Martinho Júnior | Luanda
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A ocupação humana do que é hoje o território angolano, concentrando-se o grosso
da população (cerca de 75% dos nacionais) num triângulo com base no litoral
atlântico e vértice na região central das grandes nascentes (cerca de 25% da
área total nacional), é um fenómeno extremamente sensível a levar em
consideração por parte dos estudiosos e de quem procure abordar o conhecimento
integrado do país.
Esse
fenómeno é uma redundante de ordem antropológica e histórica, resultante da
relação entre as questões físico-geográficas-ambientais-hidrográficas, com as
questões humanas, desde logo as que se prendem com a ocupação vital do
território, mas não se resumem só a tal, em função da tardia chegada dos
europeus pelo mar.
As
migrações bantu chegaram muito antes da chegada dos portugueses e foram sempre
continuando, a partir dum trajecto em arco de círculo com origem sobretudo no
actual território da Nigéria, que atingia o interior do continente e vinha
desembocar mais densamente no planalto central (actualmente Províncias do
Huambo e do Bié), ou se dispersavam de norte a sul (da serra da Canda à serra
da Chela), pelas montanhas e suas encostas orientais, voltadas a nascente e
livres do sol da tarde.
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Foi a partir do mar que os portugueses chegaram e a escolha da sua implantação
redundava desde logo das observações geográficas dos marinheiros e dos
problemas logísticos da navegação à vela de longo curso, que se punham às
tripulações.
Na
costa a sul do portentoso Congo, para que as opções de aguada e a segurança
fossem melhor garantidas aos recém-chegados europeus, foi escolhida, como local
de abrigo e ancoradouro, a baía de Luanda, que comparativamente a Benguela e
mais tarde a Moçâmedes, tinha a vantagem do alargamento à sua latitude da
planície do litoral, uma planície bem irrigada e em todo o caso também com uma
baixa densidade populacional de ocupação autóctone.
Nas
proximidades da baía de Luanda, de norte para sul, fluíam rios como o M’Bridge,
o Loge, o Lifune, o Dange, o Bengo, o Cuanza, o Longa e o Queve, ou seja: numa
parcela de meridiano com cerca de 300 milhas náuticas, pelo menos 8 opções de
água doce.
Toda a geografia humana de Angola, em especial durante o período final do colonialismo, reflectiu o domínio português e os nexos de sua implantação, que determinaram os pólos de desenvolvimento que então foram implementados até 1975.
Toda a geografia humana de Angola, em especial durante o período final do colonialismo, reflectiu o domínio português e os nexos de sua implantação, que determinaram os pólos de desenvolvimento que então foram implementados até 1975.
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Angola, cujo desenho de espaço físico-geográfico deriva grosso modo da
Conferência de Berlim, reflecte até hoje as migrações bantu e portuguesa e os
seus impactos, implicadas na maior ou menor densidade das articulações humanas
de nossos dias.
As
migrações bantu chegaram por terra, numa cadência mais espaçada e lenta, em
circuitos que não se apagaram: com a expansão dos desertos a norte do
continente (Sahara e Sahel), a compressão sobre a região da água interior
aumentou (RDC e Grandes Lagos, mas também Angola) e os caudais humanos
continuam a fluir, agora de origens mais alargadas (das regiões inóspitas de
desertos quentes, para as regiões com água interior).
A
nível internacional só se tem dado relevo às migrações africanas de sul para
norte (atravessando o Mediterrâneo e tendo como maior origem as regiões do
Sahel), após o desastre do ataque da Pentágono e da NATO à Líbia em 2011, mas a
migração do Sahel para sul não tem sido acompanhada, nem estudada,
esquecendo-se por completo as causas mais profundas (a incessante busca por
espaço vital em África) e outras causas (o financiamento de redes migratórias
de toda a espécie, algumas delas de origem wahabita-sunita), que estimulam essa
deriva atraída pelo espaço vital e pelas riquezas minerais na RDC, Grandes
Lagos e em outros países da Africa Austral, com Angola em destaque.
A
migração portuguesa, que em função das questões antropológicas e inerentes ao
secular processo colonial se tornou dominante embora sendo sempre minoritária a
partir do século XV, chegou por mar até praticamente a década de 70 do século
XX e por isso influenciou sobremodo na implantação e no crescimento das áreas
urbanas concentradas em Luanda e Benguela (hoje Lobito-Catumbela-Benguela), que
se tornaram em princípios da década de 70 do século passado, dois dos
principais polos de desenvolvimento e testas-de-ponte da penetração em direcção
ao interior.
No
essencial a geografia humana do país e a ossatura infraestrutural, estrutural e
de natureza económica, resulta da conjugação das duas fluências mas reflectindo
o domínio colonial, concentrando-se essencialmente num amplo triângulo com base
em toda a linha de costa e vértice na Região Central das Grandes Nascentes, que
se pode considerar de ocupação, influindo nos outros três triângulos (de
intervenção) a norte, leste e sul.
Esse
triângulo tem no traçado do rio Cuanza um factor hidrográfico limitativo de
vulto e, com as acções inscritas no Exercício ALCORA, entre as autoridades
coloniais portuguesas e as do “apartheid”, (desde a segunda metade da
década de 60 até 1974 no século XX) em relação ao “plano do Cunene”,
reforça a metade sul do triângulo oeste do território em relação às medidas de
ocupação do território e maior densidade da malha político-administrativa.
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No fundo o colonialismo português catalisou a atracção humana no triângulo
oeste, longe das fronteiras, fundamentalmente por que se por um lado foi muito
penosa a sua penetração no interior, por outro lado esse interior
transfronteiriço era sujeito às razias dos tempos em que os africanos eram
levados à força, para serem utilizados como mão-de-obra escrava na América.
Refira-se
que faz precisamente um século que não conseguiam ainda dominar a bolsa de
resistência nos Dembos, que só seria vencida em 1918 e 1919 graças aos reflexos
do investimento de origem anglo-saxónica: início da implantação da Diamang nas
Lundas e a criação do Caminho de Ferro de Benguela.
A
entrada desses interesses (indexados às potências com economias movidas com os
ganhos da revolução industrial), implicaram num maior desafogo económico e
financeiro, que beneficiaram a fazenda da atrasada colónia, (com os portugueses
a ganharem mais recursos para o exercício do seu domínio), acabando por via de
sangrentas campanhas com as resistências autóctones disseminada no espaço
colonial na década de 20, até à eclosão da Luta Armada de Libertação Nacional
em 1961.
Quer
dizer: mesmo com a independência e o exercício da soberania nacional durante 42
anos, não foi contrariada a projecção infraestrutural, estrutural e económica
do colonialismo português, em grande parte por que não se havia antes
conseguido um ambiente de ausência de tiros, apesar de ser possível implementar
em Angola uma geoestratégia para um desenvolvimento sustentável, onde se
poderão inscrever todas as iniciativas a muito longo prazo, no decorrer dos
próximos anos, décadas e nos próximos séculos!
Uma
geoestratégia para um desenvolvimento sustentável é uma projecção vital que
reflecte não mais a densidade e o peso dos processos coloniais, mas a
revitalização necessária e possível da nossa própria independência e soberania,
o renascimento africano dentro das fronteiras de Angola, gerando uma cultura
nacional de inteligência capaz de integrar todas as actividades humanas a
desenvolver futuro adentro, passando da tradicional região de ocupação (a de
maior densidade da malha político-administrativa), para a região de intervenção
(triângulos sul, leste e norte do quadrilátero territorial nacional)!
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O que tenho paulatinamente vindo a abordar ainda que a espaços, tem implicações
no espectro humano da complexidade nacional com uma geoestratégia para um
desenvolvimento sustentável integrador de filosofias, de conceitos, dos
programas, das acções e da formação da cultura inteligente do conhecimento e
domínio de todo o espaço nacional, tendo como referência fulcral a região
central das grandes nascentes (planalto do Bié) e iniciando-se com ela e
implementando-se a partir dela.
Assumir
uma geoestratégia a partir da região central das grandes nascentes (vide
Instituto Nacional de Recursos Hídricos –http://www.inrh.gv.ao/portal) organizando as acções
humanas, é desde logo controlar as nascentes dos grandes rios que a partir dela
dispersam, estabelecendo ao seu entorno parques naturais, reservas ou coutadas,
de forma a começar por proteger a biodiversidade desde logo nas origens dos
cursos de água, ou dos lençóis freáticos.
A
Lei das Águas (nº6/02, de 21 de Junho) terá de ser revista e adaptada portanto,
na previsão duma geoestratégia para um desenvolvimento sustentável para todo o
século corrente (até e para além de 2025).
As
universidades e institutos superiores poderão assim, a partir desse controlo
embrionário, fazer a sua integração nas actividades relativas às ciências da
natureza, ciências humanas e ciências exactas, promovendo os estudos e investigações
que há a realizar em função da rede hidrográfica nacional, dando início a uma
cultura de inteligência abrangente a partir do espaço fulcral do conhecimento
na região central das grandes nascentes, que leva em consideração o
inter-relacionamento homem – circuitos hidrográficos – ambiente.
A
partir dessa prioridade, fica aberta a oportunidade para o alargamento das
projecções por via dum conhecimento integrando parâmetros de desenvolvimento
sustentável e amigo da natureza, alargando-o paulatinamente até aos limites do
território nacional.
No
plano económico, necessário se torna desafiar a comunidade de especialistas a
fim de contribuírem para começarem a projectar em função dessa geoestratégia
para um desenvolvimento sustentável, tendo em conta alguns aspectos que já se
poderão começar a integrar nessas projecções, entre elas a produção nacional de
energia e os seus programas em curso.
A
vocação para a diversificação económica merece integração nessa geoestratégia
para um desenvolvimento sustentável.
As
acções e projecções poderão partir desse embrião para equacionar todos os
programas que se poderão levar a cabo futuro adentro com horizontes alargados
até aos próximos séculos, a partir do fulcro físico-geográfico-ambiental-humano
do país.
Entre
os programas já em curso que poderão ser indexados aos conceitos a desenvolver
no quadro dessa geoestratégia para um desenvolvimento sustentável, estão os que
se referem à produção de energia (“Angola Energia 2025” – http://www.angolaenergia2025.com/pt-pt; http://www.angolaenergia2025.com/pt-pt/conteudo/documentos).
Ao
nível do estado angolano o embrião para a geoestratégia pode integrar comissões
conjuntas que abarcam especialistas do Ambiente, da Energia e Águas, da
Geologia e Minas, da Educação, da Cultura, da Defesa, da Administração do
Território e de outros, de modo a formar a plataforma de conhecimentos do
embrião, a partir da qual se incrementará a cultura de inteligência nacional.
O
trabalho de energia e Águas é atá agora o que mais se aproxima duma
geoestratégia para um desenvolvimento sustentável e é necessário que o Ambiente
corresponda imediatamente à equação fundamental das nascentes da região
central.
Martinho
Júnior - Luanda,
28 de Outubro de 2017.
Imagens:
-
Centro geodésico de Angola;
-
Dois mapas indicadores da equação da água interior em Angola;
-
Trajectória do rio Cuanza, o maior inteiramente nacional e o maior em potencial
de energia hídrica;
-
Barragem de Capanda, que regula o caudal do curso médio do rio Cuanza;
A
consultar:
-
A lógica com sentido de vida – I – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/12/a-logica-com-sentido-da-vida-i.html
-
A lógica com sentido de vida – II – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/12/a-logica-com-sentido-da-vida-ii.html
-
A lógica com sentido de vida – III – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/12/a-logica-com-sentido-da-vida-iii.html
-
A lógica com sentido de vida – IV – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/12/clicar-para-ampliar-martinho.html
-
A lógica com sentido de vida – V – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/12/a-logica-com-sentido-da-vida-v.html
-
A geoestratégia para um desenvolvimento sustentável – http://paginaglobal.blogspot.com/2016/01/geoestrategia-para-um-desenvolvimento.html
- ANGOLA
DEVE REEQUACIONAR AS ABORDAGENS PARA REFORÇAR AS INICIATIVAS DE PAZ – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/05/angola-deve-reequacionar-as-abordagens.html
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