sábado, 21 de outubro de 2017

A MORTE DA HISTÓRIA



John Pilger

Um dos mais louvados "eventos" da televisão americana,The Vietnam War, arrancou agora na rede PBS. Os directores são Ken Burns e Lynn Novick. Aclamados pelos seus documentários sobre a Guerra Civil, a Grande Depressão e a história do jazz, Burns diz acerca dos seus filmes sobre o Vietname: "Eles inspirarão nosso país a começar a conversar e pensar acerca da guerra do Vietname de um modo inteiramente novo". 

Numa sociedade muitas vezes destituída de memória histórica e sob o domínio da propaganda do "excepcionalismo", a guerra do Vietname "inteiramente nova" de Burns é apresentada como "trabalho histórico épico". Sua luxuosa campanha publicitária promove o seu grande apoiante, o Bank of America, o qual em 1971 foi incendiado em Santa Barbara, Califórnia, como símbolo da odiada guerra no Vietname.

Burns diz que está grato a "toda a família do Bank of America" a qual "desde há muito apoia veteranos do nosso país". O Bank of America foi um apoio corporativo a uma invasão que matou talvez até quatro milhões de vietnamitas e devastou e envenenou uma terra outrora generosa. Mais de 58 mil soldados americanos foram mortos e estima-se que aproximadamente o mesmo número se tenha suicidado.

Assisti ao primeiro episódio em Nova York. Ele não deixa dúvidas desde o princípio acerca das suas intenções. O narrador diz que a guerra "foi começada em boa fé por pessoas decentes em resultado de entendimentos incorrectos decisivos, a super-confiança americana e a Guerra Fria.

A desonestidade desta declaração não surpreende. A fabricação cínica de "falsas bandeiras" que levaram à invasão do Vietname é uma questão factual – o "incidente" do Golfo de Tonquim, em 1964, que Burns promove a verdadeiro, foi apenas um deles. As mentiras grassam numa multidão de documentos oficiais, nomeadamente os Pentagon Papers, os quais o grande denunciante Daniel Ellsberg divulgou em 1971.

Não havia boa fé. A fé era apodrecida e cancerosa. Para mim – como deve ser para muitos americanos – é difícil assistir ao amontoado de mapas do "perigo vermelho", entrevistas não explicadas, arquivos cortados de modo inepto e sequências choronas de campos de batalha.

No press release da série na Grã-Bretanha – a BBC irá apresentá-la – não há qualquer menção a mortos vietnamitas, só a americanos. "Estamos todos em busca de algum significado nesta tragédia terrível", diz uma citação de Novick. Muito pós moderno.

Tudo isto será familiar àqueles que observaram como os media americanos e a grotesca cultura popular reviram e serviram o grande crime da segunda metade do século vinte: desde The Green Berets (Os boinas verdes) e The Deer Hunter (O caçador) para Rambo e, ao assim fazer, legitimaram subsequentes guerras de agressão. O revisionismo nunca para e o sangue nunca seca. O invasor merece piedade e é expurgado de culpa, enquanto "buscam algum significado nesta tragédia terrível". Alusão de Bob Dylan: "Oh, onde tem estado, meu filho de olhos azuis?"

Penso acerca de "decência" e "boa fé" quando recordo minhas primeiras experiências como jovem repórter no Vietname: a observar hipnoticamente como a pela cai de crianças camponesas submetida ao napalm tal como velho pergaminho e as crateras de bombas que deixaram árvores petrificadas e engrinaldadas com carne humana. O general William Westmoreland, o comandante americano, referiu-se ao povo como "termites". 

Portugal | A DESASTROSA PRIVATIZAÇÃO DA PROTECÇÃO CIVIL



Palavras do Tenente-Coronel Costa Mota, presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas ( AOFA ), em entrevista à TVI: 

É FÁCIL: em vez do negócios de milhões com aluguer de aviões, basta 

– dar meios aéreos à Força Aérea (que não os tem) 
– dar dinheiro para combustível e manutenção (que não tem)
– dar mais meios humanos (que não tem, nem qualificação para combate a incêndios); 

LUCRO PARA PORTUGAL: 

– ficamos com os meios para Portugal, 365 dias por ano (e não na fase Charlie ou outra);
– a manutenção é assegurada 365 dias por ano pela Força Aérea (sem custos adicionais);
– os pilotos ganham o mesmo 365 dias por ano (o que ganham agora);
– o Estado deixa de gastar milhões de euros com privados. 

PORQUE É QUE A FORÇA AÉREA NÃO FAZ ISTO? 

– Porque os sucessivos governos não o quiseram... 

O vídeo deste entrevista está aqui (ver entre os minutos 21 e 25). 

Os negócios & negociatas com serviços de protecção civil (meios aéreos, Siresp, etc) resultam da desastrosa ideologia privatizadora que impera em Portugal. Esta levou a que o Estado se demitisse das suas funções e despertou a sanha do capital privado interessado em apanhar o botim. As dezenas de mortes verificadas nos incêndios florestais deste ano são consequência do neoliberalismo imposto há muito por governos PS, PSD e CDS. 

É preciso dar meia-volta.

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