quarta-feira, 21 de março de 2018

MACAU | Quem defender fim do “regime de partido único” fica fora da Assembleia


Residentes que defendam o fim do “regime de partido único” na China continental arriscam-se a ser impedidos de concorrer à Assembleia Legislativa (AL) ou perder o mandato como deputados, avisou ontem o Gabinete de Ligação na RAEM, citando a recente revisão da Constituição chinesa.

Vítor Quintã

O subdirector do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau avisou ontem em Pequim que quem defender o fim do “regime de partido único” na China continental não pode ser deputado em nenhuma das duas Regiões Administrativas Especiais (RAE). Segundo a imprensa de língua chinesa de Hong Kong, Chen Sixi defendeu em Pequim que, segundo a recente revisão da Constituição chinesa, os apoiantes da democracia no continente serão impedidos de concorrer à AL ou perderão o mandato.

Há uma semana, a Assembleia Popular Nacional (APN), o principal órgão legislativo chinês, aprovou uma revisão da Constituição da China que permite que o Presidente Xi Jinping permaneça no poder por mais que dois mandatos. Ontem, porém, Tam Yiu-chung, um político de Hong Kong eleito para o Comité Permanente da APN, sublinhou que a revisão tornou também inconstitucional o apelo ao fim do reinado do Partido Comunista Chinês.

Chen Sixi sublinhou que a Constituição chinesa já determina a liderança do Partido Comunista. O responsável acrescentou que, embora Hong Kong seja uma Região Administrativa Especial, tem também de respeitar a Constituição, argumentos que se aplicam também a Macau. Questionado sobre se isso significa que quem defender o fim do “regime de partido único” não pode concorrer ao lugar de deputado, o número dois do Gabinete de Ligação na RAEM respondeu: “Segundo o meu entendimento, não pode”.

Liberdade de expressão

As declarações de Chen levantam dúvidas sobre o impacto que estas restrições poderão criar à liberdade de expressão em Macau. O oficial, que tem sido apontado como o próximo director da comissão que tem o poder de interpretar a Lei Básica das duas regiões administrativas especiais, foi questionado sobre se, por exemplo, um residente que participasse na vigília que assinala todos os anos, a 4 de Junho, a repressão violenta de protestos em 1989 na Praça de Tiananmen, em Pequim. Chen, contudo, não respondeu
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O PONTO FINAL pediu esclarecimentos ao Gabinete do Porta-Voz do Governo de Macau, mas não recebeu qualquer resposta. Na segunda-feira, Lo Jing Peng, chefe do Departamento de Divulgação Jurídica e Relações Públicas da Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça, referiu que a Lei Básica de Macau tinha com a Constituição “uma relação parecida com a de mãe e filho”. Uma opinião semelhante à veiculada ontem pelo Secretário-Chefe da cidade vizinha, que disse aos jornalistas que “respeitar a Lei Básica significa também prestar atenção ao respeito pela Constituição”. Matthew Cheung Kin-chung, no entanto, recusou-se a confirmar se defender o fim do “regime de partido único” representa, ou não, uma violação da Lei Básica. “Seria necessário avaliar a situação em concreto e o que está a ser dito durante a campanha. Por isso, neste momento é uma questão meramente hipotética,” sublinhou o número dois do Governo de Hong Kong.

O aviso de Chen Sixi vem cinco dias depois de o secretário para a Segurança Wong Sio Chak ter dito que pretendia rever a lei da Defesa da Segurança do Estado. Na altura, dois comentadores políticos e o deputado pró-democrata Sulu Sou Ka Hou disseram ao PONTO FINAL que a “paranóia” do Governo em torno de um eventual alastrar para Macau do movimento pela autodeterminação de Hong Kong poderia ser usada para criminalizar a mera discussão dos acontecimentos políticos da cidade vizinha.

Ponto Final (Macau)

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