José
Ribeiro | Jornal de Angola | opinião
O
Governo saído das eleições entra em funções com uma elevadíssima quota de
legitimidade política para levar por diante o programa sufragado nas urnas pelo
povo.
Além
de marcar a primeira transição política de liderança por via democrática em
Angola, o que já, só por aí, lhe dá um grande poder discursivo e argumentativo,
a vitória de João Lourenço e do MPLA por maioria qualificada abre um importante
espaço de manobra política para os cinco anos de mandato.
Transportando ainda o valioso legado deixado pelos antecessores, base sobre a qual assentará a acção do Executivo, o poder democrático do Governo de João Lourenço e do MPLA é vasto, no quadro, evidentemente, daquilo que são os limites comumente reconhecidos.
O Governo tem também a enorme vantagem de reunir à sua volta toda a disponbilidade e solidariedade dos quadros nacionais e das populações para começar a fazer o seu trabalho. Geralmente, nos períodos após eleições, a essa posição de esperança diante do que aí vem de positivo, se chama expectativa. Mas em Angola, por causa, talvez, do sofrimento gerado pela guerra, essa atitude é particularmente sincera. As pessoas querem trabalhar e ver as coisas a andar, seja a que preço for, pois se isso acontecer, todos terão a ganhar. Essa postura ficou bem expressa no momento da paz, quando todos os angolanos se uniram à volta do nome “Angola”, vieram trabalhar para a terra e trouxeram outros. Este é um grande capital com que contam, hoje ainda, os nossos novos governantes.
No lema eleitoral de campanha do MPLA, “Corrigir o que está mal, Melhorar o que está bem”, ficou bem vincada a manifestação de vontade e de bondade dos nossos dirigentes políticos. Mas o “slogan” faz também repousar sobre o Governo uma grande responsabilidade face aos desafios que enfrenta. Além de corrigir e melhorar o que está feito, é preciso fazer coisas novas, mostrando que não vamos ficar apenas agarrados ao passado, mas ter os olhos postos no futuro, o que exige não somente vontade política e bondade, mas também estudo e elaboração de novas políticas e medidas acertadas, algumas das quais parecerão provavelmente impopulares, mas serão importantes para a economia e as populações.
Com legitimidade, força discursiva, espaço de manobra, herança histórica,
popularidade e ainda prestígio internacional, o poder deste Governo liderado
por João Lourenço é altíssimo. Mas as expectativas também.
A primeira boa impressão deixada pelo Presidente João Lourenço, com a entrada em funções, foi o facto de não ter cedido às pressões de uma corrente perigosa, de uma certa imprensa, ligada a interesses alheios aos dos angolanos e que passa por ser “credível”, para que se criasse um Governo tão enxuto que baralharia as áreas de gestão e de intervenção governativa e só produziria confusão.
Felizmente, isso não ocorreu. O Governo de Angola tem de ter a dimensão necessária que tiver de ter para ser eficiente, não em função do desejo deste ou daquele opinionmaker. Não está provado que não é melhor um Governo eficiente, mesmo mais alargado, que justifique a sua dimensão através de bons resultados. A segunda boa impressão foi ter o Presidente recebido os representantes das empresas petrolíferas estrangeiras que operam em Angola, a pedido delas, e ter convidado a Sonangol para o encontro, reforçando assim o clima de confiança e de relacionamento institucional e empresarial.
Quanto às expectativas, uma das maiores gira à volta da forma como vai ser
resolvido o problema grave e crescente do comércio ambulante que se desenvolve
entre o trânsito automóvel nas cidades, perturbando a circulação. Além de ser
sintoma de desemprego, de comércio desregulado e de descontrolo fiscal, dá uma
imagem de falta de autoridade do Estado angolano. Isto é algo que está mal e se
for bem corrigido todos vão aplaudir e todos ganharão.
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