Vasta maioria dos eleitores
preferiu candidatos críticos às políticas do bloco, nas eleições
gerais de domingo. Mais um país-chave questiona projeto europeu,
capturado pelos neoliberais
Stephanie Kirchgaessner | Outras
Palavras | Tradução: Inês Castilho
Os resultados apresentados pelo
Ministério do Interior, com a apuração praticamente encerrada, apontam para um
Parlamento sem maioria absoluta. Parece agora superado o risco de a coalizão de
direita e ultradireita, com aproximadamente 32% dos votos, conseguir a maioria
parlamentar, quando as cadeiras forem distribuídas.
Qualquer resultado previsível
representará agora um repúdio a Bruxelas por parte dos eleitores italianos,
menos de dois anos depois de o Reino Unido optar, em plebiscito, por sair da
União Europeia.
As eleições marcam também a
ascensão política de dois partidos relativamente novos, até pouco tempo atrás
considerados fora da primeira linha do poder. O Movimento 5 Estrelas (M5S), que
se define como contrário à elite, obteve 32% dos votos; e o partido eurocético
e contra a imigração Lega (a Liga) conseguiu 17,4%. um resultado muito superior
ao esperado.
Ainda que durante a campanha o
ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi tenha liderado a coalizão de direita, os
resultados mostram que, com 14%, foi superado por seu jovem rival, Matteo
Salvini, da Liga, durante uma campanha em que Salvino deu ênfase ao apoio a
políticas radicais contra imigrantes. Entre essas propostas inclui-se a deportação
macica de imigrantes que residem na Itália sem documentos.
Salvini, conhecido por sua
retórica exagerada e às vezes racista, disse segunda-feira que os eleitores
concederam à direita a missão de liderar o país, e minimizou a ideia de
que a coalizão necessita ainda de mais um sócio para alcançar a maioria. “Sou
alguém que cumpre a palavra e nosso compromisso é com uma coalizão de
centrodireita que pode e deve governar”, disse, em referência ao “acordo de
cavalheiros” que firmou com Berlusconi de que o partido com mais votos na
coalizão nomearia o próximo primeiro ministro. Disse também que não formará uma
coalizão com o M5S e declarou que o euro é uma moeda condenada ao fracasso,
embora tenha descartado um referendo sobre a permanência na eurozona.
A coalizão de centro esquerda
liderada pelo ex-primeiro ministro Matteo Renzi saiu-se pior do que o esperado,
ao obter somente 19% dos votos. Tudo isso fez com que
seu próprio partido pedisse suarenúncia como líder do
Partido Democrata. Ainda que sua colaboradora mais direta, Maria Elena
Boschi, tenha ganho uma cadeira por Tirol do Sul, no norte da Itália, outras
importantes figuras do partido, como o ministro de Interior Marco Minniti, e o
da Cultura, Dario Granceschini, foram derrotados.
O fracasso fulgurante de Renzi
“Renzi foi aniquilado no que é,
provavelmente, o ciclo de ascensão e queda mais curto da história da política
italiana”, sustenta o analista Francesco Galietti, de Roma. “Os dados confirmam
que o PD obteve menos que a metade do percentual que alcançou nas eleições
europeias de 2014, e não passará muito tempo antes que as forças de esquerda
contrárias a Renzi questionem duramente sua postura”.
Os resultados foram
extraordinários, em parte porque refletem a rejeição a um governo que a maioria
dos analistas definiu como competente sob a liderança do PD, que foi testemunha
de uma importante melhora na economia e adotou política que limitou o número de
imigrantes que chegam à Europa.
O minguado êxito do M5S nas
prefeituras de Roma e Turim, por ele governadas desde as últimas eleições
locais, não dissuadiu os eleitores, apesar da insistência do PD na mensagem de
que o voto nesse partido traria o caos.
O partido populista, que até
pouco tempo apoiava um referendo sobre o euro, suavizou sua retórica
antieuropeia na reta final da campanha. Talvez isso tenha dado alguma segurança
aos italianos que não apoiaram, majoritariamente, sair da zona do euro, ainda
que sejam críticos de Bruxelas.
Na segunda-feira, os analistas
ainda não tinham claro o que farão os partidos para obter maioria no caso de um
parlamento sem maioria absoluta. O presidente da Itália, Sergio Mattarella,
será o encarregado de dirigir as conversações.
Entre as possibilidades inclui-se
um casamento de conveniência do M5S com o PD, ou do M5S com a Liga.
Os resultados também indicam que
a Sicília, durante muito tempo bastião do Força Itália de Berlusconi, aderiu ao
M5S. Entre os candidatos vencedores está Piera
Aiello, que vive sob proteção policial por causa das ameaças da máfia e
teve de cobrir o rosto durante a campanha eleitoral.
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