Partido no poder em Angola
responde às críticas sobre a presença regular da filha do ex-Presidente José
Eduardo dos Santos na sede, em Luanda, e acusa "os que querem obstruir o
processo de transição de poder em curso".
Em nota divulgada este domingo
(18.02), o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) defendeu a presença
regular de Isabel dos Santos na sede nacional do partido. O comunicado é uma
resposta a órgãos de imprensa locais, que estão a publicar que a filha do
ex-Presidente de Angola e atual Presidente do partido no poder é frequentemente
vista a trabalhar na sede do MPLA desde que José Eduardo dos Santos deixou o
poder.
"Há gente que tenta, a todo
custo, obstruir o processo de transição em curso", criticou o MPLA em nota
pública. "Questionar, por exemplo, a presença de um militante, no caso
vertente a camarada Isabel dos Santos, militante do MPLA, que tem direitos e
deveres como tal e como cidadã à sede nacional do partido é a mais evidente
deturpação dos fatos. O MPLA não pode e não vai vergar-se a intrigas baratas e
ao segregacionismo de quem quer que seja", enfatiza o documento.
Segundo o MPLA, José Eduardo dos
Santos "lançou as bases para que a transição política em Angola se
desenvolvesse com a acuidade que se impõe". Para o partido, têm surgido
"uns tantos 'advogados em causa própria', ávidos para a obstrução do
processo, especulando e espalhando muito intriga e difamação".
Desde que deixou a Presidência da
República em setembro passado, ao fim de 38 anos no poder, José Eduardo dos
Santos tem trabalhado regularmente na sede do MPLA, conduzindo várias reuniões
entre o bureau político e o comité central.
Colocada na presidência do
conselho de administração da petrolífera Sonangol em junho de 2016 pelo pai,
então Presidente da República, Isabel dos Santos foi exonerada das funções em
novembro de 2017 pelo novo chefe de Estado, João Lourenço, que é
vice-presidente do MPLA.
"Se até mesmo aqueles que
ontem pertenceram a outros partidos hoje convivem no seio do MPLA com toda a
vontade, porque não aqueles que nasceram dentro dele?", questiona a nota
do partido sobre as críticas à presença assídua de Isabel dos Santos na sede em
Luanda.
Poder bicéfalo
Eleito Presidente da República
nas eleições gerais de agosto do ano passado, João Lourenço tem traçado uma
política de combate à corrupção e ao desvio de dinheiros públicos, criticando a
impunidade do passado. João Lourenço afastou vários elementos próximos de José
Eduardo dos Santos de várias empresas e instituições públicas, granjeando um
forte apoio popular.
Com José Eduardo dos Santos na
presidência do MPLA e João Lourenço na Presidência da República, a oposição
angolana tem acusado a atual estrutura no poder de bicefalia, uma crítica que é
desmentida pelos órgãos do poder.
O antigo chefe de Estado poderá
abandonar a vida política ativa este ano, como anunciou em 2016. Em janeiro,
João Lourenço declarou que não sente crispação com José Eduardo dos Santos, mas
aguarda que cumpra o compromisso anteriormente assumido de deixar a vida
política e a liderança do partido) em 2018.
"Só a ele compete dizer se o
fará, se vai cumprir com esse compromisso. Quando isso vai acontecer, só a ele
compete dizer", disse João Lourenço.
Agência Lusa, kg | Deutsche Welle
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