terça-feira, 2 de agosto de 2016

”OS ATLETAS NEGROS DEVERIAM BOICOTAR A OLIMPIADA NO BRASIL”



A advogada Deborah Peterson Small, referência em políticas contra drogas e direitos dos negros nos EUA, diz que o país é mais racista do que quer admitir

A advogada e ativista americana Deborah Peterson Small chegou ao Brasil há uma semana com a expectativa de ser acolhida pelo povo que exporta amor às tradições africanas nas publicidades para turistas. “Descobri um Brasil que não gosta de negros”, diz. Um relato sucinto dos dias de Deborah em terras tupiniquins: em Salvador, num passeio à beira-mar, um homem desconhecido perguntou a Deborah quanto ela custava. “Ele imaginou que, por ser negra e estar numa praia, eu só poderia ser uma prostituta”. Na comunidade do Alemão, no Rio de Janeiro, ela foi recepcionada por policiais armados e com a mão no gatilho. Num hotel em São Paulo, durante o café da manhã, respondeu a cinco funcionários a mesma pergunta: se estava, mesmo, hospedada ali. Ela conta as experiências sem mágoa ou rancor. Aprendeu a viver presa à cor de sua pele, como ela mesmo diz.

Deborah, formada em direito e políticas públicas por Harvard, foi diretora para assuntos legais da New York Civil Liberties Union e de Drug Policy Alliance. Acumula o trabalho na instituição com um pós-doutorado em saúde pública que cursa na Universidade Johns Hopkins. A convite do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, Deborah veio discutir sobre tensão racial e políticas contra drogas. Juntas, são a base da Break the Chains, organização fundada por Deborah. Em entrevista à ÉPOCA, Deborah fala sobre a Olimpíada, o impacto das políticas de drogas na população negra no Brasil, o racismo visível  e o risco que o mundo corre se Donald Trump for eleito.

ÉPOCA – A senhora esteve recentemente no Rio de Janeiro, a cidade-sede dos Jogos Olímpicos, e disse ter se surpreendido, mas não da maneira que imaginava. Por quê?

Deborah Peterson Small – Na minha bagagem pessoal, eu trouxe tudo o que já tinha lido a respeito das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs). Entendi que representavam um avanço para as comunidades carentes, uma ferramenta para reaproximar as pessoas. Mas a UPP não é nada disso. Estava na comunidade do Alemão quando passou uma viatura policial. O passageiro segurava uma arma, voltada para fora do carro. Ele estava com a mão no fuzil, como se cada morador fosse um suspeito. Se essa é a polícia exemplar, o que esperar da ruim? Ainda naquela comunidade, me assustei com as marcas de balas nas casas das pessoas – do Bondinho você via os buracos feitos pelos tiros. Atrás daquelas paredes moram pessoas, famílias com crianças pequenas. Nos Estados Unidos isso não existe, e no Brasil é tão comum que ninguém se espanta. Mas deveria. Isso é violação de direitos humanos. O Rio de Janeiro é uma zona de guerra.

ÉPOCA – Há décadas a senhora estuda a relação entre a política contra drogas e a população negra. O que encontrou no Rio corrobora sua tese?

Deborah – A política contra drogas no Rio é racista. Como em tantos lugares, investidas da polícia no Rio não alcançam consumidores de drogas de bairros nobres e classe média – nem as casas dessas pessoas. E isso vai acontecer na Olimpíada. Criou-se uma percepção, equivocada, de que o consumo e a venda de drogas têm uma cor. Essa falsa consciência mora fora e dentro das comunidades. Quem mora lá acredita que merece aquele tratamento em nome do perigo iminente. Fiquei muito chocada com os números de mortos por polícia no Brasil – e igualmente pasma com as pessoas que aplaudem a polícia que mata. A polícia é a segunda causa de mortes no Brasil. Isso é esquizofrênico. A Olimpíada poderia servir como bandeira para os direitos da população negra.

ÉPOCA – A senhora quer dizer que deveria haver ativismo entre os atletas?

Deborah – Nos Estados Unidos, associações esportistas passaram a boicotar estados com legislações contra gays, por exemplo. Assim como eu, que acreditava que o Brasil era um exportador de cultura afro e amava os seus negros como um igual, outros tantos atletas negros estão chegando para a Olimpíada acreditando nisso. Mas não é verdade. Os atletas negros deveriam boicotar a Olimpíada no Brasil, porque o que está acontecendo aqui é um genocídio lento. Estão matando os seus iguais. E a sociedade lava as mãos, como se não tivesse nada a ver com isso. Historicamente, os negros serviam enquanto traziam dinheiro, ou seja, quando eram escravos. Quando libertados, sem nenhuma ajuda ou acolhimento, o sistema que os escravizou tornou os negros um problema para a sociedade, como se fôssemos um fardo. No universo das drogas, são vistos como os traficantes, os bandidos, os violentos. A quem interessa que sejam vistos assim? A quem interessa que não falemos que essas pessoas não têm acesso à casa, à escola, à família? Não se trata de não batalhar ou não, mas de não chegar ao mundo com as mesmas oportunidades. Não pensamos nisso.

ÉPOCA – Como no Brasil, a polícia americana ganhou manchetes por suspeita de homicídios contra negros. O movimento negro ganhou força pela dor?

Deborah – Sim, mas, acima de tudo, o movimento ganhou força com as mulheres negras – e todos os tipos de mulheres. São os homens delas que estão morrendo, são elas as principais vítimas de violência, inclusive a doméstica. O movimento Black Lives Matter (Vidas negras importam, em tradução livre), que alcançou o mundo todo, foi criado por três mulheres queers (termo usado para representar a população LGBT e também transgêneros e transexuais). E o Brasil segue o mesmo caminho.

ÉPOCA – A senhora sofreu preconceito no Brasil?

Deborah – Antes de responder, queria explicar que, diferentemente dos EUA, onde a luta é entre brancos e negros, no Brasil a batalha é entre negros e não-negros. Aqui, quanto menos negro você for, melhor. As pessoas deixam de usar o cabelo com cachos e roupas afro para parecer menos preto. Eu sou negra, minhas roupas são coloridas e amo bijuterias. As pessoas me olham diferente, porque não estão acostumadas a conviver com uma pessoa como eu. O preconceito aparece no dia a dia. No hotel, durante o café-da-manhã, perguntaram cinco vezes se eu estava hospedada aqui, porque era a única negra sendo servida. Em Salvador, estava à beira-mar com um amigo quando um desconhecido perguntou quanto eu custava. Na cabeça dele, eu só podia ser uma prostituta. Não me entenda mal, eu adoro o Brasil, mas vocês precisam enxergar que são preconceituosos, mais do que gostariam de admitir. Isso não é demérito do brasileiro, apenas. Moro na Califórnia, onde, em tese, as pessoas são descoladas. Toda vez que vou à praia com meu neto de quatro anos e meio, vejo famílias guardando os objetos pessoais, como se meu neto, um bebê de sunga, fosse roubá-los. Tenho outro neto, de oito anos. Ele ainda não entende que a vida dele será diferente, que terá de dar explicações que as outras crianças não precisam aprender. Mas vou precisar ter essa conversa com ele, explicar que quando a vendedora de uma loja vai atrás dele, não é porque quer ajudar, mas porque tem medo que ele vá roubar alguma coisa. Não gostaria que ele perdesse a pessoa que é hoje. Quando essa conversa acontecer, ele vai deixar de ser totalmente livre. Mas não posso protegê-lo a vida toda, então tenho que fazer isso e rezar para que ele sobreviva nesse mundo cruel.

ÉPOCA – A senhora é contra a proibição das drogas. Por quê?

Deborah – A proibição não faz as pessoas terem boa relação com as coisas. Especialmente os viciados. Como o nome diz, são pessoas que têm uma relação desequilibrada com algum tipo de consumo, e que são incapazes de ficar sem aquilo. Recentemente, as prisões nos Estados Unidos proibiram presos de fumar. O que acontece com pessoas viciadas em algo – de fumo à açúcar – sumariamente impedidas de usar? Você começa a usar de um jeito mais perigoso. No caso dos presos, eles começaram a provocar pequenas mutilações na pele para encurtar o caminho da nicotina dos adesivos. Vou dar outro exemplo, a cocaína. O cérebro de uma pessoa que não usa drogas alcança a sensação de bem estar praticando esportes, fazendo sexo e etc. Quem usa a droga alcança essa sensação rapidamente, com intensidade dez vezes superior. Quanto maior o consumo, maior a queda dessa sensação, que chamamos de crush. Com o tempo, o cérebro perde a habilidade de conseguir naturalmente, e a pessoa depende da droga para se manter bem. A proibição não permite falar sobre isso nem encontrar meios de equilibrar essa situação.

ÉPOCA – Há algum tipo de política pública que a senhora considere positiva no tratamento de usuários?

Deborah – Em São Paulo, conheci o programa Braços Abertos, que conseguiu levar equilíbrio à vida de usuários de drogas carentes oferecendo acolhimento e casa. Os frequentadores praticam esportes, tocam instrumentos musicais, limpam. Eles eliminaram a vida caótica provocada pelas drogas e a pessoa segue em frente. A proibição também esconde outras facetas das drogas, como os bancos que lavam o dinheiro do narcotráfico. Por isso, falo que a política contra drogas não se trata de acabar com as drogas. Nos Estados Unidos também é assim.

ÉPOCA: Como a senhora vê uma possível vitória do candidato republicano, Donald Trump?

Deborah: Os republicanos têm o poder do congresso. Se ganharem, terão o controle das três casas. Então, por um lado, acho que os republicanos estão apostando porque querem ser os únicos no poder. E aí você tem um Trump, que é o oposto, em todos os sentidos, de Obama. Trump não é preparado, não sabe governar, não é um líder. Trump é um demagogo. Até meu neto de 4 anos sabe respeitar uma pessoa. O mundo levará décadas para se recuperar se Trump for eleito. Tomara que os americanos são façam como os ingleses, que descobriram o que era o Brexit horas depois do fim da votação, numa pesquisa no Google.

Thais Lazzeri, do Época, em Geledes

O FASCISMO E SUA IMBECILIDADE ILÓGICA



É sempre com a velha conversa de que irá 'consertar' tudo que o fascismo justifica e executa seu projeto de conquista e de chegada ao poder.

Mauro Santayana - Carta Maior

Célebre por seus estudos sobre a França de Vichy, Robert Paxton dizia que o fascismo se caracteriza por uma sucessão de cinco momentos históricos: a criação de seus movimentos; o aparelhamento do setor público; a conquista do poder legal; a conquista do Estado; e, finalmente, a radicalização dos fins e dos meios - incluída a violência política - por intermédio da guerra.

O fascismo de hoje se disfarça de “liberalismo” no plano político e de neoliberalismo no plano econômico.

Seu discurso e suas “guerras” podem ser dirigidos contra inimigos externos ou internos.

E sua verdadeira natureza não pode ser escondida por muito tempo quando multidões uniformizadas, quase sempre com cores e bandeiras nacionais, descobrem "líderes" dispostos a defender o racismo, a ditadura, o genocídio e a tortura.

Que, quase sempre, são falsa e artificialmente elevados à condição de deuses vingadores.

E passam a ter seus rostos exibidos em camisetas, faixas, cartazes, por uma turba tão cheirosa quanto ignara,  irascível e intolerante, que os exalta com os mesmos slogans, em todos os lugares.

Repetindo sempre os mesmos mantras anticomunistas, "reformistas" e "moralistas" contra a política e seus representantes - contra o “perigo vermelho”, a “corrupção” e os “maus costumes”.

Uma diatribe que lembra as mesmas velhas promessas e “doutrina” de apoio a outros "salvadores da pátria” do passado - que curiosamente costumam aparecer em momentos de "crise" aumentados intencionalmente pela mídia, ou até mesmo, a priori, fabricados - como Hitler, Mussolini, Salazar e Pinochet, entre muitos outros.

Não importa que as “bandeiras”, como a do combate à corrupção - curiosamente sempre presente no discurso de todos eles - sejam artificialmente exageradas.

Não importa que, hipocritamente, em outras nações, o que em alguns países se condena seja institucionalizado, como nos EUA, por meio da regulamentação do lobby e do financiamento indireto, e bilionário, de políticos e partidos por grandes empresas.

Nem importa, afinal, que a Democracia, contraditoriamente, embora imperfeita, aparentemente - por espelhar os defeitos próprios a cada sociedade - ainda seja, para os liberais clássicos, o melhor regime para conduzir o destino das nações e o da Humanidade.

Como ensina Paxton, na maioria das vezes os grupos fascistas iniciais sobrevivem para uma segunda fase, quando, como movimentos ou ainda como mera tendência, discurso ou doutrina - muitas vezes ainda não oficialmente elaborada - passam a se infiltrar e impregnar setores do Estado.

Esse é o caso, por exemplo, de “nichos” nas forças de segurança, no Judiciário e no Ministério Público, que passam então,  também, a prestar dedicada "colaboração" ao mesmo objetivo de "limpeza" e "purificação" da Pátria.

Com o decisivo apoio de uma imprensa - normalmente dominada por três ou quatro famílias conservadoras, milionárias, retrógradas, entreguistas - que atua como instrumento de "costura" e "unificação" do "todo", por meio da pregação constante dos objetivos a serem alcançados e da permanente glorificação, direta ou indireta, do "líder" maior do processo.

Não por acaso, Mussolini e Hitler foram capa da Revista Time, o primeiro em 1923, o segundo em 1938, e de muitas outras publicações, em seus respectivos países, quando ainda estavam em ascensão.

Não por acaso, nas capas de jornais e revistas, principalmente as locais, eles foram precedidos por manchetes sensacionalistas e apocalípticos alertas  sobre o caos, a destruição moral e o fracasso econômico.

Mesmo que em alguns países, por exemplo, a dívida pública (líquida e bruta) tenham diminuído desde 2002; a economia tenha avançado da décima-quarta para a oitava posição do mundo; a safra agrícola tenha duplicado; o PIB tenha saído de 504 bilhões para mais de 2 trilhões de dólares; e, apesar disso, tenha sido reunida, entre dinheiro pago em dívidas e aplicações em títulos externos, a quantia de 414 bilhões de dólares em reservas internacionais em pouco mais de 12 anos.
  
Da fabricação do consentimento que leva ao fascismo, e às terríveis consequências de sua imbecilidade ilógica e destrutiva, não faz parte apenas a exageração da perspectiva de crise.

É preciso atacar e sabotar grandes obras e meios de produção, aumentando o desemprego e a quebra de grandes e pequenas empresas, para criar, por meio do assassinato das expectativas,  um clima de terror econômico que permita tatuar a marca da incompetência na testa daqueles que se quer derrubar e substituir no poder, no futuro.

Criando, no mesmo processo, “novas” e “inéditas” lideranças, mesmo que, do ponto de vista ideológico, o seu odor lembre o de carniça e o de naftalina.

Como se elas estivessem surgindo espontaneamente, do “coração do povo”,  ou dos “homens de bem”, para livrar a nação da “crise” - muitas vezes por eles mesmos fabricada e “vitaminada” - e salvar o país.

Afinal, é sempre com a velha conversa de que irá “consertar” tudo, corrigindo a desagregação dos costumes e os erros da democracia, que sempre apresenta como irremediavelmente, amplamente, podre e corrompida até a raíz - como Hitler fez com a República de Weimar - que o fascismo justifica e executa seu projeto de conquista e de chegada ao poder.

É com a desculpa de purificar a pátria que o fascismo promulga e muda leis - muitas vezes ainda antes de se instalar plenamente no topo - distorcendo a legislação, deslocando o poder político do parlamento para outros setores do Estado e para “lideres” a princípio sem voto.

É por meio de iniciativas aparentemente “populares”, que ele desafia a Constituição e aumenta o poder jurídico-policial do Estado no sentido de eliminar, impedir, sufocar, o surgimento de qualquer tipo de oposição à sua vontade.

Para manter-se depois, de forma cada vez mais absoluta, no controle, por meio de amplo e implacável aparato repressivo  dirigido contra qualquer um que a ele venha a oferecer resistência.

Aprimorando um discurso hipócrita e mentiroso que irá justificar a construção, durante alguns anos, de um nefasto castelo de cartas, do qual, no final do processo, sobrarão quase sempre apenas miséria, desgraça, destruição e morte.

É aí que está a imbecilidade ilógica do fascismo.

Tudo que eventualmente constrói, ele mesmo destrói.

Não houve sociedade fascista que tenha sobrevivido à manipulação, ao ódio e ao fanatismo de seus povos, ou ao ego, ambição, cegueira, loucura e profunda vaidade e distorção da realidade de “líderes” cujos sonhos de poder costumam transformar-se – infelizmente, depois de muito sangue derramado - no pó tóxico e envenenado que sobra das bombas, das granadas e das balas.

Créditos da foto: Wikimedia Commons

TERROR ISLÂMICO: POR UMA RESPOSTA NÃO-VIOLENTA



Às vésperas dos Jogos Olímpicos, um convite a refletir sobre o contexto que produz os jihadistas e os caminhos para desconstruí-lo. Uma pista: a História

Praveen Swami, no The Indian Express - Outras Palavras - Tradução: Antonio Martins

Para compreender os jihadistas do Estado Islâmico, volte no tempo, até a Europa da Idade Média

“No Templo de Salomão e no pórtico”, escreveu o cronista Raymond d’Aguilers, que testemunhou a captura da cidade em 1099, “os cruzados cavalgaram com sangue até os joelhos e arreios de seus cavalos”. Ele lembrou-se de “trabalhos maravilhosos”: “Alguns dos pagãos foram decapitados em misericórdia”, outros perfurados por setas atiradas das torres e ainda outros, torturados durante longo período, foram queimados vivos em chamas lancinantes”. “Jerusalém estava agora entupida de corpos e tingida de sangue – D’Aguilers prossegue com aprovação – o sangue dos pagãos que blasfemaram Deus por tanto tempo.

A mente de Mohamed Lahouaiej Bouhlel, que dirigiu seu caminhão contra uma multidão que celebrava o Dia da Bastilha em Nice, matando 84 pessoas, está fechada para nós para sempre. Os fragmentos a que temos acesso são muito esparsos, às vezes paradoxais. Um homem fascinado pelos vídeos de decapitação do Estado Islâmico, mas também por excessos sexuais impulsionados por drogas; um homem que destroçava os ursinhos de suas crianças e inclinado a pequenos crimes; um homem com diagnóstico de doença mental, mas capaz de planejar meticulosamente seu ataque.

Dos relatos de d’Aguilers, no entanto, aprendemos algo essencial. A violência islâmica, a despeito da estética que algumas vezes adota, é um produto de nossos tempos modernos, não da era medieval. No entanto, é muito simplório enxergar esta ultra-violência como um fenômeno de nosso tempo. Há importantes lições a aprender do passado sobre as circunstâncias em que cultos milenaristas com o do Estado Islâmico florescem e crescem.

A Europa medieval oferece um ângulo importante para examinar o jihadismo e compreender seu funcionamento. Os contornos daquele período são estranhamente familiares, caracterizados por enorme deslocamento social. O crescimento de grandes cidades, construídas para produção de bens e o comércio organizado, tinha dado origem a novas classes sociais, que buscavam desmantelar a ordem feudal. Havia uma onda crescente de imigrantes inundando as cidades a partir do campo empobrecido, mas encontrando, com frequência, apenas miséria.

A atividade intelectual intensa também caracterizou aqueles tempos. Em 1417, Poggio Bracciolini, um secretário papal desempregado, descobriu, num monastério alemão, uma cópia de De rerum natura,obra do poeta romano Titus Lucretius Carus por muito tempo perdida. Com isso, reintroduziu no mundo a ideia filosófica radical de que o mundo foi criado não pela vontade de Deus, mas pela colisão aleatória de partículas.

Sobre as revoluções das esferas celestes, de Nicolau Copérnico, publicada pouco antes de sua morte, em 1543, estabeleceria as fundações científicas para uma revolução em nosso conceito sobre o universo.

Em meio a este novo mundo, porém, fermentava um grande número de cultos milenaristas da morte, um contraponto à construção do mundo das Luzes. Estes movimentos, notou o acadêmico Norman Cohn em sua obra principal, In Pursuit of the Millenium [“Em busca do Milênio”], assemelhavam-se muito ao jihadismo moderno, ao se apresentarem como distintos de “todas as outras lutas conhecidas na História, um cataclismo, do qual o mundo emergirá totalmente transformado e reorientado”.

O caso dos Adamitas, assim chamados a partir do camponês que os liderava – e que se proclamava tanto Adão quanto Moiséis – é instrutivo. Os relatos da época contam que, de sua ilha fortificada norio Nezarka, próxima a Neuhaus [no sul da Boêmia, hoje República Tcheca], os adamitas lutaram uma guerra sagrada contra as cidades próximas. Todos os homens, mulheres e crianças inimigos eram retalhados ou queimados vivos. Era preciso, acreditavam os adamitas, que o sangue subisse até a altura de uma cabeça de cavalo.

Em outubro de 1421, os adamitas foram exterminados – lutando até o fim, sua resistência fanática impulsionada pela profecia de seu líder, segundo a qual Deus cegaria os soldados do exército de formado para combatê-los.

Já Jan Bockelson fundou o regime anabatista de Münster nos anos 1520, preparando-se para a iminente chegada de Cristo com poligamia, entretenimentos bizarros e a execução de todos os dissidentes. Quando o exército imperial sitiou Münster, garantiu-se aos seguidores que Deus havia-os dotado com a força de cem inimigos; eles não sofreriam nem fome, nem sede, nem cansaço.

Embora a fome consumisse a população – muitos pediam aos mercenários de Bockelson para aplicar-lhes e em suas crianças o golpe de misericórdia – todos recusaram as ofertas do exército imperial de uma rendição honrosa.

Este milenarismo, notou Cohn, tirava forças de uma população obrigada a viver à margem da sociedade”. Após a desintegração das redes e sociedades de parentesco, nos novos tempos, estes grupos criaram seus próprios profestas carismáticos.

Farhad Khosrokhavar, um sociólogo francês que entrevistou muitos terroristas encarcerados, descreveu o jihadismo em termos similares – “individualismo por meio da morte”. Seu trabalho sugere que matadores como o tunisiano Bouhlel são apartados de seus laços culturais tradicionais, sem ter feito a transição para a modernidade cultural. Na violência niilista, encontram a libertação.

Num sentido mais amplo, Khosorokhavar argumenta que isso se repete em muitas sociedades do Oeste da Ásia. A região, ele lembra, assistiu “ao desmantelamento das comunidades tradicionais por meio de ações do Estado e à construção de uma nova economia de mercado sem os possíveis efeitos positivos desta última”. O islamismo oferece a ilusão de uma alternativa justa, baseada na vontade de Deus, ao invés do capricho dos homens.

No início do século XVI, o Livro de Cem Capitulos, um texto apocalíptio escrito por um publicista anônimo que vivia no alto Reno, demonstrou a durabilidade destas fantasias. Ele profetizou a chegada de um Irmão da Cruz Amarela, que iria “controlar o mundo todo, de Oeste a Leste, pela força das armas”. Cunhou um mote, para esta era de terror: “Breve, beberemos sangue por vinho”!

É fascinante contemplar como esta linguagem é próxima à dos textos jihadistas modernos. “A História só escreve suas linhas com sangue”, escreveu Abdullah Azzam, patriarca fundador dos jihadistas árabes no Afganistão, reverenciado tanto pela Al-Qaeda quanto pelo Estado Islâmico. “A glória só constrói seus edifícios elevados com caveiras; a honra e o respeito só podem ser estabelecidos num alicerce de aleijões e cadáveres”. Como Azzm, os cruzados fetichizavam o martírio. Uma crônica lembra a história de Jakelin de Mailly, um cavaleiro da ordem dos templários, morto ao combater muçulmanos, em 1º de maio de 1187. Seus geitais foram cortados e preservados para que pudessem, se a divina providência permitisse, gerar um herdeiro com valentia similar.

A história dos movimentos milenares ensina, porém, a ler o jihadismo como parte de uma paisagem marcada pela emergência de uma nova direita violenta – assim o demonstram as obscenidades de Joseph Kony em Uganda, os narco-evangelistas assassinos do México o Hindutva indiano e a Nova Direita europeia. Estas crises surgem de choques culturais, desdobramento das maiores transformações demográficas e econômicas da história. Abandonados pelos Estados, nestes tempos de crises, os povos voltaram-se aos deuses.

Lutar contra os movimentos jihadistas exige serviços de inteligência e polícias. Requer recursos militares e respostas geo-estratégicas. Porém, o imprescindível é uma nova política.

praveen.swami@expressindia.com

BODES EXPIATÓRIOS - de Schauble



Mariana Mortágua* - Jornal de Notícias, opinião

O episódio, bem ao jeito arrogante e despótico do ministro alemão, já se repetiu: quando confrontado com os problemas do seu sistema bancário, o governante dispara publicamente contra Portugal. Em fevereiro assegurava que o país não tinha resiliência financeira e, seis meses depois, criava propositadamente um incidente em torno de um falso segundo resgate a Portugal.

A estratégia de Schäuble é descarada, mas não é nova. Desde a crise que a elite burocrática europeia se aliou ao poder financeiro e aos grupos políticos de Direita para garantir o business as usual. Os eurocratas conservariam o seu poder sem que ninguém questionasse a falência das instituições europeias. Os gigantes da finança continuariam o seu negócio. E a Direita, com a ajuda dos eurocratas, e sem nunca questionar a finança, garantiria o apoio para governar sem sobressaltos e o respaldo para impor o plano ideológico que sempre desejaram.

A constante criação de bodes expiatórios foi crucial para a estratégia de conservação do poder desta tríade. Afinal, a culpa era da dívida pública e não do sistema financeiro. Afinal, o problema estava nos governos preguiçosos e gastadores, e não no péssimo desenho das instituições europeias, e por aí adiante.

Depois de uma década de austeridade os problemas mantêm-se e, porque nada foi feito, vivemos na iminência de uma nova crise financeira. À cabeça está o Deutsche Bank, o maior banco alemão, o tal que provoca em Schäuble uma irresistível vontade de atiçar os mercados contra Portugal.

Depois de se ter descoberto que escondeu 9000 milhões de euros de perdas e de ter sido condenado por manipulação de taxas de juro, o banco apresentou prejuízos recorde. A sua filial nos EUA chumbou nos testes de stress e o FMI considera-o um perigo sistémico. A cereja no topo do bolo foi o resultado dos testes europeus, que colocam o Deutsche Bank como o 10.º pior em resiliência de capital. Curiosamente, o pior de todos, o italiano Monte Paschi, tinha também andado a esconder prejuízos com a ajuda de um esquema montado com o próprio Deutsche Bank.

Não nos deixemos enganar. O bode expiatório de Schäuble somos nós, mas o problema está, desde o início, na banca. É difícil saber ao certo o que vai acontecer, mas uma coisa é garantida: para salvar o seu banco a Alemanha há de contornar as regras europeias que entender.

* Deputada do BE

Portugal. AFINAL O JUIZ ESTÁ LIMPO E O JORNALISMO TRESANDA A TRAMPA



Ao que agora é afirmado sobre o juiz que resolveu a favor do ensino privado - contra a pretensão do Ministério da Educação - ele não tem nenhuma filha a frequentar um dos colégios cuja resolução judicial lhes foi favorável. Certo é que desde esta manhã, muito cedo, a versão na comunicação social era de que o juiz tinha uma filha a frequentar um desses colégios. Em que ficamos, em quem acreditar? Que informação manipulada é esta?

É desinformação pura e dura. Ficamos à nora, às cegas. Que raio de jornalismo é este que se confunde com a desonestidade dos políticos e outros que tais. Tenham vergonha, senhores profissionais da treta e do baralhar as cabeças dos portugueses. Foi o que aprenderam nos "cursos superiores". Superiores?

Ah, e tal. A informação veio do Ministério da Educação... Pois. E que tal confirmar sobre a veracidade das afirmações do ME no provável contraditório?

Sabemos que não podemos confiar em imensos setores por via de mau profissionalismo. Se confirmação for precisa acrescentemos certo e incerto jornalismo pago para nos confundir. Pelo menos não o exercem nem cumprem de acordo com os preceitos deontológicos que devem.

Pode ler-se em baixo: “Na nota envida ao Expresso, o juiz Antero Pires Salvador esclarece ainda que "nenhum dos filhos (do juiz) frequenta qualquer dos colégios requerentes nas três providências".”

Afinal o juiz está limpo e o jornalismo tresanda a fossa.

Mário Motta / PG

Juiz que Ministério da Educação considera parcial mantém-se nos processos dos colégios

O Tribunal Central Administrativo do Norte não deu razão ao Ministério nos três incidentes de suspeição que invocou

O Tribunal Central Administrativo do Norte não deu razão ao Ministério da Educação (ME) que pretendia afastar o juiz Tiago Afonso Lopes de Miranda dos casos que opõem colégios com contrato de associação e o Estado. Por três vezes o ME invocou "incidente de suspeição", alegando que o juiz em causa não era imparcial. E por três vezes viu a sua pretensão recusada, confirma o juiz desembargador presidente Antero Pires Salvador.

Em causa está o facto de o juiz Tiago Afonso ter interposto uma ação contra o Ministério da Educação, há quatro anos, num caso também relacionado com a frequência de colégios com contrato de associação. Na altura, o juiz contestava o facto de a sua filha não ter direito a financiamento público num estabelecimento de ensino que tinha contrato de associação com o Estado e, por isso, ter outros alunos apoiados com verbas públicas.

Quatro anos depois, Tiago Afonso, enquanto juiz do Tribunal Administrativo de Coimbra, ficou responsável por três providências cautelares interpostas por outros tantos colégios. Desta vez são as limitações impostas pelo Ministério da Educação nas regras das matrículas que motivam a discórdia.

Duas estão decididas, com o juiz a declarar a aceitação da providência e a suspensão provisória do despacho das matrículas. Ou seja, decisões favoráveis, para já, aos colégios. Terá ainda de pronunciar-se sobre a terceira, sendo que o tribunal entende que Tiago Afonso o poderá fazer.

Na nota envida ao Expresso, o juiz Antero Pires Salvador esclarece ainda que "nenhum dos filhos (do juiz) frequenta qualquer dos colégios requerentes nas três providências".

O esclarecimento surge na sequência de notícias vindas esta terça-feira a público, e entretanto desmentidas, de que uma das filhas de Tiago Afonso frequentaria um destes três colégios. 

Isabel Leiria - Marta Gonçalves - Expresso

Portugal ATÉ O SOL PAGA IMPOSTO



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

1. Parecem sem fim as possibilidades que o Estado encontra para ir ao bolso dos portugueses. A imaginação não podia ser mais fértil. Quando julgamos impossível obrigarem-nos a contribuir mais ainda para o bolo comum, eis uma ideia curiosa, surpreendente. Se vive numa casa bem exposta ao sol, virada para uma bela paisagem, prepare-se: haverá um agravamento do valor a pagar pelo imposto municipal sobre imóveis (IMI).

Como quase tudo proveniente da Autoridade Tributária, a medida é algo indecifrável para o comum cidadão. Neste caso, trata-se de um coeficiente de localização e operacionalidade relativa, que, por sua vez, integra ainda um coeficiente de qualidade e conforto. Pois bem, se vive numa casa confortável, terá de pagar, é essa, em suma, a sustentação do imposto. Perante isto, teremos também de ser imaginativos. Antes de os diligentes funcionários da Autoridade Tributária reavaliarem a casa, não percamos tempo. Convoque-se, com urgência, uma reunião de condomínio ou promova-se um encontro de vizinhos: e avance-se com a plantação, o mais rápido possível, de uma barreira de árvores. Atenção aos pormenores. Só valem árvores de folha perene, para que a sombra se mantenha ao longo de todo o ano. E, já agora, talvez seja boa ideia optar por árvores de crescimento célere, de modo a tapar rapidamente a paisagem.

2. A Autoridade Tributária faz escola na administração pública nacional. Hoje em dia, entrar numa igreja deixou de ser um ato de fé. Confesso o desconforto quando, a meio de uma jornada de lazer, tento entrar num templo com o simples propósito de estar [só] , e sou barrada por um cobrador de bilhetes. Os edifícios, eu sei, têm de ser preservados. Aceito, sem qualquer reserva, que num edifício como a Sé de Évora, por exemplo, se cobre ingresso para visitar os claustros, ou uma área musealizada. Não aceito pagar para ir à igreja. Antes de ser monumento nacional, o edifício é um local de culto, onde qualquer um deveria entrar e ficar em comunhão consigo próprio ou com uma entidade transcendente, num momento de recolhimento e paz.

Admito as dificuldades financeiras inerentes à manutenção das igrejas. Mas sei também que os nossos impostos devem ser para aí encaminhados. O que pagamos pelo sol, pela paisagem magnífica que sirva, enfim, para preservar a talha dourada e os frescos dos nossos monumentos.

* Editora executiva adjunta

Portugal. SE SÃO CAPAZES DE VENDER AS MÃES, PORQUE NÃO HÃO-DE VENDER O SOL?




Não é de agora que sabemos que há políticos que vendem tudo, assim como certos e incertos empresários e outros salafrários constantes numa provável lista extensa e que aqui não caberia. Nem é de agora que vendem o sol, o vento, a água da chuva, o ar, as paisagens. Esses tais salafrários vendem tudo, apesar de não lhes pertencer mas sim à natureza, mas sim aos cidadãos na generalidade na melhor das hipóteses e vistos os factos. Muito bem. Então, agora, o governo de Portugal, de Costa e das esquerdas, vende o sol. Melhor: cria alcavalas aos bafejados pelo sol, aos que vivem em casas viradas a sul... Inqualificável.

Se fosse o governo de Passos, Portas e Cavaco a tomar por boa esta medida para daí sacar mais umas centenas de milhares de euros ou lá o que isso render, cairia o Carmo e a Trindade e aqui del-rei que os tipos eram isto e aquilo (e são). Mas não, foi o governo de Costa. E aí as esquerdas está a manter a viola no saco e nem truz nem mus. Pois é. E também pois é que estamos perante gente com frequentes ataques de mediocridade que quer sacar a eito meios-ricos e remediados, assim como os pobres. Quer e saca. Com os muito mais ricos é que não se metem. Nem penalizam os que esbulham a toda a força os trabalhadores, recorrem a fugas de capitais em offshores, cometem fugas aos impostos elaborados por doutores especialistas em cometerem crimes-legais nessas fugas. Para esses reina a impunidade e até recebem vénias de governantes que já há muito perderam a coluna vertebral e rastejam perante o poderio financeiro dos que muito enriquecem a roubar e a alimentarem as suas ganâncias.

A notícia corre em baixo: imposto do sol. Por isso não nos devíamos admirar se tomássemos em consideração que a maior parte dos políticos, principalmente os de direita e os assim-assim, até já venderam as mães, as mulheres, a família, os amigos, de certo modo o futuro dos seus próprios filhos ao contribuírem para a devastação do planeta com as suas políticas e vendas de alma ao diabo. Em Portugal há desses e até têm perdurado nos diversos poderes. Eles aí estão, à mostra.

Afinal, se até já há os que venderam as mães por que razão não hão-de vender o sol?

Mário Motta / PG

Esteja atento. A partir de hoje, até o sol pode fazer subir imposto

Alteração ao Código do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) foi publicado ontem em Diário da República.

Se é proprietário de uma casa, então esta notícia é para si. A partir de hoje, o IMI poderá sofrer alterações tendo em conta o coeficiente de localização e operacionalidade relativas do imóvel.

Por outras palavras, se a sua habitação usufruir de uma boa exposição solar (orientação a sul), tiver um terraço ou estiver num piso mais elevado, o coeficiente pode aumentar até 20%.

Em sentido oposto, se o imóvel estiver localizado numa zona de elevada poluição atmosférica ou sonora ou junto a uma ETAR ou um cemitério e não usufruir de uma boa exposição solar (orientação a norte), então nestes casos o coeficiente pode diminuir até 10%.

Apesar de estas alterações entrarem hoje em vigor, só deverão ter efeitos práticos quando houver uma avaliação do prédio, explicou fonte do Ministério das Finanças ao Notícias ao Minuto.

Quem mostrou desagrado relativamente a esta alteração foi o presidente daAssociação Lisbonense de Proprietários que, em declarações à agência Lusa, garantiu que esta alteração “não faz sentido nenhum”, lembrando que a “ideia de tributar um património já de si é gravíssima, porque o património pode não gerar qualquer rendimento”.

Para Luís Menezes Leitão, quem ainda estiver a pagar a casa ao banco pode vir a ser vítima de “reavaliações brutais” ao valor do imóvel.

Em resposta enviada ao Notícias ao Minuto, o Ministério das Finanças referiu ainda que “a experiência adquirida desde a reforma dos impostos sobre o património no âmbito da avaliação predial urbana para efeitos fiscais, que envolveu a avaliação de cerca de oito milhões de prédios, tem demonstrado que existe necessidade de aumentar a amplitude deste coeficiente para que o mesmo contemple, em particular, o aumento do valor de mercado dos prédios sujeitos a obras de melhoramento sem alteração da idade (majorativo) ou em relação aos quais ocorra algum sinistro nomeadamente um incêndio (minorativo)”.

“Por outro lado, importa salientar que a aplicação deste coeficiente não é discricionária, já que o mesmo é composto por vários indicadores resultantes das diretrizes definidas pela Comissão Nacional de Avaliação de Prédios Urbanos (CNAPU) e aprovadas por portaria do membro do Governo responsável pela área das finanças”, lê-se na mesma nota.

Patrícia Martins Carvalho – Notícias ao Minuto

JUIZ EM CAUSA PRÓPRIA. POIS É! EDUCAÇÃO NA FOSSA RUMO À CHOLDRA. POIS É!



Hoje tem Expresso Curto por João Vieira Pereira. É o Expresso Curto dos diretores do dito – parece que maioritariamente assim. E então? Assim não vale? Vale. É só para que saiba que assim acontece. Ponham-se a pau e confirmem.

Este senhor diretor trata expressamente de tirar a cafeína à espuma do setor da educação. Os alunos são uma choldra, a gramática e matemática, pelo menos. O que parece que ele não diz é que a escola está uma choldra, um lamaçal que não desperta interesse às crianças e jovens que nos dias e anos que correm estão mais exigentes. Naturalmente. Ora com um ensino que é uma seca já se vê qual é o resultado. É verdade que a cultura do “não faz népia” de útil (para eles e comunidade) também ajuda. E o ai o meu menino, ai a minha menina - quando já são uns calmeirões e umas calmeironas - estraga tudo. A superproteção dá trampa para a vida e para a sociedade. Uma vez adultos ou até adolescentes, são mal-educados que se fartam, atropelam tudo e todos, são calaceiros, e eles é que sabem. Os mais vivenciados, de mais idade, não sabem nada. Verdade que os educandos não são todos assim, mas a maioria é assim mesmo. Fala quem observa e sabe. A escola? A escola é uma escola de vícios. Aprender? Pois. Mas que seca!

As responsabilidades desta situação é coletiva, dos pais, dos professores, dos políticos que decidem sobre a “educação”, dos próprios alunos, que aproveitam a bagunça e os ensinamentos sobre a ganância, o egoísmo, a chicaespertice e etc. Senhores, vão dar banho ao cão e entendam-se entre a espuma do champô canino.

Já agora, acerca de educação, numa peça da TSF sobresai um título: Ministério da Educação pede afastamento do juiz que decidiu a favor dos colégios.

Sucintamente abordamos esta pérola da pseudo-justiça em Portugal: Que o juiz decidiu em causa própria. Ah pois foi. A pseudo-justiça diz que não. Claro. Só diria o contrário se não fosse pseudo.

Acontece que o juiz que decidiu como decidiu, a favor dos privados do negócio das escolas (colégios, que é mais cagão e tio/a), tem uma filhota num dos colégios em causa. E, pasme-se, não rejeitou tratar o processo apesar disso e por ética. E entregaram-lhe  o processo apesar disso. Andam todos a reinar ao picócu? E, grande lata, depois dizem que não senhor, não decide em causa própria… Por favor. Façam justiça, deixem-se de gozar com o pagode. É que vocemecês saem-nos caros em barda e depois vimos uma justiça arredia, forte com os pobres e fraca com os ricos. Além de presenciarmos variadas tentações de justicialismo e quase julgamentos político-partidários. Claro que a favorecer a direita e o golpe do baú! Arre, que é demais! Já cansa!

E nós, portugueses, que gostávamos tanto de poder confiar nos juízes, na justiça, nas polícias. Deparamos com o mesmo que na educação, nas escolas. Uma choldra. O que indicia claramente que em Portugal as elites são contaminadas por choldras setoriais que atualmente já se apoderaram daquilo a que se chama a decência e a normalidade de um país. Um Estado de Direito. E vamos à União Europeia e vimos o mesmo. E pelo mundo. Andaram nas universidades para o quê? Para isto? Sim. Sabemos que muitos são doutores da mula russa, do tipo Relvas e afins, mas, assim estão a escaqueirar o país todo e a tramarem a maioria dos portugueses. Arre, que é demais!

Evidentemente que não podemos nem devemos considerar que todos os profissionais de justiça e da educação são dessa choldra, mas os que já se evidenciam e os que ainda estão na clandestinidade já são demasiados e algo tem de ser feito para varrer este país dessa cambada.

Vão ao Expresso Curto. Com mais temas. É o que temos, retirando a palha. Se calhar pensam que somos todos burros e a palha sempre dá algum jeito.

Bom dia, se conseguirem

Mário Motta / PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

João Vieira Pereira - Expresso

Eles são um zero à esquerda

São mesmo. E à medida que vão passando de ano pioram. Uma espécie de “bons selvagens” de Rousseau. Ao princípio eles até sabem, mas com os anos vão sendo corrompidos pela escola, perdendo a capacidade de responder às perguntas sobrematemática.

E gramática também. Pelo menos é o que contam os resultados nacionais das provas de aferição. Se para os alunos do 2º e 5º ano os resultados até não foram muito maus, quando chegamos aos do 8º ano as coisas ficam negras.

Comecemos pelo Português. Dos alunos do 8º ano que realizaram as provas, — estas são aquelas que o ministro da Educação inventou a meio do ano depois de ter acabado (por embirração digo eu) com os exames nacionais — apenas 16,9% dos alunos conseguiram responder às perguntas de ‘Gramática’. E 22,8% às questões relativas à ‘Leitura’.

Já na matemática o panorama é relativamente…. pior. Ainda no 8º ano, 15,6% dos alunos não corresponderam ao que seria espectável em ‘Números e Operações’ e apenas 8,7% têm noções corretas de ‘Geometria e Medida’. Pode consultar aqui o resto dos resultados. Aviso já que as coisas no 2º e 5º ano não melhoram muito. A parte boa, se é que se pode encontrar alguma, é que as provas eram facultativas e por isso só 56% das escolas as fizeram. Ou seja, há esperança que naquelas que não as fizeram o estado das coisas seja um pouco melhor… ou não. Para o ano veremos pois já serão obrigatórias. Mas sempre sem contar para a nota.

Quando o sol nasce é para todos. Mas uns têm de o pagar. As novas alterações ao Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) podem levar a que a exposição solar e uma boa vista sejam sinónimo de mais impostos. Ora, que eu saiba, o objetivo do IMI é taxar o património pelo seu valor tributário e constitui uma receita das autarquias. O que esta alteração vem dizer é que a minha casa, que é igualzinha à do meu vizinho das traseiras vai pagar mais imposto por estar virada a sul. Como já não tinham mais nada para taxar, vamos lá conseguir taxar o sol. E esta hein?

As repercussões da medida não se fizeram esperar com a Associação Portuguesa de Proprietários a dizer que “é um absurdo” e que esta situação só vem agravar uma situação onde há “famílias arruinadas pela subida incomportável do IMI na sequência das reavaliações feitas em 2012”.

O Público escreve hoje que as novas alterações às reavaliações do valor patrimonial da casa podem penalizar os proprietários. Além de que as autarquias vão passar a poder pedir a impugnação do valor(algo que estava limitado aos proprietários). Ou seja, as autarquias, às quais pagamos um monte de taxas e “taxinhas”, vão poder dizer que não concordam com o valor do “nosso” imóvel que foi calculado pelo fisco.

OUTRAS NOTÍCIAS

E pronto, já está nos 40, outra vez.

É assim, parece uma montanha russa. O preço do petróleo anda num sobe e desce constante. Depois de muitos terem suspirado de alívio com a subida do barril até aos 51 dólares, eis que ele volta a cair. E abaixo dos 40 dólares no mercado norte-americano. O preço de referência para a Europa também está em queda mas acima deste valor. Maior produção e menos procura estão a pressionar o preço quedeverá manter-se baixo, de acordo com os analistas.

Sócrates tinha mais 800 mil euros em três contas bancárias, duas em nome do seu amigo Carlos Santos Silva e uma terceira em nome da filha menor deste. Pelo menos essa é a convicção do juiz Carlos Alexandre que mandou congelar as mesmas, noticia o Correio da Manhã.

De volta à Educação, a polémica em torno dos contratos de concessão dos colégios privados tem um novo capítulo. O ministro quer afastar do processo um juiz que decidiu duas providências cautelares a favor dos colégios privados por este ter, em 2012, processado o Estado por um tema semelhante. O JN diz inclusive que a filha do magistrado estuda num dos colégios sobre o qual ele emitiu uma sentença. Há falta de imparcialidade, diz o Governo.

No sábado passado o BCP interrompeu o meu jantar para comunicar que Guo Guangchang queria comprar entre 20% a 30% do banco. Ontem as ações abriram eufóricas. Mas foi sol de pouco dura. Depois de terem estado a subir mais de 12% acabaram a sessão na bolsa a perder quase 5,4%. Não é caso para dizer que é “gato por lebre” mas diria que “aqui há gato”.

É que a Fosun vai comprar até 30% do BCP a um preço de €0,02 por ação, metade através de uma colocação privada, e a outra não se sabe muito bem a quem. A primeira parte é um ataque gigante ao bolso dos atuais acionistas que se veem privados de participar neste aumento de capital. A segunda é uma incógnita, o que em mercados normalmente rima com preço no vermelho. Para já o BCP diz que a proposta é positiva e que o investidor é credível. Se da segunda há poucas dúvidas, da primeira parte fica a pergunta: positiva para quem?

Do Novo Banco saiu Eduardo Stock da Cunha e entrou António Ramalho. Pelo menos assim devia ter sido, mas não foi. O novo presidente ainda espera o aval do BCE. Talvez hoje.

Vai viajar para o estrangeiro? Ou vai participar num evento com muitos estrangeiros? Então vacine-se contra o sarampo! A recomendação é da Direção Geral de Saúde que diz que existem surtos graves em países europeus, nos EUA, na Ásia e em África. Por cá a doença está controlada.

Com a pré-época a acabar, aqui fica o balanço do que andaram a fazer os três grandes. Ou, nas palavras de Pedro Candeias, “à procura de um oito, de um banco e de um balcão”.

A notícia não é de hoje, nem de ontem. Mas o salto de Luke Aikins é eterno. Não é para menos. Lançar-se de um avião, sem paraquedas, para aterrar numa rede que não passa de um grão de areia a 25 mil pés de altitude (7620 metros), e chegar cá abaixo e dizer — “prezo muito a minha segurança”, — é obra. Se não viu o vídeo, veja aqui. Se viu, reveja, vale a pena.

Agora quando os jovens estiverem a preparar a mochila para irem para a faculdade podem lá colocar os livros, o telemóvel, quem sabe um lanche e uma arma. Pelo menos assim o passou a ser no Texas. Os estudantes já podem ir armados para as aulas. A nova lei estadual, apelidada “posse no campus”, autoriza pessoas com pelo menos 21 anos, que possuam licença para uso de armas de fogo, a levaram pistolas para as salas de aulas e para todo o espaço público dos complexos escolares.

“Não ponham a cabeça debaixo de água”. O aviso aos atletas, e turistas, que vão estar no Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos veio através da The Associated Press (AP). Há cerca de 16 meses que a AP está a promover um estudo sobre a qualidade da água que servirá de palco para algumas das provas dos jogos e as conclusões são inacreditáveis. E não é só na água que se encontram níveis de presença de vírus 1,7 milhões de vezes o nível do que já seria preocupante nos EUA ou na Europa. Também a areia da praia deCopacabana e Ipanema são locais a evitar.

Elon Musk não abranda na procura de concretizar o objetivo de criar um gigante da energia sustentável. Para o conseguir vai fundir a sua empresa SolarCity com a também sua empresa Tesla. E até já usaram a palavra que vai deixar os seus empregados de cabelo em pé!

Depois de oficializados os candidatos dos dois maiores partidos continua a guerra das sondagens. Hillary ganha vantagem nos últimos números mas apenas por dois pontos. Trump continua a sofrer com a polémica Khan, o muçulmano que em seis minutos marcou o congresso democrata. Até Warren Buffet e John McCain condenaram o candidato republicano pelos comentários que fez sobre a família do soldado americano muçulmano morto em combate no Iraque.

Não perca a homenagem devida do Expresso a Moniz Pereira e otexto do presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, sobre um dos maiores ícones do desporto nacional.

O QUE DIZEM OS NÚMEROS

240 mil milhões de euros era o valor da dívida pública no final do mês de junho. Só num mês a dívida subiu 2,4 mil milhões. Assim sendo:

Em seis meses a dívida pública cresceu €8,6 mil milhões.

Se tirarmos os depósitos do Estado devemos ‘apenas’ €222 mil milhões, (já me sinto muito melhor)

Cada português tem €24 mil para pagar em dívida pública.

Cada dia de junho significou um aumento da dívida em cerca de €78 milhões e uma redução de depósitos de 10 milhões.


Ainda sobre dívida o presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade veio dizer que “nem toda a dívida pública é má”. Mas como tudo na vida… quando há um excesso... Klaus Regling, defende que “os países podem usar alguma dívida para financiar investimento produtivo, infra-estruturas e educação”. Deve então ter sido por causa disso que a nossa dívida subiu nestes meses, só pode.

O QUE EU ANDO A LER

Ainda não tem 50 anos e é um dos homens mais ricos do mundo. A sua história segue todos os clichés dos self made man. Nasceu pobre, estudou (filosofia) com muito custo devido às dificuldades financeiras, teve de vender pão nos dormitórios da universidade para conseguir fazer face aos gastos. Nos anos 90 fundou a sua própria empresa com mais dois amigos. Hoje gere um império financeiro na área da saúde, turismo, seguros, imobiliário e até industria pesada.

Uma história de sonho que nasceu em Xangai e se espalhou por todo o mundo. O mais recente episódio passa, outa vez, por Portugal. Guo Guangchang é apontado como o 19º homem mais rico da China. O que num país onde estão muitas das maiores fortunas mundiais quer dizer muito. Este aprendiz de Warren Buffet, como se autointitulou, tem por hábito investir em todo o mundo. Comprou o Club Med, prédios em Manhattan, Londres, Tóquio e Sidney, farmacêuticas na Índia, estúdios em Hollywood e até clubes de futebol.

Um sucesso que chegou a estar ensombrado quando, em 2015, desapareceu detido pelas autoridades chinesas num processo de investigação de corrupção. Guo voltou uma semana depois, como se nada fosse.

Em Portugal comprou a maior seguradora ao Estado, a Fidelidade, a Luz Saúde, tentou comprar o Novo Banco e no sábado passado anunciou que quer ser o maior acionista do BCP, o maior banco privado português.

É por isso normal que eu tenha um interesse redobrado por Guo.Quem é, o que pensa, o que quer de Portugal? Dúvidas que tenho tentado tirar através de uma série de artigos, alguns inclusive já tinha lido.

Se partilha este interesse não perca:
- Quem é o empresário que está a comprar Portugal?
- Fortuna avaliada em 5,4 mil milhões de dólares
- A história do seu almoço com o Financial Times.

Este Expresso Curto fica por aqui. Voltamos amanhã pelos dedos de Luisa Meireles. Até lá não deixe de seguir todas as novidades noticiosas na página do Expresso e, às 18 horas, o Expresso Diário.

Tenha uma excelente terça-feira e boas férias, se esse for o caso.

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