sábado, 14 de outubro de 2017

A Primeira Greve Geral de Porto Alegre e o líder negro Francisco Xavier da Costa (1871-1934)


Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite* | Porto Alegre | Brasil 

Há 111 anos, em outubro de 1906, ocorreu a primeira Greve Geral em Porto Alegre, conhecida como a “Greve dos 21 dias”, que reivindicou, entre outras coisas, oito horas de trabalho. Contando em torno de 3.500 operários, estes ocuparam as ruas e praças de Porto Alegre. Uma característica desta greve foi o número expressivo de trabalhadores estrangeiros e de mulheres operárias.

O intendente (prefeito) de Porto Alegre, na época, era o engenheiro José Montaury (1858-1939), e Antônio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961) governava o Estado. A ideia de uma paralisação se gerou entre os marmoristas, que se reuniam na Escola Eliseu Reclus, na Rua dos Andradas nº 64, sob o comando do líder anarquista Polidoro Santos (1881-1924),
  Já o grupo socialista era representado pelo líder negro, gráfico e jornalista Francisco Xavier da Costa (1871-1934) e por Carlos Cavaco (1878-1961). O primeiro criou, em 1897, o Partido Socialista Rio-Grandense, e o segundo, considerado o “verbo de fogo”, incendiou, com sua oratória, a classe trabalhadora. Ambos fundaram, em 1906, a Federação Operária do Rio Grande do Sul (FORGS).

Além dos marmoristas, outras categorias aderiram à Greve, como carpinteiros, marceneiros, pintores, alfaiates, tecelões e estivadores. Após oito dias, a paralisação dos serviços industriais era quase total. Os comerciários aderiram quando esta se encontrava em sua fase final.ideias criativas para ganhar dinheiro
 Quanto à sua condução, os anarquistas defendiam a neutralidade e a independência política dos sindicatos, divergindo nesta questão do grupo socialista. A discussão na imprensa ocorria entre jornal anarquista A Luta, relançado, em 1906, por Polidoro  Santos e pelo gráfico José Rey Gil, e o jornal socialista, A Democracia (1905-1908), criado pelo líder Francisco Xavier da Costa. Um verdadeiro duelo de palavras ocorria entre os seus redatores.

No decorrer da Greve, Alberto Bins (1869 - 1957) - representante dos industriais – e o líder Francisco Xavier da Costa chegaram a um acordo, no qual ficou estabelecido a jornada de trabalho de nove horas. ideias criativas para ganhar dinheiro

Embora as diferenças, no campo ideológico, anarquistas e socialistas tinham objetivos, em comum, como lutar por melhores condições de trabalho, reduzir a excessiva carga horária do operário, exigir aumento salarial, além de denunciar os maus tratos sofridos pelos operários. Durante a greve, o policiamento foi ostensivo, e os piquetes tentavam impedir os chamados “fura-greves”. No dia 9 de outubro de 1906, os operários descontentes quanto à proposta, da classe patronal, de 9h diárias, decidiram permanecer em greve. Seguiram-se várias prisões…
   
Em 21 de outubro de 1906, a greve chegou ao seu término, embora os conflitos, entre operários e patrões, continuassem. Os anarquistas, por meio do jornal A Luta, denunciavam que, ao contrário do que outros jornais divulgavam, ocorriam punições e demissões, quando o operário retornava ao trabalho. As arbitrariedades, com certeza, eram resultado da ausência, na época, de uma legislação trabalhista, que garantisse os direitos dos operários. Encerrada a greve, a categoria dos marmoristas, que deu início à greve, seguiu na luta até conquistar a carga diária de oito horas.     

De acordo com o jornalista João Batista Marçal, o líder socialista Francisco Xavier da Costa se deixou envolver pelo jogo da política burguesa. Ao perder espaço, na FORGS, para os anarquistas, ele concorreu, em 1912, pelo Partido Republicano Rio-Grandense (PPR). Eleito, em 1912, com 4337 votos, foi o primeiro vereador negro de Porto Alegre.  A Greve Geral de 1906 foi um marco da luta operária em nosso Estado.

*Pesquisador e coordenador do setor de imprensa do Musecom


Imagens:  
1 - Polidoro Santos  / Acervo de Isabel Bilhão  
2 Jornal anarquista A Luta de 1906  Acervo de João Batista Marçal 
3 - Líder negro Francisco Xavier da Costa e seu jornal A Democracia (1906-1908)

Bibliografia:
MARÇAL, João Batista. A Imprensa Operária do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2004.
MARÇAL João Batista; MARTINS, Mariângela.  Dicionário Ilustrado da Esquerda Gaúcha. Porto Alegre : Libretos, 2008.
SCHMIDT , Benito Bisso. De Marmore e de Flores: a Primeira Greve Geral do RS / Porto Alegre, Outubro de 1906.  Porto Alegre : Editora da UFRGS,2005.

ANGOLA | A força do Governo saído das eleições



José Ribeiro | Jornal de Angola | opinião

O Governo saído das eleições entra em funções com uma elevadíssima quota de legitimidade política para levar por diante o programa sufragado nas urnas pelo povo.


Além de marcar a primeira transição política de liderança por via democrática em Angola, o que já, só por aí, lhe dá um grande poder discursivo e argumentativo, a vitória de João Lourenço e do MPLA por maioria qualificada abre um importante espaço de manobra política para os cinco anos de mandato.

Transportando ainda o valioso legado deixado pelos antecessores, base sobre a qual assentará a acção do Executivo, o poder democrático do Governo de João Lourenço e do MPLA é vasto, no quadro, evidentemente, daquilo que são os limites comumente reconhecidos.

O Governo tem também a enorme vantagem de reunir à sua volta toda a disponbilidade e solidariedade dos quadros nacionais e das populações para começar a fazer o seu trabalho. Geralmente, nos períodos após eleições, a essa posição de esperança diante do que aí vem de positivo, se chama expectativa. Mas em Angola, por causa, talvez, do sofrimento gerado pela guerra, essa atitude é particularmente sincera. As pessoas querem trabalhar e ver as coisas a andar, seja a que preço for, pois se isso acontecer, todos terão a ganhar. Essa postura ficou bem expressa no momento da paz, quando todos os angolanos se uniram à volta do nome “Angola”, vieram trabalhar para a terra e trouxeram outros. Este é um grande capital com que contam, hoje ainda, os nossos novos governantes.

No lema eleitoral de campanha do MPLA, “Corrigir o que está mal, Melhorar o que está bem”, ficou bem vincada a manifestação de vontade e de bondade dos nossos dirigentes políticos. Mas o “slogan” faz também repousar sobre o Governo uma grande responsabilidade face aos desafios que enfrenta. Além de corrigir e melhorar o que está feito, é preciso fazer coisas novas, mostrando que não vamos ficar apenas agarrados ao passado, mas ter os olhos postos no futuro, o que exige não somente vontade política e bondade, mas também estudo e elaboração de novas políticas e medidas acertadas, algumas das quais parecerão provavelmente impopulares, mas serão importantes para a economia e as populações.

Angola | O MEMORIAL DA BATALHA DO CUITO CUANAVALE E A HISTÓRIA





Terça-feira 19 de Setembro de 2017 ficou marcada pela inauguração de um Memorial à “Batalha do Cuito Cuanavale (BCC)”, um dos símbolos que representam não só uma das principais vitórias da luta pela soberania de Angola, mas também o cumprimento de um dos legados deixados pelo primeiro Presidente da República, Agostinho Neto.

General Paulo Lara*

O primeiro Presidente de Angola, da então República Popular de Angola. Agostinho Neto foi definindo desde sempre que um dos deveres indeclináveis de solidariedade e “internacionalismo” devidos ao nosso país eram a Independência da Namíbia e o fim do apartheid na África do Sul. José Eduardo dos Santos, após oito anos como Presidente e Comandante em Chefe das FAPLA, vencedor na luta contra a invasão sul-africana, inaugurou o monumento três décadas depois.

Ao ver as imagens na televisão, surgiram-me na memória companheiros com quem compartilhei alguns momentos históricos naquele teatro operacional: Sanjar, José Pedro, Ita, Ngueto, Piricas, Mingó e Cowboy que tiveram um papel importante em diferentes fases daquele período e que hoje já não compartilham este momento.

Para a maioria do povo angolano, “cúmplice” deste sonho e que contribuiu sofridamente para a sua concretização, e sobretudo para os combatentes e para os familiares dos heróis tombados durante a longa guerra, acredito ser alentador este reconhecimento para quem, afinal de contas, estava do lado certo da história, não só na defesa do país como no combate para a libertação total do continente africano.

Moçambique: REFLORESTAMENTO FICA-SE PELAS INICIATIVAS



Florestas continuam a desaparecer em Moçambique. Apesar das iniciativas de reflorestamento iniciadas, o cenário não melhorou. Para as ONGs estão na origem disso a falta de consciencialização ambiental e a corrupção.

Quando era Presidente, Armando Guebuza criou as iniciativas "um líder, uma floresta" e "um aluno, uma planta" e deixou orientações para o seu cumprimento. O objetivo principal era incentivar as comunidades para a criação de florestas.

Mas sete anos depois, já pouco se fala desses projetos e muitos são os alunos e líderes comunitários em Moçambique que não têm uma única floresta. Um deles é Estevão Rafael Ramiro, cabo do regulado de Monapo, na província de Nampula, no norte.

"Cada líder é obrigado a ter a sua floresta, é uma lembrança e é ordem. Cada líder quando morre deve deixar o seu património, então é obrigado a ter uma floresta. Mesmo eu não tendo uma floresta, tenho que dizer aquilo que sou orientado", explicou.

O atual Governo reconhece o fracasso no cumprimento das orientações presidenciais de expansão das florestas, mas já avança soluções. Xavier Sakambuera é o diretor nacional de Florestas no Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural.

Moçambique | PURA COVARDIA



@Verdade | Editorial

A intolerância política no país continua a ganhar proporções alarmantes sob olhar indiferente das autoridades que têm o dever de colocar cobro nessa situação. A título de exemplo, o assassinato do presidente do Conselho Municipal da Cidade de Nampula, Mahumudo Amurane, representa o cúmulo da violação de liberdade de expressão e política. Amurane foi ironicamente assassinado no “Dia da Paz” em Moçambique, na sua residência particular no bairro de Namutequeliua, por um indivíduo desconhecido que disparou três tiros à queima roupa.

O assassinato do edil de Nampula representa uma enorme tragédia não só para os munícipes de Nampula, mas também para o resto do país. Amurane não era apenas um edil, mas um homem comprometido com o seu povo e a sua cidade. Amurane mostrou que é possível estar no poder para servir o povo e não aos seus interesses pessoais, como temos vindo a assistir no país. Em menos de quatro anos, ele fez de Nampula uma cidade aprazível. Transformou os espaços da urbe e devolveu a dignidade aos munícipes.

O brioso trabalho de Amurane, certamente, causou inveja a um bando de incompetentes que olha para o Estado como se de uma vaca leiteira se tratasse. Num país governado por abustres, Amurane foi assassinado por ser uma pessoa idónea, íntegra e incorruptível.

É óbvio que os mandantes de crime aproveitaram-se do desentendimento entre o edil e o seu partido, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), para lograr os seus intentos. É demasiadamente óbvio que se tratou um acto para silenciar um indivíduo que se mostrava uma ameaça para os demais partidos políticos. Diante dessa situação, os munícipes de Nampula não pode permitir que este seja mais um assassinato sem desfecho. Os munícipes têm a responsabilidade de exigir justiça diante desse crime que representa um acto de pura covardia.

Não sejamos insensíveis como os mandantes desse bárbaro acto. Como munícipes de Nampula, olhando para o trabalho que Amurane fez, temos de ser capazes de exigir a justiça e responsabilização. Temos de ser capazes de protestar contra todos os actos bárbaros que vitima(ra)m muitos dos nossos compatriotas inocentes. Não podemos ser cúmplices de todas atrocidades cometidas contra homens honestos deste país e que pensam diferentes.

Amurane começou um projecto e não podemos deixar que os seus ideais morram. Deixemos de lado o medo, mesmo sabendo que, no momento da nossa luta contra esses bandidos que assaltaram o Estado, sejam enviadas a Unidade de Intervenção Rápida, armados até aos dentes, prontos para reprimirem, castrarem e até matarem sem dó nem piedade a todos que tiverem a ousadia de se lhes opuserem ou resistirem. Portanto, é preciso que nos lembremos de que “Somos todos Amurane”.

- Foto em Google

Fórum Luso-Asiático acusa Portugal de se ter "desligado" da comunidade portuguesa em Macau



Lisboa, 13 out (Lusa) -- O presidente do Fórum Luso-Asiático, Arnaldo Gonçalves, acusou hoje Portugal de se ter "desligado" da comunidade portuguesa em Macau desde que este deixou de ser território português.

"Portugal acompanhou as questões da China e de Macau enquanto Macau foi território português", afirmou à Lusa Arnaldo Gonçalves.

O Presidente daquela associação considera que, a partir desse momento, notou "nos vários governos e presidentes da República" um "desligamento relativamente à realidade" de Macau.

O Fórum Luso-Asiático, uma associação de cooperação e intercâmbio de Portugal com a Ásia e a China, organizou hoje uma palestra, em Lisboa, no âmbito do seu 20.º aniversário, denominada "Construir Pontes -- derrubar muros -- A relação especial Portugal/China".

Para o responsável, a postura do governo português contrasta com o interesse de outros países relativamente à região de Macau.

"Enquanto outros países começam a relação, nós temos uma de 440 anos com a China e deixamo-la fugir entre os dedos como areia", sublinhou, considerando a situação "incompreensível".

"Por um lado, Portugal está preocupado com o Brasil, e muito bem, está preocupado com a nossa comunidade em Angola e Moçambique, e muito bem, mas depois não se preocupa com Macau", referiu.

Governo timorense minoritário enfrenta na próxima semana primeiro teste no parlamento



Díli, 13 out (Lusa) - O VII Governo constitucional timorense, minoritário, enfrenta na próxima semana no Parlamento o primeiro grande teste com o debate do programa do Executivo a poder condicionar a vida no país até meados de 2018.

Um eventual chumbo do texto, para o qual são precisas duas moções de rejeição da oposição que controla 35 dos 65 lugares do Parlamento Nacional, implica a queda do Governo, que tomou posse há um mês, e abre o cenário a eventuais eleições antecipadas, condicionando o orçamento do Estado do próximo ano e a estabilidade política do país, de acordo com a legislação em vigor em Timor-Leste.

Ainda antes de receberem o documento preparado pela coligação da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e do Partido Democrático (PD), as restantes três forças parlamentares, Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Partido Libertação Popular (PLP) e Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), constituíram-se em bloco de alternativa de governação.

Na quinta-feira, as três forças consolidaram o acordo com a assinatura de um documento sobre a "plataforma de Aliança de Maioria Parlamentar" (AMP), o que faz regressar ao país os debates de há 10 anos, quando uma coligação liderada pelo CNRT - segundo mais votado nessa altura como este ano - liderou a primeira AMP para assumir o Governo.

Após semanas de negociações, o PLP e o KHUNTO acabaram por rejeitar fazer parte da coligação do Governo e o CNRT, cujo líder Xanana Gusmão tinha rejeitado qualquer coligação e garantido que daria estabilidade ao executivo, volta a liderar uma aliança contra a Fretilin.

Violência género e grupos artes marciais são preocupações em Timor-Leste -- estudo



Díli, 13 out (Lusa) -- A violência de género e de grupos de artes marciais são os maiores focos de conflito em Timor-Leste, país que apesar de jovem é mais pacífico do que "países com muito mais experiência" democrática, segundo um relatório.

O relatório "O estado da violência na Ásia", da Asia Foundation, analisa tendências históricas e atuais em 14 nações da Ásia, entre as quais Timor-Leste, considerando que o padrão de crescimento económico e urbanização poderão levar a um aumento de conflito e violência na região.

"Intrigantemente, Timor-Leste e a Mongólia são duas democracias que são mais pacíficas do que países como muito mais experiência na governação democrática", lê-se num dos artigos de análise do estudo, assinado pelos académicos Sana Jaffrey e Dan Slater.

A violência doméstica ou de género, refere o relatório, mata mais mulheres do que conflitos armados e, por isso, "deveria ter mais atenção dos legisladores, governantes e da comunidade internacional".

Em Timor-Leste, nota o estudo, "14% de todas as mulheres entre os 15 e os 49 reportam ter sido violadas" e o país tem a segunda maior taxa de abuso infantil na região.

Em termos gerais, Díli continua a ser o local onde se registam mais incidentes violentos, com o estudo a citar dados da Belun que refere que entre 2014 e 2016 se registaram mais de mil incidentes violentos, cerca de um terço do total que ocorreram no país.

"Uma ampla gama de fatores torna Díli vulnerável ao crime e à violência urbana, incluindo a rápida migração rural para a cidade, o desemprego juvenil, o crescimento de gangues", refere o estudo.

A DESESTABILIZAÇÃO PROVOCADA À ESCALA GLOBAL PELA HEGEMONIA UNIPOLAR…



ESTÁ A NU E EM DESESPERO DE CAUSA

Martinho Júnior | Luanda  

1- Quando em 2003 no ACTUAL me abalancei a interpretar os fenómenos que atingiam o Cáucaso, a Rússia e a Geórgia, sem esgotar o assunto consegui um nível de “radiografia” que tem contribuído para chegar a conclusões mais consolidadas em função de outras situações investigadas e estudadas ao longo do tempo, de então para cá.

Já naquela altura, 2003, era possível começar-se a aperceber, com o inventário das questões que se prendiam ao Cáucaso, quanto os interesses da hegemonia unipolar, perdida a vantagem que tiveram com o tandem Gorbatchov – Ieltsin, passaram a ter muito mais dificuldades com o tandem Putin – Medvedev, a ponto de serem obrigados a passar à defensiva, perdendo paulatinamente as posições geoestratégicas no supercontinente Eurásia.

Perdido o controlo fulcral sobre a energia e o gás na Rússia, a hegemonia unipolar não possuía alternativas geoestrategicamente coerentes para melhor equacionar os seus interesses e por isso, com base nas alianças do quadro da NATO, mas também as alianças com as monarquias arábicas e Israel, entrava nas disputas em relativa desvantagem, por que em qualquer intervenção, não haviam posições em grandes espaços consolidadas.

À “civilização judaico-cristã ocidental”, em contranatura com as culturas arabizadas (e muçulmanas), faltou a capacidade para atacar a transversal de longo-curso, que liga as costas do Pacífico às costas do Atlântico, faltou uma “belt and road”, faltaram os oleodutos e gasodutos extensos seguindo em“ossatura” os paralelos e alguns meridianos, faltou um projecto ao nível das implicações transcontinentais como a nova Rota da Seda.

2- Por isso mesmo, as condutas implicadas nos expedientes da hegemonia unipolar que sob o ponto de vista geoestratégico foram remetidas à defensiva em regime de relativa desconexão e pressão, só podiam retardar a emergência multipolar por via da promoção do caos, do terrorismo e da desagregação, até por que uma parte importante dos financiamentos (e das acções), tinham que passar por crivos em Israel e nas monarquias arábicas, tendo em conta que eram estas as produtoras de petróleo e de gás à disposição dos interesses da hegemonia unipolar, como era aquela a promotora das geoestratégias (mais limitadas) a sul da Rússia e da Ásia Central, “no terreno”, conforme foi potenciado o “IASPS” (“Institute for Advanced Strategic & Political Studies”).

CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES 2



Thierry Meyssan*

Desde há 16 anos, inúmeros debates despertaram os peritos de política internacional para determinar os objectivos da estratégia norte-americana. É evidentemente mais fácil chegar a uma conclusão após este período do que no seu início. No entanto, muito poucos o fizeram e muitos persistem em defender teorias que tem sido desmentidas pelos factos. Apoiando-se nas conclusões deste debate, Thierry Meyssan alerta para a etapa seguinte prevista para os exércitos dos E.U. segundo os seus teorizadores anteriores a este período ; uma etapa que poderá ser em seguida posta em prática.

As forças que idearam e planearam a aniquilação do «Médio-Oriente Alargado» consideravam esta região como um laboratório no qual eles iam testar a sua nova estratégia. Se em 2001, compreendiam os governos dos Estados Unidos, do Reino Unido e de Israel, entretanto, elas perderam o poder político em Washington e prosseguem o seu projecto económico-militar através de corporações multinacionais privadas.

Desenvolveram a sua estratégia usando, por um lado, os trabalhos do Almirante Arthur Cebrowski e do seu assistente Thomas Barnett no Pentágono, e por outro lado de Bernard Lewis e do seu assistente Samuel Huntington no Conselho de Segurança Nacional [1].

O seu objectivo é, ao mesmo tempo, adaptar o seu domínio às evoluções técnicas e económicas contemporâneas e de o estender aos países do antigo bloco soviético. No passado, Washington controlava a economia mundial através do mercado global da energia. Para o conseguir, impunha o dólar como moeda para todos os contratos de petróleo, ameaçando com a guerra qualquer contraventor. No entanto, este sistema não podia durar a partir da substituição parcial pelo gás russo, iraniano, catariano —e, em breve, sírio — do petróleo.

O pós-capitalismo particular de Mahatma Gandhi



Previu os desastres da alienação do trabalho, do consumismo, do maltrato aos animais. Defendeu uma vida frugal para todos e uma nova democracia, com controle social

Débora Nunes* | Outras Palavras

Há uma bela viagem a fazer com Mahatma Gandhi: acompanhá-lo em sua crítica ao capitalismo e sua proposta de uma sociedade pós-capitalista, a partir da evolução da consciência humana. Nem que seja uma viagem bem curta, apenas à sua premonitória visão ecológica sobre os desastres que o capitalismo promoveria, por ter sido feita no início do século 20, antes da existência da sociedade consumista de massas.  Quem me conduziu anos atrás nessa viagem foi o professor Jeevan Kumar, que dirigiu por muitos anos o Centro de Estudos Gandhianos vinculado à Universidade de Bangalore (Índia), onde fiz o meu pós-doutorado.  É com Jeevan que saímos juntos para essa viagem breve.

Em sua visão integral acerca do desenvolvimento da teia da vida, Gandhi afirmava, tendo em vista o capitalismo: “uma sociedade em que os trabalhadores são tratados como máquinas, em que os animais são explorados cruelmente nas fazendas industriais e em que a atividade econômica leva à devastação da natureza não pode ser concebida como uma civilização”.

Portugal | CONHECIDOS E DESCONHECIDOS NA OPERAÇÃO MARQUÊS



Francisco Louça | Público | opinião

Donald Rumsfeld, um assanhado falcão que foi ministro dos EUA durante as suas recentes guerras mesopotâmicas, celebrizou-se por poucas coisas. Era um homem de negócios, a sua empresa foi das grandes beneficiárias da guerra, a ocupação do Iraque foi uma bênção para o terrorismo e uma maldição para os árabes, não é fácil encontrar alguma coisa que o recomende. Mas pelo menos dizia ao que vinha.

Talvez por isso os participantes na cimeira da NATO de 2002 possam ter sido surpreendidos pela sua triste declaração:«A mensagem a transmitir é que não há “conhecidos”. Há coisas que sabemos que sabemos. Há desconhecidos conhecidos. Isto é, há coisas que agora sabemos que não sabemos. Mas também há desconhecidos que desconhecemos. Há coisas que não sabemos que não sabemos.» De um chefe de guerra que conduz as tropas, mesmo que à confortável distância de um ecrã de videojogo, esperava-se certamente mais garbo. Mas as coisas são como são e Rumsfeld ficou-se por esta charada, só há “desconhecidos conhecidos” e “desconhecidos desconhecidos”, seja lá o que isso for.

Pois o caso da Operação Marquês contra José Sócrates, que agora chegou à acusação, prova que Rumsfeld não viu o filme todo: também há outra classe que ele esqueceu, a dos “conhecidos desconhecidos”. Um conhecido desconhecido é um ser bizarro, que está à nossa frente e não sabemos bem o que seja. Tem cheiro e cor, mas ao que vem, isso é desconhecido. O caso Marquês é esse bicho. O processo jurídico, o nosso conhecido (afinal já leva quatro anos de fugas de informação para o Correio da Manhã), se é alguma coisa pela certa, é só uma ponta do iceberg, esse sim menos conhecido, das relações entre política e negócios.

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