Sem Jonas mas nas asas de Raúl
David Marques* | crónica
A lesão de Jonas no aquecimento
foi premonitória. Órfão da sua estrela maior, o Benfica só podia ter pela
frente uma noite difícil no Bonfim.
E teve-a. Os encarnados
regressaram a Lisboa com os três pontos dados por Raúl Jiménez no último sopro
da marca dos onze metros: o avançado mexicano, tantas vezes solução de luxo
para desamarrar jogos e tirar a equipa da Luz do fundo do poço, apontou os dois
golos que permitiram ao líder do campeonato chegar nessa condição ao clássico
da próxima semana com o FC Porto.
Não bastava a lesão de Jonas, os
encarnados tiveram ainda de superar uma entrada em falso no jogo. Costinha
adiantou a equipa sadina aos 3 minutos com um remate de primeira após
cruzamento de Nuno Pinto. Num ápice, a equipa de Rui Vitória recebia dois
golpes duríssimos. Ficou de joelhos, levantou-se mas a reação não foi imediata.
A organização defensiva dos homens de José Couceiro foi irrepreensível até à
entrada para a segunda metade dos primeiros 45 minutos.
Durante largos períodos, superou
o marasmo de ideias do tetracampeão, a quem faltava velocidade de pensamento e
de execução para causar a mínima intranquilidade. O caminho do desequilíbrio
tardou a ser encontrado: seria pela esquerda, onde Arnold, desatento e (também)
desamparado), não conseguia segurar Cervi e Zivkovic, mas não foi por aí que se
escreveu o triunfo do Benfica.
Aos 29 minutos, quando os defesas
do Vitória ficaram a ver passar um cruzamento rasteiro de Rafa aproveitado com
competência por Jiménez ao segundo poste (1-1), os encarnados
já apresentavam outra toada. Antes disso, no espaço de apenas um minuto, o
Benfica apresentou mais do que nos 25 minutos iniciais: primeiro foi Cristiano
a negar o empate a Jardel; depois foi Cervi a falhar por centímetros.
A águia acelerava, por vezes a
velocidade vertiginosa. Zivkovic abria o livro por vezes, Pizzi tentava
acelerar o processo de construção, mas a muralha sadina resistiu até ao apito
para o descanso.
O intervalo fez bem à equipa da
casa e o Benfica não regressou dos balneários com o ímpeto da segunda metade da
primeira parte. Antes pelo contrário. Regressou amorfo e deu oxigénio aos
visitados.
Se o empate era um resultado
lisonjeiro para o V. Setúbal ao intervalo, o conjunto de José Couceiro fez por
justificá-lo nos segundos 45 minutos. Após um primeiro período conservador,
despiu o fato-macaco e fez-se à vida em busca da felicidade.
Por momentos, pareceu até que os
22 jogadores em campo tinham trocado de papéis. O Benfica transformava-se no
Vitória da primeira parte; os sadinos eram, de repente, a equipa que acelerava
o jogo e causava momentaneamente o pânico junto à área de Varela.
Edinho falhou incrivelmente à
passagem da hora de jogo, André Pereira tirou as medidas à baliza contrária e
Wallyson também teve a felicidade nos pés. O período entre os 60 e os 70
minutos foi feliz para as águias, acometidas por uma patologia estranha.
Depois de suster sofregamente as
ofensivas da equipa da casa, a águia pegou no jogo, mas faltou-lhe quase sempre
a clarividência necessária para chegar a zonas de finalização, fosse ela
alcançada com cabeça ou com coração.
Até aos 84 minutos, altura em que
o Jiménez atirou de bicicleta para defesa atenta de Cristiano, os encarnados
ainda não tinha (imagine!) conseguido fazer um único remate à baliza contrária
em toda a segunda parte.
Nessa altura, os sadinos já
tinham abdicado dos três pontos: a missão passava agora por segurar o empate.
E para segurar um ataque
encarnado reforçado por Seferovic, Salvio e até Jardel, Couceiro lançara em
campo Pedro Pinto, Podstawski e, por fim, Luís Felipe, antigo jogador do
Benfica.
O lateral brasileiro reacendeu a
ténue luz de esperança encarnada. Em cima do minuto 90, agarrou, no entender da
equipa de arbitragem, Salvio na área e empurrou, no fundo, a águia para os
céus.
Jiménez não desperdiçou a oferta
e cumpriu com eficácia a missão que caberia a Jonas.
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