Relatório
do ano passado dizia que 62 bilionários detinham tanta riqueza quanto 50% da
população. Desta vez o relatório diz que este número se reduz a oito
Flavio
Aguiar, de Berlim – Carta Maior
Começa
nesta segunda-feira (16.01) o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. O
ministro Henrique Meirelles comparecerá levando a missão de atrair
investimentos, comprovando que agora o Brasil é um país “sério” que finalmente
está enfrentando “seus problemas”.
Naturalmente
a mídia conservadora brasileira deverá apresentar o esforço de Meirelles como
bem sucedido. Não se esperam surpresas deste lado.
Mas
mais uma vez o esforço do governo brasileiro estará na contramão. Desde pelo
menos o ano passado o Fórum Econômico, ao contrário do que fazia antes, quando
apresentava quase sempre uma visando positiva na economia mundial, vem
apresentando um balanço problemático do tema, apontando o aprofundamento da
desigualdade como a espinha dorsal dos problemas do planeta.
Os
dados são cada vez mais estarrecedores. No ano passado o relatório da Oxfam -
um conglomerado de dezenas de ONGs e associações semelhantes que atuam em mais de
90 países, apresentado no mesmo Fórum, dizia que 62 bilionários detinham tanta
riqueza quanto 50% da população mundial. Desta vez o relatório diz que este
número se reduz a oito. Se levarmos em conta os outros 56 do relatório passado,
a desigualdade terá dados mais dramáticos ainda.
Estes
bilionários são: Bill Gates, da Microsoft, Amansio Ortega, da Zara, Carlos S.
Helm, da mexicana Carso, Warren Buffet, da Berkshire Hathaway, Jeff Rezos, da
Amazon, Mark Zuckerberg, da Facebook, Larry Ellison, da Oracle tech, e Michael
Bloomberg, da Bloomberg News. Juntos, eles detém uma riqueza avaliada em 426
bilhões de dólares, que corresponde ao valor das posses de 3,6 bilhões de
pessoas na outra ponta da pirâmide social planetária. Diz a Oxfam que a
reavaliação decorreu da obtenção de dados mais precisos sobre estas empresas e
também sobre a pobreza no mundo, sobretudo na Índia e na China.
Olhando-se
o universo destas empresas, observa-se que:
1.Microsoft,
Oracle, e Facebook atuam na frente virtual e proximidades.
2.A
Amazon também atua na frente virtual, especializada em vendas de produtos
editoriais.
3.A
Berkshire Hathaway é uma empresa especializada em administrar outras empresas,
e faz algum tempo se especializa em compra-las, agregando-as ao seu
conglomerado.
4.A
mexicana Carso se especializa em infra-estrutura e energia, macro-construções e
no varejo destes setores.
5.A
Bloomberg News é hoje um conglomerado de empresas especializadas em informações
para o setor financeiro.
6.A
galega Zara é uma rede de vestimentas, calçados e produtos afins para mulheres
e crianças.
Todas
elas têm uma atuação em escala planetária.
Foi-se
o tempo, portanto, em que o Fórum de Davos e o Fórum Social Mundial, que nasceu
em 2001, em Porto Alegre, eram antípodas. O FSM perdeu muito de seu ímpeto, ao
recusar uma aproximação mais diretamente política (sem cair no partidarismo)
dos temas mundiais. O Fórum de Davos continua em grande parte dedicado a
apresentar soluções paliativas para os problemas mundiais, mas pelo menos vem
se aproximando mais de um quadro realista da desigualdade planetária.
Quanto
a Porto Alegre, hoje presa de uma plêiade de políticos e de uma classe média
que se tornou largamente conservadora, deixou de ser “a capital do século XXI”
que já foi. E como um todo o Brasil do governo ilegítimo de Michel Temer se
afunda cada vez mais no pântano da desigualdade. Segundo dados da OIT, em 2017
um entre cada três novos desempregados no mundo será brasileiro.
Créditos
da foto: reprodução