Pedro Brancher*
No
dia 18 de dezembro de 2017, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
anunciou a publicação da Estratégia Nacional de Segurança (ENS) de seu governo.
A ENS é um documento que sintetiza as percepções e diretrizes que nortearão a
política externa estadunidense pelos próximos anos. Nesse contexto, a
publicação de 2017 explicita que, do ponto de vista da administração Trump, a
República Popular da China se constitui como a maior fonte de ameaças aos
interesses nacionais dos EUA na política internacional contemporânea.
A nação asiática é mencionada
trinta e três vezes ao longo das cinquenta e seis páginas do documento. Logo na
primeira referência, a ENS se refere à China e à Rússia como nações que “estão
desafiando o poder e a influência dos Estados Unidos, bem como buscando erodir
a segurança e a prosperidade estadunidense”. Em seguida, são realizadas
graves acusações às práticas internacionais do Governo chinês. Por exemplo,
Beijing é acusada de “roubar
propriedade intelectual dos EUA”, “expandir
práticas comerciais abusivas”, “explorar
tecnologias de informação para ampliar seu sistema político autoritário”,
bem como “avançar
sobre a soberania de outros países”. Por fim, o documento sugere que está
em curso uma divisão político-ideológica na região Indo-Pacífica. Isto é: “uma
competição geopolítica entre concepções autoritárias e liberais acerca da ordem
internacional”.
Percebe-se que tal abordagem
representa um brusco ponto de inflexão em relação à ENS publicada em 2015 pela
administração do ex-Presidente Barack Obama. Nessa ocasião, as poucas
referências à República Popular da China destacavam os avanços que ambos os
países haviam alcançado no âmbito das políticas de combate à mudança climática.
Além disso, o documento de 2015 ressaltava que “os EUA
acolheriam a ascensão de uma China estável, pacífica e prospera”, bem como
a busca pelo desenvolvimento de uma relação construtiva que promovesse
segurança e prosperidade para a Ásia e o restante do mundo.
As acusações presentes na
Estratégia Nacional de Segurança de Donald Trump foram prontamente respondidas
pelas autoridades chinesas. Hua Chunying, Porta-Voz do Ministério de Relações
Exteriores do país, declarou que “nós
estimulamos que o governo dos EUA pare de distorcer deliberadamente as
intenções estratégicas da China e abandone conceitos ultrapassados da Guerra
Fria”. Por sua vez, o periódico do Partido Comunista Chinês, Global
Times, assumiu tom mais severo em seu editorial: “a ENS é uma manifestação
da postura da administração de Trump, a qual se baseia mais no poder americano
no que nas regras internacionais. Demonstra a indisputável insistência de
Washington na hegemonia global. Beijing e Moscou não aceitarão”.
É cedo para se avaliar o
resultado prático da inflexão no âmbito discursivo da política externa
estadunidense em relação à China. Isso porque a Estratégia Nacional de
Segurança não delimita um conjunto específico de ações no âmbito internacional,
mas apenas apresenta percepções e diretrizes gerais.
Nesse sentido, especialistas questionam
até que ponto Donald Trump não teria utilizado o documento como forma de
responder ao eleitorado estadunidense que o elegeu. Além disso, na medida em
que manifestações contraditórias e declarações presidenciais
via Twitter se tornaram uma prática recorrente do atual Chefe de
Estado dos Estados Unidos, ficou mais complexa a compreensão acerca da real
estratégia de longo prazo perseguida pelo país norte-americano.
Ainda assim, nota-se que a mudança
apresentada na ENS estadunidense ocorre em uma conjuntura de acirramento da
competição entre China e EUA, bem como de alteração no posicionamento externo
do país asiático. Por exemplo, o presidente Xi Jinping, em seu discurso a nação
realizado no dia 31 de dezembro de 2017, declarou que a China será uma ativa
construtora da paz e guardiã da ordem internacional. Em outras palavras,
Beijing assume definitivamente uma atitude de liderança na comunidade
internacional. Logo, percebe-se que o ano de 2018 se inicia com a incorporação
de rivalidade recíproca no discurso oficial da política externa das duas
maiores potências do sistema interestatal contemporâneo.
*CEIRI | 5 de Fevereiro de 2018
Imagem: “Xi Jinping e Peng
Liyuan, Presidente e Primeira Dama da República Popular da China, ao
lado de Donald Trump e Melanie Trump, Presidente e Primeira Dama dos
Estados Unidos” (Fonte):
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