João Galamba | Expresso | opinião
Vá-se lá saber porquê, Fernando
Negrão considera que é prioritário “reformar” a Segurança Social. Presumo que
Rui Rio concorde, uma vez que parece ter incluído o tema na conversa que teve
com António Costa.
Mais ou menos liberal, mais ou
menos radical, parece que todas as lideranças do PSD convergem na ideia de que
o nosso sistema de pensões está falido. Andam nisto há anos, pelo menos desde a
liderança de Durão Barroso. E a história tem sido sempre a mesma: a demografia
torna o sistema inviável e não garante pensões futuras, o que torna necessário
avançar para um modelo de capitalização, isto é, avançar para a privatização
parcial do sistema. Não sei se é isto que será defendido por Rui Rio, mas não
vejo qualquer alternativa. Ou melhor, há uma alternativa, mas é a alternativa
defendida pelo Governo e pelo PS.
Ninguém ignora os desafios
demográficos e a pressão que estes colocam sobre o atual sistema. Mas há uma
diferença entre responder aos desafios da demografia, reformando o sistema
tendo em vista a sua sustentabilidade, e usar esse mesmo desafio para decretar
a falência desse sistema, desmantelando-o, mesmo que parcialmente, como tem
sido o caso nas sucessivas propostas de "plafonamento" que o PSD
ciclicamente propõe.
O PS sempre não só rejeita a
ideia de falência do sistema, como acredita que qualquer alternativa é bastante
pior do que sistema de repartição que temos. O modelo de capitalização, em que
os descontos de um trabalhador no ativo vão para uma conta de capitalização
individual, ao invés de servirem para pagar as pensões dos atuais pensionistas
e para reforçarem o fundo de estabilização financeira, para além de exporem as
pensões futuras ao risco do mercado de capitais, não são imunes aos problemas
demográficos, porque a demografia é, acima de tudo, um problema económico que
afeta todos os sistemas de pensões, qualquer que seja a sua natureza. Com ou
sem capitalização, a realidade presente terá sempre garantir a existência de
recursos suficientes para que seja sustentável pagar pensões. Tal será tanto
mais um desafio quanto maior o peso dos pensionistas no total da população.
Evoluir para um sistema de
capitalização, para além de não resolver verdadeiramente nada em matéria de
sustentabilidade de longo prazo, criaria um enorme buraco na receita do atual
sistema, porque as contribuições que passariam a ir para fundos de pensões para
pagar as pensões futuras deixariam de pagar as pensões dos atuais pensionistas.
No passado, o PSD propôs
financiar os custos de transição do sistema com emissão de dívida pública. Se
essa opção já era pouco credível quando foi apresentada, há mais de 10 anos,
hoje é totalmente irrealista. Para além de não responder a nenhum dos desafios
da sustentabilidade, a capitalização individual como alternativa ao atual
modelo de repartição também tornaria o sistema menos redistributivo, o que iria
penalizar as pensões médias e baixas, que hoje são beneficiadas face às pensões
mais elevadas.
Ao invés de desmantelar o atual
sistema, importa investir na sua continuidade e sustentabilidade futura.
Incluir toda a carreira contributiva, e não apenas os últimos anos, no cálculo
do valor da pensão e indexar a idade de reforma à esperança média de vida foram
reformas essenciais feitas por governos do PS para que o nosso sistema de
pensões, em 2007, deixasse de ser considerado insustentável pela OCDE, Comissão
Europeia e demais instituições internacionais. Mas a sustentabilidade do
sistema de pensões também depende da existência de carreiras contributivas
estáveis, do crescimento do volume e da qualidade do emprego e do crescimento
dos salários. E porque o peso do trabalho na geração de riqueza tem caído e
tenderá a cair mais, uma vez que as empresas tendem a ser menos intensivas em
trabalho e mais intensivas em capital, é importante diversificar as fontes de
financiamento do sistema de pensões, reduzindo a sua dependência exclusiva de
contribuições sobre os salários pagas pelo trabalhador e pelo empregador.
Estas foram e têm sido as apostas
do PS. No final de 2015, o sistema (contributivo) de pensões tinha um défice.
Hoje, com quase 300 mil empregos criados e com os salários a aumentar, o
sistema tem um saldo positivo e deixou de precisar de dinheiro do Orçamento do
Estado para pagar pensões. E a partir deste ano, o Fundo de Estabilidade
Financeira da Segurança Social passará a receber parte da receita do IRC, o que
traduz um importante esforço na diversificação das fontes de financiamento do
nosso sistema de pensões.
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