Presidente da Guiné-Bissau
recebeu representantes dos cinco partidos com assento parlamentar para discutir
a implementação de um roteiro para a saída da crise política no país.
Desentendimentos persistem.
Na reunião desta quinta-feira
(21.12.) esteve em cima da mesa a discussão de um roteiro que o chefe do Estado
guineense, José Mário Vaz, desenhou para a saída da crise política que assola o
país há mais de dois anos, que levará à implementação do Acordo de Conacri,
instrumento patrocinado pela Comunidade Económica de Estados da África
Ocidental (CEDEAO) com o qual se pretende acabar com a crise na Guiné-Bissau.
Mas, os líderes políticos
guineenses não se entenderam hoje quanto à proposta de saída da crise política,
com uns a criticarem as soluções avançadas pelo chefe do Estado e outros a
defenderem-nas.
À saída do encontro dos cinco
partidos representados no Parlamento, o grupo dos 15 deputados expulsos do
Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), na presença de
elementos da sociedade civil e comunidade internacional, foram visíveis as
divergências.
A direção do Parlamento também
foi representada na audiência, através do primeiro vice-presidente do órgão,
Inácio Correia.
Roteiro para a saída da crise?
Os líderes dos partidos PAIGC,
Domingos Simões Pereira, do Partido da Convergência Democrática (PCD), Vicente
Fernandes, do Partido da Nova Democracia (PND), Iaia Djaló e Agnelo Regala da
União para Mudança (UM), foram taxativos nas suas declarações aos jornalistas
em como mostraram a José Mário Vaz o seu desacordo com o roteiro.
Afirmam que o documento é
contrário ao espírito do Acordo de Conacri, instrumento patrocinado pelos
líderes da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) para
saída da crise na Guiné-Bissau.
No essencial, o acordo prevê a
nomeação de um primeiro-ministro de consenso dos partidos representados no
Parlamento e a confiança do Presidente guineense.
Os quatro partidos contrários ao
roteiro de José Mário Vaz não reconhecem o atual Governo liderado pelo
primeiro-ministro, Umaro Sissoco Embaló.
Acordo de Conacri deve ser
cumprido
Para Domingos Simões pereira,
líder do PAIGC partido vencedor das últimas eleições, mas vedado ao poder diz
que não deve haver outro roteiro que não seja o acordo de Conacri. "Nada
de especial, ouvimos uma retórica de apresentações que não tem nenhum
enquadramento com aquilo que é o Acordo de Conacri e limitamo-nos a lembrar ao
senhor Presidente da República que o nosso engajamento é com o acordo e não
pode haver roteiro de implementação que contraria o próprio acordo. O PAIGC não
reconhece nenhum roteiro que vise essa implementação.
O próprio acordo de Conacri já
estabelece um roteiro. Seria completamente inusitado evocar um roteiro para
implementar um roteiro".
Mesma opinião tem o líder do
Partido da Nova Democracia (PND), Iaia djaló. "O Acordo de Conacri
não passa de um roteiro. O acordo de Bissau é um princípio que levou os
políticos a Conacri, daí elaborou-se um acordo. Este documento reflete exatamente
um roteiro. Isso que o Presidente nos propõe, não concordamos".
Por seu turno, o líder do Partido
da Convergência Democrática (PCD), Vicente Fernandes diz que a proposta do
chefe de Estado, foi mais um dito por não dito. "Perante o que assistimos
agora, é o Presidente a dar mais uma vez o dito por não dito. Pensamos que isso
não passa de mais uma brincadeira do Presidente da República. Uma tentativa
para corresponder com o seu programa político tendente a manter o país tal como
está. Estamos pouco otimistas quanto ao cumprimento do Acordo de Conacri que é
a única saída para a crise na Guiné-Bissau".
Também Agnelo Regala, líder da
União para a Mudança (UM) apontou "o cumprimento integral do Acordo de
Conacri como a solução para crise". Já Inácio correia, primeiro
vice-Presidente do Parlamento garante que é impossível a retoma das sessões
parlamentares com um Governo ilegítimo. "Pedimos ao Presidente da
República que cumpra o acordo de Conacri, que passa necessariamente pela
exoneração do primeiro-ministro e a nomeação do novo, porque Assembleia não
pode caucionar um Governo inconstitucional".
Jorge Gomes, da sociedade civil
defende a implementação do Acordo de Conacri com vista a minimizar o sofrimento
do povo guineense. "Achamos que o Presidente da República deve
comprir na íntegra o Acordo de Conacri, porque foi rubricado pelos partidos
políticos e o Parlamento. Portanto, este novo roteiro, vai dilatar os prazos,
numa altura em que a polução já está cansada e o país precisa sair da situação
em que se encontra".
Do outro lado, o coordenador do
grupo dos 15 deputados expulsos do PAIGC, Braima Camará e o representante do
Partido da Renovação Social (PRS), Certório Biote, concordaram com o documento
e dizem ser "único caminho" para "se acabar, de forma
definitiva" com a crise no país.
Recorde-se, que na quarta-feira
(20.12.), o Presidente guineense reuniu-se com o mesmo propósito com os
partidos sem representação no Parlamento, as confissões religiosas e os líderes
tradicionais.
Fátima Tchumá Camará (Bissau),
Agência Lusa | em Deutsche Welle
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