domingo, 4 de fevereiro de 2018

CELTEJO | Poluição no Tejo. O mistério das amostras desaparecidas


Inspectores do ambiente tentaram obter amostras de água de forma automática. Uma, duas, três vezes. Alguma coisa ou alguém impedia as recolhas, conta o Público

Os inspetores do ambiente "tiveram dificuldades inéditas para recolher amostras de água" junto à tubagem da Celtejo, que de acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) é responsável por 90% das descargas no rio Tejo, notícia o jornal Público.

O "mistério das amostras desaparecidas" já faz parte da investigação que o Ministério Público está fazer à poluição do maior rio português, informa o jornal sobre este caso, relacionado com o manto de espuma que surgiu junto ao açude insuflável de Abrantes a 24 de janeiro.

O Ministério do Ambiente ordenou, então, à APA e à Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar (IGAMAOT), do Ambiente e do Ordenamento do Território a realização de análises extraordinárias com o objetivo de determinar as fontes da poluição.

Alguns resultados desse investigação foram divulgados no final de janeiro: a APA concluiu que as descargas das empresas de papel a montante do açude de Abrantes, em especial em Vila Velha de Ródão, "tiveram um impacto negativo e significativo" na qualidade da água do rio que provocou a acumulação de carga orgânica. Foram detectados níveis de celulose cinco mil vezes acima do normal.

Mas na sexta-feira da semana passada, os inspectores da IGAMAOT foram ao terreno fazer outro tipo de análises. Queriam recolher amostras de água junto à saída dos afluentes das ETAR das principais empresas que fazem descargas no Tejo, Celtejo incluída.

Assim, conta o jornal, foi colocada a tubagem de um coletor no interior do rio para recolher amostras hora a hora, durante 24 horas, de forma automática, junto à tubagem da Celtejo. No entanto, no sábado, quando os inspetores foram recolher as 24 amostras diárias que deveriam estar depositadas em 24 recipientes, encontraram apenas alguma espuma. Faltava a água necessária para as análises laboratoriais.

A investigação do jornal indica que "este facto nunca se tinha verificado noutro tipo de recolhas do género feitas pelos inspectores da IGAMAOT" e, no domingo passado, o colector voltou a ser colocado no mesmo local, mas na última segunda-feira, no momento da recolha das amostras, os recipientes estavam de novo vazios.

"O equipamento não tinha qualquer problema, mas alguma coisa ou alguém impedia que as recolhas fossem feitas", refere a notícia.

E o relato continua. Ainda nesse dia, foi novamente colocado o colector que ficou sob a vigilância de militares do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente da GNR. Terça-feira, alguns dos 24 recipientes tinham amostras de água, mas a maioria continuava apenas com espuma.

Foi o momento de mudar de estratégia. Os inspectores colocaram o colector por mais 24 horas e decidiram fazer, também, a recolha manual de amostras para entregar no laboratório.

O caso passou a constar da investigação que o Ministério Público tem em curso a empresas de Vila Velha de Ródão, na sequência de uma participação-crime de poluição no rio Tejo, apresentada pelo Ministério do Ambiente.

O resultado das análises, ou de parte delas, deverá ser divulgado segunda-feira, dia em que termina o período de 10 dias de redução de 50% de produção da Celtejo, importo pelo Ministério do Ambiente.

A Celtejo recusou responsabilidades na poluição visível no rio.

Expresso | Foto: Paulo Cunha/Lusa

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