Como
caráter da cultura que desenvolvemos, não há como se ocultar que a cegueira
eventual ou proposital em desprezar o lado da honra e mais virtudes na condução
das normas atenta contra nossa natureza de racionais.
Maria
Fernanda Arruda – do Rio de Janeiro | Correio do Brasil | opinião
Vamos
fazer de conta que temos honra. Fazer de conta que somos
racionais. É inculcável o ânimo de toda a filosofia em dar aos princípios
que nos conduzem a face que distingue o homem do animal. Tudo o que tange
estudo de ética, mostra a intenção de perfeição e de pureza a nos presidir a
convivência. Dentro desse escopo, Montesquieu deu nome a uma obra como o
espírito das leis. Então, com estas, a dimensão que as coloca acima de uma
retórica fria ou falha.
Isso
posto, como caráter da cultura que desenvolvemos, não há como se ocultar que a
cegueira eventual ou proposital em desprezar o lado da honra e mais virtudes na
condução das normas atenta contra nossa natureza de racionais. Vem ao caso essa
digressão por estarmos há dois anos em que houve o cometimento de um crime, que
pende sem sequer reexame que lhe dê definição para se atribuir autoria ou mesmo
enquadramento legal devido.
Quando
se fez a encenação do golpe, planejado e dirigido por país estrangeiro, não
faltaram artistas a servir (via dólares) para encenação. Assistimos aos beócios
do senado dando continuidade à ridícula votação da Câmara. E tudo sob
coordenação (ou ponto) do STF. Foi uma enxurrada de ignomínias que cegou
a todos que, surpresos, ficaram nesse estado de choque paralisante de quem
sofreu um ataque ou acidente maior do que as forças que tinha para resistir.
Democracia
Só
que, passada a tempestade, o tempo foi se abrindo e a verdade veio à tona. Hoje
já se constatou que tudo foi uma pantomima oprobriosa. O próprio golpista mor,
ao assumir criminosamente o lugar de presidente ilegítimo do país, foi aos EUA,
patrocinador, e disse que a presidenta não foi deposta por transgressões ou
crimes e, “sim, por ter se negado a empreender uma política que era de
interesse empresarial local e internacional, cuja adoção incluía
austeridade e/ou imposições no campo trabalhista-previdenciário”.
Ou
seja, foi a assunção de que o golpe pôs acima da democracia a autoridade de uma
Fiesp ou assemelhada, que querem benesses fiscais e econômicas aos seus sócios,
em detrimento ao princípio de Republica e democracia. Seguindo. A ação do tempo
mostrou que não e nunca houve as pedaladas cantadas pelos covardes (incluindo
bicudos, janaínas e realis). E a presidenta nem teve ação pessoal em qualquer
dos fatos que se valeram os ensandecidos amotinados mercenários.
Mais…
A Procuradoria mandou arquivar o processo em que se acusava a ré por falta de
crime! O rei ficou nú ! Só não veem essa nudez os performáticos e empertigados
ministros golpistas do STF. Feito cavalos chucros, recusam ter senso de
responsabilidade e intenção de restaurar a ordem. Fazem a figuração de pai que
expulsa sua filha de casa por ter sido acusada de conduta indigna e a lança ao
chão da sociedade; em pretensa defesa de moralidade familiar. E depois,
verifica que foi enganado. Que não havia a imputação infamante. Ainda assim,
não tem a coragem ou hombridade de se redimir.
Uma
ficção
Todos
vimos que não faltou aos ministros supremos a coragem para o farsesco
ridículo.
Porque
lhes falta a mesma coragem para agir pela decência? Fizeram os ‘probos’ do STF
o papel nefando de irmãos que venderam José do Egito, por conta de aumento
salarial, inveja ou cretinice mesmo. Tiraram uma presidenta legítima, sob
acusação falsa que nem examinaram, e ratificaram ignominioso golpe.
E
permanecem, todos, na postura mumificada. insensíveis à moral, à honra ou à lei
que lhes cabe cumprir. Por enquanto estamos em um país que faz de conta
que há honra, Justiça e seres racionais. Como numa ficção.
Porém,
é fato: o mundo está vendo!
*Maria
Fernanda Arruda é escritora e colunista do Correio do Brasil.
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