A
construtora brasileira Odebrecht terá subornado altos funcionários moçambicanos
entre 2011 e 2014, ao que tudo indica na construção do aeroporto de Nacala. As
autoridades até agora preferem optar pelo silêncio.
Recentemente
o departamento de Justiça norte-americano divulgou vários escândalos de
corrupção envolvendo a Odebrecht. Esta construtora brasileira terá pago
subornos avaliados em 788 milhões de dólares em 12 países africanos e
latino-americanos, entre eles Angola e Moçambique.
No
caso de Moçambique altos funcionários do Governo terão recebido cerca de 900
mil dólares entre 2011 e 2014, ao que tudo indica na construção do aeroporto de
Nacala, que custou ao Estado moçambicano 216,5 milhões de dólares. O caso vem
agitar o país que já está mergulhado em casos semelhantes e mal esclarecidos.
A
DW África entrevistou Baltazar Fael, investigador do Centro de Integridade
Pública (CIP), sobre o assunto.
DW
África: É normal que as autoridades moçambicanas se mantenham em silêncio
face à denúncia de corrupção?
Baltazar
Fael (BF): Normal não é. O Governo moçambicano através das suas
instituições, neste caso a Procuradoria Geral da República (PGR), deve assumir,
na qualidade de defensor da legalidade e que repudia os atos de corrupção por
parte dos seus funcionários. A outra situação é que temos vários
exemplos, que poderia enumerar, em que o Governo moçambicano também não
agiu.
Então,
para nós é preciso que haja uma ação mais firme por parte da PGR no sentido de
olhar para esses casos ligados à corrupção, embora envolvam corrupção
a nível internacional. É preciso que estes casos sejam tratados como
outros são tratados, embora não tenhamos dados suficientes que nos digam que
todos os casos, mesmo os mais antigos, são tratados como deviam ser.
DW
África: Será preciso algum tipo de pressão, como tem sido habitual nos últimos
tempos, para que a PGR comece a investigar este caso da Odebrecht?
BF: Pensamos
que sim. É possível que de alguma forma nós façamos um pouco do trabalho que a
própria PGR devia fazer, que é atacar esses casos em obediência do princípio da
legalidade e não o princípio da oportunidade, que é perseguir aqueles casos que
eles acham que devem ser seguidos. Portanto, é preciso que haja esta pressão,
mas estou a falar, por exemplo, deste caso da Odebrecht. Não se esqueçam que há
pouco tempo foram acusados altos funcionários sobre questões ligadas à LAM
(Linhas Aéreas de Moçambique), de altos funcionários envolvidos na aquisição de
aviões da Embraer.
E
este caso não é assim tão antigo, existem outros casos relativamente recentes
envolvendo situações de corrupção internacional em que a PGR não está a dar
resultados e nem a mostrar exatamente o que está a fazer sobre estes casos.
Essa pressão deve existir e nós, o CIP, vamos liderar um trabalho no
sentido de fazer com que de alguma forma os órgãos de administração da justiça,
neste caso a PGR e o Ministério Público, tenham uma ação mais proativa no
sentido de esclarecimento público destes casos.
DW
África: Face a esta letargia que domina a PGR, que tipo de reformas o CIP
sugere?
BF: Há
aqui claramente uma ligação intrínseca em Moçambique entre política e o nosso
sistema judiciário. A primeira coisa que se deve fazer é desbloquear esta
situação. Os órgãos do judiciário devem ser independentes. E no caso do
Ministério Público a sua autonomia deve ser ainda maior do que aquilo que ela
tem, que é mais no sentido formal. Quando falamos de independência estamos a
falar do judicial, que age sem observância de pressões ou questões de
natureza política. E o que nós vemos é que muitas vezes é que para este órgão
agir precisa do aval do Governo.
Nádia
Issufo – Deutsche Welle
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