quinta-feira, 1 de março de 2018

FESTIVAL | Conversa fiada, sardinhas a dez e banha da cobra


A embrulhada do tal festival da canção RTP passa ao lado de muitos e um tal Diogo Piçarra nem ao lado passa mas sim muito ao largo. Quem é? Sabemos lá. Pois, mas agora passamos a saber que um Diogo Piçarra foi acusado à boca cheia de plágio… Não é, dizem uns. É, é! Exclamam outros. Perguntando: mas o tal festival a cheirar aos tempos salazaristas ainda existe? E vai acontecer cá no caso da Eurovisão? Ena, que chique!

Mas que ignorância que se revela nestas linhas de prosa. E o Festival Eurovisão acontece este ano em Portugal porque vencemos o do ano passado… O quê? Ai sim?! Ora, quem diria!

Pois. Então está bem.

Saibam então que o Curto de hoje abre com esse tal Piçarra (o Luís Piçarra já se finou, não é esse) que não vimos mais gordo nem mais magro. Por aqui nem sabíamos sequer da sua existência. O diretor-adjunto do Expresso é quem vem à tona do Curto com essa de plágio, de plágios por ano e por aí a fora… Quem não tem o que fazer faz colheres… Pois. É como nós. Também não temos nada para fazer e optamos por estar por aqui a divagar. Apostemos que muitos dirão “a fazer porcaria”. Pois.

Bem, por agora basta. Vão ao Curto do Expresso e não temam a cafeína. O café faz bem, desde que seja bom. Este Curto também faz bem, principalmente aos carecas. Olhem, mostra que esse tal festival até faz lembrar os tais que andavam pelas ruas com uma grande mala… a vender conversa fiada e sardinhas a dez. E banha-da-cobra. Era um espetáculo deslumbrante. Pentes para os carecas, remédios para os calos e toda uma panóplia de coisas e loisas. Essa da banha-da-cobra tinha origem no facto de o marafado “vendedor” abrir só uma nesga e fechar a mala muito rápido por “temer” que a cobra que estava lá dentro fugisse. Era tanga, claro. Miúdos e papalvos(as) ali ficavam à espera de ver a cobra… O tanas! Não existia ali cobra! E compravam mixórdias ao "vendedor". Adoravam ser enganados(as). Pois.

Fim. Já. Mala fechada para os carateres. (MM | PG)
  
Bom dia este é o seu Expresso Curto

Quem acusou Diogo Piçarra?

Miguel Cadete | Expresso

A história do plágio de Diogo Piçarra parece ser umahistória banal, ainda que nos últimos dias tenha agitado algumas mentes a propósito das semelhanças entre a canção que levou ao Festival da RTP e uma outra da autoria de um norte-americano escrita nos anos 1970 e que mais tarde foi utilizada pelo pastor de uma igreja no Brasil.

No Expresso Diário, Joana Pereira Bastos adianta que só nos últimos três anos deram entrada na justiça portuguesa 802 processos por contrafação – o que além de direitos autorais pode incluir a propriedade intelectual de direitos industriais, ou seja, patentes.

Essa estatística leva a crer que são vulgares no nosso país as acusações de que alguém violou a propriedade de outro alguém por ter “copiado” uma obra que estava patenteada ou protegida pelo Direito de Autor – porém, só quando há registo cabe a acusação de plágio ou contrafacção, caso contrário trata-se apenas de reles difamação.

O caso de Piçarra só não é vulgar porque nem o cantor brasileiro que interpretou o tema similar “Abre os Teus Olhos”, Padre Walter, nem o original autor norte-americano de “Open Your Eyes”, Robert Cull, se queixaram de ter sido lesados. Na verdade, tal como se pode ler hoje no “Diário de Notícias”, ninguém se queixou.

O escândalo que se abateu sobre “Canção Sem Fim” e Diogo Piçarra, o seu intérprete, decorre exclusivamente de acusações anónimas nas redes sociais que foram prontamente - sentenciadas, isto é, confirmadas - pela opinião pública. As redes sociais foram novamente o palco desse julgamento.

Não sei se Piçarra copiou ou não a canção. Ele diz que não o fez.Mas sei, devido a uma breve pesquisa no Google e no YouTube, que as primeiras acusações surgiram muito poucas horas depois de “Canção Sem Fim” ter sido cantada em público pela primeira vez, no domingo, durante a segunda semifinal do Festival da Canção.

Antes desse momento, só o júri e a produção do programa da RTP tiveram acesso à sua gravação na íntegra (45 segundos do tema já tinham sido divulgados anteriormente).

Associá-la quase imediatamente ao reportório de um pastor brasileiro gravado na década de 80 e que faz parte de uma igreja sem relevância em Portugal é obra.

OUTRAS NOTÍCIAS

Governo prepara-se para limitar o acesso a dados de crianças na internet, é a manchete de hoje do “Público”. Os sites só podem usar os dados relativos a menores de 13 anos com autorização dos pais. O novo regulamente só entra em vigor em maio mas já existem críticas, nomeadamente da Comissão Nacional de Proteção de Dados, devido a estarem abrangidos os jogos online mas não as redes sociais.

Ainda no “Público”, lê-se a notícia de que os portugueses pediram ao Google a remoção de mais de 17 mil links. Nos últimos quatro anos, partiram de Portugal 4727 pedidos de utilizadores no sentido de desaparecerem dos resultados daquele motor de buscas, apenas 1% do total.

A PT já pagou mais de 600 milhões de euros em jurosassociados aos empréstimos contraídos pela Altice. São esses valores que explicam como a operadora portuguesa, com receitas na ordem dos 2300 milhões de euros em 2015 e 2016 tenha os resultados no vermelho.

Na manchete do “Jornal de Notícias” lê-se que as câmaras vão pagar em 25 anos as dívida de 225 milhões de euros relativas à água que gastaram (e ainda não pagaram). O Governo vai propor juros mais baixos para pagar uma dívida, ao grupo Águas de Portugal, histórica e monumental.

Amanhã é dia de jogo entre FC Porto e Sporting no Estádio do Dragão. O encontro pode afastar o Sporting da luta pelo título, quando já se encontra a cinco pontos de distância. Ainda assim, o clube de Alvalade vai interpor recurso de forma a que Gelson Martins possa fazer parte da equipa titular, relatam hoje os jornais desportivos.

O mau tempo vai continuar nos próximos dias, diz o jornal “i” em parangonas. Ontem, um tornado andou a varrer em Faro, nos terrenos junto à doca. Veja o vídeo aqui.

No “Jornal de Angola” noticia-se com grande destaque a nova lei contra a corrupção que vai dar entrada no Parlamento. As penas máximas podem ir até dez anos de prisão. A nova lei é revestida com “carácter de urgência”, até porque o país, no que respeita a esta matéria, tem-se regido pelo Código Penal de 1886.

Ainda no mesmo diário, declara-se que o Estado angolano injetou dez mil milhões de dólares na Sonangol para recuperar as suas contas. Desse montante, uma metade foi para pagar dívidas e a outra para novos investimentos. A dívida líquida da petrolífera passou a cifrar-se em 4,89 mil milhões de dólares,

As boas contas da economia portuguesa devem-se ao investimento superior no ramo da construção civil. O PIB, soube-se ontem, cresceu 2,7% em 2017, o maior valor de sempre desde o início do século. O “Diário de Notícias” sublinha que esse crescimento beneficiou de um investimento de 1,5 mil milhões na construçãoque dá mostras de recuperar de uma longa crise.

CDS antecipa-se a PSD de Rio e apresenta esta tarde um pacote de medidas que procuram reformar a Justiça portuguesa como havia pedido Marcelo Rebelo de Sousa. Saiba tudo sobre este pacote legislativo do partido liderado por Assunção Cristas, tal como reporta Mariana Lima Cunha

FRASES

“Não mudou a liderança do Governo nem a sua orientação. Registamos tão só uma mudança no principal partido da oposição e o desejo de um diálogo que está inscrito no programa do Governo. Desejo que seja frutuoso porque o país necessita”. António Costa, primeiro-ministro, ontem, na Assembleia da República

“Passos Coelho será um bom candidato a Presidente”. Paula Teixeira da Cruz, deputada do PSD e ex-ministra da Justiça, em entrevista à “Sábado”

“Eu apreciava o estilo de Sócrates. Não havia nada contra ele”. Pinto Monteiro, ex-Procurador Geral da República, em entrevista ao “Público”

“O negócio é muito afetado quando a bola não entra”. Domingos Soares de Oliveira, CEO da SAD do Benfica, em entrevista a “A Bola”

“Para a Alemanha, a União Europeia continua a ser o fundamento da nossa política”. Frank-Walter Steinmeier, Presidente da Alemanha, em entrevista ao “Jornal de Notícias”, durante a sua visita a Portugal

O QUE ANDO A LER

Chega por estes dias às livrarias uma reedição de “Doida Não e Não!” (Bertrand), um livro da jornalista Manuela Gonzaga que recupera um dos maiores escândalos da sociedade portuguesa do primeiro quartel do século XX. Hoje permanece útil como retrato da época. Como retrato de todas as épocas.

Trata da história de Maria Adelaide Coelho da Cunha, filha de Eduardo Coelho, fundador do “Diário de Notícias”. Ao tempo dos acontecimentos, Maria Adelaide era casada com Alfredo da Cunha, diretor do “Diário de Notícias” e seu administrador. Na sua casa apalaçada na freguesia de São Vicente de Fora recebiam personalidades da vida artística, cultural e outra da mais alta estirpe lisboeta, para saraus, peças de teatro – o marido construiu-lhe um teatrinho para Maria Adelaide poder espraiar os seus dotes de declamadora – e charlas várias que ajudavam a construir uma ideia de sociedade, senão mesmo de civilização, num Portugal que vivia então a agitação da sua Primeira República.

Maria Adelaide tinha 48 anos e um filho com 26 quando, em 1918, saiu de casa para ir viver com o seu motorista, Manuel Claro, jovem na casa dos vinte anos como o seu próprio filho. Herdeira do “Diário de Notícias”, trocou a rica vida de Lisboa por uma modesta casa em Santa Comba Dão.

Há inúmeros casos aparentemente semelhantes. Em Portugal ou no estrangeiro. Este já deu, pelo menos três livros. Outro deu um filme: como anos mais tarde viria a suceder no Brasil, sendo documentado no filme “Autocarro 174” de José Padilha, a sociedade não podia permitir um acontecimento como aquele.

Se no documentário de Padilha, mais conhecido por ter filmado “Tropa de Elite”, os “policiais” acabam com a vida de homem que sequestrou os passageiros de um autocarro, num retrato insuportável da violência exercida sobre o que escapa à norma, também no Portugal de Afonso Costa e Paiva Couceiro não era permitido aquilo que a autora do livro chama um “crime de amor” viesse à superfície. Ninguém no seu perfeito juízo poderia trocar a melhor vida que se conhecia pela de uma modesta casa no interior. Como havia a herdeira de uma grande fortuna prescindir de tudo para viver com o seu amante? O caso tinha que ser abafado. Ou melhor, não podia existir.

Maria Adelaide foi internado num manicómio, o Hospital Conde de Ferreira, no Porto; e Manuel Claro seria encarcerado na prisão.

À Santa Inquisição substituiu-se, naquele tempo, a Ciência: exames levados por diante pelos três mais considerados psiquiatras do momento, isto é Sobral Cid, Júlio de Matos e o futuro Prémio Nobel, Egas Moniz, concluíram que Maria Adelaide estava doida. Não estava.

Maria Adelaide fugiu do hospital uma vez e seria libertada uma segunda, vindo a dar publicidade ao caso quando, em 1920 publicou o livro “Doida Não!” em que relatava tudo o que passara. O despeitado marido, Alfredo da Cunha, editaria semanas depois a sua versão dos factos, “Infelizmente Doida”, e mesmo enquanto Maria Adelaide permanecia fugida ambos trocaram acusações a um ritmo vertiginoso na imprensa diária. Ela em “A Capital”, ele no “Diário de Notícias”, que entretanto tinha vendido sem respeitar os direitos da herdeira que havia, pelo caminho, sido interditada.

Este parece ser um crime perpetrado pela sociedade - com ajuda da Justiça, da Ciência e da moral vigente - cuja violência irrompe quando a narrativa dos acontecimentos não coincide com aquela em que está alicerçada. Um erro grave que podemos cometer sempre que os acontecimentos que nos passam diante dos olhos não confirmam as nossas convicções.

Tenha um bom dia! De olhos bem abertos. No Expresso onlineencontra toda as notícias atualizadas em permanência. Lá pelas 18 horas chega o Expresso Diário, com as notícias de amanhã e as melhores análises e comentários.

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