quarta-feira, 29 de junho de 2016

EMPREENDEDORISMO: ALIENAÇÃO VERSUS COOPERAÇÃO



Rui Peralta, Luanda  

O empreendedorismo é apresentado como uma solução para a força de trabalho excedente, não absorvida, uma possível solução para o desemprego. Pelo menos este é o discurso dominante que promove esta prática e, efectivamente, assim o pode ser. Mas, por debaixo do discurso promotor das competências empreendedoras, impõe-se uma ideologia funcional que reproduz culturalmente os processos de acumulação do capital e que assenta na concorrência como fórmula mágica e no capitalismo como como fatalidade bíblica. Para trás ficam a solidariedade e a cooperação, distorce-se o papel do individuo e os seus direitos efectivos e perde-se o sentido do colectivo.

O grande objectivo deste tipo de empreendedorismo, desta ferramenta do neoliberalismo, é a criação de uma economia feita de trabalhadores que adquirem comportamentos de unidade-empresa e não como colectivos de produtores. A forma empresa integrará toda a sociedade, tornando-se um princípio vectorial que se infiltra em todas as relações sociais. Da família ao Estado nada lhe escapa. Quanto ao mercado tornar-se-á numa imensa fornalha reprodutora de escravos, de mão-de-obra de baixíssimo custo, isenta de custos sociais e de direitos tanto de produtores como de consumidores, um imenso aparelho sob controlo directo das oligarquias. É um imenso processo de colonização que leva os valores do capitalismo a todos os âmbitos da vida social e a todas as esferas da sociedade humana.

A ética imposta por estes valores comporta a ideia de que o pobre é pobre porque não é – e não quer ser - empreendedor, gera uma falsa consciência do sujeito. Os que não empreendem são “falhados, derrotados”, fogem do “sucesso”, são “indolentes” que fogem da concorrência permanente.  Os que “fracassam” não dispõem dos sinais do “êxito”, não absorveram os valores empreendedores como o “talento”, a “inovação”, o “carisma”, a “liderança”, etc. Desta forma ocultam-se os processos sociais que possibilitam estes valores, escondem-se as relações sociais no mundo do trabalho, a exploração da força de trabalho, criada através da invisibilidade dos rendimentos-extra gerados no modo de produção capitalista. A burguesia possui riqueza porque oculta e explora e essa é a sua racionalidade. Não há “talento” nas relações sociais de produção. O que há é uma relação de domínio/submissão, de exploração.

Na ideologia do empreendedorismo o sujeito passa de assalariado (o que vende a sua força de trabalho, o seu conhecimento, no mercado de trabalho) a um “empresário de si próprio”. E é aqui que consiste a armadilha que gera uma falsa consciência da realidade. Ele desce no escalão social, efectivamente, porque perde direitos e adquire uma actividade precária, que o irá fazer arrastar-se por toda uma vida a pagar dividas á banca, a bajular o aparelho de Estado em troca de uns trocos, e o partido como centro de negócios.

Empreender sim, mas de forma consciente e não como processo de alienação. Empreendedorismo sim, mas no sentido de potenciar a criatividade, a inteligência, a inovação, a excelência do serviço e da produção. Empreender no sentido da cooperação e da solidariedade e não em exclusivo nos processos de concorrência. Criar processos de empreendedorismo que fomentem transformações de atitude dos produtores e operadores que gerem dinamização económica local, potenciando as articulações com o meio envolvente. Empreendedorismo sim, mas no sentido dos empreendedores criarem os seus próprios circuitos financeiros solidários e as suas redes logísticas colectivas. Empreendedorismo sim, mas no sentido da partilha de conhecimento, saberes e tecnologias.

Empreender sim. De verdade, como processo de socialização. Nunca como alienação.

A DESINTEGRAÇÃO DO MUNDO NEOLIBERAL: O PILOTO DO GOLPE SUMIU



A demanda por recheios distintos da rendição aos mercados vai acabar produzindo a sua oferta, mas o tempo para as respostas democráticas encurtou

Saul Leblon – Carta Maior, editorial

É o segundo espasmo de morte do neoliberalismo; o primeiro atingiu sua jugular econômica com a crise financeira sistêmica de 2008, da qual o organismo nunca mais se recuperou.

Agora foi a carótida política.

O sangue venoso e o arterial se misturaram espalhando a morte para dentro e para fora dos trilhos do livre mercado até descarrilar seu trem político.

É esse o filme que estreou em circuito mundial neste fim de semana.

Nas telas, o comboio bufa, estrebucha e arrebenta o que encontra pela frente, atrás e dos lados.

Tudo o que era sólido se desmancha no ar.

Mas ficha resiste em cair nos rincões mais aguerridos. Faz parte do desastre negá-lo.

O jornal Valor desta 2ª feira é um exemplo pungente.

Garrafais no alto da página proclamam em meio à montanha desordenada de ruínas a que foram reduzidos os pilares do golpe: ‘Brexit deve ter impacto limitado para o Brasil’.

Sim, tanto quanto um frango desossado da Sadia consegue fazer uma pirueta e parar de pé na Praça dos Três Poderes.

O frango desossado tipo Serra, por exemplo.

A charanga estratégica do golpe desafina mas ele anuncia solene: ‘Distinto público, vamos redefinir a política externa ideológica em direção à maior liberalização dos mercados’.

Dá uma pirueta e se espatifa no picadeiro.

A cerca-lo, leões famintos rugem intenções opostas.

De um lado, a segunda maior economia da Europa troveja seu não a uniões enlaçadas pelo julgo ortodoxo, na sexta-feira; de outro, instintos protecionistas dos americanos cospem fogo pelas ventas de Donald Trump; mais próximo do seu pescoço, a política espanhola reafirma a impotência das soluções convencionais para tirar a economia do atoleiro neoliberal em que se encontra... Etc.

Estivessem algo menos perplexos, os jornalistas embarcados talvez fizessem uma primeira autocrítica dos muitos anos de certezas graníticas.

Admitir que o único chão firme nesse momento são as reservas de US$ 370 bilhões que o ‘lulopetistmo’ acumulou, sob o bombardeio da crônica neoliberal, seria um bom começo.

Mas os tempos são turvos demais para a clareza dos espíritos.

Na Inglaterra, 52% dos eleitores resolveram dar um passo à frente caminhando dois para trás: por uma diferença de 1.269.000 votos, a consulta popular da última sexta-feira decidiu a saída do país da União Europeia. 

Dois dias depois, a Espanha foi  às urnas pela segunda vez desde dezembro:  do Podemos, que decepcionou, ao conservador PP, que venceu, sem liderar, nenhuma força saiu daí mandatada para dar um rumo novo ao ocaso econômico e social em que se encontra o país, após oito anos de terapêutica neoliberal.

Nos EUA,  o bafo morno das tempestades traz uivantes advertências de um conservadorismo que já não controla mais a criatura, com jeito de ‘anos 30’, como diz a Economist, que germina em seu ventre.

O desmonte que se aplica a contrapelo das urnas no Brasil deveria ser analisado à luz da gravidade pedagógica do curso tomado pela história nas últimas horas.

Sobretudo os senadores que em breve decidirão um processo ilegítimo de impeachment deveriam se perguntar: ‘Esgarçada a democracia, o que restará à nação?’

Não é precisa ser de esquerda para sopesar e refletir a gravidade do que se divisa do mirante da convulsão global: basta ser lúcido, contemporâneo e consciente das responsabilidades públicas com o futuro brasileiro.

Quantos desses há no Senado brasileiro?

O neoliberalismo revivificado aqui como diretriz ‘legitimadora’ do golpe , esfumou-se como alternativa de organização social e econômica na segunda principal economia da Europa.

Ao mesmo tempo e com igual intensidade, reafirmou o dano colateral da fragmentação política que se instala em sociedades submetidas a sua dieta, como mostra o caso do ‘ajuste espanhol’.

Receitas de supressão de direitos, empregos e gastos públicos, em nome de uma ‘contração expansiva’ a cargo do capital privada que nunca acontece, fazem água em todas as latitudes. 

Será o Brasil a exceção?

A experiência do mundo lança alertas à direita e à esquerda.

O desacorçoo, desprovido de um contraponto político alternativo à rendição neoliberal, levou o ambiente partidário espanhol à um círculo de ferro de indiferenciação e descrédito.

A indignação difusa da Praça do Sol ainda não foi suficiente para rompe-lo. 

Como um touro ferido, a democracia espanhola vagueia à procura de um projeto de futuro.

A incapacidade da política de dizer não ao mercado mantém a sociedade na UTI há oito anos,  onde acumula 21% de desemprego (44% entre os jovens), um PIB quase 6% inferior ao de antes da crise e a mumificação progressiva do tecido social, sob a ação medicamentosa que ora se anuncia aqui como a salvação da lavoura.

A dinâmica global colide de maneira ostensiva com o que diz a manchete do jornal Valor desta 2ª feira, cujo maior pecado não é barrigada jornalística.

O que de pior a mídia inocula no discernimento brasileiro é a interdição ao debate ecumênico do desenvolvimento, em nome de uma certeza ortodoxa desprovida de laços com a realidade.

O vigamento ideológico da pauta neoliberal, a crença de que o Estado menor fará a sociedade melhor, não entregou o que prometeu.

Após quatro décadas de supremacia quase absoluta do seu credo, as grandes multidões cansaram de esperar pelos milagres do Messias Mercado.

A desilusão jorra pela sarjeta dos bairros pobres e remediados nos quatro cantos do mundo, que sempre estiveram ali e dali não mudaram para melhor.

Regurgita igualmente seu explosivo descrédito nos novos aglomerados decadentes, como o cinturão da ferrugem nos EUA.

Ferrugem industrial e mal-estar social.

Protótipo de cemitério fabril, em seu pórtico reluz o vaticínio a outros milhões de distritos operários do planeta, encarcerados  na mesma lógica da liberdade para as coisas mortas e servidão para as  vivas.

O paradoxo segue uma receita universal.

Desguarnecer a manufatura local, baratear importações dos clusters asiáticos, desencadear sucessivas contrapartidas de arrocho mitigatório e supressão de direitos, enxertar o vírus da pobreza e do desemprego nas famílias assalariadas, sepultar seu destino e o do país no definhamento tecnológico estrutural, consagrado como fatalidade diante da intocável liberdade para os capitais.

‘Nós que aqui estamos por vós esperamos’, dizem seis de cada sete norte-americanos, que ademais de não terem curso universitário, também não tem emprego nos dias que correm.

Formam eles a base do eleitorado que desistiu de esperar por uma solução ‘de mercado’.

Passaram a enxerga-la, perversamente, na mais arrematada personificação do seu algoz: o protecionismo regressivo, xenófobo, fascista, racista, preconceituoso e excludente.

Ou apenas, Donald Trump.

Seu sucesso reafirma, por caminhos contrapostos, a indissociável importância para a democracia da inserção produtiva sólida das famílias assalariadas, da sua identidade histórica e da correspondente organização de classe em torno de valores e direitos sociais compartilhados.

A mesma pobreza desgarrada que enxerga luz na escuridão vendida por  Trump, optou pelo Brexit na Inglaterra e se rendeu ao desalento do ‘tanto faz isso ou aquilo’ na Espanha, neste domingo.

O cheiro de morte que empesteia o mundo desde a crise de 2008 se espessa na putrefação da pele política.

Vive-se a experiência de uma crise capitalista sistêmica que não gerou as forças de ruptura para a sua superação.

O resultado é a treva.

Essa que ‘ilumina’ as escolhas observadas nas últimas 72 horas e cujo poder contagioso equivale ao da peste negra –dos camisas negras— em outro divisor histórico.

A trinca aberta entre a base da sociedade e aqueles que deveriam vocalizar o conflito, mas, sobretudo, a negligência deliberada com a organização e o esclarecimento adequado dessa base, redundou no paradoxo infernal.

Não é um alerta difuso.

Cai como uma luva no Brasil. 

Uma crise capitalista sistêmica que não gera forças de ruptura para supera-la encontra seu condottiere nas expressões mórbidas do próprio capitalismo.

O resultado é a  virulência do que se busca despejar nos ombros das famílias assalariadas de todo o planeta.

E desde 12 de maio também nas do Brasil.

O país que em 1988 promulgou uma Constituição garantidora de direitos sociais e trabalhistas, a contrapelo da voragem neoliberal então avassaladora no planeta, engata mais uma viagem na contramão do tráfego histórico.

A diferença agora é que isso se faz em frontal contradição com os interesses da maioria da população.

E no lugar de uma repactuação constituinte, a bordo de um golpe de Estado. 

A legitimidade para isso? As contas viciadas de uma plutocracia sonegadora para a qual a Carta Cidadã não cabe no orçamento da nação.

O pulo do gato do esbulho – aquilo que o diferencia de uma ditadura clássica-- é usar o combate seletivo à corrupção como biombo para a repressão política inerente à regressão social.

É disso que cuida o califado de Curitiba. 

Não fosse por esse achado –para o qual contribuiu o mergulho petista no universo do caixa 2 eleitoral—seria preciso chamar de volta a OBAN para dobrar a resistência à usurpação. 

Basta Moro, por enquanto.

A corrupção endógena a um sistema político fragmentado para dar ao dinheiro o comando do todo, não é o único fator de desmoralização da democracia.

A subordinação do Estado ao mercado avulta como a principal fonte da descrença do nosso tempo na política, nos partidos e no voto.

É isso que estão dizendo os ingleses cuspidos do paraíso dos livres mercados prometido por Thatcher em 1979, no qual nunca couberam.

A exclusão é um requisito à estabilidade da geringonça.

Será mesmo?

Quatro décadas de neoliberalismo esfarelaram a classe média dos EUA e desmontaram o estado do Bem-Estar europeu.

A renda real da outrora afluente classe média gringa encontra-se estagnada no nível de 1977, tendo o PIB crescido 50% no período.

Nunca a desigualdade foi tão extremada como agora na sociedade mais rica da terra.

A tese neoliberal de que a concentração em cima, vazaria a riqueza por gravidade para baixo, chocou uma falácia.

A fatia da renda nas mãos dos 20% mais ricos nos EUA chega hoje a 55% do total; evoluiu na razão inversa na base da pirâmide.

Não é menos regressivo o quadro europeu.

Pesquisas mostram que a diferença entre um rico e um pobre na sociedade europeia era de 1 para 12, em 1945; passou de 1 para 82, em 1980; é de 1 para 530 atualmente.

Em toda a UE, apenas os dilacerados mercados de trabalho de Portugal e Grécia pagam salários médios mais baixos que aqueles recebidos pelos trabalhadores ingleses, que votaram maciçamente no Brexit, na última sexta-feira.

São ingleses, também, os experimentos mais radicais de desregulação do mercado de trabalho em curso na UE.

A mão de obra ‘just in time’, como já observou Carta Maior neste espaço, é uma dessas modalidades ultraflex,  acalentadas aqui pelos paladinos da terceirização total.

A nova tecnologia trabalhista reduz o empregado a um insumo requisitado da rua apenas quando a demanda imediata o exige.

Somente o tempo de uso estrito pela engrenagem produtiva será remunerado.

É melhor que a senzala.

Há 700 mil ‘insumos humanos’ desse tipo no capitalismo britânico, sendo a modalidade de ‘emprego’ que mais cresce na terra de Shakespeare, onde a decadência laboral e o fastígio da riqueza financeira pareciam conviver funcionalmente, até a abertura das urnas no dia 24.

O que esse conjunto de martírios e recusa nos diz é que um ciclo está se fechando na sociedade capitalista no século XXI.

A supremacia financeira insaciável perdeu a capacidade de girar a roda da história na direção das necessidades objetivas e psicológicas da humanidade.

Engasgado na própria saliva, o neoliberalismo regurgitar a autodissolução em manifestações de extremismo conservador. 

O desenlace permanece em aberto em todo o mundo, a evidenciar uma mudança de época que não encontrou ainda um protagonista capaz de virar a página do calendário.

Não há escolha fácil nesse ambiente difícil, assoalhado de chão mole por todos os lados.

O terremoto deve sacudir o sonambulismo da esquerda mundial a partir de agora.

A demanda por recheios distintos da rendição aos mercados vai acabar produzindo a sua oferta. 

Mas o tempo para a resposta democrática encurtou.

Uma heroica renovação da esquerda, ou a sua não menos trágica extinção em benefício de manifestações totalitárias emergentes, é o que pulsa no monitor da história.

O anacronismo temerário da agenda golpista no Brasil estreitou adicionalmente o tempo dessa escolha entre nós.

Angola. DAS ISABÉIS – DESCONSTRUINDO ALGUMAS FALÁCIAS ANTIPATRIOTAS



José Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião

Não compreendo o alvoroço em torno da nomeação de Isabel dos Santos para a presidência do Conselho de administração da  Sonangol. O  Presidente José Eduardo dos Santos teve em atenção apenas a competência da nomeada. Homem íntegro, sério, impoluto, nem sequer se terá apercebido de que estava nomeando a própria filha. Ele sempre soube separar a esfera privada da pública. Separa-a tão bem que jamais confunde Isabel com Isabel. Uma coisa é Isabel dos Santos, sua filha; outra é a Isabel dos Santos, empresária de sucesso, a mulher mais rica de África. São, naturalmente, pessoas distintas. Tão distintas, ao menos, quanto Fernando Pessoa e Alberto Caeiro. Fernando Pessoa deu origem a Alberto Caeiro, é verdade, mas Alberto Caeiro não era Fernando Pessoa. Isabel dos Santos, a filha mais velha de José Eduardo dos Santos, deu origem à prestigiada empresária e agora distinta gestora pública, Isabel dos Santos. Contudo, só um louco, ou um révu, o que, aliás, é a mesma coisa, se atreve a dizer que Isabel é Isabel.

José Eduardo dos Santos ama a filha, Isabel dos Santos, mas mal conhece a empresária Isabel dos Santos. Nunca conviveu com ela. Jamais a recebeu em casa. O mesmo se pode dizer relativamente a Zenú dos Santos, Coréon Dú (dos Santos) ou Welwitschia dos Santos.
Por outro lado, o Presidente é o pai da Nação. Somos todos seus filhos. Assim, ao nomear qualquer angolano para um determinado cargo público, José Eduardo dos Santos estará inevitavelmente a nomear um filho. É isto nepotismo? Não, meus senhores, é patriotismo.

Outra objecção que os loucos, os révus e todo um imenso bando de antipatriotas (são a mesma coisa) repetem, é que a empresária Isabel dos Santos não poderia nunca ser nomeada para um cargo público, visto tratarem-se de funções concorrentes. Disparate. Mais uma vez, estamos a falar de pessoas diferentes: uma pessoa é Isabel, a empresária competente, e outra é Isabel, a gestora pública de reconhecidos méritos. São pessoas tão distintas quanto, digamos assim, Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora da Muxima. As duas são a Virgem Maria, mãe de Jesus, certo, mas uma é negra e brasileira e a outra branca e angolana.

Isabel, a empresária, a mulher mais rica de África, mal conhece Isabel, a competente gestora pública. Nem sequer se frequentam. Não há uma única fotografia – uma única! – que mostre a empresária Isabel dos Santos ao lado da gestora pública Isabel dos Santos. Desafio qualquer révu a mostrar-me uma fotografia das duas juntas num mesmo evento.

Temos, portanto, que uma coisa é Isabel, outra a Isabel, e outra ainda a Isabel.

Finalmente: embora o Presidente José Eduardo dos Santos não tenha ligação alguma com a Isabel, muito menos com a Isabel, conhece muito bem o pai de ambas – e confia nele.

Entenderam, ou é preciso fazer um desenho?

Ex-presos políticos angolanos marcharam por Luanda para assinalar liberdade hoje conquistada



Os ativistas angolanos libertados hoje por decisão do Tribunal Supremo marcharam a pé por Luanda, juntamente com familiares e amigos, numa ação espontânea que terminou na União dos Escritores Angolanos, onde recordaram que "ler não é crime".

A marcha, conforme a Lusa constatou, decorreu sem incidentes, apesar de o grupo se ter aproximado do largo 1.º de Maio, no centro de Luanda - local palco de várias manifestações, normalmente frustradas pela polícia, contra o Governo angolano, promovidas habitualmente por estes ativistas - e que estava envolto num forte aparato policial.

Na União dos Escritores Angolanos, os ativistas recordaram que "ler não é crime", aludindo ao mote da operação policial que a 20 de junho desencadeou este processo, quando os jovens discutiam política com base num livro do professor universitário Domingos da Cruz, que foi condenado neste processo a 08 anos e meio de prisão, por, além de atos preparatórios para uma rebelião, ter sido considerado igualmente o suposto líder da "associação de malfeitores".

Os ativistas angolanos, que foram condenados a 28 de março por atos preparatórios para uma rebelião e associação de malfeitores, começaram a deixar o Hospital-Prisão de São Paulo, em Luanda, pelas 16:50, depois da ordem de libertação emitida pelo Tribunal Supremo.

Foram recebidos no exterior com gritos de "liberdade" e prontamente abraçados em festa por familiares e amigos que os aguardavam, conforme a Lusa presenciou no local.

O processo foi acompanhado pelos três advogados de defesa, Miguel Francisco 'Michel', David Mendes e Luís Nascimento, autores do 'habeas corpus' pedindo a libertação por prisão ilegal, a que o Tribunal Supremo deu agora provimento.

O 'rapper' luso-angolano Luaty Beirão foi um dos que deixou a prisão esta tarde, tendo recusado prestar declarações aos jornalistas, além de admitir estar feliz, quando tinha a mulher, Mónica Almeida, à espera.

Naquele estabelecimento prisional estavam pelo menos 12 ativistas, enquanto os restantes estão distribuídos pelas cadeias de Viana e de Caquila, arredores de Luanda, e que também sairão durante o dia de hoje, por decisão do Supremo.

O ativista Nito Alves, um dos 17 condenados, vai permanecer na cadeia por estar a cumprir uma outra pena, não abrangida pelo 'habeas corpus', de ofensas ao tribunal, durante este julgamento.

Aquando da condenação pela 14.ª Secção do Tribunal Provincial de Luanda, no Benfica, a penas de prisão entre os 02 anos e 03 meses e os 08 anos e meio, duas jovens estavam em liberdade, outros dois estavam na cadeia e os restantes em prisão domiciliária.

A 28 de março, logo após a leitura da sentença, começaram todos a cumprir pena por decisão do tribunal, apesar dos recursos interpostos pelos advogados de defesa para o Supremo e para o Constitucional, o que logo a 01 de abril motivou a apresentação do 'habeas corpus', agora decidido e comunicado à defesa dos jovens, críticos do regime liderado por José Eduardo dos Santos.

Fonte dos Serviços Penitenciários disse hoje à Lusa que as restrições dos 17 jovens serão sobre a saída do país e terão ainda obrigatoriedade de apresentações mensais ao tribunal da primeira instância, ficando em situação de liberdade provisória sob termo de identidade e residência.

Em março, na última sessão do julgamento, o Ministério Público deixou cair a acusação de atos preparatórios para um atentado ao Presidente e outros governantes, apresentando uma nova, de associação de malfeitores, sobre a qual os ativistas não chegaram a apresentar defesa, um dos argumentos dos recursos.

Os ativistas garantiram em tribunal que defendiam ações pacíficas e que faziam uso dos direitos constitucionais de reunião e de associação.

PVJ // EL - Lusa - Título PG

Angola. NÃO HÁ REGIME QUE CORTE A RAIZ DA NOSSA LIBERDADE



A hora é para enaltecer (festejar ainda não) a gloriosa e imortal luta dos nossos jovens activistas. Eles, como nós, como muitos outros, como cada vez mais, lutamos pela liberdade, pela democracia e por um Estado de Direito. À sombra da legítima e humana euforia, o regime aproveitou para nos enviar (se calhar aconteceu também com outros) uns tantos recados e avisos.

Orlando Castro* - Folha 8, opinião

Sim. Temos medo, senhor Presidente José Eduardo dos Santos. Mas sabemos como o combater, como o vencer. Na mesma proporção em que (usando os jovens activistas como exemplo do seu poder) o senhor aumentou o medo em Angola, nós aumentamos a nossa resistência a esse vírus canibalesco que alimenta o seu regime.

Como sempre, o regime de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos, não aceita que no seu reino existam pessoas que pensem de forma diferente. Não admira, por isso, que o Folha 8 esteja para o regime como o semanário francês “Charlie Hebdo” estava, em Janeiro de 2015, para os fanáticos… pouco importa se eram árabes, europeus ou africanos.

Por cá, a liberdade de expressão (quando não coincide com a verdade oficial) representa um atentado contra a segurança do Estado e as Redacções livres são um bando de malfeitores. Por cá, ou seja por Angola, todos os poderes instituídos defendem oficialmente a liberdade de expressão e de imprensa… nos outros países. A nível interno isso é uma chatice.

E por falar em jornalistas lusófonos, relembremos que o jornalista Carlos Cardoso foi assassinado, em Moçambique, no dia 22 de Novembro de 2000 porque, como Jornalista, fazia uma séria investigação à corrupção que rodeava o programa de privatizações apoiado pelo Fundo Monetário Internacional.

Para Mia Couto, “não foi apenas Carlos Cardoso que morreu. Não mataram somente um Jornalista moçambicano. Foi assassinado um homem bom, que amava a sua família e o seu país e que lutava pelos outros, os mais simples. Mas mais do que uma pessoa: morreu um pedaço do país, uma parte de todos nós”.

Embora sejam uma espécie em vias de extinção, os Jornalistas continuam (em todo o mundo) a ser uma espinha na garganta dos ditadores.

Por cá, o regime de José Eduardo dos Santos – perante a criminosa indiferença da comunidade internacional – já elaborou o seu plano e já estão contratados os assassinos, para eliminar – sem deixar rasto – os mais incómodos. Nada de cadeias, de julgamentos, de “habeas corpus”.

No Folha 8 o principal visado é, continua a ser, o nosso director, William Tonet. Razões? A palavra aos energúmenos do regime: “Pela rudeza dos escritos, no seu jornal, onde não falta a regularidade de publicação de segredos do Estado, calúnia e difamação, contra o camarada Presidente José Eduardo dos Santos, sua família e dirigentes do partido, o MPLA, e membros do governo”.

O tom ameaçador sobe sempre ao seu mais alto patamar quando algum facto ou acontecimento pode indiciar minimamente uma vitória, uma pequena vitória, do Folha 8. A gloriosa e imortal luta dos nossos jovens activistas e a vitória, embora parcelar, dos direitos humanos agora consumada trouxeram ao atrofiado cérebro do regime um, entre muitos outros de muito mais relevo, fantasma chamado Folha 8.

Segundo os recados do regime – por coincidência hoje mesmo chegaram alguns – devemos “parar de falar mal do camarada Presidente, porque é graças a ele” que nós (“cabrões de merda”, segundo o vernáculo português dos sipaios) “ainda estamos vivos”!

Carlos Cardoso, segundo Mia Couto, morreu porque “a sua aposta era mostrar que a transparência e a honestidade eram não apenas valores éticos mas a forma mais eficiente de governar”. É uma boa causa para morrer.

Carlos Cardoso morreu, “por ser puro e ter as mãos limpas”. Morreu “por ter recusado sempre as vantagens do Poder”. Morreu por ter sido, por continuar a ser, o que muito poucos conseguem: Jornalista. Está a ver senhor Presidente Eduardo dos Santos onde está a força da nossa razão?

“Liquidaram um defensor da fronteira que nos separa do crime, dos negócios sujos, dos que vendem a pátria e a consciência. Ele era um vigilante de uma coragem e inteligência raras”, afirmou Mia Couto num testemunho que deveria figurar em todos os manuais de Jornalismo, que deveria estar colocado em todas (apesar de poucas) Redacções onde se faz Jornalismo. Como se compreende, qualquer semelhança entre Jornal de Angola, TPA, RNA e Angop com Jornalismo é mera e casual coincidência.

O sentimento que nos fica é o de estarmos a ser cercados pela selvajaria, pela ausência de escrúpulos dos que enriquecem à custa de tudo e de todos. Dos que acumulam fortunas à custa da droga, do roubo, do branqueamento de dinheiro e do tráfico de armas. E o fazem, tantas vezes, sob o olhar passivo de quem devia garantir a ordem e punir a barbárie.

Por cá os algozes do regime continuam apostados em matar os mensageiros. Ainda não se convenceram que matar o mensageiro não resulta. A liberdade continua viva.

*Orlando Castro é diretor-adjunto do Folha 8

Leia mais em Folha 8

TRIBUNAL SUPREMO ANGOLANO ORDENA LIBERTAÇÃO DOS 17 PRESOS POLÍTICOS



Tribunal Supremo confirma libertação de activistas hoje

Juízes deram provimento ao habeas corpus apresentado pela defesa dos 17 activistas, que serão libertados sob Termo de Identidade e Residência.

O Tribunal Supremo deu provimento ao habeas corpus apresentado pela defesa dos 17 activistas, condenados e a cumprirem pena desde 28 Março por rebelião, e ordenou a sua libertação, conforme documento emitido hoje pela Secretaria Judicial da Câmara Criminal do Tribunal Supremo.

O RA falou com a esposa de Luaty Beirão, Mônica Almeida, que disse ter recebido uma mensagem no telemóvel esta manhã, por volta das 7h, dizendo que seria importante ir ao Hospital Prisão São Paulo (HPSP) hoje.

“Eu até achei que fosse alguma coisa em relação à saúde do Luaty. Ainda estava em casa e comecei a ler em muitos órgãos de comunicação a notícia sobre uma possível libertação. Foi aí que fui para o tribunal. Passado algum tempo, os advogados chegaram e alguns jornais já lá se encontravam”, disse, sem revelar quem lhe enviou a mensagem.

Questionado pelos jornalistas sobre a libertação dos activistas, à margem do Conselho de Ministros, o ministro da Justiça e Direitos Humanos, Rui Mangueira, falou que “as decisões do Supremo são para serem respeitadas” e que, “no caso concreto o Tribunal está a tomar as suas decisões sem qualquer interferência política e sem qualquer carácter político”.

“Posso anunciar que recebi agora a chamada do Supremo a dizer que vão ser libertados. Está confirmado e vou agora assistir à saída”, disse à Lusa o advogado, aludindo à resposta aohabeas corpus que estava por decidir desde Abril, solicitando que os activistas aguardassem em liberdade a decisão dos recursos à condenação, por rebelião e associação de malfeitores.

A mesma informação foi igualmente confirmada à Lusa pelo advogado de defesa David Mendes, desconhecendo ainda os argumentos do Tribunal Supremo, e que também se está a deslocar para o Hospital-Prisão de São Paulo (HPSP), em Luanda, onde até hoje estavam detidos, a cumprir pena, 12 dos 17 activistas.

- Clicar no documento para ampliar

Rede Angola com Lusa – Foto: Ampe Rogério/RA – Título PG

O DESNORTE EUROPEU



Adriano Moreira – Diário de Notícias, opinião

O projeto da Unidade Europeia, que mereceu secular atenção de alguns dos mais ilustres pensadores da história política, teve frequentemente a marcha impedida pela liderança de dirigentes mais dotados de ambição do que de sabedoria, e sobretudo sem qualquer código de valores disciplinantes. Mas talvez estejamos a enfrentar uma das mais perigosas circunstâncias, e seguramente o obstáculo menos transponível, que é o nível das lideranças que, depois das últimas guerras mundiais e fim da Guerra Fria, foram incapazes de formular um conceito estratégico orientador. Escolho para referência as palavras de Coudenhove-Kalergi no Manifesto de 1924, na data em que promoveu a instalação em Viena do Movimento Pan-Europeu: "A questão europeia é esta: será possível que, na pequena quase-ilha europeia, vinte e cinco Estados vivam, lado a lado na anarquia internacional, sem que um tal estado de coisas conduza à mais terrível catástrofe política, económica e cultural? O futuro da Europa depende da resposta que seja dada a esta pergunta... Não podemos cansar-nos de repetir esta verdade simples: uma Europa dividida conduz à guerra, à agressão, à miséria, uma Europa unida conduz à paz, à prosperidade."

A guerra de 1939-1945 encontrou na paz, que pelas destruições parecia já a dos cemitérios, as lideranças capazes de, entre rivalidades e projetos dos poderes então mais destacados e com vocação diretória chegarem ao Gold Exchange Standard, assinar o Tratado de Roma em 1957, criando a chamada Comunidade dos Seis, que uniu a Alemanha Federal, a França, a Itália, a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo, com intervenção de homens que tinham frequentado os congressos de Kalergi. Como é frequente na história das grandes tragédias europeias, foi agora a limitada previsão do primeiro-ministro Cameron do Reino Unido, olhando ao seu mal pensado processo eleitoral, que se demonstrou suficiente para desencadear o desnorte em que se encontra a Europa. Ocasião para relembrar como os EUA defenderam, depois da guerra, o processo unitário contra a posição soviética, para não deixar de meditar sobre o fato de Obama ter vindo apoiar a manutenção do Reino Unido na União, e o inacreditável milionário Donald Trump ter desembarcado no Reino Unido mostrando-se feliz com a conclusão do plebiscito.

O risco ocidental ficou sublinhado imediatamente pelos prognósticos com que os responsáveis observadores, comentadores e analistas procuraram ajudar a antecipar a visão do futuro. Há porém dois factos que desde agora estão evidentes. O primeiro é que a crise Europa-Reino Unido se inscreve no incerto outono ocidental a que fomos conduzidos, alertando as lideranças possíveis do pensamento estratégico americano, porque contraditórias sobre o acontecimento que também lhes respeita: o Reino Unido é um pilar fundamental da NATO, a segurança que incumbe à NATO abrange a Europa, e a circunstância que rodeia a União vai crescer de exigência se o resultado do plebiscito implicar com a Unidade do Reino Unido.

As manifestações imediatas da Escócia e da Irlanda do Norte colocam seriamente em risco a coroa britânica e também suscitam um problema ao poder militar da NATO quanto à situação das suas instalações no território do Reino Unido, se este se dividir. Um risco que de facto pode ser imputado à decisão mal pensada do primeiro-ministro, que também pareceu estar imune à ideologia do orçamentalismo do europeísmo em exercício.

O segundo facto que inevitavelmente exige mais do que meditação, porque também cuidado, é a convocação feita pela Alemanha da reunião dos seis fundadores da União para avaliar a situação. É preocupante porque é impossível não temer que se imaginem como curadores de um pensamento fundacional do qual a má gestão se afastou até ao desastre atual. Os membros da União, que mais têm sido vítimas dos erros cometidos, dos sacrifícios exigidos, dos perigos da circunstância ignorada, não podem ser indiferentes à inoportunidade da iniciativa. Não existe um grupo de curadores da herança que foi dissipada. Existem vinte e sete herdeiros sem benefício de inventário. Que enfrentam com dificuldades de êxito a prática do terrorismo, que tem como estratégia matar inocentes com economia de sacrificados crentes, e atualmente, não obstante o Frontex da União Europeia, esta enfrenta hoje aquilo que já foi chamado "a guerra que recusa o nome". Trata-se de incluir a multidão de refugiados que avançam pacificamente em direção à Europa suposta suficientemente rica, a qual exige o cumprimento dos deveres humanitários, mas que levou o Congresso do PPE a dividir-se, na reunião recente de Madrid, com Viktor Orbãn a temer "a democracia europeia" e a surpreendente Merkel a defender que "todos os que chegam à Europa para fugir de uma guerra têm de ser tratados de forma humana". Mas não esqueceu a fragilidade do Frontex. O conceito estratégico de segurança não é uma superficialidade para nenhum governo.

“PORTUGUESES NO REINO UNIDO ESTÃO INQUIETOS, NÃO TÊM ESTABILIDADE”


Comunidade no Reino Unido precisa de mais informação e apoio do governo português

A comunidade portuguesa no Reino Unido precisa de mais atenção e informação das autoridades lusas sobre o que devem fazer após o voto britânico para sair da União Europeia, defende o deputado social democrata Carlos Gonçalves, em visita a Londres.

Além de ter sido recebido pelo embaixador João de Vallera, o parlamentar eleito pelo círculo da Europa falou com representantes da Associação dos Investigadores e Estudantes Portugueses no Reino Unido, com o conselheiro das Comunidades Portuguesas António Cunha, com dirigentes do Centro de Apoio à Comunidade Lusófona e com elementos do movimento associativo e empresarial.

Nestes contactos, confirmou existir "uma grande incerteza" por parte da comunidade face à falta de informação sobre como serão tratados os cidadãos estrangeiros europeus pelas autoridades britânicas após a saída formal da UE, apelando ao governo português que lhes preste mais "atenção".

"Compete ao Estado português, através dos seus serviços consulares, dar a informação necessária para que neste período de incerteza as pessoas possam ter um conjunto de respostas ou orientações no sentido de eventualmente tomar as decisões corretas e para esclarecer algumas dúvidas", afirmou à agência Lusa.

Na sua opinião, os consulados de Portugal, em Londres e Manchester, têm um "papel fundamental na informação à comunidade", mas mostrou apreensão à capacidade do posto de Londres, que nos últimos anos tem sentido dificuldades no atendimento ao público por insuficiência de funcionários.

"O Consulado não consegue dar resposta no plano do atendimento administrativo e agora tem uma missão mais larga, que é o dever de poder informar a nossa comunidade", vincou.

O conselheiro António Cunha concordou na necessidade de ajudar com informação.

"A informação é muito útil para as pessoas que estão indecisas e não sabem o que se irá passar. Estão inquietos, não têm estabilidade, pensam que poderá acontecer de um dia para o outro", disse à Lusa, defendendo o uso da televisão portuguesa para chegar a mais pessoas e tranquilizar a comunidade.

As preocupações de muitos é o receio de perderem o direito de ficar no Reino Unido e de terem de regressar a Portugal com os filhos que já nasceram em território britânico e, portanto, só falam inglês e não português.

"A gente tenta passar a mensagem para ficarem tranquilos [porque] as coisas vão resolver-se no tempo certo", vincou.

No centro comunitário, a recém-eleita presidente, Raquel Oliveira, também insiste na importância da informação sobre as opções que as pessoas têm para o futuro.

O governo português aconselhou, nos últimos dias, os portugueses residentes no Reino Unido a acautelar a sua situação requisitar o cartão de residência, que pode ser temporário ou permanente, dependendo do número de anos no país.

O centro oferece ajuda para perceber qual o caso mais adequado e os passos a dar, nomeadamente quais os documentos necessários.

"Se querem informação, nós podemos dar. Mas entretanto eu acho que é preciso ter um bocadinho calma porque temos de dar um passo de cada vez e perceber até onde é que isto vai afetar a comunidade portuguesa e toda a comunidade estrangeira no Reino Unido, não são só os portugueses", sublinhou Raquel Oliveira.

O deputado Carlos Gonçalves prossegue a sua visita hoje à comunidade portuguesa na capital britânica com uma visita ao Consulado-Geral de Portugal em Londres e um encontro com o vereador em Stockwell, no sul da cidade, Guilherme Rosa.

Os eleitores britânicos decidiram que o Reino Unido deve sair da UE, depois de o 'Brexit' (nome como ficou conhecida a saída britânica da União Europeia) ter conquistado 51,9% dos votos no referendo de quinta-feira

Lusa, em Diário de Notícias – Foto: EPA / Simela Pantzartz

Portugal. JOÃO SEMEDO DEIXA PERGUNTA "AOS AMIGALHAÇOS DE MERKEL E HOLLANDE"



Deputado do Bloco de Esquerda vem esclarecer a proposta do partido sobre a realização de um referendo semelhante ao do Brexit, mas noutras circunstâncias.

Na sequência de uma proposta feita pelo Bloco de Esquerda, a realização de um referendo semelhante ao do Reino Unido, João Semedo vem dizer que a palavra dos militantes do bloco não foi devidamente compreendida, tudo por “medo”.

"Fala-se em referendo e tremem, ouvir o povo não é com eles. Percebe-se o medo do referendo: onde e quando a UE foi a votos, perdeu. Mas, à cautela, não vá a ideia ganhar fôlego, tratam de deturpar grosseiramente o que foi dito pelo Bloco”, escreve o deputado na sua página do Facebook.

Feita a introdução ao tema, o bloquista esclarece aquilo que o partido quis realmente sugerir: “O Bloco foi muito claro: proporemos um referendo se a comissão europeia impuser sanções a Portugal, não propusemos replicar em Portugal o referendo do Reino Unido”.

Ao classificar de “inaceitável” a “passividade daqueles que criticam o Bloco por se insurgir e levantar precisamente contra elas”, João Semedo deixa uma pergunta tanto ao Presidente Marcelo como aos restantes partidos e “amigalhaços de Merkel e Hollande”, lote onde diz estar presente Francisco Assis.

"Se houver sanções, acham que devemos ficar de braços cruzados, não fazemos nada, pagamos e seguimos em frente?, questiona.

Em jeito de conclusão, João Semedo pede para que não se ignore a importância do Reino Unido ter abandonado a União Europeia. “Por favor, não finjam que nada aconteceu, o Brexit não é um pequeno acontecimento”, termina.

João Oliveira – Notícias ao Minuto

CHÁ DOS 27



Miguel Guedes* - Jornal de Notícias, opinião

Não era preciso ser adivinho para prever o Brexit. O populismo e a demagogia visceral liderada pela extrema-direita britânica tem perna larga e os tempos na União Europeia (UE) navegam em vagas de eurocepticismo pela inversão do paradigma europeu dos burocratas em Bruxelas. Há crime e há culpados. O chauvinismo económico e financeiro de Schauble faz mártires das vítimas da austeridade e não descansa enquanto não punir os povos pela impossibilidade de cumprir à vírgula as políticas desastrosas que ele próprio desenhou e nutriu. O apocalipse alimenta-se e o martírio já fez um mártir: o Reino Unido decidiu sair e pode deixar descendência caso este projecto europeu germânico não ganhe vergonha.

Não se pode dizer que os britânicos necessitassem de uma purga europeia como de chá para a boca quando nunca exerceram uma visão crítica da UE senão para o exercício da relevância do seu umbigo ou interesse. Daí que não deixe de ser surpreendente como David Cameron olhou para o referendo, em tempos idos, como uma etapa ganha por antecipação na sua sobrevivência política pessoal. Não é necessário parar a democracia e sair para que o tempo para a democracia se exerça fora de timing. Democraticamente, os britânicos saíram pelo timing dos bárbaros.

O tempo para a democracia no país vizinho não se exerce só em eleições mas é certo que o Podemos sofreu um rude golpe eleitoral em tempo de esperança. Veremos se resiste à secular autofagia da Esquerda. Portugal bem precisava na Europa que bons ares soprassem de Espanha. O poder estará nas mãos de Rajoy e Sanchéz ou de um acordo "à portuguesa". Mas dificilmente veremos Espanha, adaptando o ditado popular, em bons casamentos políticos. O espetro da punição europeia com sanções económicas a Portugal e Espanha deveria ter convocado alianças estratégicas entre os dois países, convergências para as quais as forças políticas espanholas ainda não se mostraram preparadas.

O histerismo com que a política nacional recebeu a proposta do Bloco para referendar o Tratado Orçamental (como se o PS ou o PCP não tivessem antes defendido o mesmo) é um favor que fazem aos nossos falsos prestadores de cuidados. Não se trata de referendar a nossa saída da UE: pondera-se a clarificação democrática de um acordo entre governos num momento estratégico da negociação. Para uma refundação. Se há unanimidade sobre a irrazoabilidade de sanções económicas, não se pode negociar na lógica do absurdo. Se a prepotência da UE for tão longe, ao ponto de aplicar a mesma receita ao moribundo que assim se faz morto, é (no mínimo) tão válida a teoria do "levanta a cabeça" como a do "não te mexas". Se fingirmos que abraçamos permanentemente o agressor, acabamos vítimas, já fomos. É uma questão de tempo. Chá dos 27. É o agora ou nunca para a UE.

*Músico e advogado - O autor escreve segundo a antiga ortografia

JUNKER, O BLENORRÁGICO EXECRÁVEL



Junker, o sucessor de Durão Barroso de má memória, mostrou ontem no Parlamento Europeu quão blenorrágico está o seu humor, a sua educação, a sua diplomacia, a sua compostura democrática, a sua prática neoliberal fascista. Um Junker esquentador conhecemos, um Junker presidente da Comissão Europeia que não defende os interesses dos cidadãos europeus e entrega de barato tudo aos Mercados para exploração selvagem (principalmente dos europeus dos países periféricos) também conhecíamos e conhecemos, um esquentador com um esquentamento não há memória de existir, um Junker blenorrágico dos pés à cabeça desmascarou-se a ele próprio no Parlamento Europeu ao dirigir-se a deputados europeus britânicos com língua a pingar da maleita blenorrágica a que talvez só a Penadur penicilinica atenda e colmate.

“O que estão aqui a fazer?” Perguntou o esquentado Presidente da Comissão Europeia aos deputados britânicos. Que se saiba a cláusula 50 – para o RU sair da EU - não foi ativada. Até lá o RU tem os deputados legitimamente integrados no PE. Ou não será? Mesmo não sendo assim Junker mostrou o seu lado prepotente ao fazer o que fez para discriminar e maltratar os britânicos. Junker blenorrágico, um blenorrágico execrável, xenófobo e porco. Tão porco quanto os imensos seus parceiros esquentadores que junto ao fogão acumulam toda a espécie de porcarias. Isto para não falar dos esquentadores ainda colocados em casas de banho que até merda exibem para testemunharem quão porcos e porcas são os que os manipulam e deles se usam.

Este Junker mostrou o que atualmente é a elite execrável nos poderes da União Europeia. Uma pseudo União repleta de traidores ao projeto europeu e mainatos do grande capital global. Uns reles serviçais dos 1% ou pouco mais dos que comem tudo à população global… e não deixam nada – a não ser mostrarem os salafrários que os servem.

Expresso Curto a abrir com este tema. Mansamente, como manda a deontologia dos escribas da comunicação social. Mesmo que quisessem escrever de outro modo… não podem. Ou podem mas… o desemprego espera-os. Há exceções, felizmente. Como um amigo da comunicação social de outros tempos disse: “Felizmente há Luar”. Diga-se agora e sempre: Felizmente a “Luta Continua”.

É a vida. Ou permitimos ser vendidos ou somos… nada. Somos “coisas” dirigidas, maltratadas e punidas por Junkers blenorrágicos ou ainda piores.

Bom dia, se conseguirem.

Mário Motta / PG
  
Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Luísa Meireles – Expresso

Porque estão aqui?

Ontem, foi a frase do dia. Foi o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker que a pronunciou, num aparte dirigido aos eurodeputados britânicos eurocéticos, a meio de um discurso sobre o Brexit no qual solicitou ao Reino Unido que “clarificasse a situação o mais rapidamente possível”. Foi numa sessão extraordinária do Parlamento Europeu com a presença de Juncker e de todo o colégio de comissários, a qual votou uma resolução sobre o assunto. Os eurodeputados não estiveram com meias palavras: “Se é para sair, é já” e assim votaram.

A outra frase, mas da noite, é da autoria do primeiro-ministro britânico David Cameron, que no último jantar em que participou com os seus homólogos num Conselho Europeu, disse sobre o referendo: "lamento, mas não me arrependo". É o homem que "se arrisca a ficar na História como o líder político que desfez o Reino Unido (a Escócia está à espera) e deu uma contribuição decisiva para acelerar a desintegração europeia", como disse Teresa de Sousa. Na reunião do Conselho de ontem, os chefes de Estado e de Governo debateram outros temas, como as migrações, emprego, crescimento e investimentos e relações exteriores e chegaram a estas conclusões..

Pausa. Ocorreu ontem mais um violento atentado na Turquia, desta feita no aeroporto de Istambul, um dos mais movimentados do mundo. O balanço de vítimas era, até ao momento, de 38 mortos, 100 feridos. Três homens chegaram num táxi, começaram a disparam e depois fizeram-se explodir. Eis o momento, filmado por uma câmara.Ninguém ainda reivindicou o ato, que tudo indica parece ter sido cometido por radicais islâmicos.

Brexit outra vez. Para além do Conselho Europeu, que hoje pela primeira vez já só reúne a 27, a reunião do Parlamento Europeu ficou marcada por grande turbulência. Nigel Farage, líder do UKIP e campeão da guerra pelo Brexit, agitou os ânimos, invectivando os seus colegas eurodeputados, acusando-os de nunca terem trabalhado na vida (veja o reality check do Guardian). Estes acabaram por ovacionar de pé o eurodeputado escocês que lhes pediu: “A Escócia não vos desiludiu, não desiludam a Escócia”. Aconteceu tudo numa sessão extraordinária do Parlamento Europeu com a presença de Juncker e de todo o colégio de comissários, a qual votou uma resolução sobre o assunto. Os eurodeputados não estiveram com meias palavras: “Se é para sair, é já” e assim votaram.

Pois o tema do momento, caro leitor, é e continua a ser o Brexit. Ou até Nexit (a negação do dito), como se tudo se passasse de um sonho mau. Até nova ordem, o Reino Unido ainda não acionou a célebre cláusula do divórcio e os parceiros estão dispostos a dar-lhe mais tempo. Mas não será por causa da saída do Reino Unido que o inglêsdeixará de ser língua oficial na União, como alguns (franceses) já queriam.

Em Londres, a agitação continua, com manifestações contra o Brexit erepercussões políticas de peso. A votação da moção contra o líder trabalhista Jeremy Corbyn é elucidativa mas, por enquanto, este não se demite (se preferir a versão original, aqui). Se à turbulência trabalhista se juntar a vontade dos conservadores de só ter eleições em novembro, não é tão cedo que a situação estabilizará. Para além de que, do ponto de vista social, a coisa pode por-se feia devido aos atos de racismo, como mostra este vídeo no metro de Londres. A Renascença também se interroga se o Brexit deu autorização aos ingleses para serem xenófobos. Do lado de lá do Atlântico, também estão preocupados.

O primeiro-ministro abordou o assunto em Bruxelas (aqui em entrevista), onde se deslocou para a reunião do Conselho Europeu. Entretanto, na conferência do Estoril, Durão Barroso avisou que podem vir aí muitas surpresas porque o processo de separação “vai ser resolvido muito dificilmente, vai demorar tempo e trazer muita incerteza para a Europa e o mundo”. É uma "página dramática na história da União". A título de exemplo, repare no que pode aconteceraos investimentos da UEVale a pena também a pena ler o Paulo Sande sobre o assunto, embora a sua máquina de tempo esteja um pouco avariada. Em contra-corrente, o economista Nouriel Roubini(o tal que previu a crise de 2008 e costuma fazer prognósticos catastóficos) diz que a crise por causa do Brexit vai ser limitada. Menos mal! Por isso, talvez não seja demais lembrar o apelo à calmado Presidente americano Barack Obama: “carregou-se no botão de pausa no processo de integração europeia”. Sábias palavras.


OUTRAS NOTÍCIAS

O Governo já admite que a economia nacional vai crescer menos, diz oministro das Finanças Mário Centeno hoje no Público. A procura externa e o Brexit são duas variáveis que estão a baralhar as contas do ministro.

Centeno diz também que "as decisões sobre as sanções não são algoritmos, são políticas". A possibilidade dessa ocorrência preocupa o Governo e continuaremos a falar dela até pelo menos 5 de julho, data da reunião do colégio de comissários que decidirá o tema (embora a última palavra seja do Conselho Europeu). Ontem,António Costa mostrou-me menos otimista que o habitual (“Infelizmente, a Comissão Europeia já me desiludiu suficientes vezes”, disse) face aos três cenários possíveis, enquanto Passos Coelho afirmou que seria “uma vergonha”. Mas vergonha mesmo foi a resposta do vice-presidente da Comissão Valdis Dombrovski a Passos, de que a França não foi sancionada porque tentou corrigir o défice e Portugal não. Se quiser ler opinião, leia o que diz o Henrique Monteiro.

Também em tom de opinião, mas sobre a proposta do Bloco de Esquerda de fazer um referendo à UE em caso de sanções a Portugal, tem aqui estes dois artigos: o do Daniel Oliveira e o doMartim Silva.

Antes de continuar, não nos esqueçamos do Euro, onde se joga amanhã mais um mata-mata para Portugal e ainda não se esqueceram os ecos da vitória da Islândia sobre a Inglaterra (Eurexit). Sorry. O Pedro Candeias foi ótimo a contar esta história improvável.

Quanto ao mais, ao fim de três dias acabou o caso original do secretário de Estado do Ambiente que deu como casa de morada de família uma residência no Algarve para ter direito a subsídio de alojamento (e pagar o empréstimo). Vivia em Cascais. Políticamente, estava a tornar-se insustentável (PSD e BE tomaram posição) ealguém pôs ordem na casa (do Governo, não dele). Todo o caso está relatado aqui.

E, já agora, continuando na saga da aplicação das 35h na função pública, há uma nova ameaça de que nem tudo corre bem na Saúde. Desta vez são os enfermeiros a prometer greve... se for por diante a proposta do Governo que permite até 50h de trabalho por semana. Entretanto, os hospitais voltam a adiar pagamento a fornecedores (no Negócios, mas só para assinates). Na educação, a aplicação da lei também está a causar preocupação nas escolas, que admitem cortar serviços.

Os operadores privados (SIC e TVI) contestaram a decisão de atribuir mais canais à RTP (com publicadade) na TDT. "Distorção de mercado", alegam.

Se ainda tiver tempo, não deixe de ler esta arrepiante e triste históriade negligência médica grosseira, que levou à morte de uma jovem de 19 anos depois de 11 (onze!!) idas ao hospital. Tinha um tumor de 1,6 kg na cabeça.

E outra notícia perturbante: mais uma mãe que mata o filho e se mata a ela. Era uma guerra sobre a custódia do filho. Não há palavras.


LÁ FORA


Espanha. O resultado das eleições gerais de domingo passado não deram resultados claros, mas o líder do PP, Mariano Rajoy, confia que poderá fazer um Governo em minoria, com a abstenção do PSOE. Será? Terceiras eleições é que não, dizem os espanhóis, e com razão, a propósito da eleição com mais abstenções de sempre.

BCE. No Fórum dos bancos centrais, reunido em Sintra, fizeram-se várias advertências: que as políticas monetárias têm de estar alinhadas, entre outras coisas, para combater o perigo da deflação. Mas o seu presidente, Mario Draghi, viajou mais cedo para Bruxelas, onde preveniu os líderes europeus que espera uma redução de 0,3 a 0,5% do PIB europeu por conta do Brexit.

França. A lei do trabalho continua a fazer desfilar manifestantes nas ruas das cidades. Interessante este trabalho do Huffington Post.fr sobre o mesmo tema, comentando os números da mobilização, segundo os sindicatos ou a política. O abismo nas contas é o mesmo. Lá... e cá.

Estados Unidos. Eleições presidenciais. Donald Trump continua na onda das notícias. Desta vez promete rasgar os tratados comerciais e enfrentar a China. Se o candidato tem tudo para escandalizar, a verdade é que a comunicação social amplifica bastante a mensagem. E também neste país, não é de espantar que os números mostrem umacrescente polarização dos rendimentos, Segundo o FMI, desde os anos 70 que os rendimentos da classe média se afundam, uma tendência preocupante em todos os sentidos.

FRASES


"É absolutamente ridículo estarmos a discutir 0,2% da execução orçamental do anterior Governo", António Costa, em Bruxelas, sobre a a eventualidade de sanções a Portugal.

"Portugal não precisa de líderes rendidos a esta lamentável cultura de afetos", Graça Canto Moniz, responsável do Gabiente de Estudos do CDS-PP, sobre o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa

"É a última vez que aplaudem aqui. Até certo ponto estou muito surpreendido que aqui estejam. Estão a lutar pela saída da União Europeia. O povo britânico votou a favor da saída. Porque estão aqui?", Jean-Claude Juncker, aos eurodeputados britânicos que defendem o Brexit

"Duvido que Londres possa continuar a ser a capital financeira da Europa", Durão Barroso, na conferência do Estoril.

"Considero inaceitável que um membro do Governo (...) recorra, no fundo, a uma pequena burla para ganhar mais uns tostões", Duarte Marques, deputado do PSD, sobre o caso do secretário de Estado que recebia subsídio de alojamento.

O QUE DESISTI DE LER


Como uma infinidade de outros leitores, fui fascinada pela Trilogia do Millennium, do sueco Stieg Larsson, já falecido. Li-os sofregamente, sempre dividida entre a ansiedade de acabar de ler e a tristeza de terminar o relato das aventuras da hacker Lisbeth Salander e do jornalista Mikael Blomkvist. No outro dia, quando deparei na livraria com o “4º livro da saga”, nem hesitei. Deceção completa. David Lagercrantz, o escritor que se propôs continuar a série, não me convenceu com “A rapariga apanhada na teia de aranha” (Publicações D. Quixote). De todo. Não consegui passar de umas dezenas de páginas, sempre com a sensação de estar a mastigar em seco. Não sei se foi ele que me cansou ou se fui eu que me cansei da história.

Em jeito de compensação, sugiro-lhe outras leituras. António Vitorino, por exemplo, num sucinto estudo sobre o divórcio britânico publicado pelo Instituto Jacques Delors, a que preside. Ou sobre o mesmo assunto, este outro do britânico Charles Grant, presidente do Center for European Reform. Ou então, porque não vídeos? Se se interessa pela herança humana, não deixe de ver este:Uma viagem pela ADN, extraordinária. Devíamos ser todos obrigados a fazer tal exame, que de certeza não votávamos contra os imigrantes. Ou então este, uma espetacular versão de pura arte do Lago dos Cisnes: “Como os quatro pequenos cisnes se transformaram em quatro pequenas rãs”. Vá lá, são só 1:39. E deslumbre-se!

Tenho a certeza que assim começará um bom dia!

Nós estaremos sempre por cá. A todo o momento, no online, à distância de um click, ou às 18h, para uma leitura mais aprofundada do dia, no Expresso Diário.

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