terça-feira, 17 de outubro de 2017

IRRACIONALIDADE HUMANA!



 Martinho Júnior | Luanda  

... “Una importante especie biológica está en riesgo de desaparecer por la rápida y progresiva liquidación de sus condiciones naturales de vida: el hombre.

Ahora tomamos conciencia de este problema cuando casi es tarde para impedirlo”…

… “Cesen los egoísmos, cesen los hegemonismos, cesen la insensibilidad, la irresponsabilidad y el engaño.
Mañana será demasiado tarde para hacer lo que debimos haber hecho hace mucho tiempo”.


1- Por incrível que possa parecer a um extraterrestre recém-chegado à Terra, ainda que sábio conhecedor das infinitas linguagens da nossa Torre de Babel, o homem está hoje em unidade, com os sentidos em uníssono nas coisas que ao espaço dizem respeito em pleno século XXI, mas dilacera-se à superfície, na agónica atmosfera, como nas profundezas do subsolo, como se estivesse no século XII, ou XIII, ali onde se sente feudalmente sugado até à morte…

Será um efeito da gravidade do misterioso planeta azul que é sua casa comum?…

Mesmo que o extraterrestre conseguisse decifrar todas as linguagens e gestos humanos, ser-lhe-ia indecifrável esse comportamento do homem com os pés no chão e consciência no espaço, mesmo que percebesse muito de psicologia, de sociologia, da antropologia, de história, de economia, de finanças e até do homem voltado para a fascinação exterior…

A Terra assemelha-se de facto, com essa humanidade, neste ano da graça cristã de 2017, a uma azotada nave de loucos!...

LÍDERES EUROPEUS SEM FILHOS, SEM INTERESSES DIRETOS NO FUTURO DA EUROPA



Alberto Castro*, Londres

CURIOSO!

Phil Lawyer fez um balanço sobre os líderes da Europa

O recente eleito presidente da república francesa, Macron, não tem filhos
A Chanceler, Angela Merkel, não tem filhos
A PM do Reino Unido, Theresa May, não tem filhos
O PM de Itália, Paolo Gentiloni, não tem filhos
Mark Rutte da Holanda, não tem filhos
Stefan Lofven, da Suécia, não tem filhos
Xavier Better, do Luxemburgo, não tem filhos
Nicola Sturgeon, da Escócia, não tem filhos
Jean-Claude Juncker, Presidente da CE, não tem filhos

Portanto, um grande número de pessoas que tomam decisões sobre o futuro da Europa, não tem quaisquer interesses diretos nesse futuro!

*Alberto Castro é correspondente de Afropress em Londres e colabora em Página Global

As dores dos sobreviventes | O FOGO, A SOLIDARIEDADE E A MORTE



Manuel morreu a lutar pelo amigo enquanto, sem saber, a sua casa também ardia

O telefone tocou e Manuel saltou da casa, sem hesitar. Perderia a batalha contra as chamas. O fogo que deixou um rasto de escuridão em muitos lugares matou cinco pessoas em São Joaninho, Viseu.

Maria Helena secava as lágrimas invisíveis à conversa na berma da estrada com um homem sentado na mota, com o capacete enfiado na cabeça e a voz gasta. Santa Comba Dão, em Viseu, está como muitos lugares da região centro. As matas estão mais magras, o chão fuma e não deseja ser mais pisado, os muros das casas transformaram-se em muralhas e os troncos estão da cor da alegria da terra. Os caminhantes caminham à procura de mensageiros da fortuna. Outros lamentam-se. Maria Helena diz que foi um pesadelo. Uma vizinha até lhe pediu ajuda para tirar os animais sem vida do barracão que ardeu. Não teve coragem. Ainda não tem.

Esta zona está praticamente toda sem comunicações. Nem nos correios foi possível fazer um telefonema. Há gente no estrangeiro em sobressalto, há más notícias por dar, há alívios por aliviar. Nada. Quase nada. Quando interrompidos ou questionados sobre as coisas, que teimam descrever como "nunca visto", o tom é sempre terno, de quem prefere aproximar a afugentar. É meigo. Ou talvez derrotado. Puxa os olhos para o chão, os ombros têm menos confiança hoje, a ressaca da desgraça.

A TSF continua a percorrer aquelas estradas onde apenas as lembranças têm cor. As conversas são todas sobre o mesmo. Há prantos a dois em supermercados. Há palavras feias apontadas aos governantes. Contam-se histórias e fados, revelam-se paradeiros e os caprichos crus da morte. Percentagens de corpos queimados. Foi-se quase tudo. A terra onde as batatas luziam, as couves ganhavam músculo, os animais levavam a sua vida. Foi-se a terra da gente que fazia daquela gente a gente da terra. Quase tudo se perdeu. A esperança, outra desaparecida entre as chamas. Resta a solidariedade do povo.

O telefone de Manuel, em São Joaninho, tocou a uma qualquer hora do dia. Era um amigo, estava aflito, as chamas ameaçavam a sua habitação. Manuel não pensou muito. Saltou da cama, deixou a hesitação para outros tempos e lá foi. Esteve na luta. Não saberia que a sua casa também seria invadida pelo fogo. A ignorância salvou a casa do amigo. Mas a besta não lhe poupou a vida. Este homem perdeu a batalha, sem lutar a sua, em nome da amizade.

Graça e Eduardo, mulher e marido, cunhados de Manuel, contam a história. Entrámos por acaso no café do casal, em busca do improvável que aconteceu: ter rede no telefone para ligar para a rádio. O incêndio levou cinco pessoas de São Joaninho.

"Era muito de ajudar", conta Eduardo, com as lágrimas nos olhos, sobre Manuel. Ver um velho derrotado, com o olhar perdido no nada, a contar os trocos na mão -- talvez uma muleta para se distrair e não chorar a valer --, promove o estômago ao estatuto de ginasta de alto gabarito das olimpíadas de 1976. A voz que o acompanha há 76 anos fala baixinho. "É assim, o que é que se há de fazer?", diz e voltaria a dizer.

Graça, 70 anos, estava mais serena, mas quanto mais falava mais lhe fugia o pensamento e a realidade lhe apertava os ossos. A voz tremia. Parava. Recomeçava. Lamenta-se das cinzas que lhe ocuparam a casa de banho do estabelecimento, que agora estava com água a mais. É um desgosto. O desconforto em não querer que os forasteiros vissem o cenário diz muito desta gente.

"É triste, é triste", suspira Eduardo. "Não tem havido luz e água. Tive de ir aos correios para ligar para França para falar com o família." Foi assim que lhes contou sobre Manuel. Enquanto conversávamos, chegam familiares. Os abraços e as lágrimas ocupam o palco. Não sabem quando é o funeral. Graça quase parece sentir-se culpada por isso. "Só se vê cabos destruídos. Destruiu tudo por onde passou. Vento, fumo e chamas", conta Eduardo, enquanto a esposa imitava o som do vento, furioso. "Vruuu, vruuu".

O fogo levou gente da terra, separou famílias, juntou famílias, queimou fotografias, formas de viver e meter o pão na mesa. "Sempre tivemos muita sorte aqui. Não me lembro de nada assim", sentencia Graça. "Eu vi logo. Como isto andava, ele vinha aí..."

Ele. Outra vez, é assim que o tratam nestes lugares. Quase dá para imaginar alguém a deixar um rasto de derrota e ruínas, com o pior que os homens levam nas veias. Ele matou terras e gente. Um homem morreu a lutar pela casa do amigo, enquanto a sua também ardia. Manuel não sobreviveu para viver o desgosto. Ele levou Manuel.

Hugo Tavares da Silva | REPORTAGEM TSF | Foto: Nacho Doce/Reuters (imagem não corresponde à reportagem) | Mais fotos no original | Título PG

CHE GUEVARA | Como é ser irmão do meu irmão



Quando passam 50 anos da morte de Che Guevara na Bolívia, o Expresso falou com Juan Martín, o irmão mais novo. Para quem Che é, acima de tudo, Ernesto. Ele quebrou um silêncio de décadas e escreveu um livro para o dizer

Ser ou não ser sempre fez a diferença. E ser ou não ser irmão de Ernesto Guevara de la Serna é algo avassalador. “Cada vez sou menos Juan Martín e mais o irmão do Che Guevara”, diz ao Expresso o mais novo dos quatro irmãos do Comandante. A família manteve um silêncio de meio século antes que Juan Martín Guevara, hoje com 74 anos, acedesse a falar sobre o que se passou. Sobre quem foi, de onde veio, o que fez, o que deixou, como morreu aquele homem que tantas vezes viu chegar e partir, até um dia o ver partir de vez. Sobre a circunstância de ser irmão de um mito, de um ícone tão indiscutível quanto vilipendiado. Falar custou-lhe a reprovação seca da irmã Celia, a segunda mais velha do clã. E a oposição acentuou-se quando escreveu, com a jornalista Armelle Vincent, o livro “Mon Frère, le Che”, publicado em França e já traduzido para 11 línguas — e acabado de sair em Portugal com o título “O Meu Irmão Che” (ed. Objectiva). “Ela estava mesmo contra isso. Sabe do livro e não gosta. Não me deixou de falar, mas há coisas de que é proibido falarmos. O livro é uma delas.” As suas mais de 300 páginas são apenas “um degrau” na decisão de procurar uma compreensão de Che diferente da “imagem distorcida, mítica e distante” que as pessoas têm dele.

Durante duas horas de conversa ao telefone desde a sua casa em Buenos Aires, Juan Martín Guevara evocou o seu famoso irmão, 15 anos mais velho do que ele. Lembrou-se de Ernesto, de Ernestito, de Teté — como só na família era conhecido —, de Fuser — diminutivo de “Furibundo [furioso] Serna” —, de Chancho, até à sua derradeira transformação em Che. “Costumo dizer que sou irmão de sangue de Ernesto e companheiro de ideias do Che. Nunca, nem eu nem os meus irmãos, sentimos nisso uma carga. O que não quer dizer que sempre tenha sido fácil. Não foi”, começa ele, que foi militante político e esteve oito anos preso durante a ditadura militar argentina e que passou por situações tão contraditórias como aquela que (conta) lhe aconteceu na cadeia. Estava a ser interrogado duramente por um polícia e pensou o pior. No fim, ele apenas comentou: “Que grande homem era o teu irmão! Pena que fosse de esquerda.”

A família Guevara de la Serna era, ela mesma, um poço de contradições. Possuía nome e antecedentes aristocráticos, mas andava sempre escassa de dinheiro e havia surgido de uma transgressão — o casamento entre Ernesto Guevara Lynch e Celia de la Serna y Llosa, que ocorreu contra a vontade dos pais dela. “Essa ideia da ‘família aristocrática e oligárquica’ do Che é uma parvoíce. A oligarquia define uma posição de riqueza e de poder. E a aristocracia tem a ver com o autoritarismo familiar. Ora, se bem que o resto da família fosse abastada, nós não tínhamos nem riqueza nem poder. Pelo contrário, pela inconstância do meu pai, estávamos sempre com dificuldades económicas. E certamente não éramos condicionados pelos hábitos tradicionalistas da linhagem. A minha mãe foi uma feminista sem o ser, antes do tempo. Fumava, vestia calças, cortou o cabelo, odiava a lida da casa, fazia o que lhe apetecia. Nem sequer se punha a pensar que a podiam questionar. Quem não gostasse que fosse dar uma volta. O meu pai era manipulador e egocêntrico e ligava mais à opinião dos outros. Mas, por outro lado, tinha muita lata. Era supersticioso e fazia coisas que eram muito estranhas aos olhos dos outros”, recorda Juan Martín.

PORTUGAL | Não pode ficar tudo na mesma



Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias | opinião

É óbvio que, depois de Pedrógão, dos relatórios entretanto conhecidos, e dos trágicos incêndios da noite de domingo, não pode ficar tudo na mesma. E a ministra da Administração Interna deve ser a primeira a reconhecê-lo. O interminável verão deste ano mostrou como o nosso país está tão impreparado para lidar com um futuro, que já é o presente, de extremos climáticos. Não são apenas os meios de combate disponíveis, é isso e tudo o resto. O planeamento florestal que não existe, e a predominância do eucaliptal; os planos municipais de defesa da floresta contra incêndios não executados ou sequer aprovados; o sistema de comunicações arcaico; a desestruturação das redes de comando da Proteção Civil; os concessionários das estradas (Ascendi), ou responsáveis pelas infraestruturas elétricas (EDP), que há décadas não cumprem as suas obrigações de limpeza de combustível florestal.

O atual Governo tem responsabilidades, mas o tiro ao alvo das culpas fáceis deixará de lado todas as outras deficiências, acumuladas ao longo de décadas, nas autarquias, na Proteção Civil, na política florestal e também nos privados. Quando tudo falha, é o Estado que falha.

No próximo dia 21 haverá um Conselho de Ministros extraordinário, marcado para analisar os incêndios de Pedrógão. O que se exige ao Governo neste momento é que faça mais que mudar nomes, e que, para além do apoio às vítimas, apresente um plano de reestruturação do próprio dispositivo nacional de combate e prevenção de incêndios.

Os relatórios que agora conhecemos, e que se somam aos que já existiam, e os técnicos que ouvimos apontam caminhos claros: um corpo profissionalizado de defesa da floresta composto por sapadores florestais e bombeiros; a inclusão de cientistas da floresta e da meteorologia nas equipas de prevenção e combate; alteração da estrutura fundiária e da composição da malha florestal, com redução da área de eucalipto e cedência mínima ao abandono; reestruturação da Proteção Civil, que deve ter cadeias de comando experientes, claras e definidas; responsabilização e apoio às autarquias nos planos de defesa da floresta; meios de apoio às populações em caso de emergência. Finalmente, e não de menor importância, regras claras para acabar com o negócio dos incêndios, dos interesses da madeira aos dispositivos de combate.

Não pode ficar tudo na mesma, e as mudanças têm de ser tão estruturais como os problemas e deficiências que as justificam. É isso que deve ser exigido ao Governo. E em tempos de discussão orçamental, é de esperar que estas escolhas tenham o seu reflexo na distribuição dos meios financeiros do Estado.

*Deputada do BE

Portugal | O INFERNO LEVOU-OS 100 DÓ NEM PIEDADE



Porque não alguns fogos postos para desgastar a “geringonça”?

Primeiro 64 pessoas foram consumidas pelo fogo na zona de Pedrógão. Entre domingo e segunda-feira mais 36 pessoas foram consumidas pelos fogos, aqui e ali, em Portugal. Soma, até agora, 100 vítimas dos fogos. Sem dó nem piedade. Sem que se vislumbre responsabilização dos que não a demonstraram e nem a praticaram. Grassou a incompetência por resultado de políticas erróneas que levaram ao abandono de uma reforma florestal e agrícola séria que preservasse os bens e as pessoas das regiões limítrofes à floresta. E assim acontece há décadas. Responsabilidades dos governos de Cavaco Silva e seguintes. Talvez até de Mário Soares quando na crista da onda chefiou os governos no pós 25 de Abril de 1974. Do salazarismo ou do caetanismo nem se fala porque na época tudo era muito diferente, nem as alterações climatéricas eram tão notadas e sentidas, nem a corrida ao abandono das terras acontecia tão gravosamente, nem havia a tal política desbragada e devastadora dos eucaliptais. Tempos de miséria e repressão que colavam as pessoas às terras onde nasciam. Ou isso ou emigrarem, para fugirem da fome e da guerra colonial.

Critica-se António Costa e o seu governo, que há dois anos exerce o cargo. E os outros, e os governos antecedentes? Não foram eles que contribuíram grandemente para esta tragédia?

E os interesses estabelecidos que lucram e enriquecem com os fogos? Quem são? Quem os investiga e os responsabiliza criminalmente justificando-se? Há ou não aviões que incendeiam a floresta? Ao longo de anos vimos tornados públicos testemunhos que afirmaram que sim. Que viram… Não se sabe que em tempos idos as investigações assim provassem. Até é muito provável que nem investigações tenham acontecido. E atualmente justifica-se algum tipo de investigação profunda sobre a origem de tantos fogos e de fogos que eclodiram à noite? Investigações para além dos casos isolados de dementes incendiários, ébrios, servos, irresponsáveis da pastorícia precisam-se.

Foram 100 pessoas que morreram, sem dó nem piedade. Provavelmente vamos chegar à conclusão que as vítimas mortais são mais de 100. Doloroso. Terrível. Revoltante. E porque não alguns fogos postos para desgastar a “geringonça”? Quem investiga a sério?

Segue-se o Expresso Curto, a cumprir a sua função. Uma peça opinativa relevante, a dar umas no cravo e outras na ferradura. Aparentemente andando e fazendo o caminho que  mais interessa a alguns (poucos) e menos aos milhões de portugueses. É o Expresso, do senhor Balsemão, um barão (entre outros) da informação, da desinformação… e  da manipulação. É ver os seus status e os feitos dos seus animais amestrados.

CT | PG

ANGOLA | Governo está completo, é hora do trabalho



Víctor Carvalho | Jornal de Angola | opinião

Com a nomeação e subsequente tomada de posse dos secretários de Estado, o Presidente João Lourenço tem, finalmente, a sua equipa governamental formada e pronta a trabalhar para responder ao desafio de melhorar o que está bem e corrigir o que está mal.

Independentemente da avaliação ou do capital de expectativa que cada nome dos elementos que integram essa equipa pode suscitar junto da opinião pública, a verdade é que será o seu desempenho prático a transmitir se as escolhas de João Lourenço foram, ou não, acertadas.

Para já, o que se pode dizer é que está criada uma enorme expectativa em redor daquilo que o próprio Presidente da República conseguirá fazer, sobretudo se tivermos em linha de conta as suas promessas eleitorais e mais algumas que depois inseriu no seu discurso de tomada de posse e que, certamente, serão reafirmadas amanhã na Assembleia Nacional.

A sociedade, onde se inclui a classe política, como não podia deixar de ser, está atenta aos mais recentes desenvolvimentos protagonizados por este Governo, não obstante o pouco tempo em que está em funções, e acredita que muitas das promessas feitas no calor da campanha serão efectivamente cumpridas.

Na sua primeira reunião, o Governo decidiu, e bem, aprovar um programa para executar nos próximos seis meses, de modo a garantir as bases onde depois ficarão sustentadas acções de empreendimento mais profundo.

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