Segundo a Economist Intelligence
Unit (EIU), "não é particularmente convincente" a estratégia de
Moçambique para mostrar que quer punir efetivamente os responsáveis nacionais
pelas dívidas ocultas do Estado.
"O Governo vai tentar
argumentar que a ação legal da Procuradoria-Geral da República (PGR) demonstra
a capacidade de responsabilizar os envolvidos, mas isto não é particularmente
convincente", argumentam os peritos da unidade de análise da revista
britânica The Economist.
Numa análise ao recente
pedido de responsabilização financeira dos gestores públicos e das empresas do
Estado que contraíram uma dívida oculta de dois mil milhões de dólares
entre 2013 e 2014, os analistas mostram-se descrentes num desfecho positivo.
"A ação legal da PGR é
pequena com um foco muito limitado", escrevem os analistas, lembrando que
"o antigo ministro das Finanças, Manuel Chang, que foi identificado pela
Kroll como o signatário das garantias soberanas ilegais, não está incluído na
ação da PGR".
De resto, acrescentam os
analistas, "nem a antiga secretária permanente do Ministério das Finanças,
Isaltina Lucas, atualmente vice-ministra das Finanças, que, segundo a Kroll, é
suspeita de ter ajudado a que os empréstimos fugissem ao escrutínio do
FMI".
Doadores insatisfeitos
Para os analistas da Economist,
"mesmo que as ações legais se tornem mais agressivas, é duvidoso que isso
satisfaça o FMI e os outros doadores".
Isto porque, concluem os
analistas, "as dúvidas sobre a independência das instituições públicas em
Moçambique, incluindo o poder judicial, tornam improvável que o FMI abrande as
suas exigências de transparência, mesmo que as futuras investigações da PGR
levem a declarações sobre a identificação dos beneficiários dos
empréstimos".
A dívida de dois mil milhões de
dólares - num episódio conhecido como escândalo da dívida oculta - foi
contraída em 2013 e 2014, durante a presidência de Armando Guebuza, por três
empresas públicas detidas pelo Serviço de Informações e Segurança do Estado
(SISE): a Ematum, supostamente dedicada a uma frota de pesca, a Proindicus, de
segurança e vigilância marítima, e a MAM, ligada à manutenção naval.
Uma auditoria da consultora
internacional Kroll pedida pela PGR e divulgada em junho do ano passado
descreve as firmas como uma fachada, sem planos de gestão credíveis, e implica
vários detentores de cargos públicos em todo o processo, sem os nomear.
A Kroll queixa-se ainda de lhe
ter sido negado acesso a informação relevante para perceber para onde foi o
dinheiro, sob justificação de ser material sensível relativa à segurança do
Estado.
Este caso levou ao corte do
financiamento externo por parte do FMI e dos doadores internacionais e a uma
descida dos 'ratings' atribuídos ao país, no seguimento do incumprimento
financeiro do Estado sobre a emissão de dívida soberana e sobre os empréstimos
destas empresas.
Agência Lusa, mjp | Deutsche
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