quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Portugal | MAIS DE 30 ANOS DAS RÁDIOS PIRATAS E DAS CORRIDAS PARTIDÁRIAS


As rádios piratas em Portugal fazem mais de 30 anos, a TSF comemora-os hoje e amanhã. Diz-se que foi a rádio que mudou a arte de fazer rádio em Portugal - com alguma legitimidade - mas, no computo geral, foram as rádios piratas que levaram a arte de fazer rádio mais além, melhor, diferente. Eram rádios que não se acomodavam, que de ensaio em ensaio melhoravam... Ou pioravam e estouravam. Em Portugal havia muitas centenas de rádios piratas, bem antes de na Assembleia da República ser aprovada a sua legalização e consequentes balizas das que seriam abrangidas pelo diploma legal. Curiosamente, na votação da AR, PS e PCP votaram contra a legalização. O CDS absteve-se. Só o PSD, que detinha a maioria, votou a favor.

O PSD votou a favor muito depois de ordenar que as suas "tropas radiofónicas" avançassem no terreno e se implantassem nos preparos para receberem a legalização. Quando o PCP e o PS acordaram já era muito tarde. Apesar disso o PS conseguiu miscigenar-se com  PSDs locais e partilharem/beneficiarem da inclusão em rádio locais posteriormente legalizadas. O PCP não tanto. Afinal foi uma luta partidária para "agarrar" rádios piratas rumo à legalização. No governo e no país quem mandava era Cavaco Silva. Está tudo dito. O que não se pode negar é que foi o PSD que abriu as portas à legalização das rádios piratas, caso da TSF e dos seus 30 anos comemorados.

Um grande obreiro dessa legalização foi Emídio Rangel, com as costas quentes por Francisco Pinto Balsemão. Que o aproveitou devido à sua personalidade determinada e ao seu saber da "poda" a que chamamos comunicação social. Rangel avançou numa aglutinação das várias rádios locais. Procurou sempre organizar o "movimento pirata". Só conseguiu parcialmente. Mas o suficiente para "levar a carta a Garcia" - que foi o que aconteceu. A legalização tardou mais porque o PSD encontrava por vezes resistências (partidárias) aqui e ali por todo o país. No Ribatejo, o caso de Benavente foi flagrante. Numa rádio pirata que funcionava com maioria de simpatizantes ou militantes do PCP, essa rádio não foi legalizada. Perto havia outra rádio, em Samora Correia, predominantemente PSD e com laivos de gente do PS que a foram ocupando. Mal sabem os PSDs da região - de então - que o PS dali tentou quase tudo para possui-la em exclusivo. Era a febre da rádio nos partidos políticos. Por todo o país era o que estava a acontecer, de norte a sul. Não só no Ribatejo. A igreja católica e apostólica romana, também não deixou por mãos alheias aquela luta. Foram outros tempos. Na atualidade acontece o mesmo em toda a comunicação social. Agora são os grandes grupos económicos que se apoderam de quase tudo o que é comunicação e os manipulam como bem entendem. Jornalistas, radialistas, gentes do meio, andam à míngua, vendem-se ou até já nem têm consciência que o estão a fazer. Não em todo o lado, não com todos, mas com demasiados assim acontece. Quem assim opina são os que por várias circunstâncias (pela idade, por "mau feitio", etc.) "deixaram de se prostituir". Tendo alguns (poucos) optado por entregar a carteira profissional no sindicato dos jornalistas. Já lá vão tempos, mas também isto deve constar na história da comunicação social.

Esses tempos já lá vão. Hoje importa parabenizar as rádios piratas na "pessoa hertziana" da TSF, nascida em Lisboa, na Penha de França, e que na atualidade pertence a dois grandes grupos do meio, Global Media Group e Grupo Impresa... É do melhor que existe, apesar destes maus tempos em que se sobrevive a ser informado e/ou desinformado (para além de vastas omissões) por todo o mundo.

Parabéns rádios piratas e... TSF.

MM | PG

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