Martinho Júnior | Luanda
1- O processo histórico das
Américas, desde que os europeus chegaram invadindo e conquistando o continente,
revela as tensões que extravasaram da Europa a partir dos séculos XV/XVI para o
resto do mundo, tensões essas que cresceram ainda com a descolonização gradual
do continente americano como um todo, há pouco mais de dois séculos.
Esse processo elaborado de
culturas de raiz europeia com vocações contraditórias, estão também na base da
globalização corrente, assente na revolução industrial e na revolução
consubstanciada pelas novas tecnologias, resultantes do capitalismo de expansão
que teve sua principal matriz nos Estados Unidos, precisamente após a
descolonização.
A “conquista do oeste”, que
ocorreu no território dos Estados Unidos na base do domínio cultural
anglo-saxónico que aproveitou a revolução industrial para se fortalecer, foi a
primeira experiência expansionista traumatizante, obrigando-se desde logo a
vencer pela força e conquista, uma a uma e sem remissão, as nações autóctones
dos povoadores indígenas das Américas, num processo que se confundiu com a
história do fortalecimento do próprio capitalismo.
2- A expansão para oeste (costa
do Pacífico) do território dos Estados Unidos a partir do leste (costa do
Atlântico), venceu também o México (meados do século XIX), incorporando vários
estados conquistados em reforço da linha de expansão, até ao Pacífico e esse
terá sido um dos choques culturais que mais tem influído nos processos de
hegemonia assumidos desde então no continente americano: o poder das culturas
anglo-saxónicas, face à resistência das culturas ibero-latino-americanas
situadas a sul, ao serviço do fortalecimento do capital e dos processos de
aculturação desencadeados a partir da construção desse domínio.
O Golfo do México e o contíguo
Mar das Caraíbas passaram assim desde o século XIX a ser, para a geoestratégia
do expansionismo, uma região de fronteira física-geográfica do interesse
dominante fulcral, que propiciou todo o tipo de manifestação da própria
formação da hegemonia ao longo desses dois últimos séculos ainda que numa “geometria
variável”, uma manifestação constante do poder dominante implantado nos Estados
Unidos sobre o resto do continente a sul (México, América Central, Caraíbas e
América do Sul).
A fermentação das resistências
progressistas valorizadas pela sua assunção ética e moral, tem portanto duplas
raízes, quer nas lutas pela descolonização do continente, quer nas lutas de
resistência à expansão dos Estados Unidos.
Os Estados Unidos cristalizaram
na ideia que derivou para a procura incessante de domínio em todo o continente,
(procurando reduzir recorrendo à barbárie, ao estado de vassalagem e submissão
todos os demais, reflectindo em espelhos do presente o expansionismo de então).
Cuba por exemplo, celebra a 24 de
Fevereiro de 2018, 123 anos do reinício das lutas independentistas tendo José
Marti como sua maior referência!..
Se há estados, nações e povos que
compreendem em toda a linha, o peso do expansionismo dos Estados Unidos, que
derivou para os termos da hegemonia unipolar em função da corrente globalização
capitalista neoliberal, são os que perfilham as culturas
ibero-latino-americanas, pelo que é directamente sobre o Golfo do México e esse
contíguo Mar das Caraíbas, onde a sensibilidade dialética dessas tensões
inerentes aos processos histórico e antropológico se torna mais evidente: o
húmus da resistência radicalizada da luta tornou-se numa constante prova de
vida e de dignidade, intrínsecas no que à sobrevivência diz respeito.
Essa sensibilidade aumentou por
que, quer por via da força, quer por via do seu “soft power”, tanto no que
diz respeito a medidas civis, como a medidas militares, os Estados Unidos
procuram a todo o transe reverter os parâmetros do capitalismo neoliberal
identificado com o poder da hegemonia unipolar, para uma pressão assimiladora
constante e “em leque” das sociedades-alvo no resto do mundo, uma
pressão que só pode ser elaborada por via de expedientes subversivos à
democracia, o que explica a sua capacidade de ingerência e manipulação
nas “transversalidades” que decorrem em todo o espaço
latino-americano, quaisquer que sejam seus processos económicos, financeiros e
sócio-políticos.
A resistência progressista na
América Latina enveredou para uma valorização da participação cidadã (popular)
promotora de paz e do Não Alinhamento activo, face ao peso da
representatividade (das oligarquias intermediárias da aristocracia financeira
mundial), precisamente por que a representatividade sendo um processo
subversivo à democracia, está inerente à acumulação do capital em poucas mãos e
ao poder assimilador da hegemonia unipolar, que para isso recorre às
ingerências, manipulações e“transversalidades” mais grosseiras,
vocacionadas para a fermentação do caos, do terrorismo e da desagregação, para
além da fermentação de tensões, conflitos e guerras.
São as nações, os estados e os
povos latino-americanos mais progressistas inscritos como alvos principais da
geoestratégia da pressão da hegemonia unipolar, que têm mais resistido a essas
pressões, com uma inteligente luta de décadas que se estende até hoje e, entre
eles Cuba e a Venezuela Bolivariana, cujos territórios se situam no Golfo do
México e Mar das Caraíbas, com processos históricos autênticos e inequívocos de
resistência dialética face à hegemonia unipolar e ao mesmo tempo face ao
capitalismo neoliberal de que se nutre o processo dominante, em busca do
socialismo que providencia pátria enquanto dignidade, solidariedade,
internacionalismo, consciente respeito para com a natureza e para com o planeta
e humanidade.
3- Chegou-se desde o princípio da
década de 90 do século XX, ao clímax da acumulação concentracionária do poder
do capital nos Estados Unidos, reduzindo a mera cosmética a democracia
representativa, o que se reflecte e é reflexo nas e das enormes assimetrias e
desequilíbrios internos, assim como no exercício constante de arrogante domínio
civil e militar por todo o globo, sentido com maior intensidade pelos estados,
nações e povos ribeirinhos ao Golfo do México e Caribe, ou espalhados pelos
arquipélagos das Caraíbas.
A acumulação do capital em cada
vez menos mãos comporta sob os pontos de vista ético e moral, o módulo bárbaro
das condutas do homem para se relacionar entre si e com a natureza do próprio
planeta que facilita a sua existência, conforme ela é conhecida hoje, ainda que
à beira da ruptura e do colapso.
Cientistas como Stephen Hawkings
estão a prognosticar que o horizonte temporal da vida humana na Terra tem como
horizonte os próximos duzentos anos, ou seja, desde a independência alcançada
por via da descolonização, até ao fim da espécie humana segundo esses
prognósticos, está-se precisamente a meio caminho!…
As lutas de Cuba e da Venezuela
Bolivariana tornam-se assim baluartes socialistas dum inestimável património
global vocacionado para o benefício de toda a humanidade, uma humanidade ávida
de civilização e cansada da barbárie propiciada pela acumulação desenfreada do
capital e manipuladora das culturas anglo-saxónicas em seu exclusivo ego, ao
longo dos últimos duzentos anos.
A compreensão desse fenómeno onde
quer que vivamos neste mundo globalizado e mais que nunca à beira do colapso, é
indispensável à formação de nossa personalidade e carácter, devendo-se
reflectir no nosso comportamento e atitude, por que a filosofia da
sobrevivência da espécie e do respeito para com humanidade e planeta, é cada
vez mais uma contradição radicalizada face à barbárie cultivada no âmbito do
capitalismo elevado à exponente neoliberal, assimilador de culturas vassalas à
hegemonia unipolar!
A lógica com sentido de vida e
sua expressão de socialismo assumem o que é da civilização face à barbárie e
por isso os processos de luta de Cuba e da Venezuela Bolivariana, ali à sua
latitude e longitude, onde a pressão do expansionismo da hegemonia unipolar é
mais intensa, nos são tão preciosos, além do mais pelo que intrinsecamente se
cultivado em sua natureza ética e moral.
4- Por todas essas razões, quando
nos seus próprios processos históricos e democráticos Cuba e a Venezuela
Bolivariana partem para seus actos eleitorais, (que são verdadeiros marcos,
expoentes de luta) há que colocar na mesa das consciências todas as questões
que se esbatem na dialética entre civilização e barbárie em pleno século XXI e
avaliar com toda a compreensão e abrangência as questões históricas,
antropológicas, sociológicas e psicológicas, tal como as questões que dizem
respeito aos relacionamentos do homem com seu espaço físico-geográfico e com a
natureza do planeta.
Nesse ponto de vista, as questões
vitais estão presentes, subjacentes aos actos eleitorais, no balanço que se faz
quando se propicia consciência crítica e a escolha das opções inerentes à própria
ética e moral progressista, na sua dialética em luta entre o que diz respeito à
barbárie e o que diz respeito à civilização.
As linhas progressistas que advêm
do passado fazem parte desse debate eleitoral com toda a sensibilidade e
emoção, até por que elas estão presentes sempre em função do sentido das
culturas e do que com elas se quer realizar para o futuro.
A primeira metade de 2018 está a
ser para o mundo um livro aberto e as opções de civilização que se colocam nas
eleições em Cuba e na Venezuela Bolivariana, não devem ser apenas um motivo de
atenção dos progressistas de todo o mundo, mas também prova de sua
solidariedade e vitalidade e um momento muito especial de recolha de muitas
experiências e lições!
Martinho Júnior - Luanda, 25 de Fevereiro de 2018
Ilustrações:
- Mapa do espaço
físico-geográfico e geoestratégico do Golfo do México e Mar das Caraíbas: a
norte os Estados Unidos, no centro Cuba e a sul a Venezuela Bolivariana;
- O mar de bandeiras de Cuba em
frente da Embaixada dos Estados Unidos no Malecon de Havana;
- Dois estadistas e homens de
consciência universal: Fidel e Hugo Chavez;
- Dois dos seus continuadores:
Raul e Maduro;
- A imagem secular da expansão
dos Estados unidos, mantém-se em pleno século XXI.
A consultar de Martinho Júnior:
- Uma fruta que não caiu! – I – http://paginaglobal.blogspot.com/2014/12/uma-fruta-que-nao-caiu-i.html
- Uma fruta que não caiu! – II – http://paginaglobal.blogspot.com/2014/12/uma-fruta-que-nao-caiu-ii.html
- Uma fruta que não caiu! – III – http://paginaglobal.blogspot.com/2014/12/uma-fruta-que-nao-caiu-iii.html
- Uma fruta que não caiu! – IV – http://paginaglobal.blogspot.com/2014/12/uma-fruta-que-nao-caiu-iv.html
- Uma fruta que não caiu! – V – http://paginaglobal.blogspot.com/2015/01/uma-fruta-que-nao-caiu-v.html
- Uma fruta que não caiu! – VI – http://paginaglobal.blogspot.com/2015/01/uma-fruta-que-nao-caiu-vi.html
- Uma fruta que não caiu! – VII – http://paginaglobal.blogspot.com/2015/02/uma-fruta-que-nao-caiu-vii.html
- Uma fruta que não caiu! – VIII
– http://paginaglobal.blogspot.com/2015/02/uma-fruta-que-nao-caiu-viii.html
- Uma fruta que não caiu! – IX – https://bambaramdipadida.blogspot.com/2015/02/uma-fruta-que-nao-caiu-ix.html
- Um movimento qu vem de longe – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/03/um-movimento-que-vem-de-longe.html
- Semeando tempestades – I – http://pagina--um.blogspot.com/2010/11/semeando-tempestades-i.html
- Semeando tempestades – II – http://pagina--um.blogspot.com/2010/11/semeando-tempestades-ii.html
- Semeando tempestades – III – http://pagina--um.blogspot.com/2010/11/semeando-tempestades-iii.html
- ALBA! EVOCAÇÃO À PEGADA
ARDENTE DE BOLIVAR – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/03/alba-evocacao-pegada-ardente-de-bolivar.html
- LONGOS SÃO OS CAMINHOS
ÁVIDOS DE VIDA E PAZ!... – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/08/longos-sao-os-caminhos-avidos-de-vida-e.html
- CONTRA AS CONSTANTES
INGERÊNCIAS E MANIPULAÇÕES… – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/10/contra-as-constantes-ingerencias-e.html
- INDEPENDÊNCIA, SOBERANIA E
PAZ PARA A VENEZUELA BOLIVARIANA – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/07/independencia-soberania-e-paz-para.html
- Vamos caminhando – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/03/vamos-caminhando.html
- Venezuela Bolivariana resiste – http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/01/venezuela-bolivariana-resiste.html
Outras consultas:
- Aquisições territoriais
dos Estados Unidos – https://pt.wikipedia.org/wiki/Aquisi%C3%A7%C3%B5es_territoriais_dos_Estados_Unidos
- Evolução territorial dos
Estados Unidos – https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_dos_Estados_Unidos
- Expansão ultramarina dos
Estados Unidos – https://pt.wikipedia.org/wiki/Expans%C3%A3o_ultramarina_dos_Estados_Unidos
- Stephen Hawking pronostica
que la Tierra morirá dentro de 200 años – https://actualidad.rt.com/actualidad/259655-stephen-hawking-muerte-tierra-200-a%C3%B1os
- DISCURSO PRONUNCIADO EN
RÍO DE JANEIRO POR EL COMANDANTE EN JEFE EN LA CONFERENCIA DE NACIONES UNIDAS
SOBRE MEDIO AMBIENTE Y DESARROLLO, EL 12 DE JUNIO DE 1992. – https://www.youtube.com/watch?v=JF67BSRjTYc
- DISCURSO PRONUNCIADO POR
EL COMANDANTE EN JEFE FIDEL CASTRO RUZ, PRIMER SECRETARIO DEL COMITÉ CENTRAL
DEL PARTIDO COMUNISTA DE CUBA Y PRESIDENTE DE LOS CONSEJOS DE ESTADO Y DE
MINISTROS, EN LA CLAUSURA DEL ENCUENTRO MUNDIAL DE SOLIDARIDAD CON CUBA. – https://www.youtube.com/watch?v=IQ3xMrb-PFM
- Notas de Retaguardia: “Las
reservas de Venezuela eran escuálidas, estaban en manos del célebre FMI” – http://www.cubadebate.cu/opinion/2011/08/18/notas-de-retaguardia-las-reservas-de-venezuela-eran-escualidas-estaban-en-manos-del-celebre-fmi/#.WpQ0gCYiHmI
- ONU Discurso completo de
Hugo Chavez 20 09 2006, Huele a azufre – https://www.youtube.com/watch?v=GNKV6LF7RFs
- Discurso histórico de
Nicolás Maduro en la Asamblea General de la ONU – https://www.youtube.com/watch?v=dDPD9fNFTUM
- Raul Castro - Discurso en
la ONU New York - Septiembre 28 de 2015 – https://www.youtube.com/watch?v=6oz3HOhn_Qo
- Un bastión moral llamado
Cuba – http://www.cubadebate.cu/opinion/2018/02/23/un-bastion-moral-llamado-cuba/#boletin20180223
- Nicolás Maduro inscribirá
candidatura presidencial la próxima semana – http://www.correodelorinoco.gob.ve/nicolas-maduro-inscribira-candidatura-presidencial-la-proxima-semana/
- Cómo será Cuba sin Raúl
Castro comandando el país? – https://mundo.sputniknews.com/radio_voces_del_mundo/201802201076418716-cuba-elecciones-presidenciles-raul-castro/
- Raúl Castro frente a Obama
discurso histórico en Cumbre de las Américas 2015 – https://www.youtube.com/watch?v=rOwUpwhzIow
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