomata, depois de um encontro de mais de 30 minutos com José Eduardo dos Santos.

O vice-Presidente de Angola, Manuel Vicente, está indiciado de corrupção activa na mesma operação que levou à detenção, na terça-feira, do procurador Orlando Figueira. O Ministério Público indiciou Manuel Vicente e o advogado português Paulo Blanco do crime de corrupção activa em co-autoria.

Até agora o executivo angolano não fez qualquer comentário à esta investigação em Portugal.

O procurador do Ministério Público Orlando Figueira – em licença sem vencimento desde 2012-, está a ser ouvido por uma juíza de instrução criminal, no campus de justiça de Lisboa, depois de ter sido detido, no âmbito da “Operação Fizz”, por suspeitas de corrupção passiva, branqueamento de capitais e falsidade informática.

Orlando Figueira foi o procurador responsável pelos processos “BES Angola” e “Caso Banif”, que arquivou, relacionados com capitais angolanos.

Paulo Blanco foi na quarta-feira constituído arguido e foi alvo de buscas no seu escritório de advocacia.

O novo embaixador português em Luanda, que chega a Angola depois de cumprir funções idênticas no México, manifestou o objectivo de “promover e fortalecer as relações muito intensas, de grande amizade e alguma complexidade” entre ambos os países e com Portugal disponível para colaborar no processo de diversificação da economia angolana, nomeadamente na agricultura.

“Pretendo fazer mais e melhor e ser um interlocutor próximo e credível do Governo de Angola”, rematou João Caetano da Silva.

O bitaite de Martins da Cruz

Entretanto, o antigo ministro português dos Negócios Estrangeiros, considerado nos meios políticos da oposição angolana como um assalariado do regime, Martins da Cruz, sublinha que a máquina judicial portuguesa deve revelar “bom senso e recato na actuação, atendendo a que se trata de um país com quem Portugal tem uma cooperação estratégica”.

António Martins da Cruz diz que o facto de o vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, ter sido indiciado de corrupção activa “não vai afectar o relacionamento entre os dois países”.

Martins da Cruz reconhece, em declarações à Rádio Renascença, que se trata de “uma questão sensível”, mas que “não tem que afectar o relacionamento entre os dois países, pelo menos, na perspectiva portuguesa”.

O antigo ministro adverte, contudo, para a necessidade de que haja, “por parte da máquina judicial portuguesa, o normal bom senso e recato na actuação, atendendo a que se trata de um país com quem Portugal tem uma cooperação estratégica”.

“Tem que haver, de parte a parte, incluindo a parte angolana, bom senso”, reforça.

Martins da Cruz diz ainda não acreditar em interferências da própria máquina judicial no processo, “porque o caso está em investigação”, e nem mesmo em qualquer tentativa do género no plano da política externa e da diplomacia: “Não creio que a máquina do Ministério dos Negócios Estrangeiros tenha que interferir naquilo que diz respeito à Justiça.”

A Renascença contactou, também, a anterior ministra da Justiça. Paula Teixeira da Cruz fugiu a declarações sobre o caso, defendo, apenas, que “Portugal deve observar aquilo que está no texto constitucional: deve observar a estrita separação de poderes”.

“Não falando do caso concreto, desde logo por razões deontológicas – a questão está entregue a um colega meu – é evidente que aquilo que penso é que a Justiça deve agir na estrita separação de poderes e com toda a liberdade, claro”, reforçou a deputada do PSD.

O ano e meio em que Martins da Cruz chefiou a diplomacia portuguesa foi marcado por várias polémicas, a primeira das quais começou pouco depois de ter assumido o cargo, ao lançar a reforma interna do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Na altura, Martins da Cruz foi acusado de tentar levar a cabo um saneamento político depois de ter retirado o embaixador Francisco Seixas da Costa – com quem não tinha as melhores relações pessoais – da representação portuguesa na ONU num gesto que levou à movimentação de três dezenas de embaixadores.

Nova polémica surgiu quando substituiu toda a hierarquia do MNE, o que aconteceu pela primeira vez na história da instituição. A restruturação da rede consular que levou ao encerramento de vários consulados, entre os quais o de Osnabruck, na Alemanha, e o de Hong Kong, desencadeou fortes protestos das comunidades afectadas.

Num debate na portuguesa TVI, em que a estação televisiva fez mais um frete ao MPLA, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, agora como assalariado do regime de José Eduardo dos Santos, reproduziu as ordens recebidas de Luanda e criticou a forma “leviana e irresponsável” como Rafael Marques tem mostrado que o patrão de Martins da Cruz vai nu.

Rafael Marques mostrou que o caso Luaty Beirão foi e é uma “fabricação” do sistema de justiça angolano, mas o antigo ministro português, hoje funcionário do MPLA, afirmou – tal como consta do despacho que recebera de Luanda – que o processo “foi posto pelas autoridades angolanas no plano judicial e não no plano político”.

Martins da Cruz sempre quis afirmar-se como perito dos peritos. Que trate os portugueses como matumbos, é um problema dos portugueses. Agora que queira pôr os angolanos no mesmo plano, isso não.

Seguindo à risca as instruções recebidas de quem lhe paga, Martins da Cruz disse que além de terem sido cumpridos os prazos, a justiça angolana foi até mais rápida que a portuguesa, pois marcou o julgamento num tempo recorde. O MPLA sorriu. De facto, não é fácil encontrar um sipaio tão submisso.

António Martins da Cruz, certamente ainda a querar acertar contas antigas, disse mesmo que, enquanto a justiça angolana agiu dentro dos prazos, na fase de instrução, na acusação e na marcação do julgamento, a portuguesa manteve um ex-primeiro-ministro na prisão perto de um ano, sem deduzir acusação e sem marcar julgamento.

“O facto de o Procurador da República receber instruções do Presidente da República nada tem nada a ver com a independência do poder judicial”, esclareceu António Martins da Cruz.

Recorde-se que, de acordo com o Club-k, as autoridades angolanas indicaram sem alarido, António Martins da Cruz, como consultor do governo de Angola. A nomeação ocorrida devido aos bons ofícios de Manuel Vicente, aconteceu logo após as últimas eleições.

Como consultor do governo angolano, o seu contributo com maior dimensão foi na assessoria externa à TAAG, na altura das sanções na União Europeia que Martins da Cruz terá ajudado a resolver.

O Presidente José Eduardo dos Santos tem sido identificado como um dos lideres africanos que mais recruta antigos governantes estrangeiros como seus consultores.

Ao tempo do conflito armado, conseguiu recrutar como seu consultor um ex-secretário adjunto dos EUA para os assuntos africanos, Herman Cohen.

Depois de ter cessado funções no departamento de Estado norte-americano, Herman Cohen passou a prestar consultoria ao governo de angolano através da sua empresa de consultoria Cohen & Woods.

Folha 8

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Portugal-Angola. PROCURADOR ORLANDO FIGUEIRA EM PRISÃO PREVENTIVA



O procurador Orlando Figueira, detido na terça-feira, vai ficar em prisão preventiva, determinou a juíza de instrução criminal, esta quinta-feira.

Depois de ter sido ouvido durante a tarde de hoje a juíza determinou a prisão preventiva, medida de coação mais gravosa, por considerar que há fortes indícios da prática do crime de corrupção passiva e também de branqueamento e falsidade informática.

A juíza considerou haver o perigo de perturbação da tranquilidade e da ordem pública e também o perigo de fuga, pelo que Orlando Figueira ficará em prisão preventiva e será transferido ainda hoje para o estabelecimento prisional de Évora.

Num comunicado divulgado na noite de hoje pelo Tribunal afirma-se que Orlando de Jesus Cabanas Figueira foi apresentado na quarta-feira para um primeiro interrogatório judicial, que teve início na noite desse dia e que terminou na noite de hoje, pelas 19:45.

"O arguido foi considerado fortemente indiciado" pela prática dos crimes de "corrupção passiva, na forma agravada" e de um crime de falsidade informática e outro de branqueamento, diz-se no comunicado.

Foi considerado "existir em concreto", além do perigo de perturbação e da fuga, o perigo de perturbação do decurso do inquérito, explica-se ainda no comunicado.

O procurador do Ministério Público - em licença sem vencimento desde 2012 -, foi detido, no âmbito da "Operação Fizz", por suspeitas de corrupção passiva, branqueamento de capitais e falsidade informática.

Na mesma investigação, o vice-presidente de Angola Manuel Vicente e o seu advogado Paulo Blanco estão indiciados de corrupção ativa, em co-autoria.

Orlando Figueira foi o procurador responsável pelos processos "BES Angola" e "Caso Banif", que arquivou, relacionados com capitais angolanos.

Jornal de Notícias, ontem - Foto: Paulo Spranger / Global Imagens

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A “GERINGONÇA” DO EXPRESSO CURTO DE HOJE ESTÁ ANÉMICA



Meio milhar de bancários para o desemprego. Dirá o Novo Banco. Praticamente mil milhões de prejuízo no tal banco que dizem Novo. Salgado, como não tem vergonha, veio falar de Carlos Costa, o Desgovernador do Banco de Portugal, outro sem vergonha. Disse Salgado que a culpa dos prejuízos e da situação terrível do BES que dizem que é Novo… Que a culpa é de Carlos Costa, o tal desgovernador. De Salgado não há a registar culpa nenhuma. SaLgado faz lembrar as prostitutas que o são à força toda mas se dizem mulheres muito sérias. Claro que não é por isso que deixam de ser umas grandes putas.

No caso de corrupção que veio a lume anteontem, que aponta para o vice-presidente de Angola, Vicente, como corruptor, dizem que a justiça portuguesa anda à procura do corruptor… Pois. Vão lá, a Luanda, eles estão lá todos na maior. Pois. Escrevam numa pedra de gelo: a PGR diz que Manuel Vicente não é arguido. Claro que não. Nem será. Omessa! Em Angola nem existem corruptos nem corruptores. Nem foras-das-leis. Isso de criminosos é condição dos perrapados, dos plebeus. São pobres e roubam. Os Santos, os Vicentes, esses dos colarinhos brancos e estolas de vison nascem ricos. Ainda estão nas barrigas das mães e enriquecem a venderem ovos. Olhem a Isabel dos Santos. É um grande exemplo disso!

Desporto. Aqui também encontra no Expresso Curto, por Miguel Cadete. Hoje esta “geringonça” está anémica. Até chateia. Mas vale sempre a leitura.

Bom dia. Em Lisboa chove e faz frio. É Inverno. Tempo de frieiras. Até mais logo, depois do duche.

Redação PG / MM

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Miguel Cadete – Expresso

Procurador foi preso. Procura-se o corruptor

O dia de ontem nem tinha começado mal. Os títulos de economia noticiavam que a Bolsa De Lisboa abria a subir e os juros estavam em queda. Uma pitada de cor: o petróleo seguia a descer. Ainda de manhã chegou o relatório da agência de notação Moody’s para Portugal. A apreciação era positiva e justificava-se assim: depois de intensas negociações com Bruxelas, o Governo conseguiu aprovar um Orçamento do Estado que se distanciava substancialmente do esboço apresentado. O risco de eleições também foi posto a milhas. Ou por outra, os mercados também já aprenderam a dançar com a geringonça. Ou será o contrário?

O pior viria mais logo, levando o dia a arrastar-se até à miséria. Depois de ter apresentado resultados negativos de 980 milhões de euros, o Novo Banco anunciou estar na disposição de despedir 500 trabalhadores. Hoje, o “Jornal de Negócios” considera que este será um despedimento histórico, o maior alguma vez feito na banca portuguesa. Se isto era o “banco bom”…

Nada que impedisse, ainda assim, Ricardo Salgado de culpar oGovernador do Banco de Portugal destes resultados. Em comunicado, lavou as mãos e responsabilizou, atirando que era a (pouca) confiança no Novo Banco a culpada disto tudo. O debate sobre a nacionalização reacendeu-se mas os argumentos a favor da venda da novel instituição também ressurgiram. Um caso que divide a geringonça.

O calvário prosseguiria ao final da tarde. O Sporting deu a ideia de poder reverter a eliminatória da Liga Europa frente ao Bayer Leverkusen. Esteve empatado a uma bola durante largos minutos, bastando mais um golo para seguir em frente. Mas tal como em Alvalade, havia de perder, desta vez por 3 – 1. De fora do onze titular ficaram Slimani, Adrien e Bryan Ruiz. Pedo Candeias nota o absurdo do Sporting menosprezar as competições europeias.

Melhor sorte não teve o FC Porto. Voltou a perder com o Borussia Dortmund, agora por 1 -0, terminando esta eliminatória sem nenhum golo marcado. Tal como o Sporting perdeu os dois jogos. Ou como sugere a edição de hoje de “A Bola”: são onze para cada lado e no fim ganham os alemães.

Sempre a descer, chegámos à noitinha em modo downhill. O grau zero seria alcançado quando a juíza de Instrução do Tribunal Criminal de Lisboa, Antónia Andrade, decretaria a prisão preventiva para o procurador Orlando Figueira. Depois de dois dias de interrogatórios foi considerada “a existência de perigo de fuga, de perigo de perturbação para a aquisição e manutenção da prova”.

Há fortes indícios de que o procurador tenha recebido dinheiro – 200 mil euros – em troca do arquivamento de um processo em que estava envolvido Manuel Vicente, vice-Presidente da República de Angola e ex-Presidente da Sonangol. Seguiu, ainda na noite passada,para o estabelecimento prisional de Évora.

Em nota enviada à agência Lusa, a Procuradoria Geral da República refere que Manuel Vicente não é arguido. Os dois arguidos deste caso são o procurador Orlando Figueira e o advogado de Manuel Vicente,Paulo Blanco, que representou o vice-presidente de Angola na compra de um apartamento de luxo no edifício Estoril Residence, em Cascais, em 2012. Há um terceiro arguido, pessoa coletiva, ainda por conhecer.

Não falta só essa informação. Os contornos do caso ainda são vagos e não existe ainda matéria substantiva, de entre a que já foi publicada aquiaqui e aqui. Mas este caso não deixa de ser altamente simbólico, até pelo seu primarismo, dado envolver um procurador e uma alta figura de Estado. O facto de as relações entre Portugal eAngola estarem a passar por momentos delicados, como o Expresso noticiou em manchete no sábado passado, não ajuda certamente.

Ainda antes da nota da Procuradoria Geral da República, no Expresso Diário, Ricardo Costa considerava prioritário senão mesmo essencial que a investigação não se arraste e que as provas reunidas sejam robustas. Para que se note diferença relativamente a outros casos delicados que envolvem o poder político e o judicial, Portugal e Angola.

Neste em particular, por um dos protagonistas ser, precisamente, magistrado. E ainda por envolver a segunda figura de Angola, país com quem temos relações históricas e económicas relevantes. “A justiça deve estar acima disso tudo e funcionar de forma independente. Mas essa independência obriga a um profissionalismo que este caso vai colocar sob pressão total”.

OUTRAS NOTÍCIAS

Hoje é dia de eleições na FIFA. O reinado de Blatter terminou. E o Expresso Diário apresenta-lhe os cinco candidatos que querem conquistar o lugar maior ou mais alto do futebol mundial.

“Migrantes: o fluxo intensifica-se, a Europa desloca-se”. Lê-se na manchete da edição de hoje do “Le Figaro”. O diário francês contabiliza em 110 mil as pessoas que já chegaram à Grécia e a Itália desde o início do ano. Berlim faz tudo para defender Schengen mas há quem diga que o Tratado pode rebentar daqui a dez dias. A Europa não consegue resolver e a Áustria e Macedónia pugnam pelo restabelecimento do controlo nacional das fronteiras, lê-se no “Guardian”.

Em Espanha, a crise continua. Rajoy, do PP, recusou abster-se na “sessão de investidura” de Sánchez, líder do PSOE que irá acontecer na próxima semana. Isto depois dos socialistas se terem coligado com o Ciudadanos de Rivera. “O PP não está para fazer de ator secundário num cenário que tem como único horizonte uma nova campanha eleitoral”, disse o ainda primeiro-ministro Mariano Rajoy ao “El País”.

Guerra entre Marco Rubio e Donald Trump aquece. Vendo o terreno fugir e as hipóteses de ganhar serem cada vez menores, Marc Rubio lançou um forte ataque a Donald Trump, no debate de ontem à noite, colocando em causa a sua ética nos negócios. Rubio perdeu a serenidade do costume e, numa troca de papéis, acusou Trump de preferir empregar centenas de estrangeiros, no seu resort na Florida, em vez de trabalhadores norte-americanos.

Insistiu também, de acordo com a argumentação de Rubio, na deslocalização das suas fábricas de roupa para o México e para a China, diz o “New York Times”, que assume ter chegado o momento de decisão por que todos os Republicanos esperavam. Um debate peculiar, no mínimo.

Ingleses invadem o Algarve. E enchem os hotéis para fugir ao zika e ao terrorismo, lê-se na manchete do “Diário de Notícias”. O sul de Portugal está a tornar-se no destino preferido dos turistas ingleses que voltam costas ao Norte de África, América do Sul e Médio Oriente. As reservas estão a crescer 35%. E o Grupo Pestana sobe 10% a sua faturação.

Na primeira página do “Público”, Timor-Leste volta a ser notícia pelas piores razões. O Presidente Taur Matan Ruak volta a reacender suspeitas antigas de que Xanana Gusmão usa o poder discricionariamente beneficiando familiares e amigos.

Ainda no “Público”, António Lamas, presidente do CCB, responde à entrevista do Ministro da Cultura à Revista do Expresso. E assume que não se vai demitir. “Não me demito quando acredito em alguma coisa. Não está na minha natureza. E eu acredito que o CCB tem capacidade para gerar mais receita e depender menos do Fundo de Fomento Cultural, acredito que pode ganhar públicos e ser mais importante do que é hoje para a cidade e para o país”, disse.

Ao Expresso Diário, o ministro João Soares acrescentou de antemão que já tinha substitutos capazes para ocupar a presidência do CCB.

No “Jornal de Notícias” a manchete dá conta que dois mil portugueses já escolheram, através do testamento vital, quais os tratamentos que deseja receber no caso de ficar verbalmente impossibilitado de o fazer. O debate sobre a morte assistida prossegue.

FRASES

“Salário mínimo deve ser já de 600 euros em 2017”. Arménio Carlos, líder da CGTP, ao “Diário de Notícias”

“O meu dia a dia é o Banif”. João Almeida, do CDS, no “Diário Económico

“Votei sempre no PSD menos nas últimas eleições, e bem me custou. Magoou cá dentro”. Alberto João Jardim, ex-Presidente do Governo Regional da Madeira, ao jornal “i”

“Não assisti à crucificação de Cristo porque estava no dentista”.Amos Oz, escritor israelita, ao “Diário de Notícias”

“O problema de Portugal é ter uma venda nos olhos”. Rui Horta, coreógrafo, ao “Jornal de Negócios”

“É refrescante ter um candidato que fala abertamente, que faz sentido, que não é demagógico”. Michael Stipe, vocalista dos REM, sobre Bernie Sanders, candidato dos democratas, na “Rolling Stone”

O QUE ANDO A LER

A história de uma rua de onde se via o mundo. O nome dessa rua éRua Nova dos Mercadores e o mundo dela era no XVI.

Foram recentemente identificadas duas pinturas, que estavam na posse da Sociedade de Antiquários de Londres, como representando a Rua Nova dos Mercadores. Era aí o centro financeiro e comercial da Lisboa renascentista mas foi a partir das duas pinturas, e do seu relacionamento com outros documentos e objectos que se começou a redesenhar aquilo que era, o que lá se vendia ou fazia.

Foi esse trabalho que no final do ano passado foi publicado em livro:"The Global City - on the streets of renaissance Lisbon", com selo Paul Holberton Publishing, da autoria de Annemarie Jordan Gschwend e KJP Lowe. As pinturas, ambas do século XVI, as duas de autoria de pintores flamengos, dão conta da vida quotidiana na Rua Nova dos Mercadores. E logo dali se percebe que há ricos e pobres, brancos e negros, escravos e cavaleiros.

As mercadorias também se mostram como as mais diversas: bens de luxo, animais exóticos ou curiosidades vindas do além mar eram transacionadas naquela rua que os autores comparam, escpando à história, à Bond Street de Londres ou à Fifth Avenue de Nova Iorque.

Marfim, cristais, porcelanas ming, joias ou pedras preciosas brilhavam num comércio que reflectia o grande mundo naquela pequena rua de Lisboa. Conto o resto quando acabar.

Tenha um bom dia (e evite o downhill)


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