domingo, 14 de maio de 2017

PORTUGAL À SOMBRA DE AMBIGUIDADES AINDA NÃO ULTRAPASSADAS – V


Martinho Júnior | Luanda 

Em saudação aos 60 anos do MPLA, aos 52 anos da passagem do Che por África e aos 43 anos do 25 de Abril… e assinalando os 50 anos do início do “Exercício ALCORA” e os 50 anos do início da Guerra do Biafra.

9- A hegemonia do “apartheid” em relação aos seus subsidiários, o colonialismo português e a “branca” Rodésia, reflectia-se, desde os alvores do Exercício ALCORA (1967), não só no ambiente sócio-político e militar (incluindo fornecimento de equipamentos e logística), mas também nos ambientes económicos e financeiros de interesse comum, como nas questões que se prendiam à diplomacia e aos serviços de inteligência.

Sob o ponto de vista económico e financeiro, antecipando tudo o mais, duas grandes iniciativas tiveram origem na capacidade geoestratégica, financeira e tecnológica da África do Sul, redundante do seu poderio na via da Revolução Industrial com impacto avassalador no sul do continente: o Plano do Cunene e a barragem de Cabora Bassa.

Em “ALCORA – O acordo secreto do colonialismo – África do Sul, o vértice do triângulo da aliança”(pag. 74), os autores confirmam:

“Para a África do Sul chegara o tempo de explorar as potencialidades das zonas de interesse mútuo com Angola e Moçambique.

Um dos grandes problemas do Sudoeste Africano era a falta de água e de energia.

Os grandes rios do sul de Angola constituíam uma reserva importante para suprir essas dificuldades e permitiriam instalar mais bancos e instalar mais minas.

Outro dos problemas da África do Sul era a falta de mão-de-obra para as minas do Transval.

A 13 de Outubro de 1964, foram assinados vários acordos entre Portugal e a África do Sul.

Um referia-se ao aproveitamento do Cunene, em Angola; um outro era relativo aos trabalhadores moçambicanos contratados para as minas, concedendo-lhes mais direitos e garantindo-lhes melhor protecção; e um terceiro tinha a ver com a instalação de meios de frio no porto de Lourenço Marques para apoiar a exportação de citrinos sul-africanos.

Estes acordos foram assinados durante uma visita do Ministro dos Negócios Estrangeiros sul-africano, Hilgard Muller, que salientou ao seu homólogo português, Franco Nogueira, as vantagens do aprofundamento das relações económicas e negou expressamente qualquer acordo militar.

WANNACRY, O VÍRUS GLOBAL QUE VEIO DE WASHINGTON


Milhões de computadores afetados, no mundo todo. Sistemas de saúde paralisados. O que ocorre quando os serviços secretos dos EUA criam ferramentas para roubar dados — e perdem o controle para criminosos

Sam Biddle, em The Intercept EUA | Outras Palavras | Tradução: Simone Paz Hernández

m meados de abril, um poderoso arsenal de ferramentas de software, aparentemente projetadas pela NSA para infectar e controlar computadores que usam sistema operacional Windows, foi vazado por uma entidade conhecida pelo nome de “Shadow Brokers” (agentes da sombra). Menos de um mês depois, a suposta ameaça de que criminosos usariam estas ferramentas contra o público em geral tornou-se real, e milhares de computadores no mundo inteiro estão agora paralisados, dominados por uma quadrilha desconhecida que exige uma recompensa.

O vírus que está assumindo o controle dos computadores denomina-se “WannaCry” ou “Wanna Decryptor”. Espalha-se de aparelho em aparelho silenciosamente e permanece invisível para seus usuários até que se revela como um chamado ransomware ou “vírus de sequestro”, informando a seus usuários que todos seus arquivos foram criptografados com uma chave que somente o agressor conhece, e que estes só serão liberados após o pagamento de 300 dólares a uma facção anônima, por meio da criptomoeda Bitcoin. O resgate aumenta para 600 após alguns dias; e, mais tarde, se o resgate não for pago, os arquivos do usuário são deletados. Os hackers fornecem um relógio de contagem regressiva de fácil acesso, com o qual as vítimas sabem exatamente quanto tempo lhes resta.

Vírus de sequestro (ransomware) não são algo novo; para as vítimas, um ataque desses costuma ser uma dor de cabeça colossal. Porém, o surto de hoje espalhou o vírus de sequestro numa escala maciça, atingindo não só computadores domésticos, como também sistemas da área de saúde, infraestruturas de comunicação, logística e entidades governamentais. Segundo a agência Reuters, “hospitais em toda a Inglaterra reportaram que o ciberataque estava causando enormes problemas em seus serviços, e as populações de áreas afetadas pelos ataques foram orientadas a procurar assistência médica somente em casos de urgência”. Além disso, “o ataque afetou os sistemas de imagem dos raio-x, resultados de testes patológicos, sistemas telefônicos e de atendimento aos pacientes”.

Espanha | FRANCO NÃO FOI NENHUM HERÓI, FOI UM FASCISTA ASSASSINO!


Parlamento espanhol aprova retirada de restos mortais de Francisco Franco de memorial

Resolução proposta pelo PSOE pede que Rajoy cumpra Lei de Memória Histórica, retirando restos mortais para que Vale dos Caídos 'deixe de ser um lugar de lembranças franquistas e católicas'

O Parlamento da Espanha aprovou nesta quinta-feira (11/05) uma resolução que pede a retirada dos restos mortais do ex-ditador Francisco Franco do memorial Vale dos Caídos, nos arredores de Madri.

A proposta, impulsionada pelo PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) e apoiada pelo Podemos e pelo Ciudadanos, pede a exumação dos restos mortais de Franco para que o memorial, onde se encontram desde 1975, “deixe de ser um lugar de lembranças franquistas e católicas e se transforme em um símbolo de irmanação e reencontro”. 

A moção não tem caráter de lei, mas exige que o governo de Mariano Rajoy, do conservador PP (Partido Popular), cumpra a Lei de Memória Histórica. A matéria exige também a retirada dos restos mortais de José Antonio Primo de Rivera, fundador da Falange Espanhola, partido único durante a ditadura franquista, do mesmo memorial, assim como a atuação para localizar e exumar fossas comuns de vítimas do franquismo, acabar com a subvenção pública a entidades que apoiem a ditadura ou a figura de Franco e a criação de uma Comissão da Verdade para investigar as violações de direitos humanos durante a Guerra Civil espanhola.

CONSTITUINTE


Apresentação de Martinho Júnior | Luanda 

OS PROGRESSISTAS DE TODO O MUNDO DEVEM A PARTIR DE SUAS TRINCHEIRAS, POR MAIS MODESTAS QUE ELAS SEJAM, ESTENDER A ONDA DE SOLIDARIEDADE AO REDOR DA INICIATIVA DO PRESIDENTE MADURO EM RELAÇÃO À CONSTITUINTE NA VENEZUELA BOLIVARIANA, QUE ABRE A VIA DA PAZ, ÚNICO GARANTE CAPAZ DE ESTIMULAR A LUTA CONTRA O SUBDESENVOLVIMENTO. E TODO O TIPO DE DESEQUILÍBRIOS HUMANOS E AMBIENTAIS NA TERRA!

OBSTRUIR POR TODOS OS MEIOS ESSA LUTA, COM AS ACÇÕES VIOLENTAS QUE A HEGEMONIA UNIPOLAR DELIBERADAMENTE FOMENTA, É ALGO QUE OS ANGOLANOS, TENDO EM CONTA A VIVÊNCIA DO CHOQUE NEOLIBERAL PROTAGONIZADA POR SAVIMBI, ENTENDEM E POR ISSO OS ANGOLANOS DEVEM JUNTAR A SUA VOZ AOS PROGRESSISTAS DE TODO O MUNDO PARA QUE A VENEZUELA BOLIVARIANA E TODA A AMÉRICA LATINA, ALCANCE A PAZ A FIM DE SE PODER ERGUER INDEPENDENTE, SOBERANA E DEMOCRÁTICA, DE FORMA A CONSTRUIR UM FUTURO MELHOR PARA TODOS OS SEUS POVOS!

NA VENEZUELA BOLIVARIANA A EMERGÊNCIA MULTIPOLAR TEM TODOS OS SENTIDOS POSTOS, POIS OS RELACIONAMENTOS SÃOS ENTRE AS NAÇÕES, OS ESTADOS E OS POVOS, É UM PATRIMÓNIO COMUM QUE URGE DEFENDER CONTRA AS OBSTINADAS INGERÊNCIAS DA HEGEMONIA UNIPOLAR!

CONSTITUINTE

Publicado em 06 de maio, 2017

Elías Jaua Milano

Ante a decisão de uma parte da oposição venezuelana de abandonar o espaço da política democrática, escolhendo o caminho da violência e da intervenção estrangeira, o Presidente Nicolás Maduro tomou a iniciativa constitucional de convocar a uma nova etapa do processo constituinte convocado inicialmente por nosso Comandante Chávez, desde 1999, como a opção que possibilita uma via eleitoral em todas as ordens e que resolve o problema da injustificável negação da oposição a dialogar com o governo legítimo e legal da República.

O objetivo é obter um novo desencadeante histórico, como o ocorrido em 1998, quando escolhemos a nosso Comandante Chávez, que permita a nosso povo seguir o rumo pacífico das transformações profundas que necessita nossa sociedade, deixando de lado as ameaças de golpe de Estado, guerra civil ou intervenção estrangeira.

A convocatória do Presidente Maduro tem ocupado a agenda política nacional, isolando cada dia mais aos violentos. No fragor do debate tem surgido as primeiras interrogantes, que tentarei responder neste artigo:

AS ELEIÇÕES EM FRANÇA: VITÓRIA DO “CENTRO” OU DA EXTREMA-DIREITA?



João Carlos Graça [*]

Comecemos por registar que alguns dos traços das recentes eleições presidenciais francesas não constituem, de facto, qualquer novidade. O sistema de eleições em duas voltas consiste nisso mesmo: é suposto votar-se, no segundo turno, no 'mal menor'; o que significa que, tradicionalmente, a direita política francesa usa a primeira volta como um análogo das 'primárias' norte-americanas, os diversos alinhamentos dos sistemas de patronagem e das clientelas determinando, em cada caso concreto, quem sobrevive e quem fica pelo caminho. Por outro lado, mantém habitualmente ao largo (e em respeito) a direita secessionista, ou de inclinações secessionistas, a qual é deste modo forçada à vassalagem face ao 'centro-direita', originariamente gaullista. À esquerda, o sistema das duas voltas é suposto dar (e realmente dá) jeito sobretudo ao 'centro-esquerda', ou 'esquerda moderada', isto é, inicialmente a SFIO, aliás o PS, castigando a 'esquerda radical', ou seja, o PCF.

A verdadeira especificidade francesa reside no facto de, com a V República, este método ter sido transplantado também para a eleição de deputados nas legislativas. Assim, se antes, com o sistema eleitoral proporcional, o PCF obtinha usualmente mais votos do que a SFIO, e por isso elegia também mais deputados, já com este outro sistema (maioritário em duas voltas) introduziu-se uma assimetria sistemática, que a prazo era suposto constituir (e realmente constituiu) um veneno letal para o PCF. Porquê? Porque, enquanto a eleição dum candidato 'moderado' à esquerda, na primeira volta, garantia quase sempre a vitória na segunda volta (cavalgando a proverbial fidelidade do eleitorado comunista, e na verdade abusando dela), já a eventualidade de ser o candidato do PC a passar ao segundo turno passou a prenunciar derrota quase certa da esquerda: por desinteresse duma parte do eleitorado PS, por cálculo cínico, por mero encolher de ombros ou qualquer outra razão.

ACORDAR DO SONHO


Afonso Camões* | Jornal de Notícias | opinião

Não fora o Papa, o Benfica ou o Salvador, a maré-cheia dos noticiários estaria, desde sexta-feira, no ataque informático de grandes dimensões que atingiu sobretudo empresas de telecomunicações e energia, mas também a Banca e, no caso britânico, os hospitais do serviço nacional de saúde. "Um ciberataque sem precedentes", diz a Europol, o gabinete europeu de polícias de investigação. Foram mais de 40 mil incidentes em 74 países, Portugal incluído. Nalguns casos, os piratas reclamam resgate em troca de informações sequestradas nos computadores violados. Confirma-se a profecia do antigo diretor de segurança norte-americano, James Clapper que, há um ano, alertava que os ataques cibernéticos são ameaça maior do que o terrorismo jiadista.

Lembram-se de a Internet nos sorrir como um espaço de liberdade? Ali não existiam estados, nem fronteiras, nem ideologias, nem poder. Havia apenas pessoas livres, navegando e comunicando entre si. Esse sonho libertário, imaginado por jovens de jeans e sapatilhas, é cada vez mais uma utopia irrealizável. Em mãos criminosas, a Internet é também arma de crime. E converteu-se hoje num espaço de competição geopolítica que os estados aspiram a controlar. Ou a evitar que outros controlem.

O mapa-mundo da pirataria digital é arrepiante. Os ataques, ou invasões, na forma de vírus ou cavalos de Troia, podem roubar códigos de acesso a contas bancárias ou alterar e destruir redes elétricas, sistemas de abastecimento de água, centrais nucleares. Ou seja, podem afetar severamente a vida dos cidadãos e o normal funcionamento das economias.

As maiores e mais ricas empresas do Mundo são desse universo de inteligência eletrónica. Nenhuma delas é europeia. Fora do alcance dos nossos olhares há também uma geração de armas digitais, com enorme poder de destruição. E nesse jogo perigoso, China, Rússia, Israel e Estados Unidos vão à frente. Assim como a pólvora ou a máquina a vapor redistribuíram o poder entre os estados, estamos perante uma nova revolução. E, nesta, só sobrevive em liberdade quem dominar a tecnologia digital. A Europa poderia disputar e ganhar o jogo, tem os recursos para isso. Mas antes deveria tomar consciência de que o seu futuro se joga aí: generalizar as redes, aperfeiçoar o mercado interno digital, mais wi-fi e sem roaming, e, sobretudo, fomentar e reter a inovação, para que os nossos jovens talentos não tenham de emigrar para as Silicon Valley deste Mundo, em busca de capital e oportunidades.

* Diretor

Autárquicas Porto | "Rui Moreira devia assumir a responsabilidade pelo que fez" - Galamba


Rui Moreira recusou apoio do PS, que optou por apresentar o candidato Manuel Pizarro.

João Galamba é perentório no momento de apontar culpas pela polémica que se instalou em torno do PS, de Rui Moreira e da Câmara Municipal do Porto. Para o deputado, é o atual presidente (e candidato às próximas eleições autárquicas) quem deve assumir responsabilidade por aquilo que considera ser uma mudança de ideias.

“Era conhecido que o PS se juntou ao movimento de Rui Moreira a seguir às eleições porque não estava asseguradas as condições de governabilidade na Câmara Municipal do Porto. Foi um parceiro importante neste projeto nos últimos quatro anos e era desejo do PS continuar essa colaboração, porque faz sentido que um movimento e um partido que governaram juntos uma cidade se apresentem conjuntamente numas eleições”, começou por explicar o socialista, apontando culpas ao candidato independente.

“O Rui Moreira, à ultima hora, entendeu que não seria assim e agora tenta arranjar algumas desculpas. Acho que devia assumir a responsabilidade pelo que fez e não tentar desculpar-se com outros, como é o caso do secretariado nacional do PS. Eu posso garantir que no secretariado nacional não foi dito nem feito nada que pudesse justificar esta decisão”, garantiu o deputado.

Beneficiado com a controvérsia pode vir a ficar o candidato social-democrata, assumiu Marco António Costa na ‘Edição da Noite’ da SIC Notícias.

“O PSD tem um candidato de altíssimo nível. O professor Álvaro Almeida é um experiente gestor publico e alguém de uma capacidade política a toda a prova, apesar de não ser conhecido do ponto de vista mediático”, elogiou o social-democrata.

Goreti Pera | Notícias ao Minuto

Eliseu | Emmanuel Macron tomou posse e tornou-se no mais jovem Presidente de França


Emmamuel Macron tomou hoje posse do cargo de Presidente da República de França, tornando-se, com 39 anos, o mais jovem chefe de Estado do país.

No seu primeiro discurso como Presidente francês, Emmanuel Macron destacou que "os franceses elegeram a esperança e o espírito de conquista".

"O mundo e a Europa necessitam hoje, mais do que nunca, de uma França forte e segura do seu destino", que traga a voz da liberdade, que saiba inventar o futuro, afirmou.

O Presidente cessante, François Hollande, já tinha deixado o Palácio do Eliseu, recebendo aplausos dos convidados e dos populares que se encontravam em frente do edifício, depois de ter passado a pasta a Emmanuel Macron.

Depois de um encontro de cerca de uma hora com o anterior Presidente, o novo chefe de Estado acompanhou François Hollande ao automóvel e voltou à entrada do palácio, dando a mão à sua mulher, Brigitte.

Lusa | Notícias ao Minuto

Moscovo e Pequim "preocupados com escalada da tensão" após míssil da Coreia do Norte


A China e a Rússia estão "preocupadas com a escalada de tensão" na península coreana, após o lançamento de um míssil pela Coreia do Norte em violação das resoluções da ONU, afirmou hoje o Kremlin.

O Presidente russo, Vladimir Putin, e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, "discutiram em detalhe a situação na península coreana" durante um encontro, em Pequim, e "as duas partes exprimiram a sua preocupação para com uma escalada de tensão", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, aos jornalistas.

A Coreia do Norte levou hoje a cabo um novo teste de míssil, a partir da sua base de Kusong, a norte de Pyongyang.

As autoridades sul-coreanas indicaram que o míssil, disparado às 05:27 (21:27 de sábado em Lisboa), percorreu cerca de 700 quilómetros antes de cair no Mar do Japão, pelo que o ensaio terá sido bem-sucedido, considerando tratar-se de um míssil balístico, apesar de continuarem a proceder à análise dos detalhes do lançamento para determinar o tipo de projétil em causa.

A China já tinha apelado à contenção, reiterando a sua oposição às violações das resoluções do Conselho de Segurança da ONU por parte da Coreia do Norte, num comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

"Todas as partes envolvidas devem exercer contenção e abster-se de aumentar a tensão na região", afirmou, poucas horas depois do lançamento do míssil.

Lusa | Notícias ao Minuto

FRANCISCO E A OPOSIÇÃO INTERNA



Pedro Silva Pereira* | Jornal de Notícias | opinião (ontem às 00:06)

Francisco não fez segredo: vem a Fátima como peregrino da esperança e da paz. São certamente interessantes os debates sobre as aparições, que afinal foram "visões"; as controvérsias sobre a história centenária do santuário ou as discussões sobre a canonização dos pastorinhos. Tudo isso, porém, é desconversar do propósito anunciado pelo próprio Papa Francisco: recentrar a mensagem de Fátima no tema da paz - essa paz de que o Mundo de hoje tanto precisa.

Tem sido exatamente esse o desígnio deste Papa que veio do outro lado do Mundo: recentrar a mensagem da Igreja. O nome Francisco, aliás, resume exemplarmente todo um programa e a visão de uma Igreja diferente: uma Igreja pobre e atenta aos pobres; uma Igreja em saída, presente nas periferias onde se vivem os mais dolorosos dramas humanos, como em Lampedusa; uma Igreja onde os confessionários não sejam câmaras de tortura e que se assemelhe a um "hospital de campanha", lugar de acolhimento e misericórdia para todos os que carregam as marcas da jornada da vida. Evidentemente, tem ainda muito que andar esta Igreja que o Papa diz anestesiada. Todavia, também é verdade que com este seu pontificado surpreendente, cheio de gestos proféticos, Francisco alcançou já um feito notável: relançou a esperança na renovação da Igreja Católica.

São três os domínios onde mais se fez sentir o movimento renovador lançado pelo Papa Francisco: primeiro, a reforma da Santa Sé, onde afrontou corajosamente interesses instalados e impôs regras de transparência, incluindo na gestão financeira do Vaticano; segundo, a abertura, limitada mas importante, no tratamento de temas fraturantes, como o acesso à comunhão pelos recasados, o acolhimento dos homossexuais, a ordenação sacerdotal de homens casados ou a ordenação de mulheres diaconisas; terceiro, a nova tonalidade introduzida na doutrina social da Igreja, não tanto nas questões da pobreza e da ecologia - onde aprofundou temas já tratados pelos seus antecessores - mas sobretudo na denúncia frontal das desigualdades como problema estrutural desta "economia que mata" e que só pode ser enfrentado através de uma intervenção não assistencialista do Estado, orientada para a redistribuição da riqueza e para a justiça social.

Em todos estes domínios em que o Papa Francisco deu sinais de uma ambição renovadora, teve pela frente uma oposição enérgica que veio do interior da própria Igreja. Uns, disfarçando o incómodo, desvalorizam o movimento de mudança, reduzindo tudo à linguagem colorida de um Papa latino-americano ao qual é preciso dar um certo desconto porque não sabe nada de economia e não quer saber do rigor dos conceitos. Outros, que perderam a paciência, enfrentam-no já em campo aberto, multiplicando pronunciamentos e abaixo-assinados, e chegando ao ponto de promover uma campanha de cartazes contra o Papa nas ruas de Roma. Nunca se viu nada assim, mas também nunca tinha havido um Papa Francisco.

* Eurodeputado

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