Ana
Alexandra Gonçalves *
Em
bom rigor a frase em epígrafe faz mais sentido do que aquela proferida por
Pedro Passos Coelho: "Podemos concluir que não temos Estado", isto a
propósito, claro de está, de Pedrogão e de Tancos.
Sem
alternativas e à espera de um Diabo que o antigo primeiro-ministro crê ter
assumido a forma de incêndios e assaltos a um paiol, Passos Coelho dedica todas
as suas atenções e utiliza todas as suas forças para insistir nos dois assuntos
que fizeram e continuam a fazer parte da agenda mediática.
Assunção
Cristas, padece do mesmo mal. Desnorteada, com eleições à porta e sem
alternativas, agarra-se ao que pode: novamente Pedrogão e Tancos. A ausência de
Estado - numa espécie de anarquia silenciosa de que ninguém terá dado conta - é
agora o grande argumento da direita.
E
pelo caminho fica a oposição que é a essência destes partidos. Qual oposição?
Sem alternativas não há propostas, não há nada construtivo. A parca oposição
resume-se à atribuição de todas as responsabilidades ao actual Executivo,
quando elas ainda não estão totalmente apuradas, e ao aproveitamento político
de tudo o que cai na rede e que rapidamente se transforma em peixe.
Mexendo
na frase de Passos Coelho, não é o Estado que não existe, embora possamos falar
em falhanços graves; é a oposição que não existe.
Na
verdade seria mais prudente abordar os eventuais falhanços do Estado quando as
responsabilidades forem de facto apuradas, mas Passos Coelho e Assunção Cristas
não podem esperar mais tempo. As eleições estão à porta, as oposições internas,
sobretudo no PSD, crescem de tom, e o discurso exasperado de ambos os partidos
não colhe. O tempo urge e o aproveitamento político é, neste momento, a única
arma destes partidos.
* Ana
Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão
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