Mariana
Mortágua* | Jornal de Notícias | opinião
É
óbvio que, depois de Pedrógão, dos relatórios entretanto conhecidos, e dos
trágicos incêndios da noite de domingo, não pode ficar tudo na mesma. E a
ministra da Administração Interna deve ser a primeira a reconhecê-lo. O
interminável verão deste ano mostrou como o nosso país está tão impreparado
para lidar com um futuro, que já é o presente, de extremos climáticos. Não são
apenas os meios de combate disponíveis, é isso e tudo o resto. O planeamento
florestal que não existe, e a predominância do eucaliptal; os planos municipais
de defesa da floresta contra incêndios não executados ou sequer aprovados; o
sistema de comunicações arcaico; a desestruturação das redes de comando da
Proteção Civil; os concessionários das estradas (Ascendi), ou responsáveis pelas
infraestruturas elétricas (EDP), que há décadas não cumprem as suas obrigações
de limpeza de combustível florestal.
O
atual Governo tem responsabilidades, mas o tiro ao alvo das culpas fáceis
deixará de lado todas as outras deficiências, acumuladas ao longo de décadas,
nas autarquias, na Proteção Civil, na política florestal e também nos privados.
Quando tudo falha, é o Estado que falha.
No
próximo dia 21 haverá um Conselho de Ministros extraordinário, marcado para
analisar os incêndios de Pedrógão. O que se exige ao Governo neste momento é
que faça mais que mudar nomes, e que, para além do apoio às vítimas, apresente
um plano de reestruturação do próprio dispositivo nacional de combate e
prevenção de incêndios.
Os
relatórios que agora conhecemos, e que se somam aos que já existiam, e os
técnicos que ouvimos apontam caminhos claros: um corpo profissionalizado de
defesa da floresta composto por sapadores florestais e bombeiros; a inclusão de
cientistas da floresta e da meteorologia nas equipas de prevenção e combate;
alteração da estrutura fundiária e da composição da malha florestal, com
redução da área de eucalipto e cedência mínima ao abandono; reestruturação da
Proteção Civil, que deve ter cadeias de comando experientes, claras e
definidas; responsabilização e apoio às autarquias nos planos de defesa da
floresta; meios de apoio às populações em caso de emergência. Finalmente, e não
de menor importância, regras claras para acabar com o negócio dos incêndios,
dos interesses da madeira aos dispositivos de combate.
Não
pode ficar tudo na mesma, e as mudanças têm de ser tão estruturais como os
problemas e deficiências que as justificam. É isso que deve ser exigido ao
Governo. E em tempos de discussão orçamental, é de esperar que estas escolhas
tenham o seu reflexo na distribuição dos meios financeiros do Estado.
*Deputada
do BE
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