Jorge Rocha* | opinião
Dos assuntos preteridos por
outros afazeres, mas que merecem que a eles volte por serem significativos do
sucedido ao longo da semana avultam três, sobre que passo a opinar
sinteticamente:
- a entrevista ao antigo
Procurador Geral da República Pinto Monteiro foi silenciada pelos que o
detestam e temem ver alterado o estado de coisas, que ele denuncia. Mormente
que o Sindicato dos Magistrados - cuja existência poucos entendem por
representar os que pretendem ser órgão de soberania! - atua ilegitimamente
junto de quem tutela os seus «associados» para que sejam estes a tomar de
assalto a condução de todo o poder judicial e, por arrasto, o do executivo e do
legislativo. Olhando-se além-fronteiras, nomeadamente para a Itália e para o
Brasil, e quais foram as consequências práticas de ver juízes a quererem
impor-se ao poder político, importa que os partidos se concertem para cortar
cerce as cabeças de uma hidra ansiosa por alcançar a ambicionada ditadura
judicial.
- a nota emitida pela Presidência
da República a propósito da morte do coronel Varela Gomes confirma o que já
sabíamos: é difícil a Marcelo deixar de ser quem é, ou seja, um filho e
afilhado de fascistas. Chamar ditadura constitucionalizada ao salazarismo
constitui uma tentativa de branquear o que não tem qualquer merecimento de
perdão. E não invocar sequer a importância dos combates corajosos do
antifascista agora desaparecido nos combates pela Liberdade e pela Democracia
só revela a sua coincidência íntima com o CDS, partido que
contrariou o voto de pesar maioritário da Assembleia da República, mostrando-se
coerente com a sua essência. Mas se Assunção Cristas e os seus comparsas
julgavam, assim, enobrecer-se com a condenação da memória de Varela Gomes, bem
se enganaram. Seria o coronel a ser amesquinhado se os herdeiros daqueles que
sempre combateu viessem agora carpir lágrimas de crocodilo em sua intenção.
Quarenta e quatro anos depois da Revolução de Abril não há que enganar: os
fascistas do passado continuam a sê-lo inequivocamente no presente. E têm de
ser incessantemente denunciados, neutralizados…
- a dissociação do CDS da democracia-cristã é só a concretização da mudança nele operada por Paulo Portas. Esquecida a doutrina social da Igreja, que a própria parece fadada a esquecer tendo em conta a versão assistencialista, que gostaria de imprimir à sua ação junto dos mais pobres, escusando-se de por eles se bater politicamente de acordo com o concretizado por alguns dos seus mais prestigiados «principes » (de que parece apenas restar D. Januário Torgal!), temos o partido dos herdeiros do salazarismo a assumir-se como aquilo que é: a correia de transmissão dos interesses dos novos candidatos a Donos Disto Tudo por intermédio dos grandes escritórios de advogados, onde peroram os Lobos Xavieres, os Paulos Núncios e outros que tais.
Os três temas aqui sumariamente
abordados denotam a evidência do atual momento político: na luta de classes em
ebulição por causa das desigualdades, que as instituições europeias continuam a
considerar exageradas em relação ao padrão médio verificado no resto da União
Europeia, os desfavorecidos têm poucos a apoiá-los no seu lado da barricada,
porque do outro estão os juízes, os procuradores, o Presidente da República, os
partidos das direitas e, sobretudo, quem a todos eles transforma em marionetas
agitadas mais ou menos freneticamente na defesa da exigência a abocanhar o
melhor quinhão da riqueza nacional deixando aos demais umas meras migalhas...
Publicada por jorge rocha em Ventos Semeados
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