E
se Angola acordasse a 24 de agosto com um Parlamento em que a Oposição fosse
maioritária? Paulo Inglês cita uma sondagem que dá 36% ao MPLA, 28% à CASA-CE e
22% à UNITA.
O
MPLA garante que a vitória nas eleições gerais de 23 de Agosto será expressiva
de acordo com sondagens internas; a CASA-CE está convicta que irá lutar pela
vitória; a UNITA não fala em ganhar, mas sente-se segura de que não será
ultrapassada como segunda força política de Angola.
Ao
SOL, o académico Paulo Inglês adiantou os resultados do follow up da sondagem
do Instituto Piaget e do Instituto Sol Nascente (que teve numa primeira fase o
apoio técnico da Universidade Católica Portuguesa), em que participou, e os
resultados são surpreendentes. Reduzidos os indecisos de 23% para 11%, «o MPLA
manteria os seus 36% nas intenções de voto, desceu algumas décimas», mas a
CASA-CE aproximar-se-ia muito do primeiro lugar, porque ganharia para si 70%
dos indecisos. «A CASA-CE estaria nos 28% e a UNITA nos 22%». Se contarmos que
a sondagem tem uma margem de erro de 4%, vemos que o resultado da segunda força
política se aproxima muito do partido que tem dominado Angola desde a sua
independência.
Paulo
Inglês, com formação em Sociologia, Filosofia, Ciência Política e doutorado em
Estudos Africanos, afirma que ficou surpreendido com «a subida nas intenções de
voto da CASA-CE», depois de a esta se ter juntado também o Bloco Democrático,
de Justino Pinto de Andrade. «A UNITA também me surpreendeu por ter conseguido
uma maior mobilização, embora eu ache que seja só o seu eleitorado tradicional
que perdeu o medo», diz.
Alcides
Sakala, um dos históricos da UNITA, deputado e atual porta-voz do partido,
refuta, em declarações ao SOL, os resultados: «Isto não corresponde à verdade,
o que há é uma tentativa de manipulação. Segue a lógica com que os órgãos
públicos de comunicação social lidam com este processo eleitoral, dando mais
tempo ao partido no poder e querendo dar mais tempo a esta coligação [CASA-CE],
para criar perceções erradas.»
«Compreendo
o mal-estar da UNITA», contrapõe Paulo Inglês, e embora reconheça que «o modo
como o questionário está elaborado» possa «induzir certo tipo de resposta», não
acredita que «os responsáveis diretos da sondagem tivessem tido alguma intenção
de manipular, como a UNITA inventou, ou que o estudo tivesse sido pago pelo
MPLA. Não creio que o centro de sondagens da Universidade Católica teria
entrado nesse jogo, seria arriscar demais o seu prestígio para ganhar tão
pouco».
Manuel
Fragata de Morais, veterano deputado do MPLA, também menorizou o resultado da
sondagem, mostrando-se tranquilo com o que irá acontecer a 23 de agosto. «Nós
não temos ainda a tecnologia para ter sondagens que possam refletir... Se as
sondagens nos EUA não querem dizer muito, quanto mais aqui».
Não
acredita que o MPLA terá menos de 50% dos votos? «De maneira nenhuma, isso eu
garanto-lhe», afirma o deputado. «Existe a confiança na vitória do MPLA, pode
ser que não seja aquela antiga, dos 70 e tais por cento, mas para cima de 60%,
isso eu garanto», sublinhou. «Estou confiante, a partir de dados que nós
temos», disse, com base nas pesquisas internas do próprio MPLA.
Segundo
o deputado, nas informações recolhidas pelo MPLA, a CASA-CE não surge em
segundo nas intenções de voto, mas «aparece a ter um desenvolvimento um pouco
melhor do que tiveram no passado, sobretudo aqui a nível de Luanda». No
entanto, faz o reparo, «isso da CASA-CE ser a segunda ou a UNITA ser a segunda
não nos interessa absolutamente nada, até porque é farinha do mesmo saco».
Também
no lado da CASA-CE, não se acredita muito na sondagem, mas por razões contrárias.
Félix Miranda, secretário nacional para a comunicação da coligação e da
campanha, acha que os números ainda ficam aquém e que terão mais votos do que a
sondagem demonstra.
«É
um bocado difícil fazer um comentário a esse tipo de sondagem porque Angola não
se presta a esse exercício - há muito medo, ainda estamos na cultura da
repressão, as pessoas têm dificuldade em se pronunciar», disse. «Se for fazer
um tipo de sondagem anónima, vai ver que a CASA-CE está em cima», acrescentou
Félix Miranda.
Paulo
Inglês, na sua interpretação dos resultados do follow up, sublinha que, neste
momento, há «quase um empate técnico entre o MPLA e a CASA-CE», a coligação
liderada por Abel Chivukuvuku. Este antigo dirigente da UNITA que disputou por
duas vezes a liderança a Isaías Samakuva e perdeu, antes de se cansar e bater
com a porta, formou uma coligação de pequenos partidos que foi a votos em 2012
e elegeu oito deputados, transformando-se na terceira maior força política
angolana.
Miguel
Gomes, assessor de comunicação da organização não governamental ADRA,
ex-jornalista e observador atento da realidade angolana, acredita que o
resultado do MPLA possa ser inferior a 50%, no entanto, espera mais um
«resultado à volta dos 50-55%. Acima disso será uma surpresa para mim. Uma
maioria bastante qualificada levantará dúvidas sobre a lisura do processo.»
Paulo
Inglês estava à espera até que a sondagem desse ao MPLA menos do que aquilo que
acabou por ter. «Apesar da situação do país e das críticas» é para ele
surpreendente «o MPLA ter ainda muita aderência, especialmente nos seus
comícios». Será a rational choice, como lhe chamam os sociólogos, pergunta-se.
«Algumas pessoas fazem contas à vida e acham que, apesar de tudo, nunca
estiveram melhores do que entre 2002 e 2015». Depois, «também há o fator medo,
claro» e «a esperança de que o problema era José Eduardo dos Santos e que com o
João Lourenço será diferente».
SOL
| em Angola 24 Horas
Sem comentários:
Enviar um comentário