quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O GOLPE CANALHA




Os gritos contra as ditaduras multiplicam-se pelo mundo, o "terceiro mundo" que se escondeu atrás do termo "em desenvolvimento" para manter a esperança de acompanhar os países "mais organizados" que orientam o sistema capitalista no planeta. A globalização abriu portas de vai e vem, o que serve aos povos que aprenderam a lutar pelos seus direitos com as revoluções socialistas que ha 200 anos fazem escola mundial.

Enquanto as elites mais ricas exibem prepotentemente as suas habilidades em acumular o capital roubado aos que são permanentemente explorados (não só no terceiro mundo mas nas suas próprias nações), os trabalhadores e suas famílias unem-se mundialmente fazendo uso das informaçōes que escapam ao funil da mídia restritiva especializada em embecilizar populações distraídas. A elite especializa-se em gerir os recursos, as pessoas  e os capitais, sem lembrar que estão a escravisar a humanidade e a destruir os ultimos valores éticos que herdaram de uma história comum a todos. Acanalham-se aceitando formas de corrupção que os identificam como ladrões da sociedade e, vendendo a consciência, tornam-se escravos do sistema de exploração da humanidade que é ditatorial e terrorista.

A preparação de golpe, pela via da montagem de um caminho financeiro para enfraquecer a economia brasileira subordinada a forte dollarização, foi contruida por WallStreet através de seus subordinados : Henrique Meirelles, Ilan Goldfnju e Armínio Fraga. Trabalham para  provocar a desestabilização da economia brasileira que sofre uma sangria com o aumento da dívida externa. Quem afirma isto é o conhecido professor universitário Chossudowsky, do Canadá, referindo o "consenso de Washington" de fins da década de 90.

Mesmo podendo atuar no controle do Banco Central que Henrique Meirelles tentou tornar independente do poder governamental, não foi possivel levar o Brasil a ser engolido pela crise do sistema que promoveu a destruição de vários bancos nos Estados Unidos e Europa, dada a pujança de empresas estatais como a Petrobrás e as multiplas soluções para que a população que passava fome tivesse apoio direto do Estado e pudesse participar de um desenvolvimento nacional que construia passo a passo o caminho da capacitação popular para garantir a independência do Brasil. Conviviamos com os ladrōes que sugavam as veias da nação e compravam consciências de candidatos a traidores da Pátria.

Mesmo nessas condições o Brasil foi reconhecido mundialmente pelo promissor caminho de desenvolvimento econômico, tornando-se membro do BRICS e do G20, cooperando com o progresso das instituições Latino-Americanas e afirmando a possibilidade dos governos combaterem o flagelo da fome e da discriminação social das populações autóctones no terceiro mundo.

Foi o momento que detonou a tendência golpista da oposição política dirigida pelos eternos candidatos vencidos em eleições democráticas, como José Serra e Aécio Neves que se reaproximaram de alguns elementos com cargos no Governo onde chegaram na boleia das alianças. Liderados por Temer, seus prováveis cúmplices assumiram a vergonhosa condição de abrir caminho para um golpe político que desestabilizava o país permitindo o derrube da sua fortaleza econômica e social aguentada pelos milhōes de trabalhadores e uma juventude estudantil que empenhara a vida na defesa da democracia. Foi um golpe canalha, vil, subalterno ao imperialismo, traidor da Pátria.

Ecoou na memória dos democratas que assistiram o golpe de 1964 as palavras (repetidas agora pelo senador Requião) de Tancredo Neves: "Canalhas! Canalhas! Canalhas!" Voltou à memória do povo brasileiro também a sua coragem de ir às ruas exigir novas eleições "diretas, já!" para não perder os frutos da transformação democrática tão sofridamente construida pelos brasileiros decentes e patriotas.

Fora Temer empossado às pressas como Presidente pelo habil senador Renan Calheiros, que o substituiu enquanto tentava apresentar-se nos lugares de Dilma Roussef no G20 e junto ao BRICS, confrangido pelas declarações internacionais que lamentam o golpe e recusam o golpista. Em São Paulo, Estado-feudo da reação (apesar de cidade aberta de luta jovem), a PM exerce a velha função terrorista de 64. Não têm pejo de recordar as torturas dos anos cinzentos que enlutaram o Brasil e os democratas de todo o mundo.

Mas a realidade mundial hoje é outra. No mesmo encontro do G20 (onde fora Temer), Obama foi repudiado pelo Presidente das Filipinas, e nada conseguiu em um diálogo com o Presidente da Rússia; as populações de Myamar, assim como de vários países do Oriente Médio e do Norte da Africa destroçados pelas invasões imperialistas, enfrentam policias para gritarem o seu direito à vida e à independência; os milhares de fugitivos das guerras terroristas financiadas pelos Estados Unidos e Israel, levam a sua imagem dantesca que lembra os extermínios fascistas da grande guerra, pela Europa rica em busca de um socorro inexistente.

Frente a tais misérias, divulgam-se as listas dos depositantes em Paraisos Fiscais, veem à tona as espertezas corruptas dentro de administrações públicas de "comissões" na venda de submarinos, aviões e helicópteros de combate a incêndios, ou no investimentos a Bancos que desconhecem os direitos dos seus clientes de recuperarem as suas magras poupanças. O sistema capitalista vive da corrupção e ainda quer escravisar os trabalhadores fazendo pó das leis democráticas conquistadas. Os Direitos Humanos são desrespeitados sem que a ONU possa fazer valer a sua autoridade em nome da humanidade.

Qualquer protesto social hoje ecoa pelo mundo. Mesmo que a midia fique muda, as redes criadas nas ruas e na net estabelecem o contato necessário para que o seu efeito seja multiplicado. Só mesmo a pequenez das pessoas ambiciosas e vendáveis leva alguns a reconhecerem Temer fora do contexto da sociedade brasileira. A canalhice não tem pátria, está à venda em qualquer lugar do mundo. Mas quem pisa a linha ouve o recado do seu povo e detona as guerras intestinas que ainda só borbulham.

O Primeiro Ministro de Portugal foi saudar o Presidente do Brasil. Diz ter ido a negócio entre Estados. Esqueceu-se da solidariedade internacional contra o impichment forjado pelos golpistas que afastaram a legítima Presidenta do Brasil, Dilma Rousseff. Os negócios são prioritários, o som do capital é mais alto que o da consciência. O povo português tem boa memória do que pagou pelas missões de colonização e nas guerras para defender os negócios feitos em nome do Estado. Hoje enfrenta os incêndios com o apoio de aviões Russos, por solidariedade, que a União Europeia deixou de cultivar. (Zillah Branco)

*Zillah Branco -  Cientista social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Brasil, Chile, Portugal e Cabo Verde

'Brasil foi sequestrado por um grupo de delinquentes', afirma escritor favorito de Dilma



O escritor falou sobre o golpe no Brasil, o julgamento do impeachment de Dilma no Senado e sobre o sistema de cotas nas universidades

Jamyle Rkain

O escritor favorito de Dilma Rousseff deu sua opinião sobre o Golpe. O angolano José Eduardo Agualusa é colunista d'O Globo e grande entusiasta de causas políticas e humanitárias. Foi uma das figuras mais importantes na busca por visibilidade do "15+2", caso dos ativistas presos em Angola por se reunirem para ler um livro em 2015. Em entrevista para a NINJA, José se colocou contra o golpe:

Como você recebeu a notícia do golpe (impeachment)?

Com muita revolta. O triunfo da injustiça e da estupidez nunca deixa de me surpreender. Acreditei até ao final que prevaleceria o bom senso e a justiça. Aquilo que aconteceu é absolutamente injusto, porque se condena uma mulher por aquilo que ela fez de melhor – permitir que a justiça funcionasse, independente do poder político. Achei um espetáculo grotesco uma mulher inocente sendo julgada por uma maioria de criminosos.

Qual é sua posição sobre isso?

Espero que aquilo que sucedeu sirva para despertar o conjunto da sociedade brasileira, e, em particular, os mais jovens, e que o Brasil consiga ao longo dos próximos meses produzir novas lideranças e novas idéias. Não nos iludamos: o Brasil foi sequestrado por um grupo de delinquentes cujo único objetivo é retomar o controlo do poder judicial. Esta luta é – tem de ser! – a luta de todos os brasileiros honestos.

Deixa um recado pra Dilma?

Estive com Dilma uma única ocasião. Simpatizei logo com ela, aquela sensação de reencontrar alguém da família. Impressionou-me a vitalidade dela, a determinação. Espero que essa determinação não esmoreça nunca. Espero que Dilma consiga canalizar esse sentimento de injustiça e de revolta, transformando-o em algo de positivo.

Eu vi o Brasil mudar ao longo dos últimos 30 anos. Vi como as universidades se enchiam de afro-descendentes. Vi um pensamento brasileiro a afirmar-se no mundo. Não se pode perder isso. Acredito que este é um momento de viragem, e que, no fim, a inteligência triunfará. A justiça triunfará. O Brasil triunfará.

Ninja - Foto: Divulgação

DO 10 DE SETEMBRO DE 2001 AOS DIAS DE HOJE: 15 ANOS DE CRIMES



Os Estados Unidos e os seus aliados comemoram os 15 anos do 11-de-Setembro. Para Thierry Meyssan é a ocasião de fazer o ponto sobre a política de Washington desde essa data; um balanço particularmente sombrio. Das duas uma, ou a versão dos atentados pela Casa Branca é autêntica, e neste caso a sua resposta aos ataques é particularmente contraproducente; ou ela é falsa, e neste caso eles conseguiram pilhar o Médio-Oriente Alargado.

Thierry Meyssan

Há 15 anos atrás nos Estados Unidos, a 11 de Setembro de 2001, «o plano de continuidade de governo» foi ativado, por volta das 10 h da manhã, pelo coordenador nacional para a segurança, a protecção de infra-estruturas e o contra-terrorismo, Richard Clarke. Segundo ele, tratava-se de responder à situação excepcional de dois aviões que tinham atingido o World Trade Center de Nova Iorque, e de um terceiro que teria atingido o Pentágono. No entanto, este plano só devia ser utilizado em caso de destruição das instituições democráticas, por um ataque nuclear por exemplo. Jamais havia sido considerado activá-lo enquanto o Presidente, o Vice-presidente e os Presidentes das Assembleias estivessem vivos e aptos a exercer as suas funções.

A activação deste plano transferiu os poderes do presidente dos Estados Unidos para uma autoridade militar alternativa, colocada em Mount Weather. Esta autoridade só restituiu as suas funções ao Presidente George W. Bush Jr no final do dia. Até hoje, a composição desta autoridade e as decisões que ela pôde tomar permaneceram secretas.

Tendo o Presidente sido removido das suas funções durante cerca de dez horas, a 11 de Setembro de 2001, em violação da Constituição dos Estados Unidos, é tecnicamente correcto falar de «golpe de Estado». É claro, esta expressão choca porque se trata dos Estados Unidos, porque isto teve lugar em circunstâncias excepcionais, porque a autoridade militar nunca o reivindicou, e porque ela retornou o poder sem causar problemas ao presidente constitucional. Mas, nem por isso deixa de ser, stricto sensu, um «golpe de Estado».

Numa célebre obra, publicada em 1968, mas reeditada e tornada no livro de cabeceira dos neo-conservadores durante a campanha eleitoral de 2000, o historiador Edward Luttwak explicava que um golpe de Estado é tanto mais conseguido quando ninguém se dá conta que ele ocorreu, e, portanto, não se lhe opõe. 

Seis meses após estes acontecimentos, eu publicava um livro sobre as consequências políticas deste dia. Os média (mídia-br) interessaram-se apenas pelos quatro primeiros capítulos, nos quais eu demonstrava a impossibilidade da versão oficial destes acontecimentos. Fui muito criticado por não apresentar a minha própria versão desse dia, mas não o fiz e continuo ainda hoje com mais perguntas do que respostas a propósito.

Seja como for, os 15 anos passados esclarecem-nos sobre o que aconteceu naquele dia.

Desde o 11-de-Setembro, o Estado Federal está fora da Constituição

Em primeiro lugar, muito embora algumas disposições tenham sido momentaneamente suspensas em 2015, os Estados Unidos continuam a viver sob o império do USA Patriot Act (Lei Patriota-ndT). Adoptado de urgência, 45 dias após o golpe de Estado, este texto constitui uma resposta ao terrorismo. Tendo em conta o seu volume, seria mais apropriado falar de Código antiterrorista que de simples lei. Este texto fora preparado durante os dois anos anteriores, pela Federalist Society. Apenas 4 parlamentares a ele se opuseram.

Este texto suspende as limitações constitucionais, formuladas pelo «Bill of rights» (Declaração de Direitos) -quer dizer as primeiras 10 emendas da Constituição-, para todas as iniciativas do Estado visando combater o terrorismo. É o princípio do Estado de Emergência Permanente. O Estado federal pode assim praticar a tortura fora de seu território e espiar maciçamente a sua população. Ao fim de quinze anos destas práticas, não é mais tecnicamente possível aos Estados Unidos apresentar-se como um «Estado de Direito».

Para aplicar o Patriot Act, o Estado Federal primeiro criou um novo departamento, a Segurança da Pátria (Homeland Security). O título deste departamento é tão chocante que é traduzido pelo mundo fora como «Segurança Interna», o que é falso. Depois, o Estado Federal dotou-se de um conjunto de polícias políticas que, segundo um vasto estudo do Washington Post em 2010, empregava, à época, pelo menos 850. 000 novos funcionários para espiar 315 milhões de habitantes.

A grande inovação institucional deste período é a releitura da separação de poderes. Até então, considerava-se no seguimento de Montesquieu que esta permitia manter um equilíbrio entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, indispensável ao bom funcionamento e à preservação da democracia. Os Estados Unidos podiam orgulhar-se de ser o único Estado no mundo a colocá-lo estritamente em prática. Agora, pelo contrário, a separação de poderes significa que o Legislativo e o Judiciário já não têm a capacidade de controlar o Executivo. Foi, aliás, em virtude desta nova interpretação que o Congresso não foi autorizado a debater as condições do golpe de 11-de- Setembro.

Contrariamente ao que escrevia em 2002, os Estados da Europa Ocidental têm resistido a esta evolução. Só há um ano e meio é que a França cedeu e adoptou o princípio do estado de emergência permanente, por ocasião do assassinato dos redactores do Charlie-Hebdo. Esta transformação interior vai a par com uma mudança radical de política externa.

Desde o 11-de-Setembro, o Estado Federal fora da Constituição pilhou o Médio-Oriente Alargado

Nos dias que se seguiram, George W. Bush -de novo presidente dos Estados Unidos desde o 11-de-Setembro à noite- declarou à imprensa : «Esta cruzada, esta guerra contra o terrorismo, levará tempo». Muito embora ele tenha tido que apresentar as suas desculpas por se ter exprimido assim, a escolha das palavras pelo Presidente indicava claramente que o inimigo se reclamava do Islão e que esta guerra seria longa.

Efectivamente, pela primeira vez na sua história, os Estados Unidos estão em guerra ininterrupta desde há 15 anos. Eles definiram a sua Estratégia contra o terrorismo que a União Europeia não tardou a copiar.

Ora, se as administrações norte-americanas sucessivas apresentaram esta guerra como uma perseguição do Afeganistão ao Iraque, do Iraque à África, ao Paquistão e às Filipinas, depois à Líbia e à Síria, o antigo Comandante supremo da OTAN, o General Wesley Clark, pelo contrário confirmou a existência de um plano de longo prazo. A 11-de- Setembro, os autores do golpe de Estado decidiram mudar todos os governos amigos do «Médio-Oriente Alargado» e fazer guerra aos sete governos que lhes resistiam nesta região. Esta ordem foi promulgada pelo Presidente Bush, quatro dias mais tarde, aquando de uma reunião em Camp David. Forçoso é constatar que este programa foi posto em prática e não está terminado.

Estas mudanças de regimes amigos por revoluções coloridas, e estas guerras contra os regimes que lhes resistiam, não tinham por fim conquistar estes países no sentido imperial clássico -Washington controlava já os seus aliados-, mas, sim, de os pilhar. Nesta região do mundo, particularmente no Levante, a exploração destes países chocava não só com a resistência das populações, mas também com a presença por todo o lado das ruínas de civilizações antigas. Não seria, pois, possível pilhar sem «partir os ovos».

Segundo o Presidente Bush, os atentados do 11-de-Setembro teriam sido perpetrados pela al-Qaida, o que era melhor justificava de ataque ao Afeganistão que a ruptura das negociações petrolíferas com os Talibãs, em Julho de 2001. A teoria de Bush foi desenvolvida pelo seu secretário de Estado, o General Colin Powell, o qual prometeu apresentar um relatório sobre esta questão perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Não só os Estados Unidos não tiveram tempo para redigir este relatório, no decurso dos 15 últimos anos, como a 4 de Junho último o ministro russo dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br), Sergey Lavrov, dizia que o seu homólogo norte-americano lhe tinha pedido para não atacar os seus aliados da al-Qaida na Síria; uma declaração espantosa que não foi desmentida.

Num primeiro tempo, o Estado Federal fora da Constituição prosseguiu o seu plano mentindo descaradamente ao resto do mundo. Depois de ter prometido um relatório sobre o papel do Afeganistão no 11-de-Setembro, o mesmo Powell mentiu frase após frase, aquando de um longo discurso no Conselho de Segurança, visando ligar o governo iraquiano aos atentados e a acusá-lo de querer continuar com armas de destruição em massa.

O Estado Federal matou em alguns dias a maioria do exército iraquiano, pilhou os sete principais museus e queimou a Biblioteca Nacional. Instalou no poder a Autoridade Provisória da Coligação, que não era um órgão da Coligação dos Estados contra o presidente Hussein, mas uma empresa privada, detida na sua maioria pela Kissinger Associates, decalcada no modelo da sinistra Companhia das Índias. Durante um ano, esta companhia pilhou tudo que podia ser pilhado. Finalmente ele remeteu o poder a um governo iraquiano fantoche, mas, não sem antes o ter feito assinar que jamais pediria reparações, e que não contestaria, por um século, as leis comerciais leoninas redigidas pela Autoridade Provisória.

Em 15 anos, os Estados Unidos sacrificaram mais de 10. 000 dos seus cidadãos, enquanto a sua guerra fez mais de dois milhões de mortos no «Médio-Oriente Alargado». Para destruir aqueles que eles designam como os seus inimigos despenderam mais de 3500 mil milhões (bilhões-br) de dólares. E, anunciam que o massacre e a fraude vão continuar.

Estranhamente, esses milhares de milhões(bilhões) de dólares não tem enfraquecido economicamente os Estados Unidos. Trata-se de um investimento que lhes permitiu pilhar uma região inteira do mundo; de roubar por querer somas ainda muito maiores.

Em contraste com a retórica do 11-de-Setembro, a da guerra contra o terrorismo é lógica. Mas ela apoia-se numa quantidade de mentiras apresentadas como factos verdadeiros. Por exemplo, tenta explicar-se a ligação entre o DAESH (E.I.) e a al-Qaida através de Abu Musab al-Zarqawi, ao qual o General Powell dedicara grande parte do seu discurso no Conselho de Segurança, em Fevereiro de 2003. Ora, o mesmo Powell admitiu ter mentido descaradamente aquando deste discurso e é impossível verificar o mínimo elemento da biografia de Zarqawi, segundo a CIA.

Se nós admitirmos que al-Qaida é a continuação da Legião árabe de Bin Laden, integrada como tropa suplente da Otan durante as guerras da Jugoslávia e da Líbia, devemos igualmente admitir que a al-Qaida no Iraque, tornada em Estado Islâmico no Iraque, depois Daesh, é a sua continuação.

Sendo a pilhagem e a destruição do património histórico ilegais no Direito Internacional, o Estado Federal fora da Constituição sub-contratou primeiro as suas operações sujas a exércitos privados como a Blackwater. Mas, a sua responsabilidade era ainda muito visível. Assim, voltou a sub-contratar ao seu novo braço armado, os jiadistas. Agora, a pilhagem do petróleo -consumido no Ocidente- é imputável a estes extremistas, e a destruição do património ao seu fanatismo religioso.

Para entender a colaboração da OTAN e dos jiadistas, devemos perguntar-nos qual seria a influência dos Estados Unidos hoje em dia se não existissem os jiadistas. O mundo ter-se-ia tornado multipolar e Washington teria fechado a maior parte das suas bases militares no mundo. Os Estados Unidos teriam voltado a ser um poder entre os outros.

Esta colaboração da OTAN e dos jiadistas choca numerosos altos responsáveis norte-americanos como o General Carter Ham, comandante do AfriCom, o qual recusou, em 2011, trabalhar com a al-Qaida e teve que renunciar a comandar o ataque à Líbia; ou o general Michael T. Flynn, comandante da Defense Security Agency, o qual recusou caucionar a criação do Daesh e foi forçado à demissão em 2014. Ela tornou-se o verdadeiro tema da campanha eleitoral presidencial : de um lado, Hillary Clinton, membro da The Family («A Família»-ndT), a seita de chefes de Estado-Maior, pelo outro Donald Trump, aconselhado por Michael T. Flynn e 88 oficiais superiores.

Da mesma forma que durante a Guerra Fria Washington controlava os seus aliados europeus via «Os exércitos secretos da Otan», a Gládio, da mesma forma controla hoje o Médio-Oriente Alargado, o Cáucaso, o vale de Ferghana, e indo até ao Xinjiang, com a «Gládio B».

15 anos depois, as sequelas do golpe de Estado do 11-de-Setembro não vêm, de forma alguma, de muçulmanos, ou do Povo norte-americano, mas daqueles que o perpetraram e dos seus aliados. São eles, quem tem banalizado a tortura, generalizado as execuções extra-judiciais em todo o mundo, enfraquecido as Nações Unidas, morto mais de dois milhões de pessoas, pilhado e destruído o Afeganistão, o Iraque, a Líbia e a Síria.

Thierry Meyssan - Voltaire.net - Tradução Alva – em Pravda.ru

15º ANIVERSÁRIO DE UM CRIME E DO SEU ENCOBRIMENTO



Em 11 de Setembro de 2001 verificaram-se as demolições controladas de três edifícios do World Trade Center de Nova York; o ataque ao Pentágono através de um objecto voador sem asas e com capacidade perfurante e o desaparecimento de um avião nos EUA. Foi o crime do século.   Os que o planearam e o cometeram eram indivíduos dentro do aparelho de Estado dos EUA – foi um inside job. Os seus executores precisavam forjar uma operação de falsa bandeira – e disseram-no antecipadamente no Project for A New American Century. 

Ninguém de bom senso pode ser convencido pelas pseudo-explicações absurdas propaladas pelo governo americano, como se dois edifícios com estrutura de aço pudessem ruir com incêndios provocados por choques de aviões e um terceiro, o de número 7, ruísse "por simpatia" com os outros dois; ou como se um avião que ninguém viu e de que não há vestígios se houvesse chocado com Pentágono. 

O segundo capítulo desta história é o encobrimento do crime. Durante 15 anos os media corporativos fizeram e fazem silenciamento ou desinformação. Nenhum dos chamados jornalistas "de investigação" debruçou-se sobre o caso. A censura é total. Para os media corporativos, o 11/Set tornou-se assunto tabu. O seu servilismo face ao poder é absoluto. Todo este caso do 11/Set, das guerras de agressão que se seguiram, da fascistização do regime nos EUA (Patriot Act, novo Ministério da Segurança Interna, leis de espionagem e devassa dos cidadãos, etc) é um "não assunto" para as corporações dos mass media. 

Só os media alternativos e investigadores sérios dos EUA – engenheiros, arquitectos, físicos e muitos outros profissionais – analisam e denunciam as mentiras do governo estado-unidense. O avanço do nazismo na Alemanha deveu-se também a uma operação de falsa bandeira:   o incêndio do Reichstag, em 1933, por apaniguados de Goering.


ULTIMATO DA TERRA À IRRACIONALIDADE HUMANA!




1 – Discurso do Comandante Fidel no Rio de Janeiro, a 12 de Junho de 1992:

“Una importante especie biológica está en riesgo de desaparecer por la rápida y progresiva liquidación de sus condiciones naturales de vida: el hombre.

Ahora tomamos conciencia de este problema cuando casi es tarde para impedirlo.

Es necesario señalar que las sociedades de consumo son las responsables fundamentales de la atroz destrucción del medio ambiente.

Ellas nacieron de las antiguas metrópolis coloniales y de políticas imperiales que, a su vez, engendraron el atraso y la pobreza que hoy azotan a la inmensa mayoría de la humanidad.

Con solo el 20 por ciento de la población mundial, ellas consumen las dos terceras partes de los metales y las tres cuartas partes de la energía que se produce en el mundo”…

2 – Discurso do Presidente da Bolívia, Evo Morales, na Cimeira do Clima em Copenhaga, em Dezembro de 2009:

… “Si estas son nuestras profundas diferencias ideológicas, programáticas, culturales de la vida, yo he llegado a la conclusión queridos presidentes, delegaciones que están presentes acá, que en este milenio es más importante defender los derechos de la Madre Tierra que defender los derechos humanos.

La tierra o el planeta tierra, o la Madre Tierra o la naturaleza existen y existirá sin el ser humano, pero el ser humano no puede vivir sin el planeta tierra. Y por tanto, es nuestra obligación defender el derecho de la Madre Tierra, defender el derecho de la Madre Tierra, defender el planeta tierra es más importante que defender los derechos humanos.
Muchos dirán, bueno, entonces qué es la vida, pero si no hay planeta tierra que se destroza, de qué sirve defender los derechos humanos, la vida misma.

Yo saludo a las Naciones Unidas, que este año por fin ha declarado el Día Internacional de la Madre Tierra. Es Madre Tierra. La madre es algo sagrado, la madre es nuestra vida”…

3 – Se os detentores de poder nos estados capitalistas modernos e dos modernos mercados tivessem correspondido imediatamente ao primeiro alerta que de forma tão lúcida e oportuna fez o Comandante Fidel na Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento no Rio de Janeiro em Junho de 1992, muito provavelmente não estariam a ocorrer fenómenos tão nocivos como os que atualmente se verificam em todo o globo com o aquecimento global, nem haveriam tantos atrasos na adoção de medidas tendentes a gerar sustentabilidade às atividades de desenvolvimento, em benefício de toda a humanidade!

A situação de irracionalidade que hoje ainda prevalece, tem vindo a castigar também os dois países mais responsáveis pela poluição na Terra, os Estados Unidos e a República Popular da China, ciosos das duas revoluções culturais sobre as quais se alicerçou o capitalismo e o mercado, a Revolução Industrial e a Tecnológica, ambas em permanente curso.

Chuvas torrenciais, rios a saltar dos seus leitos e a inundar campos cultivados e povoações, incêndios colossais em relação aos quais o homem só muito dificilmente os pode debelar, doenças que atingem o tecido humano em resultado do desencadear desses fenómenos, espécies animais e vegetais que vão inexoravelmente desaparecendo, são fenómenos que em catadupa vão assaltando hoje a vida na Terra.

Neste ano de 2016 o engenho humano em apenas oito meses esgotou os recursos que só se poderiam esgotar em doze de sustentabilidade, se houvesse um respeito aferido às potencialidades da Mãe Terra, havendo indícios que no próximo ano será praticamente igual.

O homem desrespeita a Mãe Terra de várias maneiras e segundo procedimentos diversos, mas há dois módulos relevantes nesse desrespeito: as afetações que são provocadas no ambiente e o esgotamento dos recursos disponíveis!

4 – Pela sua expressão antropológica e histórica, os Estados Unidos são no desrespeito para com a Mãe Terra, mais longevos que a República Popular da China e isso reflete-se no carácter de ambas as disposições de relacionamento internacional:

- Os Estados Unidos por via da expansão, do capitalismo e do imperialismo assumido depois da IIª Guerra Mundial, concentram os principais fatores decisórios, incluindo na sua imensa capacidade de financiamento e investimento, em termos de hegemonia unipolar;

- A República Popular da China por via duma revolução cultural que desembocou num socialismo de mercado, tem uma experiência relevante em termos duma emergência que absorveu muito capital, tecnologia e saber científico desde fresca data e por isso, concentrando uma fatia importante da produção global, é também capaz de assumir o carácter da multipolaridade, apesar de seus dispositivos de exceção em curso no Mar da China Meridional.

Em África sente-se bem o carácter de cada um deles e reconhece-se com base na comparação que o exercício da hegemonia unipolar, é o seguimento em plena globalização do que foi o exercício imperialista durante a Guerra Fria por causa de sua resistência à multipolaridade que já é hoje possível, apesar do desrespeito para com a Mãe Terra e dos terríveis desequilíbrios humanos.

5 – A República Popular da China, que tem vindo a realizar sua Revolução Industrial ao mesmo tempo que a Revolução Tecnológica contemporânea que tem marcado o final do século XX e o princípio do século XXI, precisamente por que só de fresca data absorveu capital, investimentos, ciências avançadas e tecnologias, sente com maior acuidade no seu tecido humano a premente necessidade de abandonar o caminho do desrespeito para com a Mãe Terra e enveredar pela sustentabilidade em termos de desenvolvimento; a China assume-se nesses termos como um fator progressista em proveito da emergência a favor de toda a humanidade.

Os Estados Unidos possuem nos cartéis, nas multinacionais e nos instrumentos múltiplos de que se servem, fatores atavicamente exacerbados, que pretendem manter à força o domínio que caracteriza os procedimentos da hegemonia unipolar, inclusive num quadro de poder militar e de inteligência eminentemente elitista; os Estados Unidos por norma assumem-se em termos fundamentalistas, conservadores, retrógrados e refratários nos relacionamentos para com a Mãe Terra e o homem, a ponto de acabarem por estimular caos e terrorismo, sem avaliarem que esse tipo de ventos pode provocar como “efeito boomerang”, tempestades contra si, para além das tempestades ambientais correntes.

No encontro do G20 que terminou agora em Huangtsou, a República Popular da China ratificou o Acordo de Paris já aprovado pela Assembleia Nacional, enquanto os Estados Unidos apenas o fizeram em função da deliberação Presidencial, uma vez que se o Acordo de Paris for apresentado ao Congresso, os Republicanos podem não o deixar passar e fazer como antes com o Protocolo de Kioto!...

São ainda esses fatores retrógrados que estão a impedir os Estados Unidos de chegar a um Acordo em relação à Síria a fim de com a Rússia dar combate ao Daesh e à Al Qaeda, financiados aliás por alguns sectores fundamentalistas seus e dos seus vassalos (alguns membros da NATO e as monarquias arábicas)!

A consultar: 
- Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra – http://rio20.net/pt-br/propuestas/declaracao-universal-dos-direitos-da-mae-terra/  
- Construamos uma Arca de Noé que nos salve a todos – http://pagina--um.blogspot.com/2010/08/construamos-uma-arca-de-noe.html

VAROUFAKIS E O MUNDO PARASITADO PELOS EUA



“O Minotauro Global”, expõe, com didatismo e profundidade, reviravoltas da Economia global no pós-guerra. Na fase atual, mundo serve aos EUA e à aristocracia financeira — mas ainda falta quem cumpra o papel de Teseu

Edemilson Paraná* – Outras Palavras - Imagem: Daniel Carlos

Certa vez, o economista e ex-ministro das finanças grego Yanis Varoufakis definiu a si mesmo como um “marxista errático”. Ainda que uma regra básica do bom senso nos aconselhe a não aceitar sem exame crítico aquilo que alguém diz sobre si mesmo, poucos qualificativos poderiam resumir melhor o conteúdo de seu livro que acaba de ser publicado no Brasil. Do começo ao fim, O Minotauro Global é, de fato, em todas as suas muitas riquezas e poucas lacunas, a obra de um perspicaz e criativo “marxista errático”.

Em sua abertura, franqueza e desapego a dogmas, a boa heterodoxia econômica de Varoufakis mostra-se fecunda tanto na demonstração das graves deficiências das teorias neoclássicas dominantes (aqui chamadas “teorias tóxicas”, em estreita relação com o seu papel no surgimento dos “ativos tóxicos”) – que soberbamente ousaram postular que uma crise global como a de 2008 não poderia acontecer –, quanto na construção de uma sólida narrativa alternativa sobre as origens e causas do atoleiro em que se encontra a economia mundial pós-crise.

Desse modo, buscando explicações sistêmicas, e equacionando sofisticada leitura macroeconômica às dinâmicas geopolíticas, o autor consegue traçar o caminho que nos trouxe até a crise sem escorar sua análise, como se tornou corrente, em algum anedotário moralizante sobre ganância e rentismo, sobre a ação de bons e maus capitalistas, ou em qualquer outro discurso ad hoc sobre a reprovação per se da ação do Estado nas economias.

Talvez mais do que a especialistas e estudiosos, a obra se dirige a leigos interessados no que acontece a sua volta. Outro mérito: sua análise econômica não se furta a entrar no debate público. Sem com isso perder em profundidade, o texto é desenvolvido em linguagem fluída, didática e bem-humorada, recorrendo a potentes imagens da cultura pop e da mitologia grega para dissecar e apresentar, em inúmeros e elucidativos exemplos, cada um dos argumentos que mobiliza.

E é justamente uma destas alegorias que dá título à obra: o Minotauro de Creta. Metade homem, metade animal, o ser é produto da relação entre a mulher de Minos, rei de Creta, e um touro (um castigo dos deuses a Minos por este não ter atendido ordens divinas). De modo a conter a voracidade da besta, um labirinto foi construído como sua morada e, no interior deste, sua inusitada dieta se dava à base de seres humanos jovens. Para satisfazer sem maiores problemas o monstro, o rei Minos força os atenienses, após vencê-los em uma guerra, a todos os anos enviar sete rapazes e sete moças para serem devorados pelo Minotauro.

Conforme nos lembra Varoufakis, historiadores tendem a relacionar o mito à real hegemonia política e econômica de Creta na região do Mar Egeu – a quem cidades-estados menos poderosas tinham de pagar tributos regulares em troca de proteção e manutenção da paz. A imagem é mobilizada como analogia ao papel político-econômico dos Estados Unidos da América (EUA) no mundo pós-revogação do regime de Bretton Woods, a partir do início da década de 1970 – veremos por quê. O livro está encadeado, assim, pela descrição dos antecedentes que dão surgimento à besta ianque, passando pelo seu período áureo, até chegar a 2008, quando esta é praticamente ferida de morte. Percorrendo este traçado, apresenta uma didática e concisa história do capitalismo mundial, especialmente a partir do pós-guerra, até o momento presente.

A obra começa com uma breve e bastante pragmática discussão sobre os antecedentes de formação do capitalismo mundial, bem como o desenho de seus mecanismos gerais de funcionamento, explicados – raramente recorrendo a citações diretas – a partir das formulações de Karl Marx, John Maynard Keynes e Joseph Schumpeter. Em alguns momentos, e mesmo que não sejam citados diretamente, argumentos presentes em Karl Polanyi, Suzzane de Brunhoff e Hyman Minsky aparecem – articulação, aliás, que se mostra bastante produtiva.

Assentado em tais bases, a história que Varoufakis desenha é composta por três eras. Primeiro, da revolução industrial até 1945 – período que inclui a Crise (com ‘C’ maiúsculo) financeira mundial de 1929 e as duas grandes guerras. Em seguida, o boom do pós-guerra, ou os “anos gloriosos” do capitalismo mundial, período que vai de 1945 até 1971. A esse período ele dá o nome de “Plano Global”, quando os EUA se tornam a maior economia superavitária a ocupar o centro da ordem econômica internacional. Finalmente, aparece o “Minotauro Global”, a era das altas finanças, de 1971 a 2008, quando os EUA se tornam uma grande economia deficitária, mantendo, de forma renovada, sua mesma posição central.

A tese fundamental e fio condutor teórico-conceitual da análise de Varoufakis ao longo deste percurso é a de que o capitalismo não pode funcionar de maneira minimamente estável sem dispor de umMecanismo Geral de Reciclagem de Excedentes(MGRE). Partindo da ideia de que as economias tendem a observar diferenciais de produtividade inerentes às diferenças setoriais e regionais, o autor sustenta que, diante deste fato, e a bem de uma composição comercial mais ou menos equilibrada, faz-se necessário a construção de mecanismos que permitam investir lucrativamente os excedentes acumulados nas regiões e setores superavitários em suas contrapartes tendencialmente deficitárias (“das áreas urbanas para as rurais, das mais desenvolvidas para as menos desenvolvidas”, etc.).

No interior de uma economia nacional, por exemplo, isso é feito por meio de unidade fiscal, que possibilita a realização de transferências da União (em bens, serviços, infraestrutura, isenções, incentivos, etc.) em prol dos Estados e regiões menos vigorosas economicamente – algo que também pode ser feito por meio de sistemas federalizados de seguridade e saúde, por exemplo.

Entre as economias nacionais, distintamente, as diferentes taxas de câmbio, a depender das condições, podem igualmente constituir um mecanismo natural de reciclagem: uma vez que o acumulo de déficits tende a levar à desvalorização cambial, esta pode acabar redundando em estímulo às exportações e desestimulo às importações, além de contribuir para atrair outros capitais excedentes graças às taxas de juros mais elevadas, bem como ao preço relativo mais baixo de seus ativos. Assim, tanto o “Plano Global” quanto o “Minotauro” são, em verdade, como veremos, arranjos sustentados em formas distintas de MGRE (o primeiro tendo nos EUA um imenso polo superavitário, o segundo, seu inverso, tendo neste um polo deficitário).

Tendo vivido e aprendido com a catástrofe econômica de 1929, que só seria plenamente resolvida, de acordo com o autor, graças à enorme destruição produzida pela Segunda Guerra Mundial, os idealizadores estadunidenses do “Plano Global” aproveitaram a enorme oportunidade com a qual se depararam ao fim do conflito para desenhar uma nova ordem. O novo arranjo deveria, ao mesmo tempo em que funcionasse de modo a impedir grandes desequilíbrios que pudessem levar a eclosão de uma nova crise global, servir para cristalizar sua nova posição hegemônica no interior do “mundo livre”.

Assim, com base em muitas das prescrições keynesianas, a Conferência de Bretton Woods deu nascimento a um sistema de governança econômica global que levou à criação do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), e a constituição de um sistema de administração cambial que fixava a percentuais determinados a flutuação das taxas de câmbio dos demais países em relação ao dólar, e deste ao ouro – com a consequente conversibilidade direta do dólar em ouro.

Algumas das mais importantes (e ousadas) propostas de Keynes, no entanto, ficariam de fora do novo arranjo, graças a não aceitação do novohegemon: a criação de uma União Internacional de Divisas, um Banco Central Internacional e uma moeda única a ser utilizada em transações comerciais entre nações (o bancor), que objetivavam a constituição de uma governança econômica multilateral equilibrada, durável, e politicamente compartilhada. A razão da recusa não era nada ocasional: os EUA queriam gerir eles mesmos, e através de sua própria moeda, a nova ordem econômica mundial.

O sofisticado “Plano Global”, acreditavam seus idealizadores, parecia ter tudo para dar certo. Assim, os EUA, a maior economia superavitária do planeta, passaram, a bem da garantia de sustentabilidade do novo arranjo, a investir seus enormes excedentes na reconstrução dos países arrasados pela guerra. Esse investimento permitia ainda sustentar a demanda por seus produtos e a lucratividade dos capitais invertidos. De modo a constituir zonas regionais para o amortecimento de eventuais choques econômicos globais, os arrasados e humilhados Alemanha e Japão foram escolhidos como “pupilos” – os novos hubs, destinos preferenciais do mais generoso suporte político e econômico americano. Enquanto eram incentivados a fortalecer suas zonas econômicas e moedas regionais, estes dois países sustentavam a penetração e fortalecimento acelerado do dólar como dinheiro mundial. Um MGRE, sustentado no “privilégio exorbitante” do dólar, estava garantido e, com ele, a “idade de ouro” do capitalismo regulado nos países do capitalismo central.

Contudo, tal ordem de coisas só poderia permanecer inabalável sob uma condição: a de que os EUA seguissem indefinidamente como uma economia superavitária. Mas seus idealizadores não ousaram considerar a sério a hipótese de tal prospecto não ser sustentável no médio prazo. Foi exatamente isso que ficou patente, no entanto, a partir do início da década de 1970: os déficits americanos crescentes passaram a atentar contra o próprio arranjo que o país havia ajudado a conceber em seu favor.

Os déficits estadunidenses apareceram, explica Varoufakis, na esteira da rápida recuperação e dos ganhos de competitividade e produtividade dos outrora “pupilos” do pós-guerra (Alemanha e Japão), com a consequente queda de competitividade relativa dos EUA (junto da abertura de seu mercado para a entrada de produtos de tais competidores, especialmente do Japão), somado, ademais, aos crescentes gastos do governo, especialmente com guerras, como a do Vietnã. A expansão monetária vinculada ao aumento de gastos do governo americano redundou na desvalorização de sua moeda. Desse modo, vinculada à exportação de dólares para outros países e à consequente valorização das moedas nacionais destes, emergiram questionamentos sobre a real garantia de convertibilidade ouro-dólar então vigente. O “Plano Global” estava com os dias contados.

Diante de novos e sonoros questionamentos a sua posição “privilegiada”, os Estados Unidos responderam com ações enérgicas e medidas drásticas (que Paul Volcker, presidente do Federal Reserve durante os governos Jimmy Carter e Ronald Reagan, mais tarde denominou “uma desintegração planejada da economia mundial”): o rompimento unilateral do acordo de Bretton Woods, com a quebra da conversibilidade ouro/dólar, e consequente desvalorização da moeda americana. A depreciação do dólar representou um duro golpe nas exportações japonesas e europeias. Mas dado que todos estavam a esta altura já presos ao dólar como moeda de reserva global, pouco restava a fazer. A posição privilegiada que os americanos haviam construído estava garantida, e agora em bases renovadas. “A moeda é nossa. O problema é de vocês”. Começava, sob o tacão deste choque, a nova era do “Minotauro Global”.

Com seu nascimento, os EUA mostraram ao mundo que, contanto que fossem capazes de controlar a moeda mundial, que lhes permitiria continuar reciclando o excedente econômico global, ao mesmo tempo em que se mantivesse como a maior e mais importante força no comércio internacional, pouco importava ser uma economia superavitária ou deficitária. O que o mundo viu acontecer na era pós-1971 foi, então, uma reversão do fluxo comercial e dos excedentes de capital entre os Estados Unidos e os demais países. Pela primeira vez na história mundial, o poder hegemônico se fortalecia aumentando deliberadamente seus déficits.

Donos da moeda fiduciária mundial, os EUA tornam-se, sob um sistema monetário e financeiro internacional hegemonizado pelo dólar flexível, o grande polo de um novo MGRE às avessas: funcionando como uma espécie de “consumidor de primeira instância”, o enorme corpo gravitacional dos déficits gêmeos (comercial e orçamentário) americanos serviram como força de atração para o investimento dos excedentes acumulados em outras regiões do globo. Resumidamente: enquanto os seus persistentes saldos comerciais negativos suscitavam o avanço da produção em outros países e regiões, os déficits orçamentários serviam para transformar os excedentes comerciais destas em títulos da dívida americana. À medida que o mundo acumulava tais títulos, o capital mundial fluía inadvertidamente para o mercado financeiro estadunidense. Para se ter uma ideia da dimensão deste movimento, no início dos anos 2000, pouco antes da crise, mais de 70% das saídas globais de capitais tinham os EUA como destino final.

Tal qual um mostro cretense redivivo, a voracidade do Tio Sam era alimentada por oferendas estrangeiras. Com uma importante diferença: os “carismas do Minotauro” (seu poder geopolítico e a manutenção do dólar como moeda de reserva mundial), garantiam, distintamente ao mito, que os pagamentos ao “Minotauro Global” fossem “voluntários”. Para que o movimento global de capitais se configurasse e se comportasse exatamente sob esse padrão, duas tarefas foram necessárias: de um lado uma recuperação da competitividade das empresas americanas face, especialmente, às alemãs e japonesas, de outro a elevação da taxa de juros paga aos títulos de sua dívida soberana.

Como isso foi alcançado é história amplamente conhecida. À enorme redução dos custos do trabalho nos EUA somou-se a crise do petróleo (estimulado pelo próprio governo americano, segundo Varoufakis), que afetou de modo especial aos dependentes Japão e Alemanha, que não dispunham de produção própria significativa. Na outra ponta, as taxas de juros foram paulatinamente elevadas ao longo da década, até alcançarem níveis recordes em 1979 – uma verdadeira catástrofe para países endividados em dólar, como os latino-americanos e europeus do leste. A metamorfose havia sido concluída.

Mas ao conseguir emplacar mais este feito notável, o sucesso trágico de Washington, ao mesmo tempo em que reforçou seu domínio, implantou as sementes de sua própria desgraça: uma expansão financeira sem precedentes. Sob a direção dos “serviçais do Minotauro” (as teorias tóxicas, Wall Street, o sistema Walmart e as políticas da trickle-down economics), as décadas de financeirização acelerada sob esse equilíbrio desequilibrado redundaram, por fim, na hecatombe de 2008.

Enquanto absorvia uma imensidão de capitais vindos de todas as partes, Wall Street, livre de regulamentações, barreiras e constrangimentos políticos de outrora, se encarregava de ativar uma verdadeira farra desvairada de criação de dinheiro privado por meio de ativos tóxicos (dentre os quais estão as famigeradas classes de derivativos bizarros que o mundo veio a conhecer). Fusões e aquisições alavancadas por bolhas financeiras e a produção e circulação de capital fictício em quantidade inimaginável encontram-se, especialmente ao longo das últimas duas décadas, com a concessão de hipotecas e enorme expansão de crédito pessoal para aqueles mesmos trabalhadores que não percebiam aumento real em seus salários desde 1973. Ativado pela espantosa criação de dinheiro privado, o consumo sustentado parecia indicar que tudo estava indo muito bem obrigado.

Até as vésperas da crise, Wall Street, e todos as suas gambiarras outrora eufemisticamente conhecidas como “inovações financeiras”, atraiu capital mundial suficiente para reciclar a contento os excedentes obtidos pelos demais países e, inclusive, sustentar certa reconversão destes em mais investimentos produtivos, e novas vendas para os EUA – o que ensejava novos superávits daqueles países e, assim, a continuidade, em dimensão ampliada, da mesma roda-viva. Enquanto isso, os desiquilíbrios no comercio internacional seguiam se ampliando. Quando a música parou, o número de cadeiras era pequeno demais para a quantidade de pessoas que circulavam em seu redor. O dinheiro privado evaporou, e o sistema bancário quebrou. O resto é história (que nosso autor descreve, aliás, em minucias).

Desde então agonizante, gravemente ferido, o Minotauro, conforme aponta Varoufakis, não é mais capaz dos feitos de outrora: sua demanda por bens e serviços já não é mais a mesma, e tampouco Wall Street tem sido capaz, mesmo diante da astúcia em manter-se no comando, de gerar a enorme quantidade de dinheiro privado que outrora sustentou a escalada de consumo e investimento. Em consequência, com Europa, Japão e China em marcha lenta, os exportadores de commodities e produtos primários são juntos arrastados para o rosário de agonias do mundo pós-2008, um mundo de desesperança e acelerada desagregação política e social.

E assim nosso autor encerra sua teratologia da economia mundial. Seja desestabilizado pela expansão do dinheiro estatal-público, seja pelo avanço desgovernado do dinheiro privado-bancário, conclui o economista grego, MGREs dessa forma geridos – sem dispor de mecanismos de coordenação global multilateral análogos ao sugeridos por Keynes em Bretton Woods – tendem a sustentar, como em um equilíbrio desequilibrado, fôlego curto.

*Edemilson Paraná é pesquisador-bolsista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mestre e doutorando em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB). Autor do livro “A Finança Digitalizada: capitalismo financeiro e revolução informacional” (Ed. Insular, 2016).

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