A tribo política angolana
continua a decepcionar a todos quantos, periodicamente, são chamados a
depositar o seu voto, em período eleitoral, para suposta renovação ou melhoria
da gestão da coisa pública em prol do bem comum.
William Tonet* | Folha 8 | opinião
Os políticos quais “traidores do
templo”, pela abjecta e umbilical apetência económica, andam em sentido
contrário ao sofrimento popular. Não têm riqueza de ideias, mas uma montanha de
pobreza intelectual na gestão da crise, com uma equipa económica desprovida de
soluções audazes, pragmáticas e realistas.
O programa económico apresentado,
pelo ministro de Estado coordenador, Manuel Júnior, privilegia os ricos e os
banqueiros, que estavam com 60% dos créditos malparados, na época da febre do
betão, ao decretarem a venda livre de divisas pelo Banco Nacional de Angola.
O governador, José de Lima
Massano, é um bancário (presidente da Comissão Executiva do BAI), actuando como
jogador e árbitro, na salvação da banca comercial privada. Primeiro, acabando
administrativa e policialmente com o mercado livre de divisas do Mártires de
Kifangondo, acusando-o de ser o cancro das dificuldades financeiras, mas logo
depois, adopta a política de venda livre de divisas, como paradigma do banco
central.
Assim, colocando o BNA em leilão
por 200, os bancos comerciais vendem, ao público por 300, encaixando, no
imediato 100 euros, por cada operação, vendo desta forma uma bóia de salvação,
para os bancos privados, em prejuízo dos empreendedores económicos e do cidadão
comum.
Esta política ao privilegiar a
perfuração cada vez maior do cinto do pobre, com o aumento de impostos e o
desemprego, para pagar as mordomias dos dirigentes dos três poderes, contribui
para o calcorrear da instabilidade social.
A corrupção mostrou ter nome,
endereço e estatuto privilegiado para comandar as instituições e poderes do
Estado.
A falta de credibilidade dos
órgãos do poder, para desgraça colectiva dos 20 milhões de autóctones pobres,
que lamentavelmente vêem o seu poder de compra diminuir, em detrimento daqueles
que deveriam dar o exemplo, na contenção dos gastos públicos, resulta da força
deste cancro, que delapida o dinheiro do medicamento, da escola e da comida da
mesa do cidadão.
A corrupção é, por hoje, a
ideologia que abastece os Ferraris dos juízes dos tribunais superiores, dos
Lexus dos deputados e dos Mercedes dos ministros, para além de os presentear
com aumento de salário, subsídios de alimentação, habitação, saúde, escola para
os filhos, empregados, etc., tornando esta corte (prefiro chamar-lhe corja)
cúmplice da desgraça dos povos.
Esta turma continua a viajar em
primeira classe, ou em aviões fretados, pagos a preço de ouro, mesma tendo
prestações primárias, como na recente deslocação a Davos, Suíça, onde os
ministros abdicaram do avião de carreira, refastelando-se num jato executivo.
A esperança de ver a corrupção
encostada às boxes, com a ascensão de João Lourenço, cedo desapareceu das
“nuvens cidadãs”, pela falta de pragmatismo de ideias, linhas concretas de
acção, caminho jurídico identitário, mas fundamentalmente, pela contínua e
descarada cumplicidade entre políticos e a ladroagem institucional.
O Presidente da República,
enquanto vice-presidente do MPLA, está a fazer bem o papel de lavar a imagem
desgastada do seu partido, que não resistiria (e resistirá) a mais uma eleição
em hegemonia, dando “ópio mental” aos cidadãos, “expulsando” dos órgãos do
Estado os filhos de José Eduardo dos Santos, causando uma espécie de
“masturbação geral” no povo, mas tudo baseado na subtil estratégia de EXONERAR
a EXONERAÇÃO sem nenhuma consequência legal.
Justificar, responsabilizar ou
mesmo fundamentar a “conveniência de serviço”, mesmo de quem tenha premeditada
e dolosamente, delapidado o erário público, não é necessário, enfatizou João
Lourenço, por, justificou, ser uma prática de há 42 anos.
Neste regabofe, a culpa
continuará a morrer solteira, para gáudio dos corruptos, que detém o controlo
exclusivo das finanças do país. Tanto assim é que ninguém ousou perguntar, 24
horas depois da exoneração de uma exonerada de uma empresa pública, a proveniência
de 100 milhões de dólares, investidos numa fábrica de cerveja.
É a podridão na máxima expressão
e a convicção de perpetuidade das práticas lesivas do Estado, por parte da
elite da “Casa Grande”, face à cumplicidade, fraqueza e pobreza programática da
oposição.
E iremos continuar a assistir,
quais irmãos siameses, ao desfile, em tapete vermelho, do político & da
corrupção, decepcionando a “masturbação” inicial de mudança, com as exonerações
“lourencinas”, que não passaram de paliativos, para anestesiar os povos e
desviá-los da órbitra crítica da monumental fraude eleitoral de 2017.
A corrupção está de tal forma
institucionalizada que também anestesia os órgãos da Justiça, tal como a
Procuradoria-Geral da República que, na posse de uma denúncia internacional de
dois empresários brasileiros e uma carta rogatória do Brasil, sobre uma comissão
de 15 milhões de dólares, dada à empresa de publicidade ORION, com fortes
ligações a João Lourenço, não muge nem tuge.
Tudo numa altura em que havia,
também, fortes suspeitas de milionárias comissões dadas pela INDRA e SIFIC à
Direcção da CNE, além da denúncia feita, ao Folha 8, por um alto ex-membro do
gabinete da Presidência da República de JES, A. Bernardo H. Fungani, de o
presidente da Comissão Nacional Eleitoral ter recebido 15 milhões de dólares,
para tornar a lista do MPLA com João Lourenço vencedora, com maioria absoluta
ou qualificada.
Verdade ou mentira, tudo
incrimina. Principalmente, face à ostensiva recusa, no apuramento dos
resultados eleitorais em 15 das 18 províncias do país.
A CNE e o MPLA, como hoje se
discute no seu interior, têm plena consciência de só pela força e pelo poder da
corrupção transformaram derrotado em vencedor e vencedores em derrotados.
E, para contornar a espiral da
bandeira reivindicativa da oposição, capitaneada pela UNITA, inteligentemente,
João Lourenço concedeu audiência exclusiva a Isaías Samakuva recebendo deste o
benefício da dúvida sobre um pretenso combate ao nepotismo, à discriminação
política e à corrupção, mas a boa-fé do líder da oposição de nada valeu, pois
JLo transformou o essencial em acessório, ao desresponsabilizar os roubos.
Desenganem-se aqueles que
acreditaram que com esta tribo política (continuação da anterior), haverá
alternativa de dias melhores, pelo contrário, a tempestade será devastadora,
para os pobres, que terão menos comida à mesa, tal como, na crueza das
palavras, reconheceu no dia 8 de Janeiro, o Presidente da República.
Inflação e desemprego serão
aliados da maioria dos cidadãos, com a agravante da promessa eleitoral dos 500
mil postos de emprego, prometidos pelo MPLA, foi mandada às urtigas, tal como o
aumento salarial na Função Pública, só será possível com despedimento de mais
de 50 % dos funcionários públicos.
É a lógica de uma desastrosa
política económica que ao não privilegiar o consumo, apostando em cada vez mais
impostos, para os pobres, alimenta a corrupção.
Nesta encruzilhada, Angola está
carente do pragmatismo e sagacidade de um líder, à dimensão de um Nito Alves ou
Jonas Savimbi, que diante da crise não iam à cesta básica do pobre, nem,
vergonhosa ou dolosamente, assinariam o ofício de aumento de salário de
governantes, parlamentares e juízes, como se houvesse o festim da pandilha.
Um verdadeiro líder da oposição
tem de ser um mobilizador, com soluções pragmáticas, ante o desvario actual.
Tem de ser um leão inconformado, capaz de impor respeito, aos adversários.
A oposição tem de deixar de ser
medrosa e enfrentar a realidade, reivindicando nas ruas a penúria popular, e
uma governação mais responsável e honesta, mostrando estar disposta a abdicar
das mordomias e conforto dos gabinetes, porque os angolanos precisam de
políticos, sérios, honestos e trabalhadores comprometidos com a felicidade do
povo e não com corruptos, ladrões ou seus cúmplices.
*William Tonet é diretor do Folha
8
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