A
desgraça que se abateu sobre o país serviu para mostrar a debilidade das
florestas portuguesas, mas teve também o mérito de mostrar a verdadeira face da
comunicação social. Em bom rigor não há novidade quer no que diz respeito ao
primeiro assunto como ao segundo.
Depois
de dias de exploração do assunto, não raras vezes recorrendo a formas pouco
dignas de tratamento das notícias, é agora tempo dos fazedores de opinião
afectos ao anterior governo fazerem das suas.
Assim,
aponta-se o dedo ao Executivo de António Costa, clamando-se pela demissão da
ministra da Administração Interna. Assim, aproveita-se a tragédia para atacar o
Governo: má preparação, incúria, opções políticas erradas - tudo terá começado
e terminado com António Costa. Mesmo questões difíceis de abordar como o SIRESP
- resultado da promiscuidade entre PSD e o famigerado BPN - são
responsabilidade do actual governo.
Ou
seja esqueçamos, convenientemente, os bons resultados económicos, que tantas
dores de cabeça têm dado a uma certa direita e que tanto espaço de manobra lhes
tem retirado, e centremo-nos na forçada incúria e responsabilidade deste
Governo relativamente aos incêndios que devastaram o centro do país.
Pouco
interessa olhar para as políticas públicas das últimas décadas, para o SIRESP, para
o trabalho de Assunção Cristas no ministério da Agricultura e para todos os que
a antecederam; pouco interessa atentar aos negócios que se fazem na floresta ou
sugando os recursos da floresta e a promiscuidade entre poder político e
poder económico. O que interessa mesmo é afirmar que o Governo de Costa
encontra-se fragilizado ou até que terá os seus contados como afiançou um
jornal espanhol cuja peça terá sido assinada por uma espécie de fantasma - um
tal de Sebastião Pereira.
Na
ausência de um Diabo que permitisse um regresso apoteótico de Passos Coelho, a
sua base de fãs desdobra-se em críticas infundadas, ridículas e desfasadas da
realidade, manifestando um desespero e um aproveitamento da pior das desgraças,
sem dar um contributo válido para a questão, como de resto nunca deram.
Esta
é uma comunicação social que, exceptuando raras e honrosas excepções, é
instrumentalizada com o objectivo de validar uma solução política que deixou
saudades entre alguns. Não se espere pois que desta forma a dita comunicação
social recupere da grave crise que afecta o sector. É que a realidade é esta:
os cidadãos não são parvos e vêem nestes tristes exercícios tentativas de
manipulação de um conjunto de desesperados e um aproveitamento ignóbil de uma
desgraça.
E
claro está, Passos Coelho que afirmou conhecer casos de suicídio por falta de
apoio psicológico. "Porque o Estado falhou e está a falhar". O
Presidente da Câmara de Pedrógão Grande e o Presidente da Administração
Regional de Saúde do Centro (ARSC) desmentem. Com tanta escassez de
oportunidade, esta era uma que Passos não podia perder, por muito asco que tudo
isto provoque. No entanto, esta infeliz e desesperada tentativa de
aproveitamento político, deixou a sua base de apoio desapontada com o líder.
Afinal de contas, não há forma de Passos Coelho sair bem nesta história.
*Ana
Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão | Título com alteração parcial no PG
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