Fernando Miala, que chegou a ser
detido durante a Presidência de José Eduardo dos Santos, substitui Eduardo
Octávio na chefia do SINSE. Presidente João Lourenço justifica escolha do
general com a experiência no sector.
O general Fernando Garcia Miala,
detido em 2006 e afastado das funções de diretor-geral dos Serviços de
Inteligência Externa (SIE) durante a Presidência de José Eduardo dos
Santos, volta à ribalta ao ser nomeado para o cargo de chefe dos Serviços de
Inteligência e Segurança do Estado (SINSE) em substituição do
comissário Eduardo Octávio. A nomeação foi feita na noite desta
segunda-feira (12.03), pelo Presidente angolano, João Lourenço, numa decisão
que foi bem recebida por vários sectores da sociedade angolana.
Fernando Garcia Miala foi
empossado esta terça-feira (13.03) pelo chefe de Estado. João Lourenço
justifica a escolha com a experiência do responsável militar. Afinal, lembrou o
Presidente na cerimónia, Miala "passou praticamente por todos os serviços de
inteligência no país".
O general é o novo homem forte do
SINSE depois de já ter sido vice-ministro do Interior para a área da Segurança,
diretor do Serviço de Informação e diretor do Serviço de Inteligência Externa.
Ordem na casa
Para Isomar Pedro Gomes, antigo
quadro sénior da secreta angolana, a escolha de Francisco Miala visa,
essencialmente, conter a grande corrupção que tomou conta da estrutura do
Estado ao mais alto nível.
"É preciso ver que uma das
funções principais da segurança do Estado em qualquer parte do mundo é
precisamente a defesa da integridade do país e o principal sector da
integridade do país é realmente a economia. E de um tempo a essa parte a
economia foi seriamente atacada por indivíduos, ladrões, que danificaram
gravemente o país", considera o especialista.
"O regresso de Fernando
Garcia Miala", acrescenta, "é um bom indicativo de que João Lourenço
pretende pôr ordem na casa e com este competente operativo muita coisa vai ser
travada".
Historial conturbado
Para Isomar Pedro Gomes, o
general Garcia Miala, enquanto conhecedor profundo da segurança militar e
doméstica, assim como da estrutura sectária do regime do MPLA, é uma figura
capaz de conter "possíveis rebeliões dos implicados na grande corrupção" contra
o Presidente Lourenço. O especialista acredita mesmo que "Fernando Garcia
Miala já está em contacto com João Lourenço há bastante tempo e foi ele quem
forneceu os dados sobre o paradeiro das grandes fortunas no exterior".
Pedro Gomes justifica:
"Miala foi a primeira pessoa que denunciou os desvios dos dinheiros vindos
da China, no tempo de José Eduardo dos Santos, quando ele [Miala] implica José
Van-Duném e o general Kopelipa e outros indivíduos".
Depois desta denúncia, em 2006, a
direcção da "secreta", então liderada pelo general Fernando Miala,
agora general e chefe do SINSE, foi exonerada por alegada tentativa de golpe de
Estado – uma acusação que nunca foi provada.
Mais tarde, em 2007, Fernando Miala
viria a ser condenado a quatro anos de prisão por insubordinação, pelo Tribunal
Supremo Militar, tendo cumprido a pena.
Três outros colaboradores de
Fernando Miala foram condenados a dois anos e seis meses de prisão efetiva.
Todos foram acusados de insubordinação por não terem comparecido perante as
chefias militares na cerimónia da sua despromoção.
Miala foi igualmente acusado de
interferir nas missões da escolta do chefe de Estado, de realizar escutas não
autorizadas, além do furto de aparelhos de escuta, e de se envolver em relações
alegadamente "promíscuas" com membros da Comunicação Social, mas
estes crimes não ficaram provados em tribunal.
Nelson Francisco Sul (Luanda) |
Deutsche Welle
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